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Por Luísa Meireles
Redatora Principal
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29 de Junho de 2016 |
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Porque estão aqui?
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Ontem, foi a frase do dia. Foi o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker que a pronunciou, num aparte dirigido aos eurodeputados britânicos eurocéticos, a meio de um discurso sobre o Brexit no qual solicitou
ao Reino Unido que “clarificasse a situação o mais rapidamente
possível”. Foi numa sessão extraordinária do Parlamento Europeu com a
presença de Juncker e de todo o colégio de comissários, a qual votou uma resolução sobre o assunto. Os eurodeputados não estiveram com meias palavras: “Se é para sair, é já” e assim votaram. A outra frase, mas da noite, é da autoria do primeiro-ministro britânico David Cameron, que no último jantar em que participou com os seus homólogos num Conselho Europeu, disse sobre o referendo: "lamento, mas não me arrependo". É o homem que "se arrisca a ficar na História
como o líder político que desfez o Reino Unido (a Escócia está à
espera) e deu uma contribuição decisiva para acelerar a desintegração
europeia", como disse Teresa de Sousa. Na reunião do Conselho de ontem,
os chefes de Estado e de Governo debateram outros temas, como as
migrações, emprego, crescimento e investimentos e relações exteriores e
chegaram a estas conclusões.. Pausa. Ocorreu ontem mais um violento atentado
na Turquia, desta feita no aeroporto de Istambul, um dos mais
movimentados do mundo. O balanço de vítimas era, até ao momento, de 38
mortos, 100 feridos. Três homens chegaram num táxi, começaram a disparam
e depois fizeram-se explodir. Eis o momento, filmado por uma câmara. Ninguém ainda reivindicou o ato, que tudo indica parece ter sido cometido por radicais islâmicos. Brexit outra vez.
Para além do Conselho Europeu, que hoje pela primeira vez já só reúne a
27, a reunião do Parlamento Europeu ficou marcada por grande
turbulência. Nigel Farage, líder do UKIP e campeão da guerra pelo Brexit, agitou os ânimos, invectivando os seus colegas eurodeputados, acusando-os de nunca terem trabalhado na vida (veja o reality check do Guardian). Estes acabaram por ovacionar de pé o eurodeputado escocês que lhes pediu: “A Escócia não vos desiludiu, não desiludam a Escócia”.
Aconteceu tudo numa sessão extraordinária do Parlamento Europeu com a
presença de Juncker e de todo o colégio de comissários, a qual votou uma resolução sobre o assunto. Os eurodeputados não estiveram com meias palavras: “Se é para sair, é já” e assim votaram. Pois o tema do momento, caro leitor, é e continua a ser o Brexit. Ou até Nexit (a negação do dito),
como se tudo se passasse de um sonho mau. Até nova ordem, o Reino Unido
ainda não acionou a célebre cláusula do divórcio e os parceiros estão
dispostos a dar-lhe mais tempo. Mas não será por causa da saída do Reino
Unido que o inglês deixará de ser língua oficial na União, como alguns (franceses) já queriam. Em Londres, a agitação continua, com manifestações contra o Brexit e repercussões políticas de peso. A votação da moção contra o líder trabalhista Jeremy Corbyn é elucidativa mas, por enquanto, este não se demite (se preferir a versão original, aqui). Se à turbulência trabalhista se juntar a vontade dos conservadores de só ter eleições em novembro,
não é tão cedo que a situação estabilizará. Para além de que, do ponto
de vista social, a coisa pode por-se feia devido aos atos de racismo,
como mostra este vídeo no metro de Londres. A Renascença também se interroga se o Brexit deu autorização aos ingleses para serem xenófobos. Do lado de lá do Atlântico, também estão preocupados. O primeiro-ministro abordou o assunto em Bruxelas (aqui em entrevista), onde se deslocou para a reunião do Conselho Europeu. Entretanto, na conferência do Estoril, Durão Barroso avisou
que podem vir aí muitas surpresas porque o processo de separação “vai
ser resolvido muito dificilmente, vai demorar tempo e trazer muita
incerteza para a Europa e o mundo”. É uma "página dramática na história da União". A título de exemplo, repare no que pode acontecer aos investimentos da UE. Vale a pena também a pena ler o Paulo Sande sobre o assunto, embora a sua máquina de tempo esteja um pouco avariada. Em contra-corrente, o economista Nouriel Roubini (o tal que previu a crise de 2008 e costuma fazer prognósticos catastóficos) diz que a crise por causa do Brexit vai ser limitada. Menos mal! Por isso, talvez não seja demais lembrar o apelo à calma do Presidente americano Barack Obama: “carregou-se no botão de pausa no processo de integração europeia”. Sábias palavras.
