quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

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Valdemar Cruz
POR VALDEMAR CRUZ
Jornalista
 
26 de Janeiro de 2017
 
Bem-vindos ao tempo das Distopias
 
Estamos a viver os dias de todos os prodígios. Primeiro foi a constituição de um governo apoiado por uma maioria a que alguns manhosamente persistem em chamar “gerinçonça”. Depois veio a eleição do inenarrável Donald Trump. Agora temos o PSD a votar ao lado do PCP, do BE e dos Verdes para derrotarem a baixa da TSU ambicionada pelo patronato para caucionarem o aumento do salário mínimo. A medida, diziam os partidos à esquerda do PS, incentivava os baixos salários, não resolvia nenhuma questão da economia, não favorecia a distribuição da riqueza e desprezava a possibilidade de cortes noutros custos das empresas. Deveria custar ao Estado perto de €40 milhões, valor que deve agora ser obtido através da descida do PEC (Pagamento Especial por Conta). Ontem ao fim da tarde António Costa já começou a reunir com os parceiros sociais para encontrar alternativas. À saída do encontro, Arménio Carlos, dirigente da CGTP-Intersindical confirmava que o primeiro-ministro propusera a redução do PEC para as PME’s. António Saraiva assegurava que Costa garantiu às Confederações Patronais uma descida do PEC de pelo menos €40 milhões.

Tudo indica, como ontem referia o Jornal de Negócios, que a proposta possa ser aprovada hoje em Conselho de Ministros. Esta redução do PEC, reclamada por PCP, BE e Verdes, beneficiará em particular as Pequenas e Médias Empresas. No Público de hoje assegura-se que as Misericórdias e IPSS irão receber mais verbas para compensar a TSU.

Ao longo do debate, o PSD nunca conseguiu descolar da ideia de que a razão maior da birra contra a aprovação da baixa da TSU esconderia na verdade uma oposição ao aumento do salário mínimo. Razão para Tiago Barbosa Rodrigues, deputado do PS, chamar à colação Francisco Sá Carneiro e, a propósito da singular posição do PSD na votação da redução da TSU, afirmar que “a política sem risco é uma chatice, sem ética é uma vergonha”. Ignoro se Sá Carneiro alguma vez produziu um pensamento semelhante. Porém, e nestas particulares circunstâncias, “se non è vero, è ben trovato”. E esse é o problema do PSD. Enredou-se numa teia de factos alternativos num tempo da já insuportável ideia da pós-verdade. Corre agora o risco de cair num mundo distópico, em que a verdade de ontem pode ou não ser a verdade de hoje. Depende das oportunidades e das conveniências.
 
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OUTRAS NOTÍCIAS

Mário Centeno participa hoje na reunião do Eurogrupo com o conforto de um défice (2,3%) bem abaixo do exigido por Bruxelas. Porém, segundo conta Suzana Frexes, correspondente do Expresso em Bruxelas, o inevitável ministro das finanças alemão, Wolfgang Schäube terá feito saber que, em relação ao Orçamento para 2017, espera de Portugal a tomada de medidas adicionais para cumprir as regras do Pacto de Estabilidade e Crescimento.

O Banco Central Europeu (BCE) deu luz verde quanto à idoneidades e competência dos sete membros da nova comissão executiva da CGD, presidida por Paulo Macedo. A nova equipa assume funções a 1 de Fevereiro.

O Tribunal da Relação do Porto começou ontem a julgar nove dos 33 recursos interpostos pelos arguidos do processo “Face Oculta”, passados mais de dois anos após o acórdão do Tribunal de Aveiro que culminou em 34 condenações individuais. Os juízes deixaram as televisões filmar as alegações, que terminam a 16 de fevereiro.

Desde março de 2011, 109 jovens entre os 18 e os 24 anos fizeram alteração de sexo no registo civil. Isto é, alteraram o género que consta nos seus documentos de identificação. A notícia é do Público e revela que propostas do Governo, do BE e do PAN preveem descida para 16 anos da idade legal a partir da qual é possível requerer a alteração de género e nome próprio.

