quinta-feira, 6 de outubro de 2016

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Miguel Cadete
Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
 
6 de Outubro de 2016
 
António Guterres, um português no topo do mundo
 
Tudo indica que hoje, em Nova Iorque, às 15 horas de Lisboa, António Guterres será aclamado secretário-geral das Nações Unidas. Nunca um português terá chegado tão longe. Nunca nenhum terá tido, nos últimos séculos, tamanha influência no mundo. Guterres era, provavelmente, o mais bem preparado de todos.

Apesar de todas as dúvidas que o atormentaram enquanto foi primeiro-ministro de Portugal. Mesmo que a sua eleição para secretário-geral das Nações Unidas tenha sido discutida até cortar a meta.

Ontem, depois de ter dominado as cinco votações anteriores para o mais alto cargo da Organização das Nações Unidas, recebeu 13 votos favoráveis dos 15 membros do Conselho de Segurança. Com o novo processo de eleição, que pugna pela transparência, ninguém votou pelo desencorajamento. Apenas dois membros escolheram a indecisão.

Pelo contrário, a mais temida adversária, Kristalina Georgieva, que surgiu à última hora e se apresentava como a maior rival pelos apoios que poderia obter, foi inapelavelmente batida, com oito votos de desencorajamento.

António Guterres ganhou e hoje, na derradeira votação, será o único candidato. O português chegará à liderança das Nações Unidas por aclamação. Uma vitória cristalina, como descreve o “Público”.

O que falta para Guterres ser secretário-geral da ONU?

O Conselho de Segurança da ONU deu uma indicação clara, durante a sexta votação que ontem teve lugar, sobre quem deve ser o novo secretário-geral e então suceder a Ban-Ki Moon a partir de 1 de janeiro de 2017. Porém, cabe à Assembleia Geral, tomar a decisão final, por maioria simples, hoje, às 15 horas.

Vitali Churkin, embaixador da Rússia, o país que atualmente preside ao Conselho de Segurança, anunciou ontem publicamente esperar “que seja indicado por aclamação”. Representando os 15 membros do Conselho de Segurança, acrescentou: “Desejamos ao senhor Guterres que tudo corra bem no desempenho das funções como secretário geral das Nações Unidas, nos próximos cinco anos.”

O novo secretário-geral da ONU será eleito pela Assembleia Geral, depois desta recomendação do Conselho de Segurança da ONU. Necessita de uma maioria simples dos 193 países para que a decisão seja ratificada, numa votação que acontece à porta fechada. Também compete à Assembleia Geral estabelecer a duração do mandato, que tradicionalmente é de cinco anos.

Do Técnico para o Mundo

António Manuel de Oliveira Guterres nasceu em Lisboa em 1949. Terminou a licenciatura em Engenharia Electrotécnica em 1971, sendo considerado um dos melhores alunos de sempre do Técnico, a mais reputada escola de engenharia portuguesa.

Entrou para o PS em 1973 e já secretário-geral ganhou as eleições legislativas de 1995. Presidiu a dois governos, sendo primeiro-ministro entre 1995 e 2001. Depois de uma derrota do PS nas eleições autárquicas, demitiu-se do cargo, para evitar o “pântano político”, cedendo o lugar a Durão Barroso. Barroso também abandonaria também o cargo para ser presidente da Comissão Europeia.

Em 2005, António Guterres seria nomeado Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados, cargo em que se manteve até 2015. A sua candidatura à presidência da República, em 2016, seria ventilada inúmeras vezes. Ao não se concretizar, abriu o caminho à vitória de Marcelo Rebelo de Sousa.

Como ele chegou lá

O novo processo de eleição do secretário-geral das Nações Unidas pretendia-se transparente mas foi perturbado pela candidatura, na passada semana, por proposta da Alemanha, de Kristalina Georgieva, comissária europeia do Orçamento e Recursos Humanos.

A candidatura de Guterres teria começado há mais de dois anos, quando um diplomata norueguês terá indagado da disponibilidade do português para ocupar o cargo. A candidatura só seria formalizada mais tarde mas desde o passado mês de julho, António Guterres venceu claramente todas as seis eleições entre os membros do Conselho de Segurança, eliminando sucessivamente os candidatos patrocinados por Jean Claude Juncker, atual presidente da Comissão Europeia, ou pela chanceler Angela Merkel.

As dúvidas quanto ao sentido de voto da Rússia, um dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança, dissolveram-se ontem, 5 de outubro. Um resultado que se apresenta como uma clara vitória da diplomacia portuguesa.