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OUTRAS NOTÍCIAS O Governo já admite que a economia nacional vai crescer menos, diz o ministro das Finanças Mário Centeno hoje no Público. A procura externa e o Brexit são duas variáveis que estão a baralhar as contas do ministro. Centeno diz também que "as decisões sobre as sanções não são algoritmos, são políticas".
A possibilidade dessa ocorrência preocupa o Governo e continuaremos a
falar dela até pelo menos 5 de julho, data da reunião do colégio de
comissários que decidirá o tema (embora a última palavra seja do
Conselho Europeu). Ontem, António Costa mostrou-me menos otimista que o habitual (“Infelizmente, a Comissão Europeia já me desiludiu suficientes vezes”, disse) face aos três cenários possíveis, enquanto Passos Coelho afirmou que seria “uma vergonha”. Mas vergonha mesmo foi a resposta do vice-presidente da Comissão Valdis Dombrovski a Passos, de que a França não foi sancionada porque tentou corrigir o défice e Portugal não. Se quiser ler opinião, leia o que diz o Henrique Monteiro. Também em tom de opinião, mas sobre a proposta do Bloco de Esquerda de fazer um referendo à UE em caso de sanções a Portugal, tem aqui estes dois artigos: o do Daniel Oliveira e o do Martim Silva. Antes de continuar, não nos esqueçamos do Euro,
onde se joga amanhã mais um mata-mata para Portugal e ainda não se
esqueceram os ecos da vitória da Islândia sobre a Inglaterra (Eurexit).
Sorry. O Pedro Candeias foi ótimo a contar esta história improvável. Quanto ao mais, ao fim de três dias acabou o caso original do secretário de Estado do Ambiente que
deu como casa de morada de família uma residência no Algarve para ter
direito a subsídio de alojamento (e pagar o empréstimo). Vivia em
Cascais. Políticamente, estava a tornar-se insustentável (PSD e BE tomaram posição) e alguém pôs ordem na casa (do Governo, não dele). Todo o caso está relatado aqui. E, já agora, continuando na saga da aplicação das 35h na função pública, há uma nova ameaça de que nem tudo corre bem na Saúde. Desta vez são os enfermeiros a prometer greve... se for por diante a proposta do Governo que permite até 50h de trabalho por semana. Entretanto, os hospitais voltam a adiar pagamento a fornecedores (no Negócios, mas só para assinates). Na educação, a aplicação da lei também está a causar preocupação nas escolas, que admitem cortar serviços. Os operadores privados (SIC e TVI) contestaram a decisão de atribuir mais canais à RTP (com publicadade) na TDT. "Distorção de mercado", alegam. Se ainda tiver tempo, não deixe de ler esta arrepiante e triste história de negligência médica grosseira, que levou à morte de uma jovem de 19 anos depois de 11 (onze!!) idas ao hospital. Tinha um tumor de 1,6 kg na cabeça.
