quarta-feira, 1 de novembro de 2023

SAUL DIAS ou JÚLUO MARIA DOS REIS PEREIRA - POETA - NASCEU EM 1902 - 1 DE NOVEMBRO DE 2023

 

Júlio Maria dos Reis Pereira

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Saul Dias)
Julio
Nome completoJúlio Maria dos Reis Pereira
Pseudónimo(s)Saúl Dias (poesia)
Nascimento1902
Vila do Conde
Morte1983 (81 anos)
Vila do Conde
Nacionalidadeportuguês
PrémiosPrémio do Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários (1980)
ÁreaPintura
Movimento(s)Modernismo
Músicos e mulheres no espaço, 1925, óleo sobre cartão, 80 x 65 cm

Júlio Maria dos Reis Pereira, ou Julio como artista plástico e Saúl Dias como poeta, (Vila do Conde1902 — 1983), foi um pintorilustrador e poeta português.

Pertence à segunda geração de pintores modernistas portugueses e foi autor de uma obra multifacetada que se divide entre as artes plásticas e a escrita, tendo sido um dos mais importantes colaboradores da revista Presença.[1]

Biografia

Júlio Maria dos Reis Pereira nasceu no no ano de 1902 em Vila do Conde. É irmão de José Régio.

Júlio mostra uma precoce apetência pela cultura; ainda adolescente publica poemas num semanário da sua terra. Em 1919 matricula-se no curso de Engenharia Civil da Faculdade de Ciências do Porto, que conclui em 1928; em simultâneo matricula-se na Escola de Belas-Artes, que frequenta durante apenas 2 anos.

Ao longo da década de 1920 trabalha no grafismo e ilustração de obras do seu irmão, José Régio, bem como da Presença, de que é dos principais colaboradores. Terá ainda colaboração noutras revistas, tais como Sudoeste[2] (1935) e Altura (1945).[3]

Em 1930 participa no I Salão dos IndependentesSNBA, Lisboa. Dois anos mais tarde publica, sob o pseudónimo de Saul Dias, um livro de poesia intitulado "... mais e mais...". Em 1935 realiza a sua primeira exposição individual (SNBA, Lisboa). A partir dessa data irá expor individualmente por diversas vezes, nomeadamente: Galeria UP, Lisboa,1938; Galeria Buchholz, Lisboa, 1944; Salão da Livraria Portugália, Porto, 1945; Galeria Pórtico, Lisboa, 1955; Galeria do Diário de Notícias, Lisboa, 1959 e 1964; etc.[4][5]

Em 1936 começa a trabalhar na Direção dos Edifícios e Monumentos Nacionais de Coimbra; no ano seguinte radica-se em Évora, cidade onde vive e trabalha durante mais de três décadas e meia até 1972, ano em que regressa a Vila do Conde.

Em 1942, aproveitando as facilidades de deslocação proporcionadas pelo seu trabalho, começa a colecionar Bonecos de Estremoz, constituindo ao longo dos anos uma vasta coleção de 375 peças, exposta no Museu Municipal de Estremoz desde 1975.

Em 1953 participa na 2ª Bienal de São PauloBrasil. Em 1958 vence o primeiro prémio de desenho no IV Salão de Outono do Estoril. Em 1962 é publicada a Obra poética de Saul Dias. Realiza exposições retrospetivas no Museu de Évora (1964), na Cooperativa Árvore, Porto (1967), na Câmara Municipal de Vila do Conde (1979), e na Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa (1980).

Júlio Maria dos Reis Pereira morre na sua terra natal em 1983, com 81 anos, tendo sido agraciado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique, a título póstumo, no dia 3 de agosto desse ano.[6]

Em 2002 o Museu Municipal de Estremoz promove uma homenagem em sua honra, lembrando o seu papel na recuperação dos Bonecos de Estremoz; e em 2008 esse museu associa-se ao de Vila do Conde para celebrar o 25.º aniversário da data da sua morte.