Era um visionário. Homem de convicções, profundo estudioso das questões do mar, transformou-se num grande oceanógrafo, ao ponto de passar a ser visto como uma referência a nível internacional. Foi ministro das Pescas em 1974 e dos Negócios Estrangeiros em 1975. O oceanógrafo Mário Ruivo tinha 89 anos e faleceu ontem. Era o homem dos oceanos que nasceu no Alentejo profundo, como diz a Manuela Goucha Soares. O funeral realiza-se hoje a partir das 14h. O corpo sai da Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, para o cemitério dos Prazeres.

Fátima será este ano muitas vezes notícia devido à visita do Papa Francisco. Miguel Carvalho, da revista Visão, foi para lá tentar perceber aquilo que é também um negócio a muitas vozes. Apresenta uma reportagem destinada a levantar o véu sobre a face materialista da cidade, que este ano espera receber mais de 8 milhões de visitantes e, porventura, a maior receita financeira de sempre. Depois aborda algumas faces mais cinzentas e clandestinas daquele mundo com idas ao WC descontadas no ordenado, mães impedidas de amamentar ou jovens a ganhar um euro por cliente angariado.

As passas do Algarve não afetaram o Braga que, aliás, lhe chamou um doce. É assim que na Tribuna, do Expresso, se titula a passagem do Braga à final da Taça da Liga após a vitória sobre o Vitória de Setúbal por 3-0.

PRIMEIRAS PÁGINAS

Seguradoras castigam deficientes e doentes crónicos - JN

Misericórdias e IPSS recebem mais verbas para compensar TSU – Público

74% das vagas para médicos no Sul do país ficaram por preencher – DN

Embaixador de Trump na EU diz que euro acaba em ano e meio – I

Viver até aos 100 - A esperança de vida está a crescer cinco horas por dia – Sábado

Os segredos dos negócios de Fátima – Visão

PEC só é determinante para 13% das empresas – Negócios

Jesus não se rende – A Bola

Danilo Dragão até 2022 – O Jogo

Jesus – É ponto de honra ser campeão - Record

LÁ FORA

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, assinou ontem o decreto que determina a construção de um muro na fronteira norte-americana com o México e um outro que retira dinheiro federal aos estados e cidades (chamadas “cidades santuário”) que abrigam imigrantes ilegais. Trump defende que, atualmente, admitir imigrantes provenientes do Iraque, Síria, Irão, Sudão, Líbia ou Yemen contraria os interesses dos EUA. Prepara-se, além disso, para reduzir de forma drástica a colaboração dos EUA com a ONU e retirar o país de tratados multilaterais internacionais. No México já está a ser pedido ao presidente Peña Nieto que cancele a visita aos EUA programada para a próxima terça-feira.

Em Itália, o Tribunal Constitucional declarou inconstitucional a realização de uma segunda volta entre os dois partidos mais votados para atribuir ao vencedor a maioria absoluta da Câmara dos Deputados. Era um prémio atribuível automaticamente ao partido vencedor que obtivesse mais de 40% dos votos e fora uma proposta do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi. O DN diz que, com esta decisão, está aberto o caminho para eleições antecipadas.

As vendas do livro “1984”, de George Orwelldispararam no top de vendas da Amazon após Kellyanne Connway, conselheira de Donald Trump, ter tentado recentrar afirmações do porta-voz para a imprensa da Casa Branca, Sean Spicer, quando criticou a cobertura dada pela imprensa à tomada de posse de Trump. Connway afirmou que Spicer se limitara a apresentar “factos alternativos”. A expressão foi associada ao termo “novilíngua” utilizado na novela distópica de Orwell para assinalar uma linguagem ficcional que pretende eliminar o pensamento pessoal.

Usain Bolt terá de entregar a sua medalha de ouro olímpica conquistada nos Jogos de Pequim de 2008 na prova dos 4x100 metros estafetas. É a consequência de Nesta Carter, um elemento da equipa jamaicana que disputou aquela corrida, ter acusado positivo em metilhexanamina numa das 54 amostras que foram outra vez testadas pelo COI (Comité Olímpico Internacional).Pode rever aqui a corrida.

A partir de 17 de março os britânicos terão á sua disposição selos de correio com imagens de algumas das mais icónicas capas de álbuns de David Bowie. Depois dos Beatles e dos Pink Floyd, é a primeira vez que uma emissão de selos celebra um artista individual. “Aladin Sane”, “Heroes”, “Hunky Dury”, ou “The Serious Moonlight Tour, 1983” são alguns dos discos cujas capas viajarão nos selos do Royal Mail.

