OUTRAS NOTÍCIASHoje havia muito por onde começar o Expresso Curto, sobretudo na frente internacional, com a histórica
visita de Obama a Cuba e com o histórico
processo Lava Jato no Brasil, a ameaçar a Presidete Dilma Roussef de
impeachment.
É verdade que a palavra “
histórico” deve ser usada de forma comedida em jornalismo (e não só), mas está visto que os dois casos são mesmo… históricos. A visita de Obama não vai mudar Cuba de um dia para o outro nem transformar a política americana da noite para o dia, mas é um facto que poucos acreditavam ser possível.
Nem tudo foram rosas na visita e na conferência de imprensa conjunta, com
Raul Castro a ser fortemente
pressionado por causa dos presos políticos e
Obama a não conseguir dar garantias sobre o fim do embargo comercial dos EUA a Cuba. Com estes grossos grãos de areia na engrenagem, a verdade é que se fez história em Havana e que estas imagens vão ser recordadas por muitos anos, naquilo a que o Expresso chamou “
um bacalhau para a história”.
No Brasil, ainda é difícil saber o que vai ou não ficar para a história, além da enorme confusão política e judicial, que ontem mostrou os seus estilhaços políticos nos
prejuízos históricos que a Petrobras apresentou (34 mil milhões de reais…) A
petrolífera brasileira está na origem do maior escândalo de corrupção do país, que originou a operação Lava Jato e ondas de choque sem fim à vista.
Lula já está em Brasília, onde aterrou sem saber se é ou não ministro e se, claro, pode ou não ser preso. A luta judicial é complexa e joga-se no Supremo, não só por causa da validação da posse de Lula como ministro – em que passaria a ter imunidade – como sobre que instância judicial pode ou não investigar e eventualmente mandar prender o ex-Presidente.
No Senado, a batalha não é menos complexa, com o PT e Dilma Roussef
a perderem terreno e apoios todos os dias, transformando a possibilidade de
impeachment numa realidade. Não é nada que o Brasil não tenha já visto, com Collor de Melo, mas não deixa de ser uma curiosidade brasileira. As notícias correm tão depressa que aconselho ir espreitando o que se passa ao longo do dia.
Por cá, continua agitada a discussão sobre a interferência do governo no
desenho da banca nacional. Entre manifestos anti-Castela e vários jogos de bastidores, o Negócios escreve hoje que
Isabel dos Santos é opção para tirar o Estado do BCP. A entrada da empresária angolana no BCP pode eventualmente ocorrer num aumento de capital para reembolsar os "CoCos", ou seja o empréstimo feito pelo Estado.
Neste cenário, o
BCP já se poderia posicionar como alternativa para a
compra do Novo Banco, vedada a qualquer entidade que tenha no balanço ajudas do Estado. É melhor estar atento a estas movimentações, porque ainda vai mexer muita coisa, entre a vontade do governo, as imposições de Bruxelas, as regras do BCE e força dos principais bancos espanhóis, nada é absolutamente claro.
Ainda na banca, há uma nova polémica com o governador do Banco de Portugal a
recusar enviar aos deputados a auditoria feita ao Banco de Portugal. O argumento é simples, a
auditoria é sobre o caso BES e a comissão parlamentar versa sobre o Banif, mas já se percebeu que os deputados não vão desistir.
Noutra frente, o
procurador Rosário Teixeira tem, em princípio, até hoje para definir quanto tempo ainda precisa para concluir a investigação ao ex-primeiro-ministro
José Sócrates e aos outros doze arguidos. A defesa tem-se queixado de estar a ser alvo de uma “tortura lenta”, mas hoje ficará a conhecer, como todos nós, os prazos do nosso processo mais mediático e importante.
A
Justiça norte-americana anunciou ontem à noite que encontrou uma solução para desbloquear um
iPhone ligado aos atentados de
San Bernardino,
num surpreendente desenvolvimento de um braço de ferro que opôs o FBI à gigante Apple durante vários meses.