Obra

Burguês e prostituta, 1931, óleo sobre tela, 78,5 x 63 cm

A sua obra plástica articula-se de perto com a revista Presença: "Júlio foi, realmente, a Presença – o seu lirismo, a sua imediatidade expressiva, o seu horror aos academismos ou às habilidades estilísticas, uma certa ingenuidade cultural, voluntária ou involuntariamente cultivada…".[7] Alheios à «febre da vida moderna» que havia regido os criadores do «Orfeu», "os presencistas distanciar-se-iam analogamente dos delírios oníricos da relação surrealista ou da intencionalidade político-subversiva dos neorrealistas".[8]

Autor de um percurso muito pessoal, sem escola, Júlio "pôde descobrir sozinho o repto da sua poética", tomando como referência Chagall e os expressionistas alemães, sobretudo Georg Grosz, "apropriando deles a sobreposição acumulada, […] a simplificação das formas, duras e angulosas, e a estridência das soluções cromáticas".[9] A sua pintura poderá relacionar-se com complexidade espacial de Chagall, Grosz ou Beckmann (veja-se, por exemplo, o dinamismo de Músicos e mulheres no espaço, 1925), mas a intensidade narrativa de todos eles sofre uma deslocação radical; o expressionismo de Júlio troca a exasperação dramática pela contemplação lírica, "o brutalismo erótico pela delicadeza sensual, o ardente subjetivismo pelo memorial intimista, o culto do primitivismo pelo apelo à simplicidade de infância".[8]

Sem título, 1939, tinta-da-china sobre papel, 42 x 49,5 cm

Júlio centra-se tematicamente num mundo de opostos, "confrontando os puros – a prostituta, o músico-poeta, os pobres –, aos burgueses pançudos e viciosos que os maculam e fazem sofrer, sem, no entanto, atingirem a sua pureza matricial"[9] (veja-se por exemplo Burguês e prostituta, 1931). "As cenas de prostíbulo, com burgueses repelentes, macabros", são complementadas por obras em que representa "cenas de um lirismo imaginado, docemente sonhadas, com poetas e meninas".[10]

As suas figuras imaginadas, sem relação direta com referentes reais,[9] associam-se à simplificação expressiva e à busca da essencialidade da linguagem,[8] desdramatizando a crítica social e ampliando a dimensão poética do seu universo pictórico. Com as suas figuras contornadas a negro e utilizando uma matéria pictórica lisa, quase sem espessura, Júlio "acentua a irrealidade feérica das narrativas que, muitas vezes, adquirem um pendor narrativo brincado, reforçando a sua exterioridade em relação aos motivos, desenvolvidos plasticamente por uma espécie de lógica construtiva […] que esfria a pulsão expressionista em formalismo" (segundo Raquel Henriques da Silva, talvez resida nesta enfatização da dimensão formal a maior modernidade de Júlio, bem como a explicação para as suas breves experiências abstratas de 1932[9]).

No decurso da década de 1930 irá experimentar diferentes tendências, com uma série de desenhos surrealistas e pinturas abstratas que constituem um momento particular no interior da sua obra, evoluindo depois para o seu modo final, dominado pelo lirismo. "O desenho de Júlio é marcado pelo expressionismo até 1935; depois dessa data o artista opta por um lirismo bucólico, quase pastoral. [...] A linha é suave, a cor, quando existe, depurada, clara. É um universo contaminado pela ingenuidade, numa tentativa nostálgica de reencontro do homem com a natureza".[11]

Obras de Poesia

  • Obra Poética (Portugália, 1962)

