Invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022
Este artigo ou se(c)ção trata de um conflito armado recente ou em curso. |
Invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 | |||
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Guerra Russo-Ucraniana | |||
Mapa do território da Ucrânia | |||
Data | 24 de fevereiro de 2022 – presente | ||
Local | Ucrânia | ||
Situação | Em andamento
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Beligerantes | |||
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Civis: 2 000 mortos, 1 684 feridos (segundo a Ucrânia)[40] 136 ucranianos mortos, 400 feridos (segundo a ONU)[41] 1 045 459 refugiados e 1 000 000 deslocados internamente (segundo a ONU)[42][43] |
Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia lançou uma invasão militar em larga escala contra a Ucrânia, um de seus países vizinhos a sudoeste, marcando uma escalada acentuada para um conflito que começou em 2014. Vários analistas chamaram a invasão de a maior invasão militar na Europa desde a Segunda Guerra Mundial.[44][45][46]
Após a Revolução da Dignidade na Ucrânia em 2014, a Rússia anexou a Crimeia, enquanto as forças separatistas apoiadas pelo governo russo tomaram parte da região do Donbas no sudeste da Ucrânia.[47][48] Desde o início de 2021, um acúmulo de presença militar russa ocorreu ao longo da fronteira Rússia-Ucrânia. Os Estados Unidos e outros países acusaram a Rússia de planejar uma invasão da Ucrânia, embora as autoridades russas repetidamente negassem que tinham essa intenção.[49] Durante a crise, o presidente russo Vladimir Putin descreveu a ampliação da OTAN pós-1997 como uma "ameaça à segurança" de seu país, uma afirmação que a OTAN rejeita,[50] e exigiu que a Ucrânia fosse permanentemente impedida de ingressar na OTAN.[51] Putin também expressou opiniões irredentistas russas[52] e questionou o direito de existir da Ucrânia.[53][54] Antes da invasão, tentando fornecer casus belli, Putin acusou a Ucrânia de cometer "genocídio" contra seus cidadãos que falam russo, o que foi amplamente descrito como falso e infundado.[55][56]
Em 21 de fevereiro de 2022, Putin reconheceu a República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk, duas regiões autoproclamadas como Estados que controladas por separatistas pró-Rússia em Donbas.[57] No dia seguinte, o Conselho da Federação da Rússia autorizou por unanimidade o uso da força militar e as tropas russas entraram em ambos os territórios.[58] Em 24 de fevereiro, Putin anunciou uma "operação militar especial", supostamente para "desmilitarizar" e "desnazificar" a Ucrânia.[59] Minutos depois, mísseis atingiram locais em toda o território ucraniano, incluindo Kiev, a capital. A Guarda de Fronteira Ucraniana relatou ataques a postos fronteiriços com a Rússia e a Bielorrússia.[60][61] Pouco depois, as forças terrestres russas entraram na Ucrânia.[62] O presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy promulgou a lei marcial e clamou por uma mobilização geral no país.[63][64]
A invasão recebeu ampla condenação da comunidade internacional, incluindo novas sanções impostas à Rússia, o que começou a desencadear uma crise financeira no país.[65] De acordo com o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de um milhão de ucranianos fugiram do seu país durante a primeira semana da invasão.[66] Protestos globais ocorreram contra a invasão, enquanto que os protestos que aconteceram na Rússia foram respondidos com prisões em massa e o governo russo aumentou significativamente a repressão à mídia independente.[67][68] Um grande número de empresas iniciou um boicote à Rússia e à Bielorrússia. Vários Estados forneceram ajuda humanitária e militar à Ucrânia.[69] Em resposta à ajuda militar, Putin colocou as forças nucleares da Rússia em alerta máximo, aumentando as tensões com o Ocidente, enquanto levantava a possibilidade de uma escalada para uma guerra nuclear.[70]
Antecedentes
Contexto pós-soviético