FRASES

“António Guterres era e é, claramente, o melhor para o cargo. Pelas suas qualidades pessoais, pelo seu currículo na própria ONU, pela capacidade de visão e de equação dos principais problemas universais”. Marcelo Rebelo de Sousa, presidente de Portugal

“Foi um grande trabalho da nossa diplomacia, um grande esforço que todos temos feito, todos os órgãos de soberania, todos os partidos”. António Costa, primeiro-ministro de Portugal

“António Guterres tem a capacidade de estabelecer pontes. Ele vai ser um secretário-geral que representa a voz das Nações Unidas como tal, de todas as nações, de todos os 193 países que fazem parte das Nações Unidas”, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros

“Triunfou uma forma participada, contra manobras de última hora”, Jorge Sampaio, presidente de Portugal

“Que a sua sensatez e o respeito que a sua voz inspira no mundo possam fazer a diferença”. Cavaco Silva, presidente de Portugal

“É histórico para Portugal, é a primeira vez que um português terá este lugar tão relevante”. Passos Coelho, líder do PSD

As Nações Unidas mostraram-se imunes a “manobras mais ou menos estranhas”. Catarina Martins, líder do BE

Uma vitória pessoal e da diplomacia portuguesa que “honra muito Portugal”. Assunção Cristas, líder do CDS

É necessário contrariar a “linha de instrumentalização” da ONU. Ângelo Alves, dirigente do PCP

“Uma boa notícia para a ONU e para Espanha”. Mariano Rajoy, primeiro-ministro de Espanha

“Um bom amigo, um homem de visão, coração e ação. A cooperação entre a União Europeia e as Nações Unidas vai tornar-se mais forte”. Federica Mogherini, Alta Representante da União Europeia para os Negócios Estrangeiros e Política de Segurança

Visto de fora

A imprensa internacional destaca a capacidade de diálogo de António Guterres, o facto de se ter imposto aos candidatos femininos ou a surpreendente união do Conselho de Segurança das Nações Unidas. O editorial do “New York Times”, “uma nova voz para um mundo complicado”, começa logo por dizer que Guterres é “uma excelente escolha para suceder a Ban-Ki Moon”.

O “Observador” fez um apanhado do que foi dito “lá fora”. O “DN” recolhe vários depoimentos que contestam a provável eleição de um homem, quando seria expectável a nomeação de uma mulher enquanto secretária-geral da ONU. O “Economist” saúda Guterres até porque considera os dois mandatos de Ban-Ki Moon um “flop” mas cita o seu antecessor: “um homem de princípios mas também um pragmático”. A BBC pergunta (e responde): “quem é António Guterres?”

Os trabalhos de Guterres


Enquanto todo o país e (grande parte do) mundo rejubilam com a vitória de guerra, já se apontam alguns dos desafios que o novo secretário-geral das Nações Unidas terá de enfrentar. A guerra na Síria, a questão dos refugiados, a desigualdade, a Coreia do Norte ou a Rússia são apenas uma parte dos problemas com que Guterres se irá defrontar. O “Diário de Notícias” já descobriu dez.

Vencidos
Se Guterres é o grande vencedor, Kristalina Georgieva e Angela Merkel são os maiores perdedores desta eleição. A chanceler defendeu, à última hora e com o apoio de países como a Hungria a candidatura Kristalina. Ambas perderam e o seu futuro parece cada vez mais comprometido. Georgieva terá que abandonar o seu cargo de comissária europeia?
 

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O QUE ANDO A LER

“Para mim, comemos todos a mesma maçã. Adão, Eva, o rebelde Jesus, em toda a sua glória, e Satanás fazem todos parte do plano de Deus para fazer de nós homens e mulheres, para nos oferecer as dádivas preciosas da terra, da sujidade, do suor, do sangue, do sexo, do pecado, da bondade, da liberdade, do cativeiro, do amor, do medo, da vida e da morte… da nossa humanidade e de um mundo só nosso”.

Poderia ter sido António Guterres a escrever estas palavras, logo que fez parte da Juventude Católica durante a sua juventude ou mesmo já muito depois disso. Mas não. Elas saíram da pena de alguém de um rocker marcado por uma educação católica.

Alguém que também está habituado aos grandes palcos deste mundo. Chama-se Bruce Springsteen e acaba de publicar a sua autobiografia, “Born To Run”. O volume, com mais de 560 páginas, já conheceu tradução para português (Elsinore) e é um relato em tom confessional do percurso de um músico americano de Nova Jérsia capaz de atrair dezenas de milhar de espectadores aos seus concertos como se provou ainda este ano, no Rock in Rio.
A sua canção mais representativa é, muito provavelmente, a que dá título ao livro e onde canta “trumps like us, baby we were born to run”. Já o livro, que só agora comecei a ler, acaba assim: “o caminho está livre: acelero a fundo e a velocidade regressa a casa nos meus braços”.
Parabéns António Guterres.


Tenha um bom dia! Todas as notícias que importam estarão no Expresso online. Não esqueça que a aclamação de Guterres sucede a partir das 15h. Logo mais, às 18h, o Expresso Diário trará a análise e os comentários do dia.

 


 
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