terça-feira, 20 de outubro de 2015

EXPRESSO CURTO - 20 DE OUTUBRO DE 2015



publicidade
Expresso
Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Pedro Santos Guerreiro
Por Pedro Santos Guerreiro
Diretor Executivo
 
20 de Outubro de 2015
 
Separados com comunhão de adquiridos
 
No Canadá venceram os liberais, na Suíça ganhou a direita populista anti-emigração e anti-euro, em Portugal ainda não perdeu ninguém. Cavaco Silva recebe hoje à tarde quatro partidos (PSD, CDS, PS e BE) e amanhã os demais, esperando-se que Passos seja convidado para primeiro-ministro. Os deputados deverão tomar posse na sexta ou na segunda feira.

O Presidente quer deixar um deixar um governo em funções mas "Cavaco partiu a varinha dos poderes", escreve Octávio Ribeiro no CM. O DN garante que o líder do PSD até já tem a governo na cabeça. Mesmo que a sua cabeça esteja no cepo de António Costa, que já fechou as portas à direita e ainda não as abriu à esquerda. Portas até disse ontem na TVI que cede a sua cadeira de número 2, mas o secretário-geral do PS parece querer mesmo a do número 1.

Costa começa a parecer Sócrates (já vamos a Sócrates), nas divisões que provoca, ora de apoio ora de crítica, na opinião publicada. Miguel Sousa Tavares disse à noite na SIC que Costa “está a jogar no tabuleiro” com “carta para cá, carta para lá”, mas de um lados do tabuleiro, "já todos percebemos que os dois [Costa e Passos] não se vão entender", analisa o Nicolau Santos. Já Miguel Guedes, no JN, publica que "a PàF não ganhou o país. Pelo contrário". E Daniel Oliveira, no Expresso Diário, desfia: "Concentrem-se no que os eleitores sabiam: que aliança à esquerda era, segundo Costa, Catarina e Jerónimo, um assunto em debate, e que o bloco central estava, segundo Passos e Costa, fora de questão".

A polémica agora são as acusações do PS de que PSD/CDS estão a esconder problemas. Esta noite na SIC, a ministra das Finanças afirmou que isso não é possível, pois as contas públicas são completamente transparentes. Pois, mas o "buraco" dos 600 milhões de euros no PEC é que permanece por explicar. E essa é uma de cinco “surpresas desagradáveis” que o PS receia nas contas públicas, como revelou ontem o Expresso Diário.

O PS quis ter acesso aos mapas de informação que "alimentam" o PEC entregue a Bruxelas no início do verão, por drescrer em vários dos compromissos. Mas Maria Luís não cedeu esses dados, o que irou o PS. Além do desvio na segurança social e da descida nos juros acima do previsto, o PS tem ainda receios com necessidades de capital na banca, começando (mas não acabando) no Novo Banco. (O Negócios revela hoje que o Estado faz nova injeção de capital no Efisa, 12,5 milhões). Além disso, está pendente a privatização da TAP, cujo plano de negócios está a levantar dúvidas junto da banca (também no Negócios). Em todos estes casos, é dinheiro do Estado que pode estar em causa. A boa notícia é que, apesar da crise política, os juros da dívida portuguesa descem, estando o prémio de risco abaixo do nível anterior às eleições.

Tudo se desenrolará nos próximos dias, quem é convidado, quem toma posse e quem é desapossado. Ao contrário da badalada notícia de ontem, de um acórdão do Supremo que diz que nos casamentos com comunhão de adquiridos os bens são do cônjuge que os comprou, este é um caso de má partilha. Cavaco bem alcovita mas casar Passos e Costa não casam.

publicidade
Publicidade

OUTRAS NOTÍCIAS
Sim, no Canadá, o jovem Justin Trudeau, 43 anos, venceu esta noite as eleições, "uma surpresa", como escreve o New York Times, que assinala que os liberais terminaram assim com um período de nove anos de poder dos conservadores. Para conhecer melhor este político, filho do primeiro-ministro histórico Pierre Trudeau, pode ler este perfil no The Guardian. Na véspera, na Suíça, a direita populista foi a grande vencedora das legislativas. A União Democrática do Centro ou Partido do Povo Suíço, que é anti-imigração e anti-Europa, teve 29,4% dos votos.