Após a dissolução da União Soviética em 1991, a Ucrânia e a Rússia continuaram a manter laços estreitos. Em 1994, a Ucrânia concordou em abandonar seu arsenal nuclear e assinou o Memorando de Budapeste sobre Garantias de Segurança sob a condição de que a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos emitissem uma garantia contra ameaças ou uso de força contra a integridade territorial ou independência política de Ucrânia. Cinco anos depois, a Rússia foi um dos signatários da Carta para a Segurança Europeia, onde "reafirmou o direito inerente de cada Estado participante de ser livre para escolher ou alterar seus arranjos de segurança, incluindo tratados de aliança, à medida que evoluem".[71]
Apesar de ser um país independente reconhecido desde 1991, como ex-república soviética, a Ucrânia era vista pela elite russa como parte de sua esfera de influência. Em 2008, o presidente russo Vladimir Putin se manifestou contra a adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).[72][73] Em 2009, o analista romeno Iulian Chifu e seus co-autores opinaram que em relação à Ucrânia, a Rússia buscou uma versão atualizada da Doutrina Brezhnev, que dita que a soberania da Ucrânia não pode ser maior que a dos Estados-membros do Pacto de Varsóvia antes do colapso da esfera de influência soviética durante o final dos anos 1980 e início dos anos 1990.[74] Esta visão baseia-se na premissa de que as ações da Rússia para aplacar o Ocidente no início da década de 1990 deveriam ter sido recebidas com reciprocidade do Ocidente, sem a expansão da OTAN ao longo da fronteira da Rússia.[75]
Revolução Ucraniana de 2014, anexação da Crimeia e Guerra em Donbas
Após semanas de protestos como parte do movimento Euromaidan (2013-2014), o presidente ucraniano pró-russo Viktor Yanukovych e os líderes da oposição parlamentar ucraniana em 21 de fevereiro de 2014 assinaram um acordo que pedia eleições antecipadas. No dia seguinte, Yanukovych fugiu de Kiev antes de uma votação de impeachment que o destituiu de seus poderes como presidente.[76][77][78] Líderes das regiões orientais de língua russa da Ucrânia declararam lealdade contínua a Yanukovych,[79] causando os protestos pró-Rússia de 2014 na Ucrânia.[80] A agitação foi seguida pela anexação da Crimeia pela Rússia em março de 2014 e pela Guerra em Donbas, que começou em abril de 2014 com a criação dos quase-estados apoiados pela Rússia das Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk.[81][82]
Em 14 de setembro de 2020, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy aprovou a nova Estratégia de Segurança Nacional da Ucrânia, "que prevê o desenvolvimento de uma parceria distinta com a OTAN com o objetivo de ser membro da OTAN".[83][84][85] Em 24 de março de 2021, Zelenskyy assinou o Decreto nº 117/2021 que aprova a “estratégia de desocupação e reintegração do território temporariamente ocupado da República Autônoma da Crimeia e da cidade de Sebastopol”.[86]
Em julho de 2021, Putin publicou um ensaio intitulado Sobre a unidade histórica de russos e ucranianos, no qual reafirmou sua visão de que russos e ucranianos eram “um só povo”.[87] O historiador estadunidense Timothy Snyder descreveu as ideias de Putin como "imperialismo".[88] O jornalista britânico Edward Lucas descreveu-o como "revisionismo histórico".[89] Outros observadores notaram que a liderança russa tem uma visão distorcida da Ucrânia moderna e sua história.[90][91][92]
A Rússia afirmou que uma possível adesão da Ucrânia à OTAN e a ampliação da OTAN em geral ameaçam sua segurança nacional.[93][94][95] Por sua vez, a Ucrânia e outros países europeus vizinhos da Rússia acusaram Putin de tentar restaurar o Império Russo/União Soviética e de perseguir políticas militaristas agressivas.[96][97][98][99][100]
Prelúdio da invasão
Série de artigos sobre os conflitos na |
Guerra Russo-Ucraniana |
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O conflito começou com uma grande movimentação militar de tropas russas na fronteira Rússia-Ucrânia, inicialmente de março a abril de 2021 e depois de outubro de 2021 a fevereiro de 2022. Durante a segunda escalada militar, a Rússia emitiu exigências aos Estados Unidos e à OTAN, avançando dois projetos de tratados que continham solicitações para o que chamou de "garantias de segurança", incluindo uma promessa juridicamente vinculativa de que a Ucrânia não ingressaria na OTAN, bem como uma redução em tropas da OTAN e equipamentos militares estacionados na Europa Oriental[101] e ameaçou uma resposta militar não especificada se a OTAN continuasse a seguir uma "linha agressiva".[102]