Curiosamente, este anúncio surgiu poucas horas depois do
CEO da Apple, Tim Cook, ter anunciado que a empresa se recusava a fornecer ao governo as chaves para desencriptar o telefone, por poder colocar em causa a privacidade de milhões de utilizadores de iPhones.
Já agora, tudo isto correu no dia em que surgiu o
iPhone mais barato de sempre, uma versão mais pequena mas aparentemente poderosa e com uma boa câmara. Parece que
iPhone SE é sobretudo destinado aos mercados emergentes, mas que vai poder ser comprado em todo o mundo. Tem a mesma capacidade de processamento do iPhone 6S no corpo do iPhone 5S.
Em Portugal a versão de 16 GB vai custar 499 euros.
O novo telefone dominou boa parte das conversas nas redes sociais, incluindo o
Twitter que fez ontem dez anos, entre a felicidade de ter mais de 320 milhões de utilizadores e o problema de não ter modelo de negócio e de estar a ser ultrapassado pelo Facebook e pelo Snapchat.
Ainda assim, o Twitter continua a ser uma forma extraordinária de sabermos o que se passa no mundo. Foi nesta rede social que todos os gigantes da tecnologia prestaram esta madrugada homenagem a
Andy Grove, o ex-CEO da Intel, que morreu aos 79 anos. Tim Cook, Bill Gates e tutti quanti de Silicon Valley recordaram no Twitter a
importância de Grove na evolução dos microprocessadores e das transformações tecnológicas das últimas décadas.
FRASES“
Deem-me a lista de nomes de presos políticos. Se houver algum, sai em liberdade”.
Raul Castro, Presidente Cubano, na conferência de imprensa conjunta com Obama
“
Embargo a Cuba vai acabar, mas nãos ei quando”,
Barack Obama na mesma conferência de imprensa
“
Não só é legítimo como também é importante que o primeiro-ministro se preocupe com a banca nacional”.
Miguel Sousa Tavares, no seu
espaço de comentário no Jornal da Noite da SIC
O QUE EU ANDO A LEROs Emigrantes, de
W.G. Sebald, um livro que conta a história de quatro judeus expulsos das suas terras, num processo de reconstrução histórica inimitável. Sebald pega nos casos de Henry Selwyn, Paul Bereyter, Ambros Adelwarth e Max Aurach, que em algum momento das suas vidas se cruzaram com o autor, e percorre as suas biografias, num texto seco e minucioso, entrecortado por fotografias, imagens de objetos ou documentos.
Não será uma leitura que empolgue todos os leitores, mas que esmaga pelo detalhe e pela forma como, através de
quatro vidas cruzadas, retrata a Europa e as extremas contradições de uma civilização que permitiu o holocausto e foi quase indiferente a migrações, expulsões e perseguições.
Lido agora, num momento em que a Europa convive com a
maior vaga de refugiados desde a Segunda Guerra, este trabalho de um
escritor incrivelmente original, que morreu precocemente num acidente de viação em Inglaterra quando o seu nome já era discutido pelo comité Nobel, faz-nos chocar de frente com um passado nada longínquo, de exôdos forçados, fronteiras apagadas e memórias esquecidas, como as de Henry Selwyn:
“
À minha pergunta, de onde era ele afinal, contou-me que tinha partido aos sete anos com a sua família de uma aldeia lituana, perto de Grodno. (…) Durante anos as imagens desse exôdo estiveram desaparecidas da sua memória, mas ultimamente, disse ele, voltaram a manifestar-se, reapareceram.”
O livro de Sebald é uma
lição poderosa e incómoda para uma Europa que tem extrema dificuldade em lidar com as migrações.
Para leituras mais rápidas e atualizadas tem sempre o
Expresso Online e, já com mais tempo, ao fim da tarde chega o
Expresso Diário, com notícias em primeira mão, opinião e toda a informação arrumada. O ciclo informativo volta a abrir, amanhã bem cedo, com mais um
Expresso Curto.
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