Mas é em Angola que os olhos devem estar postos. Os olhos para ver, os ouvidos para ouvir e a boca para falar. Esta manhã, Luaty Beirão entrava no seu 30º dia de greve de fome, em protesto contra o regime de José Eduardo dos Santos. Em Portugal, um conjunto de personalidades escreveu uma carta aberta pedindo ao Governo português que exija “libertação imediata” do cantor e ativista político angolano que tem dupla nacionalidade portuguesa. "Sabemos que está disposto a dar a vida por causas maiores, como a da liberdade e justiça. Também sabemos que a sua morte pode estar próxima, na sequência da sua longa greve de fome. É obrigação constitucional, ética e moral do Governo português não permitir que aconteça", refere a carta dirigida ao ministro dos Negócios Estrangeiros, Rui Machete, e ao embaixador português em Angola, João da Câmara.

Foi já criada uma petição que exige que Portugal peça a libertação do cantor (notícia da Renascença aqui). "A vergonha de Portugal", escreve o Henrique Monteiro. "Se esta greve de fome terminar em tragédia para Luaty Beirão, este Governo não tem desculpa", diz hoje Mariana Mortágua no JN. O escritor angolano Ondjaki diz na TSF estar "triste e envergonhado". “Quando iremos admitir, seriamente, os nossos erros passados, não com vergonha, que os tempos e os valores eram outros, mas com a serena sabedoria de quem soube evoluir para melhor?”, questiona Pedro Tadeu no DN. O julgamento dos ativistas angolanos detidos deste junho arranca a 16 de novembro. Talvez tarde de mais.

A Polícia de Chicago é suspeita de fazer mais de 7000 detenções à margem da lei. A notícia, que pode ler no Expresso, parte de uma investigação do jornal inglês The Guardian, que escreve que a cidade americana às vezes parece um filme de James Bond.

Milhares de refugiados permanecem nas fronteiras dos balcãs. Como conta o El Pais, a Croácia vai abrir temporariamente as fronteiras com a Sérvia. Muitos dos refugiados esperam chegar à Eslovénia.

Ainda em Espanha, e segundo o mesmo El Pais, o PSOE quer que seja obrigatório por lei que os partidos elejam os seus líderes através de eleições primárias.

Um funcionário do Deutsche Bank enganou-se e transferiu seis mil milhões de euros para a conta de um cliente. O caso parece apenas insólito mas segue-se a uma série de escândalos que têm vindo a público sobre este banco, como explica o The Guardian.

Já a Irlanda está farta de moedas pequeninas: vai deixar de fabricar moedas de um e dois cêntimos, passando a arredondar preços, conta o Público.

Ontem não se falava noutra coisa, mas afinal o homem que morreu num avião da Aer Lingus, depois de um episódio violento a bordo, não é português, confirmou a polícia irlandesa ao Expresso: seria brasileiro.

A seca no México esvaziou uma barragem, tornando visível o Templo de Quechula, construído há 450 anos. No The Guardian.

Agora Sócrates. Ontem, dia em que se abriu a caixa de Pandora do segredo de justiça, a sua defesa exigiu o acesso às escutas do processo, mas ficou sem saber por que não recebeu 80 páginas do processo. Como avisa o Observador, o ex-primeiro-ministro dará esta quinta-feira uma entrevista à TVI.

Avenças e tarefas voltam a aumentar no Estado, noticia o Negócios. “As 22 mil prestações de serviços na administração directa e indirecta do Estado registadas a 30 de Junho deste ano representam um aumento de 7,7% em termos homólogos”.

Entre os anos letivos de 2000/2001 e 2013/14, a rede de escolas públicas encolheu para menos de metade, de 14 533 estabelecimentos para 6575, escreve o Diário de Notícias em manchete, citando o relatório "A Educação em Números 2015", da Direção Geral de Estatísticas da Educação e da Ciência (DGEEC). Só em 2014, desapareceram 535 escolas estatais, acrescenta o jornal. Duas por cada dia útil.

