Há semanas assim, ainda que todos desejássemos que nunca houvesse semanas assim. Ainda que semanas dessas se repitam. Ainda que.... Se se der ao trabalho de passar os olhos pelas capas das edições do Expresso Diário da última semana irá notar que é mesmo possível resumir uma história a três imagens. Talvez quatro, mas já lá vamos. Tivemos o fogo, imparável, à segunda. As cinzas, feitas de branco e negro, de destruição e morte, na terça. Depois, na quarta, o primeiro-ministro de gravata negra e mão na cabeça. Na quinta, dia de chuva, o retrato satélite de um furacão que, sendo, não chegou a ser. E que desapareceu literalmente dos mapas, como para nos lembrar que, mesmo nestes dias em que julgamos saber tudo, a natureza aí está para provar que não estamos certos.
As grandes catástrofes tornam maiores as tragédias e os feitos heróicos. Com a terra em brasa, o Expresso encontrou histórias de morte e sobrevivência, de perda e destruição, de medo e de abnegação. Uma família que salvou 14 pessoas e um coveiro que enterrou os três amigos. São instantes breves de um filme negro que deixou destruída a zona centro de Portugal — e que acaba com a morte do Pinhal de Leiria. É sempre assim: por mais imagens que se vejam de chamas, a verdadeira história é contada pelas cinzas.
Houve esta semana, ao contrário do que sucedeu há quatro meses em Pedrógão, uma outra dimensão dos fogos. No plano político, os incêndios daquele quente domingo de outubro, marcaram uma linha definitiva na ação do atual governo. António Costa aceitou a demissão de Constança Urbano de Sousa (a agora ex-ministra fez questão de lembrar, em carta tornada pública, que já tinha pedido para sair em junho) e nomeou Eduardo Cabrita para a Administração Interna. As implicações da micro-remodelação serão tema para os próximos dias, certamente, mas é impossível falar da semana que acabou sem olhar para o discurso, duro, de Marcelo Rebelo de Sousa em Oliveira do Hospital. E as consequências que poderá na relação entre Belém e São Bento.
Naqueles minutos no intervalo do jogo do Porto em Leipzig, Marcelo falou do passado (do recente e do de há 100 anos), mas falou acima de tudo para o futuro. Da floresta e da árvore política. Hoje é dia de conselho de ministros extraordinário, dedicado ao tema dos incêndios, mas na próxima semana o Governo tem pela frente uma moção de censura - já condenado a chumbar. Nada de novo, como pode ler num artigo que podia bem chamar-se breve história não censurada das moções de censura.
O mundo, como a história, não pára por nada. Na China, um dos gigantes do mundo, o Partido Comunista está reunido em congresso, o décimo-nono. Esta semana passaram 50 anos do dia da morte de Pu Yi, o último imperador chinês que acabou a vida como jardineiro. Em Pequim, perante 2300 delegados, o presidente chinês traçou o rumo e começou a preparar o terreno para as próximas décadas, cada vez mais consciente do peso do país na cena mundial. Xi Jinping planta como um paciente jardineiro, mas todos o olham como imperador.
Esta semana falámos também de um furacão pouco provável, tão improvável que, à conta de se chegar tão a norte, desapareceu dos mapas das pessoas que analisam furacões. A estranha vida do Ophelia.
Estamos quase no fim,talvez até a chuva já tenha abrandado. Dê um salto à janela, demore um pouco os olhos nas casas e prédios à sua volta. É provável que todos valham mais do que valiam há um ano - é assim em quase todos os concelhos do país. O preço dos imóveis está a subir, e não é só com a casa dos outros. Aposto que neste momento há alguém à janela a olhar para a sua casa.
Tenha um bom fim de semana.
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