sábado, 9 de maio de 2015

OBSERVADOR - MACROSCÓPIO - 8 DE MAIO DE 2015

Macroscópio – A surpresa, a memória partilhada e… o calor que está de regresso‏

Macroscópio – A surpresa, a memória partilhada e… o calor que está de regresso

Para: antoniofonseca40@sapo.pt

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!
 
 
A notícia do dia foi, sem sombra de dúvida, a surpreendente vitória dos conservadores nas eleições britânicas. Depois de semanas de sondagens a indicarem que estaríamos a viver momentos de indefinição e bloqueio, ao fim da manhã de hoje já Isabel II estava a reconduzir David Cameron como primeiro ministro - e desta vez com uma maioria absoluta no Parlamento de Westminster. Pouco depois, os líderes dos maiores partidos ingleses, do que tinha ganho e dos que tinham perdido, estavam os três lado a lado, celebrando em conjunto o Dia da Vitória, a cerimónia que assinalou mais um aniversário do fim da II Guerra Mundial na Europa. É desse momento a imagem que escolhi para este Macroscópio – e escolhia porque de alguma forma ela representa a maturidade da democracia inglesa, um saber estar junto quando é para estar junto, e divergir na hora de divergir, entregando no final a voz ao povo.
 
Muito será escrito nas próximas horas e dias sobre o porquê, o significado e o impacto destas eleições. Muito até já começou a ser publicado, mas não vou, por hoje, dedicar-lhe o Macroscópio. Faço só uma excepção: para chamar a atenção para o texto de Rui Ramos, no Observador, escrito em cima da hora, Lições inglesas. Eis uma delas, a primeira:
Tomar o governo num país praticamente em bancarrota, e ser obrigado a equilibrar as contas, não tem de ser uma tarefa fatal. Os Conservadores no Reino Unido obtiveram a sua primeira maioria absoluta desde 1992. Quando a recessão dá lugar ao crescimento e à criação de emprego, como acontece agora, o eleitorado compreende que o ajustamento foi difícil, mas não inútil, e pode não desejar correr mais riscos, sobretudo com aqueles que sempre se permitiram tratar a “austeridade”, apesar dos défices, como um simples capricho “ideológico”. Mas há mais do que isso: tal como no resto da Europa, a recessão parece ter terminado no Reino Unido, mas a “crise” não, naquilo que diz respeito à viabilidade do Estado e à competitividade da economia. Ora, quem provou ser capaz até agora de reconhecer e enfrentar esses problemas, em vez de simplesmente os negar, talvez se encontre em vantagem no debate público.
 
Antes de passar a temas mais leves, e seguindo a prática do Macroscópio de ajudar os leitores a terem acesso aos documentos originais quando estão em causa propostas políticas importantes (ainda há pouco o fizémos com “Uma década para Portugal”, a proposta dos economistas do PS), deixo-vos a ligação para o texto integral do discurso sobre política europeia que o primeiro-ministro fez hoje em Florença: "Towards a Eurozone architecture we can trust". Os pontos essenciais do documento podem ser encontrados na notícia do Observador, mas, para os interessados, nada substitui o documento original e integral. São propostas que remetem para uma visão do que deve ser a Europa e vão no sentido de uma maior integração política, assentando em três pontos: uma União Financeira para o Crescimento e Estabilidade, um Fundo Monetário Europeu e e mais coordenação orçamental na zona euro.
 
Passemos agora a alguns temas que fui guardando para leituras de fim-de-semana - para mais um fim-de-semana que se anuncia de sol e calor, bens que este ano têm sido raros.
 
O meu primeiro destaque vai para uma história de ciência do Wall Street Journal: Ancient DNA Tells a New Human Story. É um ensaio de um dos grandes divulgadores de ciência da actualidade – mas não só: Matt Ridley, autor de obras tão diferentes como “Genoma” ou “O optimista racional”. Eis uma das passagens interessantes desse texto:
The lessons of this DNA revolution are not just scientific, however; they are social and political as well. The discoveries made possible by our new access to ancient DNA show that very few people today live anywhere near where their distant ancestors lived. Virtually no one on the planet is a true native—an instructive fact to consider at a time when ethnic and national differences still abound and the world continues to throw human beings together in new and unexpected ways.
 
