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Por João Vieira Pereira
Diretor-Adjunto
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26 de Outubro de 2015 |
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Cruzada anti angolana? É preciso ter lata
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Bom dia,
Não começo com o derby lisboeta ou com as várias façanhas desportivas
portuguesas deste fim-de-semana (já lá vamos). Começo por Angola. Se não leu o editorial do Jornal de Angola, por favor não o perca. Já sabemos que aquele jornal é um instrumento de propaganda do governo angolano, mas isso só torna o seu conteúdo mais grave.
As palavras usadas são muito duras e desenham uma imagem de Portugal
como um país sem rei nem roque, mas onde existe, supostamente, uma “cruzada anti-angolana”. O motivo? As notícias sobre a greve de fome de Luaty Beirão e a visita que lhe fez o embaixador português em Luanda,
visita esta considerada uma personificação da alegada maquinação
portuguesa contra o regime angolano. E para compor o ramalhete, o embaixador angolano em Portugal resolveu afirmar que “o
problema do cidadão Luaty Beirão apenas é um pretexto para fazer
ressurgir aquilo que em Portugal sempre se pretendeu: diabolizar Angola”. O que o Jornal de Angola esquece é que Luaty Beirão é também um cidadão português. A visita do embaixador português só peca por tardia.
Depois de mais de 30 dias em greve de fome o que mais assusta é o tema
não ser mais falado ou que não exista maior contestação em Portugal pelo
que se está a passar. 40 anos depois da independência, Angola, um país que podia ser uma potência económica de África,
enfrenta um momento económico e político, no mínimo, complicado. Mas em
Portugal os cidadãos angolanos continuam a ser recebidos de braços
abertos em todas as esferas da sociedade. E quem não vê isso ou é míope ou não é sério.
Se existe algum problema entre Portugal e Angola esse é provocado pelo
país africano e incentivado pela atitude passiva e temerosa dos governos
portugueses. A situação de Luaty Beirão
começa a ultrapassar as fronteiras de Angola e de Portugal. Chico
Buarque, o cantor brasileiro, tomou a iniciativa de assinar a petição “Pela Intervenção do Governo Português na Libertação de Luaty Beirão". Por cá continuam as apostas sobre os vários cenários políticos. Marco António Costa, vice presidente do PSD parece apostado em retomar o diálogo com o Partido Socialista. “Acreditamos
que o PS tem sempre a oportunidade para corrigir a trajectória errada
que está a fazer relativamente à história, porque a sua história não é
no sentido desta trajectória. Estamos a um mês do 25 de novembro e
recordamos a importância que o PS teve para ajudar a cimentar valores de
democracia que nós perfilhamos”. Contudo, para quem parece procurar consensos, Marco António Costa deixa muito a desejar ao atacar violentamente o outro António Costa: “Julgo
que toda a gente já percebeu que o simulacro que tivemos até aqui com o
PS é porque efetivamente há uma ambição pessoal de alguém que quer
sobrepor a sua ambição aos interesses nacionais”. O DN faz manchete hoje com as negociações entre o PS, Bloco e PCP. Os socialistas estão a fazer as contas para tentar acomodar mais três propostas consideradas essenciais pelos partidos mais à esquerda: depois de já terem acordo com o fim do congelamento das pensões e dos cortes dos salários da função pública, agora querem o fim da sobretaxa de IRS, a subida do salário mínimo nacional para os 600 euros e a descida do IVA
sobre electricidade e gás. À mesa das negociações que recomeçam esta
semana, e que os partidos querem que estejam prontas para apresentar ao Presidente da República logo após a votação da moção de rejeição do governo, está também o regresso das 35 horas semanais de trabalho. Eis pois a receita da esquerda para eliminar a crise: menos impostos, maiores salários e menos trabalho. Não sei se comece a rir ou a chorar.
A bom porto chegaram mais uma fase das negociações sobre a crise dos
refugiados depois de uma cimeira europeia convocada por Jean-Claude
Juncker. A EU decidiu aceitar receber mais 100 mil migrantes sendo que a maior parte deles será acolhido pela Grécia.