Acusações russas
Acusações de genocídio
Em 9 de dezembro de 2021, o presidente russo Vladimir Putin falou de discriminação contra falantes de russo fora da Rússia, dizendo: "Devo dizer que a russofobia é um primeiro passo para o genocídio. Você e eu sabemos o que está acontecendo em Donbass. Certamente parece muito com genocídio".[103][104] Em 15 de fevereiro de 2022, Putin repetiu à imprensa: "O que está acontecendo no Donbass é exatamente genocídio".[105] Os meios de comunicação observaram que, apesar desta acusação, o próprio presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy é um falante nativo de russo.[106]
Várias organizações internacionais, incluindo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a Missão Especial de Monitoramento da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para a Ucrânia e o Conselho da Europa, não encontraram evidências que apoiassem as alegações russas de "genocídio",[107][108][109][110] que também foram rejeitadas pela Comissão Europeia como desinformação russa.[111]
A embaixada dos Estados Unidos na Ucrânia descreveu a alegação de genocídio russo como "falsidade repreensível",[112] enquanto o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse que Moscou estava fazendo tais alegações como uma desculpa para invadir a Ucrânia.[105] Em 18 de fevereiro, o embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoly Antonov, respondeu a uma pergunta sobre funcionários dos EUA, que duvidavam do fato do genocídio de russos em Donbass, postando uma declaração na página da Embaixada no Facebook que dizia: "Os americanos preferem não apenas ignorar as tentativas de assimilação forçada dos russos na Ucrânia, mas também as apoia política e militarmente".[113]
Acusação de nazismo
Uma das várias justificações apresentadas por Vladimir Putin para a invasão da Ucrânia foi "acabar com o nazismo no vizinho", apesar do país ter um governo democrático e um governante judeu, filho de sobreviventes do Holocausto.[114][115]
Ultranacionalistas e neonazistas entraram nos combates formando tropas paramilitares, que as vezes atuam com as Forças Armadas do país.[114] Estimulados por alguns governos, como o de Petro Poroshenko (2014-2019), com o ministro Arsen Avakov controlando as milícias, a polícia e a Guarda Nacional. Era ligado ao líder de um dos principais grupos da direita radical, o Azov.[114]
Supostos confrontos
Os combates em Donbas aumentaram significativamente em 17 de fevereiro de 2022. Enquanto o número diário de ataques nas primeiras seis semanas de 2022 variou de dois a cinco,[116] os militares ucranianos relataram 60 ataques em 17 de fevereiro, mas a mídia estatal russa relatou mais de 20 ataques de artilharia contra posições separatistas no mesmo dia.[116] Por exemplo, o governo ucraniano acusou separatistas russos de bombardear um jardim de infância em Stanytsia Luhanska usando artilharia e ferindo três civis. A República Popular de Luhansk disse que suas forças foram atacadas pelo governo ucraniano com morteiros, lançadores de granadas e metralhadoras.[117][118]
No dia seguinte, a República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk ordenaram a evacuação obrigatória de civis de suas respectivas capitais, embora tenha sido observado que as evacuações completas levariam meses para serem realizadas.[119][120][121][122] A mídia ucraniana relatou um aumento acentuado no bombardeio de artilharia dos militantes liderados pela Rússia em Donbass como tentativas de provocar o exército ucraniano.[123][124]
