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HENRIQUE MONTEIRO REDATOR PRINCIPAL   Deixa arder, mas tira o curso 15 de Setembro de 2017     Este ano Portugal teve um dos piores anos de incêndios florestais. Pior do que os hectares ardidos foram as vidas perdidas – 65 ou 66. Pelo meio falhas atrás de falhas, desorganização, incompetência reconhecida. Pelos bombeiros, pelos líderes locais da proteção civil… pelo próprio Presidente da República, até pelo Governo. Ainda ontem o Expresso Diário continuava a saga, noticiando que há empreiteiros a cobrar o dobropara recuperar casas em Pedrógão, além de que o relatório dos acontecimentos foi adiado 30 dias. Quem olha para isto? Parece que ninguém ou quase. Mas esperem… alguém se demitiu! Alguém que a ministra parecia querer demitir por acumular funções com as de responsável de um aeródromo. Pronto! Foi esse mesmo, o Comandante Operacional Nacional da Proteção Civil, Rui Esteves! Por causa do fogo? Da desorganização? Das inúmeras tragédias? Não! Porque tinha 32 equivalências num curso de 36 cadeiras. Mesmo tendo em conta que este Comandante tinha uma licenciatura e umas três pós-graduações, a moral da história, tirada por mim próprio, é a seguinte: façam as cadeiras todas. Com isso podeis ser incompetentes à vontade. AUTÁRQUICAS Ontem houve debates autárquicos em dois canais de TV – RTP3 e TVI24. O primeiro com 12 candidatos, em Lisboa, e o segundo com cinco em Loures, onde não faltou o famoso AndréVentura, o dos ciganos e candidato estrela do PSD. Foram debates animados, mas com pouco sumo. No primeiro, onde Assunção Cristas e Teresa Leal Coelho, além de vários outros, falaram essencialmente de habitação, mas não da do presidente, Joana Amaral Dias, candidata do ‘Nós Cidadãos’, abriu as hostilidades contra Medina, falando da compra do seu duplex nas Avenidas Novas. Ricardo Robles, do Bloco, acusou o presidente de favorecer grupos como o antigo BES e os Mello. João Ferreira da CDU disse que o PS estava sempre mancomunado com o PSD e o CDS. Mas esta animosidade é só em Lisboa, porque no país e em São Bento dão-se todos bem. Já em Loures parece que ninguém quer nada com Ventura. O próprio candidato do CDS agarrou-se a uma folha de papel do Diário da República, jurando que ali estavam as diretivas de Passos Coelho para a integração dos ciganos e outras minorias. Bernardino Soares, já sem a canga de ter dito há anos que a Coreia do Norte era uma democracia, acusou o candidato do PSD de tentar transformar o debate numa coisa de futebol “onde berram todos, uns sobre os outros”. Como ninguém acusou ninguém de ter equivalências a mais nos estudos, no fundo correu tudo bem.   OUTRAS NOTÍCIAS E a propósito de futebol, o Governo decidiu proibir jogos em dias de eleições. Isto para entrar em vigor depois das eleições de 1 de Outubro. Veremos se entra. Para já, o presidente do PS, Carlos César, disse duvidar da iniciativa. Por outro lado, e por questões logísticas, a Junta de Freguesia do Lumiar pediu um ligeiro adiamento do Sporting-FC Porto, o que foi atendido pela Liga. O jogo começará às 19:15 do dia 1. Os enfermeiros não desmobilizam e já marcaram outra greve para 3,4 e 5 de outubro. Agora é o Sindicato dos Enfermeiros Portugueses, o que não apoiou a pretensão dos enfermeiros especialistas. De qualquer modo, como ainda vão ser recebidos pelo Presidente Marcelo, tudo está em aberto. Coisa não prevista foi a tauromaquia ser um dos projetos mais votados no âmbito do orçamento participativo. Não tanto como o ‘Cultura para Todos’, mas ainda assim em segundo lugar. O Governo prometeu executar todos os 38 projetos aprovados. A notícia triste foi a morte da atriz Fernanda Borsatti, com 86 anos. Interpretou papéis de vária índole, distinguindo-se na comédia. Era daquelas pessoas de que toda a gente gostava.As cerimónias fúnebres decorrem hoje na Igreja de São João de Deus (Praça de Londres, Lisboa). A Coreia do Norte vai afundar o Japão e reduzir os EUA a cinzas. É o que eles