Os líderes europeus comprometeram-se a reforçar a capacidade de
acolhimento de refugiados num movimento que o presidente da Comissão
Europeia considerou ser um “imperativo imediato”.
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OUTRAS NOTÍCIAS Agora vamos ao futebol. Então foi assim: Jesus regressou e fez ‘Pum Pum Pum’. Três. Como eu percebo (e gosto) pouco de futebol, aconselho a crónica de Pedro Marta Candeias. Está lá tudo o que precisa saber sobre a novela Benfica-Sporting. E sobre o jogo também. Quem escorregou foi o FC Porto
que não foi além de um empate a zero o que coloca a equipa liderada por
Jesus isolada no comando do campeonato. E pronto já chega de futebol. Nos últimos dias a minha atenção tem estado mais virada para o rugby. Ontem jogou-se a segunda meia final do campeonato do mundo com a Austrália a bater a Argentina.
Se gosta de um desporto onde a arbitragem deixou de ser parte do jogo e
onde ganha sempre o melhor não perca no próximo sábado a final entre Nova Zelândia e Austrália. E já que estamos a falar de desporto aqui ficam três boas notícias para o desporto nacional. Começamos pela vitória de Miguel Oliveira no grande prémio da Malásia de Moto3. Um triunfo que adia a decisão do título mundial para a próxima prova que decorre em Espanha. Mas a grande surpresa do fim de semana veio do frio das águas de Peniche. A jogarem em casa Frederico Morais e Vasco Ribeiro eliminaram o número um e número dois do ranking mundial. Um feito inédito que coloca o surf português de novo na boca do mundo. Se gosta de surf não perca esta e mais esta fotogaleria. E finalmente uma última nota para o golf nacional. A nova esperança portuguesa terminou a penúltima prova da segunda divisão europeia que decorrer na china em 3º lugar. O que permitiu a Ricardo Melo Gouveia reconquistar o primeiro lugar do Challenge Tour. A última nota de desporto vai para a Fórmula 1 que viu ontem, Lewis Hamilton sagrar-se campeão do mundo pela terceira vez numa corrida emocionante. Se não viu não perca este trabalho do The Telegraph. A Polónia virou à direita. Muito à direita.
O partido Lei e Justiça (PiS) ganhou as eleições legislativas obtendo
maioria absoluta, algo totalmente inédito na história da Polónia
pós-comunista. O PiS fez uma campanha apoiada num discurso xenófobo
onde ataca os refugiados e a Rússia e apoia a militarização do país.
Mas há mais. São eurocépticos, defendem que a despesa do Estado social
deve ser baseada na família, e são contra o aborto e a fertilização in
vitro. Jerónimo Martins e BCP, que têm
importantes negócios na Polónia, devem estar já a fazer contas. É que o
PiS defende um aumento de impostos sobre o negócio da distribuição e
sobre a banca. E quer também
que os bancos assumam as perdas elevadas dos contratos de crédito à
habitação que estavam indexados ao franco suíço. As acções das duas
empresas abriram em queda acentuada na bolsa esta manhã. Daniel Scioli, o candidato apoiado por Cristina Kirchner ganhou a primeira volta das eleições presidenciais na Argentina naquela que foi uma das eleições mais disputadas de sempre. Mas Scioli que obteve 36,68% dos votos vai ter agora de disputar a segunda volta dia 22 de Novembro contra candidato Mauricio Macri que reuniu 34,5% dos votos. Mas houve mais eleições no mundo Latino. Na Guatemala, um conhecido ator cómico Jimmy Morales, venceu as eleições presidenciais com praticamente 70% dos votos. E na Colômbia, ao fim de mais de uma década, a capital, Bogotá, muda de alcaide,
após as eleições regionais que decorreram ontem e que, em princípio,
terão sido as últimas a decorrerem em clima de guerra com as FARC. No final da semana passada soldados americanos entraram pela primeira vez em operações no terreno contra o autodenominado Estado Islâmico