Referências

  1.  França, José Augusto – A arte em Portugal no século XX (1974). Lisboa: Livraria Bertrand, 1991, p. 289-293.
  2.  Rita Correia (18 de maio de 2011). «Ficha histórica: Sudoeste : cadernos de Almada Negreiros (1935)» (pdf)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 5 de novembro de 2015
  3.  Daniel Pires (1999). «Ficha histórica: Altura: cadernos de poesia(1945).» (pdf)Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1941-1974) volume II, 1º tomo, (A-P), Lisboa, GrifoHemeroteca Municipal de Lisboa. p. 46. Consultado em 28 de Abril de 2014
  4.  França, José Augusto – História da Arte em Portugal: o modernismo. Lisboa: Presença, 2004, p. 61
  5.  Júlio - Júlio: Exposição retrospetiva. Lisboa; Porto: Fundação Calouste Gulbenkian; Câmara Municipal de Vila do Conde; Centro de Arte Contemporânea, 1980.
  6.  «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Júlio Maria dos Reis Pereira". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 9 de julho de 2019
  7.  França, José Augusto – A arte em Portugal no século XX. Lisboa: Livraria Bertrand, 1974, p. 290.
  8. ↑ Ir para:a b c Pernes, Fernando - Tanto ou quase nada... [1979]. In: Júlio - Júlio: Exposição retrospetiva. Lisboa; Porto: Fundação Calouste Gulbenkian; Câmara Municipal de Vila do Conde; Centro de Arte Contemporânea, 1980.
  9. ↑ Ir para:a b c d Silva, Raquel Henriques da – Júlio, o mundo dos contrários. In: A.A.V.V. – Panorama Arte Portuguesa no Século XX. Porto: Campo das Letras; Fundação de Serralves, 1999, p. 101. ISBN: 972-610-212-x
  10.  França, José Augusto – A arte em Portugal no século XX. Lisboa: Livraria Bertrand, 1974, p. 291.
  11.  Oliveira, Filipa – Júlio dos Reis Pereira. A.A.V.V. – Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão: roteiro da coleção. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian, p.82, 83.

DIA DO PÃO POR DEUS - 1 DE NOVEMBRO DE 2023

 

Pão-por-Deus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

pão-por-Deus é um peditório ritual feito por ocasião do Dia de Todos-os-Santos, associado às práticas relacionadas com as refeições cerimoniais do culto dos mortos "Dia dos Finados". Na Galiza o peditório tem o nome de migalho (migallo).[1][2] No Tenerife tem o nome de "Pan por Dios"[3] ou “Los Santitos”[4][5]. Em Florianópolis tem o nome "Finadinho"[6] ou pão por Deus[7].

História

O peditório do pão-por-Deus está associado ao antigo costume que se tinha de oferecer pão, bolos, vinho e outros alimentos aos defuntos. Era costume "durante o ano, nos domingos e dias festivos se oferecerem por devoção picheis, ou frascos de vinho, e certos pães, que eram colocados numa toalha estendida sobre a sepultura do defunto, e uma vela acesa."[8] Também se colocava pão, vinho e dinheiro no caixão do defunto para a viagem.[9] No cânone LXIX do II Concílio de Braga do ano 572, proibia-se que se levassem alimentos à tumba.[10]

Os peditórios para as almas realizam-se ao longo do ano, em Janeiro pelos caretos [11], durante a quaresma canta-se às almas santas [12] e faz-se um peditório (pedir as janeirinhaspedir as maiaspedir os reizinhos[13] são peditórios que tal como os dos caretos se inserem no ciclo dos peditórios rituais que têm lugar ao longo do ano)[14][15][16] como o do de "andador de almas", que pedia esmolas pelas almas.[17]

Nos Açores, acreditava-se que uma alma podia azedar o pão. Para que tal não acontecesse, o pão da primeira fornada, "o pão das almas", era colocado numa cadeira na rua à porta de casa, coberto por um pano, para que a primeira pessoa que passasse o levasse para si ou desse a alguém necessitado.[18]

Peditório

Em Portugal no dia 1 de NovembroDia de Todos-os-Santos as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o Pão-por-Deus (ou o bolinho) de porta em porta. O dia de pão-por-Deus, ou dia de todos os fiéis defuntos, era o dia em que se repartia pão cozido pelos pobres.