dizem, ameaçam e bradam. E além disso pediu a dissolução do Conselho de Segurança da ONU. A história não entra na secção de humor porque nunca se sabe do que são capazes os norte-coreanos.Esta noite dispararam mais um míssil que sobrevoou o território nipónico e caiu no Oceano Pacífico.. Entretanto na Europa, junto ao Báltico, os russos e a Nato fazem ambos manobras militares, não conjuntas mas ao despique. Há diversas teorias de conspiração que indicam que o mundo não está a funcionar bem. Trump terá feito um acordo com os Democratasacerca dos cerca de 800 mil imigrantes levados ilegalmente para os EUA quando eram crianças (‘Dreamers’). Em contrapartida, e excluindo o muro, arranjou apoios para reforçar as fronteiras. Poucas horas depois veio dizer que o muro era importante (penso que quem acompanha Trump deve ter subsídio). Michel Temer, que ainda é presidente do Brasil (nota para quem já não se lembra) foi constituído arguido por obstrução à justiça e organização criminosa. O ex-número dois de Dilma dirá agora que está a ser perseguido, num mantra que se tornou audível em quase todos os setores do Brasil. 23 estudantes e professores morreram num incêndio de um dormitório numa escola islâmica, em Kuala Lumpur, na Malásia. A escola não cumpria regras governamentais e não há sinais de atentado. A Amnistia Internacional mostrou mais provas dos atentados contra os Rohyngya, um povo muçulmano perseguido em Myanmar (Birmânia). As fotografias mostradas parecem deixar claro a perseguição àquele povo que já deu lugar a diversas condenações internacionais, incluindo a Aung San Suu Kyi, prémio Nobel da Paz quando se opunha à ditadura militar do seu país, atual Conselheira Estatal, que se mantém em silênciosobre esta limpeza étnica, decidindo, inclusivamente faltar à Assembleia Geral da ONU. A sonda espacial Cassini, sem a qual os nossos conhecimentos do Universo seriam muito menores, termina a sua missão ao fim de 13 anos. Todo o mundo lhe diz adeus e agradece o saber que acrescentou aos nossos ainda parcos conhecimentos do que nos rodeia. Por falar em conhecimento: a datação por Carbono 14 dos manuscritos Bakhshali mostram que o zero é um número inventado há bastante mais tempo do que pensávamos. Na verdade, é centenas de anos mais velho. Se isto lhe parece não ter importância é porque não sabe que sem o zero ainda andava a fazer contas em ábacos. Computadores, smartphones e televisões não existiam. A propósito de zero, o compositor preferido de Tony Carreira, Ricardo Landum, acha que isto é um país de invejosos. Eu também, desde que acusaram a minha fórmula mc2=e de ser plágio, percebi que os físicos invejosos se basearam num tal Einstein que tinha escrito que e=mc2.Como se fosse a mesma coisa! Agora dizem que plagiei. E eu só não cito Landum porque ele tem frases que não devem ser aqui escritas. Na Liga Europa, o Braga saiu-se com o excelente resultado: 2-1 em casa do Hoffenheim, sensação do campeonato alemão; já o Vitória de Guimarães não foi além de um empate em casa, a um golo, com o Salzburgo, da Áustria. MANCHETES 23 mil sem avaliação prejudicados na carreira da Função Pública - denuncia o 'Público' Batatas fritas com rótulo errado são um risco para diabéticos - alerta o 'DN' Milionário apaga provas da violência - exclama o 'Correio da Manhã, referindo-se a Nuno Vasconcellos, dono da Ongoing, acusado de bater na mulher Governo admite cobrar IRS a estrangeiros - adverte o 'Jornal de Negócios' Lei não deixa travar fraude nas cartas condução - anuncia o 'Jornal de Notícias' Oposição tenta conquistar presidência do parlamento maçónico - confidencia o 'I' , FRASES “Se houver um voto ‘sim’, a favor da independência catalã, então respeitaremos essa decisão. Mas a Catalunha não poderá ser um estado membro da União Europeia no dia seguinte a essa votação”, Jean-Claude Juncker, presidente da Comissão Europeia. “Até ser questionado por órgãos de comunicação social nunca pensei que fosse imaginável qualquer associação desse ato de compra