Em 21 de fevereiro, o Serviço Federal de Segurança (FSB) da Rússia anunciou que o bombardeio ucraniano havia destruído uma instalação de fronteira do FSB, a 150 metros da fronteira Rússia-Ucrânia no Oblast da Rostóvia.[125] Separadamente, o serviço de imprensa do Distrito Militar do Sul da Rússia anunciou que as forças russas mataram na manhã daquele dia um grupo de cinco sabotadores perto da vila de Mityakinskaya, no Oblast da Rostóvia, que havia penetrado na fronteira da Ucrânia em dois veículos de combate de infantaria, que foram destruídos.[126] A Ucrânia negou estar envolvida em ambos os incidentes e os chamou de operação de bandeira falsa.[127] Além disso, dois soldados ucranianos e um civil foram mortos por bombardeios na vila de Zaitseve, 30 km ao norte de Donetsk.[128]
Vários analistas, incluindo o site investigativo Bellingcat, publicaram evidências de que muitos dos alegados ataques, explosões e evacuações em Donbass foram encenados pela Rússia.[129][130][131]
Em 21 de fevereiro, a Usina Termelétrica de Luhansk, na República Popular de Luhansk, foi bombardeada por forças desconhecidas.[132]
Intervenção em Donbass
21 de fevereiro
Em 21 de fevereiro de 2022, após o reconhecimento das repúblicas de Donetsk e Luhansk, o presidente Putin ordenou que tropas russas (incluindo tanques) fossem enviadas para Donbas, no que a Rússia chamou de "missão de paz".[133][134] Mais tarde naquele dia, vários meios de comunicação independentes confirmaram que as forças russas estavam entrando em Donbass.[135][136][137][138]
22 de fevereiro
Em 22 de fevereiro de 2022, o presidente estadunidense Joe Biden afirmou que "o início de uma invasão russa da Ucrânia" havia ocorrido. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disseram que "nova invasão" ocorreu. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, afirmou: "Não existe invasão menor, média ou grande. Invasão é invasão." O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que "as tropas russas [chegaram] em solo ucraniano" no que era "[não] uma invasão de pleno direito".[139]
No mesmo dia, o Conselho da Federação autorizou por unanimidade Putin a usar força militar fora da Rússia. Por sua vez, o presidente Zelenskyy ordenou o recrutamento dos reservistas da Ucrânia, embora ainda não tenha se comprometido com a mobilização geral.[140]
Em 23 de fevereiro, a Ucrânia anunciou um estado de emergência nacional, excluindo os territórios ocupados em Donbas, que entrou em vigor à meia-noite.[141][142] No mesmo dia, a Rússia começou a evacuar sua embaixada em Kiev e também baixou a bandeira russa do topo do prédio.[143] Ainda em 23 de fevereiro, os sites do parlamento e do governo ucraniano, juntamente com sites bancários, foram atingidos por ataques DDoS.[144]
Conselho de Segurança das Nações Unidas
A intervenção de 21 de fevereiro no Donbass foi amplamente condenada pelo Conselho de Segurança da ONU e não recebeu nenhum apoio.[145] O embaixador do Quênia, Martin Kimani, comparou o movimento de Putin ao colonialismo e disse: "Devemos completar nossa recuperação das brasas dos impérios mortos de uma forma que não nos leve de volta a novas formas de dominação e opressão".[146]
Outra reunião do Conselho de Segurança da ONU foi convocada de 23 a 24 de fevereiro de 2022. A Rússia invadiu a Ucrânia durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU com o objetivo de neutralizar a crise. O secretário-geral Antonio Guterres havia declarado "Dê uma chance à paz".[147] A Rússia ocupava a presidência do Conselho de Segurança da ONU em fevereiro de 2022 e tem poder de veto como um dos cinco membros permanentes.[147][148]
Invasão
Em 24 de fevereiro, pouco antes das 06:00, horário de Moscou (UTC+3), Putin anunciou que havia tomado a decisão de lançar uma "operação militar especial" no leste da Ucrânia.[149] Em seu discurso, ele afirmou que não havia planos para ocupar o território ucraniano e que apoiava o direito do povo da Ucrânia à autodeterminação.[150][151] Ele disse que o objetivo da "operação" era "proteger as pessoas" na região predominantemente de língua russa de Donbas que, segundo Putin, "há oito anos, enfrentam humilhações e genocídios perpetrados pelo regime de Kiev".[152] Putin também afirmou que a Rússia buscava a "desmilitarização e desnazificação" da Ucrânia.<ref">«Ukraine conflict: Russian forces attack after Putin TV declaration». BBC News. 24 de fevereiro de 2022. Consultado em 24 de fevereiro de 2022. Arquivado do original em 24 de fevereiro de 2022</ref> Minutos depois do anúncio de Putin, explosões foram relatadas em Kiev, Kharkiv, Odessa e Donbass.[153]