Registado no século XV como o dia em que também se pagava um determinado foro:"Pagardes o dito foro em cada um ano em dia de pão por Deus". O dia primeiro ou da festa de Todos-os-Santos era denominado nos documentos jurídicos do século XV "Dia de pão por Deus".[19][20]

Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À bela, bela cruz
Truz, Truz!
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de s'alevantar
Para vir dar um tostãozinho.

Se dão doces:

Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.

Se não dão doces:

Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho.
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto
[21]

É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o santoro. O santoro é uma espécie de pão bento, um bolo comprido que se dá em dia de Finados ou de Todos-os-Santos e que é do feitio de uma tíbia.[22] Já pedir o "santorinho", que começava nos últimos dias do mês de Outubro, era o nome que se dava à tradição em que crianças sozinhas, ou em grupo, de saco na mão iam de porta em porta para ganhar doces.[23]. Em Trás-os-Montes pede-se o “pão das almas”.[24]

As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e recebem como oferenda: pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, tremoços amêndoas,ou castanhas que colocam dentro dos seus sacos de pano, de retalhos ou de borlas.[25][26]Em algumas povoações da zona centro e Estremadura chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’ ou ‘Dia do Bolinho’. Os bolinhos típicos são especialmente confecionados para este dia, sendo à base de farinha e erva doce com mel (noutros locais leva batata doce e abóbora) e frutos secos como passas e nozes.

São vários os versos para pedir o pão-por-Deus:assim se diz

Ou então:

Como não é muito aceitável rejeitar o bolinho às crianças, as desculpas eram criativas:

A quem lhes recusa o pão-por-Deus roga-se uma praga em verso ou deixa-se uma ameaça enquanto se foge em grupo e entre risos:

O termo caneca podia ser substituído por tranca ou cavaca (um pedaço de lenha).

Pão, pão por deus à mangarola,
encham-me o saco,
e vou-me embora.

Se não ficarem satisfeitos dizem:

O gorgulho gorgulhote,
lhe dê no pote,
e lhe não deixe,
farelo nem farelote
[28]

Na primeira metade do século XX as crianças quando iam pedir o pão-por-deus , acompanhadas por um adulto, levavam uma Coca iluminada:

Dae pão-por-Deus
Que vos deu Deus
P'ra repartir
C'os fieis de Deus
Pelos defuntos
De vo'meces...
Quando o peditório é infructuoso:
Tranca me dáes
fujo p'rá rua
E seja tudo
P'l'amor de Deus
Versos dos Açores:[29]
"Nesta mesma cidade de Coimbra, onde hoje [ano de 1963] nos encontramos, é costume andarem grupos de crianças pelas ruas, nos dias 31 de Outubro e 1 e 2 de Novembro, ao cair da noite, com uma abóbora oca e com buracos recortados a fazer de olhos, nariz e boca, como se fosse uma caveira, e com um coto de vela aceso por dentro, para lhe dar um ar mais macabro."[30]
"Em Coimbra o peditório menciona «Bolinhos, bolinhós», e o grupo traz uma abóbora esvaziada com dois buracos a figurarem os olhos de um personagem e uma vela acesa dentro[...]" [31]

As crianças e os adultos que participam nos peditórios representam as almas dos mortos que «neste dia erram pelo mundo», quando pedem pão para para partilhar com as almas. O pão por Deus é uma oferenda que se faz às próprias almas.[32][33] Em Barqueiros, concelho de Mesão Frio, à meia-noite do dia 1 para 2 de Novembro arranjava-se uma mesa com castanhas para os parentes já falecidos lá irem comer durante a noite “não devendo depois ninguém tocar nessa comida, porque ela ficava babada dos mortos”.[34][35]

Na freguesia de Vila Nova de MonsarrosAnadia, as crianças faziam os "santórios", recebiam fruta e bolos e cada criança transportava uma abóbora oca com figura de cara, com uma vela dentro.[36]

"Em Roriz não se chama pão por Deus, nem bolinhos, nem santoros a comezaina que se dá aos rapazes no dia de Todos os Santos ou de Finados. O que os rapazes vão pedir por portas, segundo lá dizem, é — os fieis de Deus."[37]

