quinta-feira, 30 de julho de 2015

OBSERVADOR – MACROSCÓPIO – 30 DE JULHO DE 2015

Macroscópio – Finalmente, temos programas. Mas ainda falta mais escrutínio.

Observador, José Manuel Fernandes

18:36

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Para: antoniofonseca40@sapo.pt

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Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher

Boa noite!


Tardou, mas chegou. O programa da coligação PSD-CDS foi apresentado quarta-feira ao fim do dia, pelo que os portugueses podem ir para agosto com as suas 149 páginas, mais as 89 páginas do programa do PS (com letra mais miudinha, é certo), pois este já foi apresentado há mais de dois meses. Não creio porém que, na praia, se encontre o melhor estado de espírito para comparar propostas e visões para o futuro de Portugal, sobretudo se descermos aos imensos detalhes de que se ocupam esses dois longos documentos. Por isso o Macroscópio dá hoje uma ajuda a quem quiser compreender melhor o que propõe a atual maioria, como a seu tempo o fez - Macroscópio de 21 de Abril - com as ideias do PS constantes do documento mais importante, o dos cenários macro-económicos preparados por um grupo de economistas.
Primeiro que tudo, o que é que propõem PS e PSD? Sem falsas modéstias, julgo que o Observador apresentou a melhor síntese online. Se a 20 de Maio lhe oferecemos um Guião do programa eleitoral do PS em nove passos, desta vez fomos por igual caminho, e oferecemos-lhe as propostas de PSD e CDS também num Guião do programa eleitoral em 9 passos. São eles:


Se a leitura destes textos o pode ajudar a ficar com uma ideia do conteúdo do programa, e se neles encontrará algumas novidades, também não espere grandes revoluções. Afinal o cenário macroeconómico a quatro anos é o mesmo que o Governo enviou para Bruxelas no passado mês de abril, e desde então que eram conhecidos os limites das promessas que poderiam ser feitas. Mesmo assim já começaram a ser publicadas ou divulgadas as primeiras análises a este documento, pelo que delas aqui deixo uma breve síntese.
Começo pela avaliação do diretor do Observador, David Dinis, que neste comentário vídeo - E a pergunta para as legislativas é... - procura fazer a síntese daquilo que, em última análise, separa os dois blocos com aspirações de liderar o próximo governo de Portugal. Ou seja, o que devíamos estar a discutir nos próximos dois meses.
Quanto às análises escritas, aqui ficam as que me chamaram mais a atenção:
  • Bruno Faria Lopes considerou hoje, no “Económico à Uma”, que PSD, CDS e PS: o "arco" joga à defesa nas eleições pois, nota, “Com o eleitorado em stress pós-traumático, a Europa em turbulência (a Europa é "o" projecto unificador que os partidos do arco venderam aos portugueses) e a Grécia ainda em risco, nem PSD/CDS, nem PS, arriscam nestas eleições.” Já quanto ao documento da maioria, notou como muito do receio de arriscar condicionou as propostas para a área da Segurança Social: “a "conspiração grisalha" ganhou, infelizmente, a batalha geracional. As ideias - o plafonamento para os mais novos, a maior correspondência entre contribuições e pensão, a "conta individual fictícia" - merecem ser discutidas (duvido que encontrem grande eco no PS), mas centram-se nos futuros beneficiários.”
  • André Veríssimo, do Jornal de Negócios, não mergulhou no documento, mas não o ignorou algumas das suas ideias em A injustiça nas pensões. Eis como introduz a sua reflexão: “Primeiro a boa notícia: os actuais pensionistas vão manter o valor das reformas. A coligação juntou-se ao que já defende o PS, o que garante politicamente esta opção. A má: os futuros pensionistas vão ver as suas baixar ainda mais. É justo?” O articulista não se estende na resposta, mas eu arrisco a minha: é injusto. E, apesar da timidez dos principais partidos, este tema da justiça intergeracional está condenado a regressar ao debate público.
  • André Macedo dedicou ao tema o editorial do Diário de Notícias, O anexo e o risco. Também ele centra nas propostas para as pensões boa parte da sua análise: “Tal como em 2011, o PSD volta a propor a hipótese de os contribuintes - embora não todos -, desviarem parte dos descontos que hoje fazem para sistemas privados ou mutualistas. A ideia há muito que é discutida e rejeitada pela esquerda, que vê nessa liberdade de escolha o primeiro passo para o enfraquecimento de um sistema já muito debilitado pela queda de receitas. Apenas a concretização desta mudança - isto é, a dimensão percentual dos valores a desviar - pode tirar as dúvidas sobre o seu impacto.“
  • Bernardo Ferrão optou por fazer, no Expresso, uma análise mais política em Um discurso de 2011 e um programa de cromos repetidos. O seu gancho é o discurso mais “social” deste programa: “Ao apostar na correção das desigualdades, a direita entra no terreno da esquerda e espera que o país confie que quem destruiu pode agora corrigir os profundos estragos. Acredita? Ao baixar as expectativas e as promessas, a coligação centra o discurso no “aventureirismo” socialista, passando toda a pressão para o campo adversário, como se só Costa tivesse que provar nas legislativas de 4 de outubro.”