Imediatamente após o ataque, Zelenskyy anunciou a introdução da lei marcial na Ucrânia;[154] na mesma noite, ele ordenou uma mobilização geral de todos os homens ucranianos entre 18 e 60 anos.[64] As tropas russas entraram na Ucrânia de quatro direções principais: norte da Bielorrússia, em direção a Kiev; nordeste da Rússia, em direção a Kharkiv; a leste da República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk; e ao sul da região anexada da Crimeia.[155]
Frente Norte
No primeiro dia, as tropas russas começaram a avançar em direção a Kiev. Na Batalha de Chernobil, os russos tomaram o controle das cidades fantasmas de Chernobil e Pripiat, incluindo a Usina Nuclear de Chernobil;[156] seu avanço foi impedido pela forte resistência das tropas ucranianas.[157] Após seu avanço em Chernobil, as forças russas começaram a Batalha de Ivankiv. Algumas forças russas conseguiram romper Ivankiv e capturaram o estrategicamente significativo Aeroporto Antonov, localizado a apenas 20 quilômetros a noroeste de Kiev.[158] Na Batalha do Aeroporto Antonov, combates ferozes ocorreram entre 24 e 25 de fevereiro,[159] com tropas ucranianas tentando repelir várias vezes as Forças Aerotransportadas russas. O aeroporto acabou caindo nas mãos dos russos.[160]
No início da manhã de 26 de fevereiro, pára-quedistas das forças aerotransportadas russas iniciaram a Batalha de Vasylkiv perto da cidade de Vasylkiv, 40 quilômetrosao sul de Kiev, em uma tentativa de proteger a Base Aérea de Vasylkiv. Pesados combates entre os pára-quedistas russos e os defensores ucranianos ocorreram na cidade.[161][162]
Frente Oriental
No nordeste, as tropas russas tentaram capturar Kharkiv e Sumy, ambas localizadas a menos de 35 quilômetros da fronteira russa.[163][164] De acordo com o exército ucraniano, a Batalha de Konotop foi perdida em 25 de fevereiro.[165][166] Na Batalha de Kharkiv, os tanques russos encontraram forte resistência. Em 28 de fevereiro, a cidade foi alvo de vários ataques de mísseis que ceifaram várias vidas. A batalha foi descrita por um conselheiro presidencial ucraniano como a "Stalingrado do século XXI".[167] Na Batalha de Sumy, apesar da pouca resistência inicial, soldados e milícias ucranianas começaram a enfrentar as forças russas dentro da cidade, resultando em uma guerra urbana intensa.[168][169][170]
Na manhã de 25 de fevereiro, as Forças Armadas da Rússia avançaram do território da República Popular de Donetsk no leste em direção a Mariupol e encontraram forças ucranianas perto da vila de Pavlopil, onde foram derrotadas.[171][172][173] A Marinha Russa teria iniciado um ataque anfíbio no litoral do Mar de Azov, 70 quilômetros a oeste de Mariupol, na noite de 25 de fevereiro. Um oficial de defesa dos Estados Unidos afirmou que os russos estavam potencialmente mobilizando milhares de infantaria naval russa desta cabeça de ponte.[174][175][176] Em 1º de março, as forças da República Popular de Donetsk cercaram quase completamente a cidade vizinha de Volnovakha e logo fariam o mesmo com Mariupol.[177]
Frente Sul
Em 24 de fevereiro, tropas russas assumiram o controle do Canal da Crimeia do Norte, permitindo que a Crimeia obtivesse abastecimento de água para a península, do qual estava isolada desde 2014.[178] O ataque também se moveu para o leste em direção a Mariupol, iniciando um cerco da cidade e ligando a frente com as regiões separatistas de Donbas.[179][180] Em 1º de março, as forças russas começaram a se preparar para retomar seu ataque a Melitopol e outras cidades, iniciando a Batalha de Melitopol.[181] Ivan Fedorov, o prefeito de Melitopol, mais tarde afirmou que os russos haviam ocupado a cidade[182] Em 2 de março, a Batalha de Kherson foi vencida pelas tropas russas.[183]
