segunda-feira, 14 de setembro de 2015

RICARDO COSTA - EXPRESSO - 14 DE SETEMBRO DE 2015

Sete coisas que só nós é que vimos na foto de Sócrates (e uma que ainda estamos a investigar)

Depois de uma semana a investigar uma piza, o país está agora a perscrutar uma fotografia. No Expresso fizemos como mandam os livros de gestão e os manuais de jornalismo: esperámos alguns dias, reunimos os melhores recursos, cruzámos fontes e referências e pensámos fora da caixa. Os resultados são tão surpreendentes que os Painéis de São Vicente são agora uma coisa de crianças. Vamos ao mergulho autocrítico.

O alinhamento místico

1. Os convivas estão alinhados exatamente como os célebres menires megalíticos de sous les pavés la plage, cuja localização ninguém conhece, apesar da busca incessante dos Templários. A única imagem existente dos célebres menires foi desenhada a sangue por um dissidente do Papado de Avinhão, quando agonizava depois de ser envenenado por um enviado de Roma. Alguns hackers suecos garantem que estes menires foram avistados por uma nave espacial russa numa noite em que John Carpenter estava a filmar o Assalto à 13ª Esquadra.

Um livro raro e suspeito

2. Na terceira prateleira, quando se olha da direita para a esquerda, há uma edição rara do Talmude, muito procurada por alfarrabistas, místicos e conspiradores e cujo único exemplar conhecido foi transacionado no Alibaba por 500 mil dólares, através de uma conta domiciliada em Hong Kong, num prédio mesmo ao lado do hotel onde Edward Snowden deu a entrevista a Laura Poitras. Há suspeitas de que o mesmo exemplar tenha sido visto em Dallas no dia em que John Kennedy foi assassinado.

A importância dos Trópicos

3. Na segunda prateleira, os Tristes Trópicos de Lévy-Strauss estão lado a lado com o Trópico de Capricórnio de Henry Miller, o que segundo a psicanálise contemporânea revela que alguém naquela mesa tem um forte complexo edipiano ou nunca aceitou a relação de Tony Soprano com a sua analista. A existência de tantos trópicos pode indicar que algum dos convivas quer fazer como Gauguin e rumar aos mares do Sul, o que indicia claro perigo de fuga.

O dedo de Woody Allen

4. A fotografia, quando passada a preto e branco e tratada com o quarto filtro do Instagram, revela, quando vista nos novos ecrãs do novíssimo iPad Pro, um grão parecido com o de uma cena fundamental do Manhattan, sobretudo o olho esquerdo de Vitalino Canas. Essa cena de Woody Allen é a antecâmara de uma discussão conjugal e de uma série de desaires amorosos, o que não prenuncia nada de bom para os convivas. Esta experiência semiótica e mística funciona como uma epifania quando ouvida ao som de I've got a crush on you, de Ella Fitzgerald, como os cinéfilos sabem.

O 11 de setembro

5. A fotografia foi tirada a 11 de setembro! Esta ninguém tinha descoberto, mas os convivas só acabaram de ver o debate após a meia-noite de dia 10, depois de deitarem a baixo um leitão, uma feijoada à transmontana e a piza que Paulo Campos disse não prescindir. A CIA e o Mi6 ligaram de imediato para o SIRP, que incrivelmente não tinha detetado esta estranha coincidência, apesar de estar a investigar dois paquistaneses que chegaram ao Bairro dos Atores, via grutas de Tora Bora.

O protocolo dos sábios de Sião

6. Um jantar regado a água mas com uma rolha em cima da mesa é uma maldição que todos os benfiquistas conhecem. A célebre frase de Bela Gutman sobre o clube da Luz foi proferida exatamente no final de uma refeição em que só se bebeu água, mas em que estava uma rolha de cortiça sobre a toalha imaculada. Além disso, há investigadores que garantem que os Sábios de Sião deixam rolhas avulsas em cima de toalhas de mesa para comunicar entre si, enquanto se preparam para dominar o mundo numa conspiração judaica e maçónica, de que este jantar faz claramente parte.

A sequência de Fibonacci

7. É estranho que ninguém tenha descoberto até agora que o facto de estarem sobre a mesa 12 copos e de só haver 9 comensais é uma forma de distrair os jornalistas e curiosos da sequência de Fibonacci que está escondida na imagem. As sequências de Fibonacci formam um espaço vetorial com as funções F(n) e F(n + 1) como base, e começam normalmente por 0 e 1, na qual cada termo subsequente (número de Fibonacci) corresponde a soma dos dois anteriores. Ou seja, 0, 1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, e por aí fora. Como podem ver, nem o 9 nem o 12 fazem parte desta maravilhosa sequência matemática. Mas o Expresso descobriu tudo, ora vejam: 1 rolha, 2 garrafas de água, 3 quadros na parede, 5 prateleiras, 8 homens, os braços de André Figueiredo tentam fazer as 13 horas, 21 livros da Coleção Vampiro dos Livros do Brasil com capas de Lima de Freitas na estante, 34 é o número seguinte da Abade Faria, José Lello gritou 55 vezes durante o debate, etc.

Breaking Bad na lente de Lello

8. Este é o ponto que ainda estamos a investigar e que tem a ver com o reflexo da lente esquerda de José Lello. Esta descoberta pode estar para a fotografia jornalística como as Meninas de Velázquez estão para a pintura, sobretudo desde que Michel Foucault se debruçou sobre esse maravilhoso quadro. Podemos garantir que naquela lente há um reflexo de Walter White e quase garantimos que é o da terceira temporada. E nós somos fortes em Breaking Bad, acreditem. Vamos dando notícias, mas já fica aqui muito para pensar.

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ANTÓNIO FONSECA

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