Verão quente com títulos europeus e mundiais até mais não
4/33O país não foi apanhado de surpresa quando Fernando Pimenta conseguiu dois títulos de campeão da Europa de canoagem, nos primeiros dias do verão. Afinal de contas, trata-se de um atleta que tem alcançado resultados de exceção nos últimos anos. Logo depois, Portugal já se surpreendeu um pouco com o título mundial de Tiago Ferreira, nas maratonas BTT, e com a nova campeã europeia da natação, Tamila Holub.
A 10 de julho começámos a abrir a boca de espanto: até meio da tarde desse domingo chegaram as medalhas de ouro de Patrícia Mamona (triplo salto) e Sara Moreira (meia maratona) nos Europeus de atletismo, em Amesterdão. Sara, de resto, não é virgem em títulos desta magnitude, uma vez que em março de 2013 já tinha sido campeã da Europa nos 3000 metros, em pista coberta. Na mesma prova, Portugal foi também campeão por equipas (vitória de Sara Moreira, Dulce Félix, Jéssica Augusto, Marisa Barros e Vanessa Fernandes).
Definitivamente, 10 de julho deveria passar a ser conhecido como o Dia do Desporto em Portugal: depois de muito sofrimento, surgiu mais um título europeu, sem dúvida o mais apetecido de sempre para a maioria dos portugueses: uma grande conquista da seleção nacional A de futebol, ainda por cima diante da habitualmente aziaga França e em Paris. Estava vingada a desilusão do Euro 2004.
A sequência de grandes conquistas inflamou a confiança nacional e os títulos continuaram a chegar e a ganhar eco solene, mesmo nas modalidades habitualmente mais menosprezadas no espetro mediático. Como a columbofilia, na qual Paulo Jorge Martins ganhou os Campeonatos Internacionais em Mira com o seu "Cristiano Ronaldo" de asas fortes.
E, claro, sem esquecer o título de campeão da Europa de hóquei em patins, alcançado 18 anos depois em Oliveira de Azeméis, a verdadeira capital portuguesa do hóquei. Mas os atletas nacionais não ficaram por aqui e ainda foram os melhores no ténis de mesa para transplantados e dialisados, por Cláudio Mendes e no surf, com Teresa Bonvalot a sagrar-se campeã europeia júnior. E para o ecletismo ser total nem faltou um título na arte marcial jiujitsu, obra de Bruno Lima, de apenas 14 anos.
Efeito Marcelo
Face a este conjunto de fantásticos resultados nas mais variadas modalidades, o treinador de futebol Manuel José, em declarações ao DN, brinca: "Quando uma borboleta bate as asas no Paquistão acaba por ter efeito em todo o mundo. Ou então estamos em presença do efeito Marcelo. O nosso Presidente é hiperativo e quase consegue estar em cinco sítios ao mesmo tempo para condecorar esta gente toda."
No que se refere ao título de campeão da Europa no futebol, Manuel José realça "a forma equilibrada como Fernando Santos construiu a equipa e, com um futebol bonito ou não, a verdade é que havia um projeto definido e o treinador sempre acreditou". Por outro lado, pensa que "o facto de Portugal ter voltado a trabalhar muito bem na sua formação nos últimos anos foi decisivo para este título".
Como é natural, a seleção passa a ter mais responsabilidades, mas Manuel José entende que é possível manter o nível. "Fernando Santos tem todo o crédito do mundo e poderá fazer uma renovação natural na seleção, arriscando com a aposta em jogadores jovens de valor, que felizmente não faltam. Se os clubes continuarem a trabalhar bem na área da formação, o futuro continuará assegurado", defende.
Hóquei rei e a menina prodígio
Júlio Rendeiro, figura lendária do hóquei em patins português - duas vezes campeão mundial e cinco vezes campeão europeu como jogador e uma vez campeão mundial como treinador -, acompanhou com enorme satisfação a última caminhada vitoriosa da seleção.
"Éramos sem dúvida a melhor equipa do Campeonato da Europa. 18 anos sem um grande título internacional é muito tempo para Portugal, mas foi agora feita justiça, porque tínhamos perdido alguns campeonatos em que tínhamos sido manifestamente superiores", defende.