Outras forças russas avançaram para o norte da Crimeia em 26 de fevereiro, com o 22º Corpo do Exército da Rússia se aproximando da Usina Nuclear de Zaporizhia.[184][185] Em 3 de março, eles começaram o cerco de Enerhodar em uma tentativa de assumir o controle da usina nuclear. Um incêndio se desenvolveu durante o tiroteio.[186] A Agência Internacional de Energia Atômica afirmou que equipamentos essenciais não foram danificados.[187] The International Atomic Energy Agency stated that essential equipment had not been damaged.[188] Em 4 de março, a Usina Nuclear de Zaporizhia havia sido capturada pelas forças russas, mas enquanto os incêndios eram replantados, não havia vazamento de radiação.[189]
Ofensiva de Horlivka
Em 1º de março, as forças ucranianas iniciaram uma contra-ofensiva contra Horlivka, que é controlada pela República Popular de Donetsk desde o final de 2014.[190][191]
Em 24 de fevereiro, o Serviço de Guarda de Fronteira do Estado da Ucrânia anunciou por volta das 18:00, hora local, que um ataque à Ilha das Serpentes por navios da Marinha Russa havia começado. O cruzador Moskva e o barco de patrulha Vasily Bykov bombardearam a ilha com seus canhões de convés.[192] Quando o navio de guerra russo se identificou e instruiu os soldados ucranianos estacionados na ilha a se renderem, sua resposta foi: "Navio de guerra russo, vá se foder!"[193][194] Após o bombardeio, um destacamento de soldados russos desembarcou e assumiu o controle da ilha.[195]
Em 25 de fevereiro, forças militares ucranianas atacaram a base aérea de Millerovo com mísseis OTR-21 Tochka, destruindo aviões da Força Aérea Russa e incendiando a base aérea, segundo alguns oficiais ucranianos.[196][197] No ataque ao aeroporto de Zhytomyr em 27 de fevereiro, foi relatado que a Rússia usou sistemas de mísseis 9K720 Iskander, localizados na Bielorrússia, para atacar o aeroporto civil.[198]
Em 3 de março, foi relatado que a fragata ucraniana Hetman Sahaidachny foi afundada no porto de Mykolaiv para evitar sua captura pelas forças russas.[199]
Crise humanitária
Mortos e feridos
Refugiados
Devido ao contínuo aumento militar ao longo da fronteira ucraniana, muitos governos vizinhos e organizações de ajuda estavam se preparando para um possível evento de deslocamento em massa de refugiados nas semanas anteriores à invasão. Em dezembro de 2021, o Ministro da Defesa da Ucrânia estimou que uma invasão poderia forçar entre três e cinco milhões de pessoas a fugir de suas casas.[200]
De acordo com o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, mais de meio milhão de ucranianos fugiram do país nos primeiros quatro dias após a invasão;[201] cerca de 281 mil foram para a Polônia, quase 85 mil para a Hungria, pelo menos 36.390 para a Moldávia, mais de 32,5 mil para a Romênia, 30 mil para a Eslováquia e cerca de 34,6 mil para vários outros países.[201] Na primeira semana, um milhão de refugiados fugiram da Ucrânia;[202][203] eram predominantemente mulheres e crianças,[204][205][206] pois os cidadãos ucranianos do sexo masculino entre 18 e 60 anos tiveram sua saída proibida pelo governo ucraniano.[207]
Em 24 de fevereiro, o governo da Letônia aprovou um plano de contingência para receber e acomodar cerca de 10 mil refugiados da Ucrânia[208] e dois dias depois os primeiros refugiados, assistidos pela Associação dos Samaritanos da Letônia, começaram a chegar. Várias organizações não governamentais, municípios, escolas e instituições também se comprometeram a fornecer alojamento.[209] Em 27 de fevereiro, cerca de 20 motoristas profissionais voluntários partiram para Lublin, na Polônia, com suprimentos doados, trazendo refugiados ucranianos para a Letônia no caminho de volta.[210] Para facilitar as passagens de fronteira, a Polônia e a Romênia suspenderam as regras de entrada impostas por conta da pandemia de COVID-19.[211][212]
O governo húngaro anunciou que todas as pessoas que cruzam a fronteira da Ucrânia, aquelas sem documento de viagem e que chegam de países terceiros também, serão admitidas após a triagem apropriada.[213] O primeiro-ministro Viktor Orbán disse que a Hungria é um "lugar amigável" para as pessoas que chegam da Ucrânia.[214] Muitos dos ucranianos que fugiram para a Hungria eram húngaros transcarpáticos; nenhum deles solicitou qualquer forma de proteção até 25 de fevereiro.[215]