numa operação conjunta com as forças curdas com o objectivo de libertar
reféns. Na operação acabaria por morrer um soldado das forças especiais
norte americanas. Ontem foi divulgado um vídeo da operação de salvamento. O Folio, “a grande festa da literatura, do livro e da ideia”, assim descrita por Agualusa, decorreu em Óbidos e custou 600 mil euros mas “não desiludiu”. A organização estima que tenham passado pelo evento 25 mil pessoas. Uma última nota, triste, para recordar Ricardo Mealha, um designer português reconhecido internacionalmente, que faleceu ontem depois de perder a luta contra um tumor cerebral. O QUE DIZEM OS NÚMEROS 693,7 milhões de euros é o valor arrecadado pelo Estado em taxas, multas e outras penalidades até setembro. Mais 21,4% do que em igual período ano passado. 100 mil é o número de passageiros que deverão ser afectados por mês pela suspensão dos voos entre Kiev e Moscovo. A decisão é mais uma etapa no conflito aberto entre a Ucrânia e Rússia. 68 mil euros
por ano é o salário considerado ideal para se alcançar a felicidade. As
contas são feitas pelo Nobel da Economia Angus Deaton num estudo que realizou em 2010. 99 coisas
para fazer Portugal. É o título de uma série de 13 programas de
televisão que o canal de televisão canadiano, Evasion, começa hoje a
gravar no norte do nosso país. FRASES “Peço
desculpa por alguns erros no planeamento e por certos erros na nossa
compreensão sobre o que iria acontecer depois de removermos o regime” – Tony Blair em entrevista à CNN sobre a intervenção no Iraque contra Saddam Hussein. “O Presidente vai indigitar António Costa para formar Governo” - Marques Mendes entra no concurso de apostas durante o seu habitual comentário de domingo na SIC. O QUE EU ANDO A LER Sabe quem é Kweku Adoboli? E se eu disser que ele foi responsável por provocar perdas de 2,3 mil milhões de dólares no UBS?
E que por isso foi condenado a sete anos de prisão dos quais cumpriu
quase quatro? E que foi banido de trabalhar na City em Londres? E que
enfrenta a ameaça de deportação para o seu país natal? Adoboli,
nascido no Gana, foi condenado a prisão por ter criado um sistema
paralelo no UBS para esconder perdas dos seus investimentos. Desde então
manteve-se em contacto permanente com a jornalista Lindsay Fortado.
Agora e quase um ano depois de ser libertado começa a contar a sua
versão da história. Apesar de ter confessado, continua a afirmar que só o
fez para que o banco em que trabalhava continuasse a ganhar dinheiro e
que tudo o que fazia era de conhecimento superior. Acusações obviamente
refutadas pela banco suíço. Mas mais curioso é que Adoboli, que não voltou a trabalhar como financeiro, (aliás foi recentemente banido de trabalhar em qualquer função financeira na City de Londres pela FCA, o regulador britânico), está agora a dar seminários e formação a empresas sobre… compliance.
Ou seja sobre como se devem comportar as organizações e os seus
colaboradores de modo a respeitarem as regras e leis da regulação. Nada
como contratar quem o sabe fazer para impedir que o façam. Depois da
decisão de impedimento de trabalhar outra vez na área financeira Adoboli
afirmou que “a ordem de proibição marca o encerramento de um
capítulo difícil para mim. Eu reconheço totalmente as razões para a
minha proibição e agradeço à FCA a restrição. A minha esperança agora é
seguir em frente de uma maneira positiva de modo a ajudar outros a
aprenderem com os erros que fiz”. A história deste pequeno génio das finanças é contada pelo Financial Times. Se é assinante não perca, é uma história que vale a pena ler.
Hoje fico por aqui. Resta-me desejar-lhe uma boa semana. Amanhã o Curto
volta com o sotaque e a ponderação do Norte pelos dedos de Bernardo
Ferrão.
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