O antigo selecionador nacional, que já pensa na possibilidade de Portugal se sagrar campeão mundial no próximo ano, na China, diz que o título europeu "irá trazer um novo impulso ao hóquei português, mas não o suficiente para que volte a ser a segunda modalidade de Portugal, pois houve outros desportos que entretanto cresceram muito". A surfista Teresa Bonvalot tem apenas 16 anos mas também já habituou a resultados de exceção. Nunca, no entanto, tinha conseguido sagrar-se campeã europeia júnior, o que sucedeu há poucos dias, em Espanha.
"Já participo no circuito Pro Junior europeu há quatro anos e em 2015 terminei em segundo lugar, por isso neste ano encarei a competição com ainda mais determinação. Impus a mim mesma este objetivo e tudo correu bem nas cinco etapas já decorridas. Já não necessito de participar na última etapa em Lanzarote (em novembro) porque só contam os cinco melhores resultados das seis etapas", explica ao DN.
Teresa não esconde o "grande orgulho" de estar englobada entre tantos campeões portugueses. "Estas últimas semanas estive em Espanha e vi todos os jogos do Europeu de futebol, alguns na companhia de outros surfistas espanhóis, ingleses e franceses [risos]. Sofri durante a final mas valeu a pena", sublinha a surfista, que tem como ídolo Kelly Slater.
No seu horizonte para os próximos anos tem objetivos muito claros. "Treinar, evoluir, treinar, evoluir, para um dia chegar ao World Campionship Tour", salientou a jovem surfista.
Pombo CR7 e um exemplo de vida
Nem sequer a columbofilia escapou à "fúria" vencedora portuguesa, com Paulo Jorge Martins a ganhar os Campeonatos Internacionais que decorreram em Mira e que contaram com mais de 900 pombos. Este português de 37 anos já vendeu, por 550 euros, a ave que lhe permitiu o triunfo.
"O pombo tinha muito boas origens, umas belas asas, bem ventiladas. Era um verdadeiro Cristiano Ronaldo dos pombos!", atira ao DN, acrescentando que "a prova final não era nada fácil, o pombo esteve a voar 350 quilómetros durante seis horas, mas foi o primeiro a voltar a Mira, com 30 segundos de avanço sobre o segundo classificado".
O campeão Paulo Jorge Martins, no entanto, não foi condecorado pelo Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa nem faz questão de o ser.
"Este desporto, infelizmente, não é muito divulgado em Portugal. De qualquer forma, não são as medalhas e os troféus que me movem, mas sim a paixão por esta modalidade e, claro, pelos pombos", explica.
De todos estes heróis portugueses, há um que merece ser ainda mais destacado: Cláudio Mendes, que se sagrou campeão europeu de ténis de mesa para transplantados e dialisados.
"Não estava à espera, até porque foi a minha primeira participação. Já ficaria satisfeito com um lugar no pódio", confessa ao nosso jornal. Curiosamente, o início foi desastroso, diante do francês Remy Segade, bicampeão em título.
"Estava muito nervoso, até porque os atletas portugueses estavam todos a apoiar-me e isso provocou-me uma pressão extra para a partida. Mas depois concentrei--me, equilibrei o meu jogo e acabei por conquistar os outros três sets", conta ao DN. Seguiram-se triunfos frente aos finlandeses Erik Lintula e Pasi Supperi... e o título estava no bolso.
Cláudio Mendes, de 35 anos, padece de insuficiência renal. "Em 2008, eu jogava ténis de mesa no Sporting da Madeira, mas comecei a sentir-me muito cansado e com dores de cabeça. Fui ao médico mas não me diagnosticaram nada. Comecei a sentir-me cada vez pior e em 2011 estava sempre com a tensão muito alta. Foi aí que descobriram a insuficiência renal", revelou o atleta.
Na altura, foi obrigado a deixar o ténis de mesa, mas entretanto começou a fazer diálise e melhorou substancialmente. De tal forma que neste ano voltou à ação e foi convidado a participar nestes Jogos. Atualmente sente-se tão bem que até já recebeu convites para voltar a jogar a modalidade que tanto gosta.
A exemplo de outros, Cláudio não foi englobado na "febre" de comemorações do nosso Presidente da República, mas deixa-lhe o recado. "Acho que mereço, pois para além de campeão no desporto também o sou na vida!", refere o atleta.
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