Os salários de magistrados e políticos foram os que mais subiram desde 2011, escreve o jornal i em manchete.

Em vez de se deslocarem ou telefonarem para o posto da polícia, cada vez mais pessoas estão a utilizar ao Facebook para denunciar casos à GNR, escreve o Jornal de Notícias.

Os terrenos da Feira Popular, no centro de Lisboa, deveriam ser vendidos hoje em hasta pública. Mas a Câmara não recebeu “qualquer proposta” de interessados em pagarem pelo menos 135,7 milhões de euros. O processo entra numa segunda fase... talvez com uma base de licitação mais baixo.

Notícias úteis: a partir de janeiro já pode escolher a marca de gás na troca da botija.


FRASES
"António Costa parece cada vez mais perdido dentro do personagem que construiu para se esconder da sua derrota eleitoral de 4 de Outubro: o pacificador das esquerdas." Viriato Soromenho-Marques, no Diário de Notícias.

"Quem ascenda ao Governo vai estar a pensar em eleições a curto prazo." Fernando Sobral, no Negócios.

"Se fosse comentador político, teríamos muita coisa para falar", Marcelo Rebelo de Sousa, em conversa com Ferreira Fernandes, citado no Negócios.


O QUE EU ANDO A LER
Duas sugestões de entrevistas e um livro. Uma das entrevistas foi publicada há algumas semanas mas ainda vale a pena ler: “Como a internet das coisas vai atropelar o capitalismo”. A conversa está na revista brasileira Galileu e é com Jeremy Rifkin, economista que escreveu o livro “A sociedade de custo marginal zero”, em que defende que está a surgir um sistema económico com base em partilha e colaboração.

A segunda entrevista está na Economist: muitos conhecem o realizador Wim Wenders, que já filmou em Lisboa, mas menos serão os que sabem que ele é também fotógrafo. Wenders tem neste momento em exposição em Berlim uma série de fotografias de largo formato tiradas na Alemanha e nos Estados Unidos. “Time Capsules. By the side of the road” é o nome da exposição e foi lá que foi entrevistado, para dizer que “cada paisagem conta uma história”.

Agora o livro: "Identificar Almada", por Maria José Almada Negreiros. Já escrevi sobre ele no semanário Expresso de há semana e meia mas hoje acrescento razões para ler. Cada um tem as suas pancadas e entre as minhas está o modernismo português, incluindo José Almada Negreiros. "Ele era o mais novo do grupo de Sá-Carneiro, Santa Rita, Fernando Pessoa, Amadeo de Souza-Cardozo, por isso lhe chamavam «o bebé do Orpheu»." Naquela época, “há uma ânsia em mostrar-se, parece que a água vai acabar. Ora o importante para Almada e os companheiros era fazer. Pouco lhes interessavam as famas, só não queriam ouvir coisas estúpidas. A estupidez era do que tinham mais medo. A força deles era a poesia e Almada usava-a em todos os campos, e eram muitos”.

A autora, que escreve sobre os assuntos do não esquecimento, era nora de Almada, que só conheceu já velho. “Fazer uma obra de arte da nossa vida ou ser uma obra de arte é uma coisa completamente diferente. Esquisito, não é? Com as pessoas geniais normalmente mais vale a pena estar longe delas, para não nos desapontarem. Mas com o Almada o perigo era nós não conseguirmos apanhar todas as suas verdades”.

“Certos textos que ele escreveu parecem ter um poder oculto, a tal ponto são alucinantes", conta Maria José. "Quase me dá vontade de dizer que Almada não tem mérito próprio, porque se há videntes de água, de destinos, também há videntes de vida capazes de nos levar à «transcendência», que é a nossa justificação”. Escreveu ele aos 52 anos: “É sempre serviço meu à humanidade; se serve não é meu, se não serve é meu”.

O tempo esfriou neste mês de outubro, mas prevê-se que as temperaturas aumentem durante a semana, e amanhã estará menos vento. Veremos. Até lá, fique com o Expresso.

E tenha um excelente dia.



==================

ANTÓNIO FONSECA

Sem comentários:

Enviar um comentário

Etiquetas

Seguidores

Pesquisar neste blogue