E outra notícia perturbante: mais uma mãe que mata o filho e se mata a ela. Era uma guerra sobre a custódia do filho. Não há palavras. LÁ FORA
Espanha. O resultado das eleições gerais de domingo passado não deram resultados claros, mas o líder do PP, Mariano Rajoy, confia que poderá fazer um Governo em minoria, com a abstenção do PSOE. Será? Terceiras eleições é que não, dizem os espanhóis, e com razão, a propósito da eleição com mais abstenções de sempre. BCE. No Fórum dos bancos centrais, reunido em Sintra, fizeram-se várias advertências: que as políticas monetárias têm de estar alinhadas, entre outras coisas, para combater o perigo da deflação. Mas o seu presidente, Mario Draghi, viajou mais cedo para Bruxelas, onde preveniu os líderes europeus que espera uma redução de 0,3 a 0,5% do PIB europeu por conta do Brexit. França. A lei do trabalho continua a fazer desfilar manifestantes nas ruas das cidades. Interessante este trabalho
do Huffington Post.fr sobre o mesmo tema, comentando os números da
mobilização, segundo os sindicatos ou a política. O abismo nas contas é o
mesmo. Lá... e cá.
Estados Unidos. Eleições presidenciais. Donald Trump continua na onda das notícias. Desta vez promete rasgar os tratados comerciais
e enfrentar a China. Se o candidato tem tudo para escandalizar, a
verdade é que a comunicação social amplifica bastante a mensagem. E
também neste país, não é de espantar que os números mostrem uma crescente polarização dos rendimentos, Segundo o FMI, desde os anos 70 que os rendimentos da classe média se afundam, uma tendência preocupante em todos os sentidos.
FRASES
"É absolutamente ridículo estarmos a discutir 0,2% da execução orçamental do anterior Governo", António Costa, em Bruxelas, sobre a a eventualidade de sanções a Portugal. "Portugal não precisa de líderes rendidos a esta lamentável cultura de afetos", Graça Canto Moniz, responsável do Gabiente de Estudos do CDS-PP, sobre o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa "É
a última vez que aplaudem aqui. Até certo ponto estou muito
surpreendido que aqui estejam. Estão a lutar pela saída da União
Europeia. O povo britânico votou a favor da saída. Porque estão aqui?", Jean-Claude Juncker, aos eurodeputados britânicos que defendem o Brexit "Duvido que Londres possa continuar a ser a capital financeira da Europa", Durão Barroso, na conferência do Estoril. "Considero inaceitável que um membro do Governo (...) recorra, no fundo, a uma pequena burla para ganhar mais uns tostões", Duarte Marques, deputado do PSD, sobre o caso do secretário de Estado que recebia subsídio de alojamento. O QUE DESISTI DE LER
Como uma infinidade de outros leitores, fui fascinada pela Trilogia do
Millennium, do sueco Stieg Larsson, já falecido. Li-os sofregamente,
sempre dividida entre a ansiedade de acabar de ler e a tristeza de
terminar o relato das aventuras da hacker Lisbeth Salander e do
jornalista Mikael Blomkvist. No outro dia, quando deparei na livraria
com o “4º livro da saga”, nem hesitei. Deceção completa. David
Lagercrantz, o escritor que se propôs continuar a série, não me
convenceu com “A rapariga apanhada na teia de aranha”
(Publicações D. Quixote). De todo. Não consegui passar de umas dezenas
de páginas, sempre com a sensação de estar a mastigar em seco. Não sei
se foi ele que me cansou ou se fui eu que me cansei da história.
Em jeito de compensação, sugiro-lhe outras leituras. António Vitorino, por exemplo, num sucinto estudo sobre o divórcio britânico publicado pelo Instituto Jacques Delors, a que preside. Ou sobre o mesmo assunto, este outro do britânico Charles Grant, presidente do Center for European Reform. Ou então, porque não vídeos? Se se interessa pela herança humana, não deixe de ver este: Uma viagem pela ADN, extraordinária. Devíamos ser todos obrigados a fazer tal exame, que de certeza não votávamos contra os imigrantes. Ou então este, uma espetacular versão de pura arte do Lago dos Cisnes: “Como os quatro pequenos cisnes se transformaram em quatro pequenas rãs”. Vá lá, são só 1:39. E deslumbre-se!
Tenho a certeza que assim começará um bom dia!
Nós estaremos sempre por cá. A todo o momento, no online, à distância
de um click, ou às 18h, para uma leitura mais aprofundada do dia, no
Expresso Diário.
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