FRASES

“Não é a concertação social que decide sobre a política laboral. É o Governo e a Assembleia da República”. João Oliveira, líder parlamentar do PCP no debate sobre a cessação da baixa da TSU

“É legítimo discordar do Governo. Mas isto não é divergir, é tirar o tapete ao Governo. Desistiram do Governo?". Luís Montenegro, líder da bancada do PSD no debate parlamentar

“Este (posição do PSD) será um colossal tiro no pé”. Vieira da Silva, Ministro do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social

“O curso das coisas com a Presidência Trump nos EUA é particularmente perigoso, porque revela uma crescente tendência autoritária”. José Pacheco Pereira, historiador, na revista Sábado

“O Obamacare fez com que a percentagem de americanos sem seguros de saúde caísse drasticamente para o mais baixo nível. A sua reversão vai fazer este número subir em flecha – 18 milhões sem seguro de saúde só no primeiro ano”. Paul Krugman, economista norte-americano na revista Visão

O QUE NÃO ANDO A LER

Não se preocupe. Não há engano no título. Gostava muito de falar de livros que ando a ler, como “The Art of Forgery”, de Noah Charney, ou do último número da revista “Philosophie”, que coloca como tema de capa a seguinte interrogação: “De quoi la gauche est-elle malade?”. Acontece que, hoje, este espaço não terá ligações para outros sítios, outros jornais, outros livros. Resolvi falar do que NÃO ando a ler e, no entanto, gostava muito de ler. Por exemplo o relatório do Conselho de Opinião (CO) da RTP no qual se fundamente o veto à nomeação do jornalista João Paulo Guerra para provedor do ouvinte, proposta pelo Conselho de Administração da empresa. Não sabe o que é, que especiais competências possui, ou quem faz parte do CO? O mesmo CO que já vetara Joaquim Vieira? Não se preocupe. Provavelmente nem grande parte deles sabe verdadeiramente quem é ou o lugar que ocupa. Pelo contrário, sabemos ser João Paulo Guerra um dos grandes nomes da história da rádio em Portugal. Várias vezes distinguido com os principais prémios de jornalismo existentes em Portugal, afirmou-se ao longo de meio século de atividade como um profissional exemplar, seja pela qualidade do trabalho desenvolvido, seja pelo modo como sempre soube trabalhar para a construção de uma rádio onde imperem os valores da democracia e da liberdade. O Conselho de Opinião entende não ter de dar explicações. Temos um Conselho que, sendo de Opinião, opta por esconder as opiniões.

Já agora, e porventura influenciado pelo recente Congresso dos Jornalistas, lembrei-me de outras leituras que não tenho tido. Pego em qualquer um dos principais jornais nacionais portugueses, sem exceções, e deparo com um enorme vazio. Uma enorme e continuada dificuldade em encontrar colunas regulares de opinião assinadas por quem se coloque fora do antes chamado “arco da governação”. O conceito era totalitário e excludente, mas existia e funcionava para a composição de governos. Não deixa de ser paradoxal constatar como a constituição do último executivo pulverizou o conceito no plano governamental, mas não o beliscou no âmbito da comunicação social.

Se queremos encontrar nos jornais, nas televisões (as generalistas muito em particular), nas rádios, quem de uma forma regular e continuada tenha espaço para expressar as leituras do mundo, as escolhas, as opções, a mundividência de quem se coloca num campo político e ideológico diverso daquele, deparará com um exercício quase tão complexo como decifrar um problema de mecânica quântica.

Nada disto é normal. Nada disto enobrece ou contribuiu para uma democracia saudável. Reivindicar esse equilíbrio não pode ser utópico. A ausência desse equilíbrio é completamente distópica.
Está servido o seu Expresso Curto. Tenha um bom dia, a partir de hoje acompanhado de chuva. Estamos a viver dias férteis em termos noticiosos, em Portugal e no Mundo. Por isso, volte sempre, porque a qualquer hora terá novidades no Expresso Online e mais logo no Expresso Diário.
 
 

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