A maioria dos refugiados ucranianos que cruzaram a Romênia entraram por Siret no condado de Suceava.[216] Nos primeiros três dias após a invasão, 31 mil ucranianos entraram na Romênia, dos quais apenas 111 solicitaram alguma forma de proteção. Muitos usaram o passaporte romeno ou ucraniano que possuíam, preferindo não pedir asilo por enquanto. EM 26 de fevereiro, o Ministério do Interior da Romênia aprovou a instalação do primeiro acampamento móvel perto da alfândega de Siret.[217]
Como era esperado um grande grupo de refugiados na Bulgária,[218] vários municípios anunciaram sua intenção de fornecer acomodação para búlgaros e ucranianos que fogem do país, e começaram a modificar e construir moradias para os recém-chegados.[219]
Em 26 de fevereiro, a Eslováquia anunciou que daria dinheiro a pessoas que apoiassem refugiados ucranianos. No dia anterior, a Eslováquia havia recebido mais de 10 mul refugiados, a maioria mulheres e crianças.[220]
Alegações de discriminação e racismo
No final de fevereiro, foi noticiado que, nos dias anteriores, o Serviço de Guarda Fronteiriça do Estado da Ucrânia nos postos fronteiriços perto de Medyka e Shehyni não havia permitido que não ucranianos (muitos deles estudantes estrangeiros presos no país) cruzassem a fronteira para nações vizinhas seguras,[221] alegando que a prioridade estava sendo dada aos cidadãos ucranianos para atravessar primeiro. O ministro das Relações Exteriores ucraniano disse que não havia restrições à saída de cidadãos estrangeiros da Ucrânia e que a força de fronteira foi instruída a permitir que todos os cidadãos estrangeiros saíssem.[222][223] De acordo com Bal Kaur Sandhu, secretário-geral da Khalsa Aid, estudantes indianos que tentavam deixar a Ucrânia enfrentaram sérias dificuldades e discriminação ao tentar cruzar a fronteira, foram submetidos à violência e "foram informados verbalmente que seu governo não está nos apoiando".[224] Discriminação semelhante foi relatada por africanos que tentavam sair.[225][226]
Crimes de guerra
A invasão da Ucrânia foi considerada uma violação da Carta das Nações Unidas e constituiu um crime de agressão de acordo com o direito penal internacional, levantando a possibilidade de que o crime de agressão pudesse ser julgado sob jurisdição universal.[227][228][229] A invasão também violou o Estatuto de Roma, que proíbe "a invasão ou ataque pelas forças armadas de um Estado do território de outro Estado, ou qualquer ocupação militar, ainda que temporária, resultante de tal invasão ou ataque, ou qualquer anexação pelo uso de força do território de outro Estado ou parte dele". A Ucrânia não ratificou o Estatuto de Roma e a Rússia retirou sua assinatura em 2016.[230]
Em 25 de fevereiro, a Anistia Internacional disse que havia coletado e analisado evidências mostrando que a Rússia havia violado o direito internacional humanitário, incluindo ataques que poderiam ser considerados crimes de guerra ; também disse que as alegações russas de usar apenas armas guiadas com precisão eram falsas.[231][232] A Anistia e a Human Rights Watch disseram que as forças russas realizaram ataques indiscriminados a áreas civis e ataques a hospitais, incluindo o disparo de um míssil balístico 9M79 Tochka com uma ogiva de munição cluster em direção a um hospital em Vuhledar, que matou quatro civis e feriu outros dez, incluindo seis profissionais de saúde. [233][234] Dmytro Zhyvytskyi, governador de Sumy Oblast, disse que pelo menos seis ucranianos, incluindo uma menina de sete anos, morreram em um ataque russo a Okhtyrka em 26 de fevereiro, e que um jardim de infância e um orfanato foram atingidos.[235]
Em 27 de fevereiro, o ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, pediu ao Tribunal Penal Internacional (TPI) que investigasse o atentado no jardim de infância de Okhtyrka.[236] No mesmo dia, a Ucrânia entrou com uma ação contra a Rússia perante o Tribunal Internacional de Justiça, acusando a Rússia de violar a Convenção do Genocídio ao alegar falsamente o genocídio como pretexto para operações militares contra a Ucrânia.[237] Em 28 de fevereiro, Karim Ahmad Khan, procurador-chefe do TPI, disse que havia uma "base razoável" para alegações de crimes de guerra e crimes contra a humanidade após a análise preliminar do caso pelo TPI.[238] Trinta e nove estados encaminharam oficialmente a situação na Ucrânia ao TPI. Em 3 de março, Khan anunciou que estavam sendo coletadas evidências de supostos crimes de guerra, crimes contra a humanidade e genocídio cometidos por indivíduos de todos os lados durante a invasão e que uma investigação completa seria aberta.[239]