A seguir recomendo-vos a leitura de Mario Vargas Llosa, ou melhor, do seu mais recente texto no El Pais, País imprevisible. O país é, naturalmente, o Perú, onde o grande escritor nasceu, e que ele, finalmente, vê com olhos de esperança:
A lo largo de casi toda mi vida he sido bastante pesimista sobre el futuro del Perú. Quizás contribuyó a ello el haber pasado mi niñez y mi juventud en un país envilecido por una dictadura militar, la de Odría, que prostituyó todas las instituciones (…) y, luego, haber visto cómo se frustraban entre nosotros todos los intentos democráticos, destruidos por unos partidos políticos ineptos que preferían destrozarse entre sí a hacer funcionar la democracia (…). Desde el año 2000, con la caída de Fujimori y Montesinos —ladronzuelos y asesinos que batieron todos los récords de criminalidad establecidos por los dictadores peruanos—, de pronto, empezaron a pasar cosas en mi país que me inyectaron la esperanza. Desde hace tres lustros, con algunos tropezones e interrupciones, ella se ha mantenido. En estos días, aletea de nuevo, viva todavía, pero como un candil en el viento, y siempre con el sobresalto de que surja un golpe de viento que la apague.
 


Ou seja, nem de todo o lado nos chegam más notícias, ou deprimentes perspectivas. Há excepções, mas não sei se posso incluir nelas a história que se segue e veio contada no Guardian:Warsaw's Palace of Culture, Stalin's 'gift'. Quem já visitou a capital polaca não pode ter deixado de reparar neste edifício, construído ao estilo soviético, em tudo idêntico a quatro outros arranha-céus existentes em Moscovo. Foi erguido no meio das ruínas de uma cidade que o Exército Vermelho tinha deixado destruir quando assistiu, impávido, ao esmagamento, no Verão de 1944, da revolta do povo de Varsóvia, e é de alguma forma uma espécie de ferro de lide espetado no meio de uma cidade que ainda vive com intensidade o seu passado conturbado. Pequena passagem: “some think that demolishing the palace would destroy any memory of communism, with Poland’s image emerging cleaner and more innocent as a result. But memories don’t work like that. Despite occasional threats of demolition – or privatisation – it is simply too big, too statuesque and too symbolic to get rid of in any organised manner.”
 
Esperança podem sim ter todos os que têm investido em Warren Buffet e na sua Berkshire Hathaway, a empresa que controla há 50 anos. É por isso que lhes recome ndo um trabalho muito especial do Observador: o acompanhamento, no local, da assembleia da Berkshire Hathaway em Omaha, nos Estados Unidos, uma reportagem original e cheia de indicações sobre como melhor investir. Warren Buffett. Depois da América, quer agora comprar a Europa é um trabalho de David Almas que até encontrou outros portugueses nesse lugar da América profunda:
“O ambiente na feira anual que acompanha a assembleia de acionista confirma que, tal como o Super-Homem, Warren Buffett é um salvador. “Isto é quase uma religião”, confessou Emília Vieira, presidente da Casa de Investimentos, uma sociedade gestora de património de Braga, na véspera da últi ma assembleia de acionista da Berkshire, em Omaha. “Criou-se uma cultura rara no mundo dos investimentos. Os acionistas vêm cá agradecer”, justificou Emília Vieira. (…) Uma das razões para os investidores virem a Omaha todos os anos é a consistência das respostas”, completou Hugo Roque, o diretor da gestão de ativos da Casa de Investimentos que acompanhou Emília Vieira na viagem desde Braga até Omaha. “Querem ouvir outra vez que devem investir em ações para o longo prazo.”
 
Para terminar este Macroscópio com uma verdadeira sugestão própria de uma fim-de-semana de calor, e também para não se dizer que aqui só se trazem notícias deprimentes da Grécia, queria acompanhar uma sugestão do Wall Street Journal, que esta semana entendeu recomendar os vinhos brancos gregos , mesmo sem saber se algum deles era o que Varoufakis estava a beber durante a sua famosa sessão fotográfica. O texto - Ode on Grecian White Wines—a Modern Success Story – deixa-nos cinco sugestões que podem, como se refere no texto, ser compradas em Nova Iorque mas suspeito que será difícil encontrar em qualquer garrafeira nacional. Mesmo assim interessei-me por elas, até porque nenhum desses vinhos, pelo que li, pertence à categoria dos retsina, um tipo de bebida que, perdoem-me os gregos e os cultores da tradição clássica para a preservação de vinho, nunca me conseguiu cativar. Mas com estes fiquei curioso: “Though wine production in Greece dates back thousands of years (wine was widely cultivated in the coun try during the Bronze Age), Greek wine is also something new, having only recently edged into modern times, thanks to a new generation of ambitious, quality-minded producers.”
 
Sem vinhos gregos, seguramente com algum dos muitos excelentes portugueses a regar um fim-de-semana de sol e temperaturas acima dos 30º, só posso desejar aos leitores do Macroscópio que, além do repouso merecido, tenham igualmente boas leituras.
 
Até segunda-feira. 

 
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ANTÓNIO FONSECA


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