Nos Açores dão-se “caspiadas” às crianças durante o peditório, bolos com o formato do topo de uma caveira, claramente um manjar ritual do culto dos mortos.[38]

Com o passar do tempo, o Pão-por-Deus sofreu algumas alterações, os meninos que batem de porta em porta podem receber dinheiro, rebuçados ou chocolates. Esta atividade é também realizada nos arredores de Lisboa. Antigamente relembrava a algumas pessoas o que aconteceu no dia 1 de Novembro de 1755, aquando do terramoto de Lisboa, em que as pessoas que viram todos os seus bens serem destruídos na catástrofe, tiveram que pedir "pão-por-Deus" nas localidades que não tinham sofrido danos.

O pão-por-Deus é o pão, ou oferenda, que se dá aos mortos, o Molete ou Samagaio (Sabatina, Raiva da criança) o pão, ou oferendas que se dá quando uma criança nasce.[39][40]

Nesta data em Inglaterra pedia-se o "soul cake" (bolo das almas),[41] que, supõe-se, terá dado origem à tradição do trick or treat nos Estados Unidos.[42] Na Bretanha equivale ao rito do "bara ann anaon" ou pão dos mortos.[43]

Depois do peditório-alimentar os mortos

  • "lenha das almas", "lenha das almas" ou "pau das almas"

A lenha é recolhida ou roubada num ritual em que participam os jovens solteiros e depois é leiloada ou vendida em hasta pública no largo das aldeias [44]

  • canhoto dos Santos

O "canhoto" ou "fogueira dos santos" é aceso no adro da igreja e à volta do fogo a população bebe vinho e come castanhas, no tradicional "magusto dos santos" quase em silêncio.[45]

  • O magusto dos santos

Segundo Leite de Vasconcelos na noite de Todos os Santos, em Barqueiros, era tradição preparar, à meia-noite, uma mesa com castanhas para os mortos da família irem comer; ninguém mais tocava nas castanhas porque se dizia que estavam “babada dos defuntos”. É também costume deixar um lugar vago à mesa para o morto ou deixar a mesa cheia de iguarias toda a noite da consoada para as "alminhas".[46] Já na consoada as almas vão comer as iguarias postas num prato fora de casa com uma luz ao lado para as alumiar. Aparecem na forma de borboletas: brancas se estão em bom lugar, pretas se estão em mau lugar.[47]

Património Imaterial português

"A progressiva implantação do Halloween em Portugal constitui um exemplo de ameaça ou risco à continuidade do “Pão-por-Deus” como manifestação do Património Imaterial português, por várias razões.Em primeiro lugar, substitui os versos tradicionais, manifestações da tradição oral da comunidade, por expressões orais originárias do Inglês (“Doçura ou travessura!” / “Trick or treat!”). Em segundo lugar, introduz neste peditório cerimonial infantil o uso de máscaras e fatos muito semelhantes às usadas no Carnaval, mas que tradicionalmente eram totalmente ausentes do “Pão-por-Deus”. Finalmente, e como bem expressam as alterações do nome da tradição, da forma e conteúdo da tradição oral, e também o tipo de máscaras que passaram a ser utilizadas pelas crianças, a introdução do “Halloween” eliminou por completo as conotações religiosas muito presentes na antiga tradição do “Pão-por-Deus”."[48]

No Brasil

Este é um costume de origem portuguesa mas ocorre em ambos os lados do Oceano Atlântico. Tanto em Juncal em Portugal, como na festilha, que resgata as tradições na Ilha de São Francisco do Sul, estado de Santa CatarinaBrasil.