de casa às minhas funções na CML”, Fernando Medina que é o Presidente da CML (Câmara Municipal de Lisboa) e comprou um duplex de luxo numa zona cara de Lisboa. “Portanto, não fazemos política com base nestes casos, mas também tenho de dizer ao senhor presidente da Câmara de Lisboa que não aceitamos o manto de suspeição que ontem veio lançar sobre todas as candidaturas quando referiu que haveria influências partidárias”, Assunção Cristas, candidata ao lugar de Fernando Medina explicando que não faz política com o caso com que está a fazer política. “Foram mais de 400 doentes, quase metade teve de ser assistida em cuidados intensivos. Percebemos, e demos uma lição a todos, que Portugal tem um Serviço Nacional de Saúde (SNS) fantástico”, Francisco George, que se retirou de Diretor-Geral de Saúde, falando do “maior susto” em 12 anos à frente do organismo: o surto de legionella em Vila Franca de Xira, em 2014, que provocou 11 mortos. “Um dia, um algoritmo mestre acabará por tomar conta da humanidade. Será que nesse dia, quando os computadores ditarem o princípio da eficácia, ainda poderemos dizer que vivemos em democracia?”, Pedro Domingos, engenheiro do IST, professor na Universidade de Washington, autor do livro The Master Algorithm, um dos mais destacados por Bill Gates numa entrevista a Hugo Séneca, na Exame Informática. O QUE EU ANDO A LER Não seria demais recomendar-vos, ainda e mais uma vez, ‘O Deserto dos Tártaros”, um livro escrito em 1940 por Dino Buzzati de tal modo ele é bom. Mas já o fiz no Curto anterior e, entretanto ofereceram-me um livro que é bem catita, como dizia um ex-colega meu. Trata-se de “Lenine no Comboio” (Temas e Debates), uma fascinante e muito bem escrita história, absolutamente verdadeira, de como o líder dos comunistas russos conseguiu ir da Suíça até São Petersburgo, passando pela Alemanha, quando a Alemanha estava em guerra (1917) com os aliados europeus, entre os quais a Rússia (além da França e Inglaterra). O líder proletário fê-lo, com a conivência alemã, que além disso subsidiou a sua causa com uns milhões de marcos, convencido de que ele (como fez) retiraria a Rússia da guerra, deixando a frente oriental de ser um problema para os germânicos. Catherine Merridale, uma britânica que viveu na Rússia, fá-lo com uma competência e rigor assinaláveis, aliando essas qualidades à sua capacidade de descrição notável. Desde o que ficamos a saber da fronteira entre a Suécia e a Finlândia (então território dominado pela Rússia), até à geografia de Petrogrado, nome que cederia para Leninegrado, para mais recentemente voltar ao velho São Petersburgo, todos os pormenores do livro são deliciosos. A que não faltam fotografias da época e opiniões de diplomatas, além de explicações sobre quem, além de Lenine, era quem naquele que ainda viria a ser o Partido Comunista da União Soviéticas (PCUS). Entretanto distraio-me com ‘Abril e outras transições’ (D. Quixote) de José Cutileiro, bom amigo colaborador do Expresso que revive o passado e vagueia pelo presente, no seu estilo inconfundível (no qual os parágrafos são bastante mais pequenos do que estão habituados a ver no também inconfundível In Memoriam, o obituário que faz no Expresso. Para os que não viveram os outros tempos e para os que querem refletir sobre estes, recomenda-se. Em lista de espera está o IX volume dos clássicos da Academia Brasileira – Iracema, de José de Alencar, um livro do séc. XIX que li há muito tempo e fiquei com a ideia de que valia nova visita. E como já tresli (coisa que só é possível falando de mais de três livros), resta-me despedir com amizade até para a semana, lembrando o Expresso Diário, de hoje às 18 horas, e o Expresso semanal de amanhã, que também tem as escolhas do editor. Pelo que nos toca, pode sofrer de diversos males, mas não de falta de informação… e de entretenimento e cultura. Bom fim de semana, na companhia dos seus (no qual esperamos estar o Expresso).

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