Bráulio, Santo
Texto do livro SANTOS DE CADA DIA da Editorial A. O. de Braga:
São BRÁULIO é uma das glórias da santidade e da ciência da Peninsula Ibérica. É um dos que tiveram parte mais notável pela cultura e no movimento intelectual da Igreja Visigoda hispânica, não tanto pelos seus trabalhos próprios, quanto pelo ânimo que infundia nos companheiros e pelo empenho que sempre mostrou de enriquecer a sua biblioteca. Toda a correspondência que deixou está cheia de notícias relativas a livros e manuscritos.
Era irmão dum bispo de Saragoça, chamado JOÃO. Além deste, teve ainda outro irmão, o presbitero FRUMINIANO, e duas irmãs, BASILA, a quem ele consolou por carta quando perdeu o marido, e POMPÓNIA abadessa dum mosteiro desconhecido.
O lugar onde nasceu BRÁULIO disputam-no com probabilidade Gerona, Sevilha, Toledo e Saragoça. Nasceu pelo ano de 585. Na cripta de Santa ENGRÁCIA, alcácer de mártires e arquivo de memórias, dava então aulas seu irmão JOÃO e lá recebeu BRÁULIO os primeiros ensinamentos: não só de ciência sagrada mas também, da literatura clássica. Citando embora versos encomiásticos das antiguidade, considera a literatura pagã como «vão palavreado, frivolidade que satisfaz a inquietação humana, fumo impalpável e vento de ostentação».
Como Sevilha era então o centro de ciência nas Espanhas, porque lá ensinava Santo ISIDORO - o homem mais sábio que havia na cristandade inteira -, BRÁULIO acorreu lá como discipulo do grande doutor. E foi-lhe proveitosíssima a estada, mesmo que não fosse senão pela amizade que estreitou com tal homem.
Conservam-se ainda seis cartas de Santo ISIDORO a BRÁULIO, e duas deste a Santo ISIDORO. Os dois mostram empenho extraordinário pela cultura, pois sempre falam de troca de manuscritos. É interessante a carta de São BRÁULIO, pedindo ao amigo o livro das Etimologias: «Rogo-te, e com muita instância te peço, me envies o livro das Etimologias que, segundo me dizem, terminaste, graças a Deus. Lembra-te das promessas. Além disso, não te esqueças de que, nas fadigas da composição, te ajudei não pouco com os meus incitamentos e estímulos. Tenho, portanto, direito a receber o primeiro exemplar».
Santo ISIDORO não se apressou muito em satisfazer os desejos do amigo, pois ainda anos mais tarde volta a insistir BRÁULIO no mesmo: «Já há sete anos, se não me engano, que te ando a pedir o Livro das Etimologias, e tens protelado o assunto com diversos pretextos , dizendo que não estavam acabados, que não estavam copiados, que se tinham perdido as minhas cartas, e desta maneira chegamos até ao dia de hoje sem eu conseguir nada. Pois não deixarei de importunar-te, não vá o meu silêncio fazer-te acreditar que desisto do meu interesse..., Pensa que não tens direito a conservar escondidos os talentos, nem fugir à distribuição dos alimentos que te foram confiados. Abre a mão, reparte os teus bens entre os necessitados, para que estes não pereçam de fome».
Na correspondência dos dois Santos aparece também o coração terno e afectuoso das suas almas grandes. Numa carta diz Santo ISIDORO: «Quando receberes algum escrito do teu amigo, abraça-o como se fosse o amigo mesmo, pois esta é a consolação única entre os ausentes. Envio-te um anel, paga do meu afecto, e um manto que sirva como que para proteger a nossa amizade. Não te esqueças de rezar por mim. O Senhor te inspire algum meio para eu te poder ver e para que tornes a alegrar de novo aquele que encheste de tristeza com a tua partida. Adeus, amadíssimo senhor meu e caríssimo filho».
São BRÁULIO voltou a Saragoça em, por morte do irmão, foi elevado àquela sé em 631. Assistiu aos concílios IV, V e VI de Toledo. No concilio IV, do ano 633, viu pela última vez Santo ISIDORO. Três anos mais tarde voltou a Toledo, mas ISIDORO tinha morrido uns meses antes.
BRÁULIO revelou o espírito e a ciência no desagradável incidente surgido entre o episcopado hispânico e o Papa Honório I, como o reconheceu o VI Concílio Toletano do ano de 338. O Papa escrevera aos bispos lamentando que tivessem sido pouco diligentes no problema judaico e chegou até a chamar-lhes canes muti, que não sabiam ladrar diante do perigo da casa do Senhor. Se bem que estivessem na assembleia os Metropolitas de Narbona, Braga, Tarragona, Toledo e Sevilha, todos os Padres conciliares delegaram em São BRÁULIO para que respondesse. Fê-lo com o respeito e humildade quem merece a cátedra de São Pedro, mas ao mesmo tempo com decisão e verdade. segundo exigia a justa defesa do episcopado.
As glórias terrenas, os louvores e o poder não om tinham apegado à terra. Soube remontar-se às alturas e vivia da esperança cristã, que pôs os bens acima das nuvens, para além da morte. S verdadeira sabedoria, que aprendeu em tantos livros e manuscritos antigos e novos, e pela qual trabalhou tanto, a ponto de ficar cego no fim da vida, deu-lhe o verdadeiro sentido da vida presente, que é o caminho para a outra, a eterna.
A sua irmã POMPÓNIA escreveu, consolando-a pela morte de BASILA. E termina dizendo: «O tempo foge insensivelmente , a morte aproxima-se em segredo, e a nossa cega esperança não vê senão as alegrias da vida. Felizes aqueles cuja alegria é Deus, e cujo gozo repousa na futura bem-aventurança!».
São BRÁULIO morreu pelo ano de 651.ÁULIO
ANTÓNIO FONSECA
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