Na festilha, o pão-por-Deus é pedido através de uma figura feita de recorte de papel acetinado, geralmente um coração, de quatro faces que se justapõem quando dobrados, ficando a cor branca por dentro, e por fora a cor azul, vermelha ou amarela. Suas bordas tem uma pequena franja rendilhada. Na face branca, interna, estão escritas uma ou duas quadrinhas nas quais se pede a dádiva, como esta:

Lá vai o meu coração
Pão por Deus
Sozinho sem mais ninguém
Que Deus me deu
Vai pedir o Pão-por-Deus
Uma esmolinha
A quem quero tanto bem
Por alma dos seus

Lista de localidades

Nome da TradiçãoNome do peditórioOferendaAcessórioLocalidadeDataRef.
dia de Pão por Deus
Pão por Deus
Escaldadas (pequenos pães, feitos de farinha de trigo e milho, e enriquecidos com manteiga e açúcar)Açores[49]
dia de Pão por Deus
Pão por Deus
Caspiadas (pães com o formato do topo de um caveira);
moedas; doces, rebuçados, castanhas, laranjas,
saquetas de retalhosAçores[50]
dia do Bolinho
Bolinho
'
Santoro
Santoro (pão bento, um bolo comprido, com o feitio de uma tíbia)
'
Santorio
frutas variadas e bolosCada criança levava uma ou mais abóboras ocas, com orifícios na casca, por vezes representando rostos. No interior das abóboras iam velas acesas.Vila Nova de Monsarros1 de Novembro - peditório era de noite[51]
'
Fieis de DeusBraga1 de Novembro - peditório era de tarde[52]
'
Fieis de DeusRoriz1 e 2 de Novembro[53]
Bolinhos, bolinhósabóbora oca e com buracos recortados a fazer de olhos, nariz e boca, como se fosse uma caveira, e com um coto de vela aceso por dentro. cestinhos ou saquitosCoimbra31 de Outubro e 1 e 2 de Novembro, ao cair da noite[54][55]