Por enquanto não há muito mais a destacar sobre o conteúdo das famosas 149 páginas, mas ocorreu ontem à noite algo de bizarro que não escapou a Helena Matos, que sobre isso escreveu uma nota no blogue Blasfémias, E depois queixem-se: “Está instalada esta telha: fala o Governo e vai a comunicação a meio e já estão os líderes dos outros partidos a comentar. As televisões deixam a comunicação em si mesma, vão para os comentários e em seguida os comentadores comentam os comentários.”
Bem, deixemos esta coisa de programas eleitorais, que em tempo de férias o Macroscópio não pode ser tão monotemático. Por isso aqui lhes deixo mais três chamadas de atenção.

A primeira vai para um texto muito oportuno, e divertido, da Spectator: You can do anything (but you shouldn’t): the brave new world of internet morality. Fala-se, é bom de ver, daquilo que se partilha nas redes sociais – o que partilhamos nós e o que partilham de nós. E, claro está, desse novo género de talibãs que são os polícias do politicamente correcto nas redes sociais:
Close down one server and another springs up; crack one encrypted service and its users flee to an alternative. It may never be possible for criminals and jihadis to have absolute confidence in their anonymity — any more than you should have absolute confidence in yours when seeking a partner for a tryst in a Travelodge — but it also won’t ever again be possible to deprive them of the tools they currently employ. Like the philanderer or the drug user or the pornographer or pretty much anyone, their powers will only grow. In a little internet nutshell, then, we are moving towards a world where the question ‘Can I?’ becomes almost meaningless. Whatever the question, pretty much always you can. Instead, we will have to ask ‘Should I?’ Should I buy these drugs? Should I watch this pornography? Should I send this abusive message to my local MP? What will be the consequences if I do?
A segunda sugestão vai para uma daquelas crónicas que só podemos encontrar na imprensa anglo-saxónica – para o melhor ou para o pior –, mas que são de um imenso descaramento. Hadley Freeman, jornalista do Guardian, não esteve com meias medidas e resolveu escrever uma crónica sugestivamente intitulada: Don’t believe Hollywood’s sexual fantasies about female journalists. Por outras palavras, a vida sexual das mulheres jornalistas é muito menos excitante, diz ela, do que habitualmente se pensa (pensa ela). Mas é divertido de ler: “Women’s jobs, today’s Hollywood movies imply, are a mere hurdle they need to scale before discovering the meaning of life (marriage). But the Hollywood obsession with female journalists’ sex lives feels especially ridiculous as there are few professionals who film folk encounter more than journalists. So this idea that female journalists are all just dying to jump into bed with them is a fascinating insight into certain film-makers’ tragic sexual fantasies.”
A terceira sugestão é num registo nem diferente, bem mais sério. Vai para uma entrevista de George Osborne, o poderoso ministro das Finanças do Reino Unido, ao Telegraph. O título é poderoso e capaz de incendiar muita discussão: Britain should return to a trade relationship with the EU. Eis o seu argumento central: “For Britain, I always felt that the central attraction of European Union membership was the economic one. And that’s why it’s so important to fix the economic aspects of our relationship if we are going to convince people and convince ourselves that it is right for Britain to remain in the EU.”
E é tudo por hoje. Amanhã haverá "mais uma uma volta, mais uma voltinha", como se diz nas pistas dos carros de feira, uma volta especial pois virá antes de um intervalo de duas semanas em que estarei de férias.
Por isso, descansem, leiam, gozem as férias (que já vos apanho) e encontramo-nos aqui de novo daqui por 24 horas, no que será também o último dia de Julho – e o primeiro do resto das nossas vidas, que é o que importa.

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