Referências

  1.  Real Academia Galega
  2.  Don José Cornide y su 'Catálogo de palabras gallegas'.Boletín nº 309-320 -(Martínez-barbeito, Carlos.)
  3.  [1]
  4.  “Los Santitos” y el “Pan por Dios” tracciones a recuperar en Canarias
  5.  Finados prevalece en Canarias con entidad propia
  6.  Bruxas são personagens do folclore de Florianópolis
  7.  Que mané Dia das Bruxas! Em Ponta das Canas, doce é no dia do pão-por-deus
  8.  Elucidario das palavras, termos e frases, que em Portugal antigamente se usaram..., Volume 1. pg 202
  9.  «Cuidar dos Mortos» (PDF). Consultado em 17 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 16 de dezembro de 2011
  10.  La presencia bizantina en Hispania, siglos VI-VII: la documentación arqueológica pg595
  11.  PROJECTO FESTAS DE INVERNO EM TRÁS-OS-MONTES. MAPEAMENTO DE FESTAS. DISTRITO DE BRAGANÇA
  12.  Almas Santas
  13.  Teofilo Braga.O povo Portuguez nos seus costumes
  14.  IELT. Mapeamento de festas.
  15.  MUSEU IBÉRICO DA MÁSCARA E DO TRAJE- INVENTÁRIO DA COLECÇÃO MUSEOLÓGICA.Porto 2010
  16.  Freguesia de Monfortinho. Tradições e Costumes
  17.  As alminhas em Portugal e a devolução da Memória. Estudo, Recuperação e Conservação
  18.  [.http://www.culturacores.azores.gov.pt/ficheiros/pca/2012115122825.PDF o culto dos mortos e o mês das almas]
  19.  Elucidario das palavras, termos e frases, que em Portugal antigamente se usaram..., Volume 1
  20.  [2]Teófilo Braga, O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições - II, p 170-171
    O dia primeiro ou da festa de Todos-os-Santos era denominado nos documentos jurídicos do século XV Dia de pão por Deus: <<Pagardes o dito foro em cada um ano em dia de pão por Deus>>
  21.  A canção ródia da andorinha
  22.  Cândido de Figueiredo, Novo dicionário da língua portuguesa p.1798
  23.  «Halloween substitui Santorinho. Gazeta do Interior». Consultado em 1 de novembro de 2012. Arquivado do original em 4 de maio de 2013
  24.  Alexandre Parafita. Se és alma do outro mundo, diz ao que vens!
  25.  Saca de retalhos, c. 1900 Museu Dr. Joaquim Manso | Nazaré
  26.  Aprenda a fazer uma bolsa de pano a retalhos e guarde lá desde o pão ao feijão
  27.  A tradição ainda é o que era. Gazeta das Caldas
  28.  Teófilo Brága. O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. As festas do calendário popular
  29.  Revista dos Açores, Volume 1 Sociedade Auxiladora das Lettras Açorianas
  30.  Manuel de Paiva Boléo, Universidade de Coimbra. Instituto de Estudos Românicos. Revista portuguesa de filologia - Volume 12 - Página 745 - 1963 -
  31.  Renato Almeida, Jorge Dias. Estudos e ensaios folclóricos em homenagem a Renato Almeida. Ministério das Relações Exteriores, Seção de Publicações, 1960
  32.  [Ernesto Veiga de Oliveira. Festividades cíclicas em Portugal - Pg 189]
  33.  «Festas e Tradições Portuguesas. Dia dos Fiéis Defuntos. Jorge Barros, Soledade Martinho Costa (Círculo de Leitores)» (PDF). Consultado em 1 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 13 de novembro de 2013
  34.  Dia de Todos os Santos. ASSOPS
  35.  «José Leite de Vasconcelos OPÚSCULOS Volume VII – Etnologia (Parte II) V. Miscelânea etnográfica» (PDF). Consultado em 2 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 14 de julho de 2014
  36.  Freguesia de Vila Nova de Monsarros. Lendas e Costumes
  37.  [Pimentel, Alberto. Espelho de portuguezes - Volume 2 - Página 1191]
  38.  «Intermuseus Dezembro 2006 nº 7Direcção Regional da Cultura» (PDF). Consultado em 3 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 11 de março de 2008
  39.  Vir à luz —práticas e crenças associadas ao nascimento António Amaro das Neves Revista de Guimarães, n.º 104, 1994, pp. 51-81
  40.  [Actas / International Colloquium on Luso-Brazilian Studies - Volume 1 - Página 162]
  41.  The Golden Bough : A Study in Magic and Religion pg383
  42.  Diary Of Ancient Rites, A Guide For the Serious Practitioner pg247
  43.  The Golden Bough: A Study in Magic and Religion pg 380-384
  44.  dia de Todos os Santos
  45.  A Animação das Festas de Inverno do Concelho de Bragança. Os Caretos na escola e reavivar das tradições
  46.  «José Leite de Vasconcelos. OPÚSCULOS. Volume VII – Etnologia (Parte II).Lisboa, Imprensa Nacional, 1938.V. Miscelânea etnográfica» (PDF). Consultado em 2 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 14 de julho de 2014
  47.  «Leite de Vasconcelos, José. Revista Lusitana» (PDF). Consultado em 20 de janeiro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 14 de julho de 2014
  48.  PATRIMÓNIO IMATERIAL TRADIÇÕES FESTIVAS Kit Ficha 02 Tradições Festivas
  49.  O culto dos mortos e o mês das almas - A tradição das Escaldadas
  50.  O “Culto dos Mortos”, base das religiões Indo-Europeias
  51.  Lendas e tradições
  52.  Almanach de lembranças Luso-Brazileiro
  53.  Pimentel, Alberto. Espelho de portuguezes - Volume 2 - Página 119
  54.  [Manuel de Paiva Boléo, Universidade de Coimbra. Instituto de Estudos Românicos. Revista portuguesa de filologia - Volume 12 - Página 745 - 1963]
  55.  [Alberto Pimentel - 1901; Espelho de portuguezes - Volume 2 - Página 117 ]
  • Almanach de lembranças luso-brasileiro. Castilho Alexandre, Cordeiro António. Typográfica Franco Portuguesa. 1861.

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