Em 28 de fevereiro, a Anistia Internacional e a Human Rights Watch denunciaram o uso de munições de fragmentação e armas termobáricas pelas forças de invasão russas na Ucrânia. O uso de munições cluster na guerra é proibido pela Convenção sobre Munições Cluster de 2008, embora a Rússia e a Ucrânia não façam parte desta convenção.[240] Tanto o governo ucraniano quanto o russo se acusaram mutuamente de usar escudos humanos.[241][242] Em 1º de março, o presidente Zelenskyy disse que havia evidências de que áreas civis haviam sido alvejadas durante um bombardeio de artilharia russa em Kharkiv no início daquele dia, e descreveu isso como um crime de guerra.[243]
Reações internacionais
Sanções
Países ocidentais e outros começaram a impor sanções limitadas à Rússia quando reconheceu a independência da região de Donbas. Com o início dos ataques em 24 de fevereiro, um grande número de países adicionais começou a aplicar sanções com o objetivo de paralisar a economia russa. As sanções foram amplas, visando indivíduos, bancos, empresas, trocas monetárias, transferências bancárias, exportações e importações.[244][245][246]
Faisal Islam, da BBC News, afirmou que as medidas estavam longe de ser sanções normais e eram "mais bem vistas como uma forma de guerra econômica". A intenção das sanções era empurrar a Rússia para uma recessão profunda com a probabilidade de corridas bancárias e hiperinflação. Islam observou que atingir um banco central de um membro do G20 dessa maneira é algo que nunca havia sido feito antes.[247] O vice-presidente do Conselho de Segurança da Rússia e ex-presidente Dmitry Medvedev ridicularizou as sanções ocidentais impostas à Rússia, incluindo sanções pessoais, e comentou que elas eram um sinal de "impotência política" resultante da retirada da OTAN do Afeganistão. Ele ameaçou nacionalizar os ativos estrangeiros que as empresas detinham na Rússia.[248]
Em 25 de fevereiro, o Reino Unido proibiu a companhia aérea russa e a transportadora aérea Aeroflot, bem como os jatos particulares russos, do espaço aéreo do Reino Unido. No mesmo dia, Polônia, Bulgária e República Tcheca anunciaram que fechariam seu espaço aéreo para as companhias aéreas russas;[249][250] a Estônia seguiu o exemplo no dia seguinte.[251] Em resposta, a Rússia baniu os aviões britânicos de seu espaço aéreo. A S7 Airlines, a maior transportadora doméstica da Rússia, anunciou que estava cancelando todos os voos para a Europa[250] e a norte-americana Delta Air Lines anunciou que estava suspendendo os laços com a Aeroflot.[252] A Rússia também baniu de seu espaço aéreo todos os voos de companhias aéreas na Bulgária, Polônia e República Tcheca.[253] Estônia, Romênia, Lituânia e Letônia anunciaram que também baniriam as companhias aéreas russas de seu espaço aéreo.[254] A Alemanha também baniu aeronaves russas de seu espaço aéreo.[255] Em 27 de fevereiro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros português anunciou que tinha fechado o espaço aéreo português aos aviões russos.[256] No mesmo dia, a UE anunciou que fecharia seu espaço aéreo para aeronaves russas.[257][258][259]
Impacto econômico
Kristalina Georgieva, diretora-gerente do Fundo Monetário Internacional, alertou que o conflito representa um risco econômico substancial para a região e para todo o mundo. Ela acrescentou que o Fundo pode ajudar outros países afetados pelo conflito, complementando um pacote de empréstimo de 2,2 bilhões de dólares para ajudar a Ucrânia. David Malpass, presidente do Grupo Banco Mundial, disse que o conflito teria efeitos econômicos e sociais de longo alcance e informou que o banco estava preparando opções para um apoio econômico e fiscal significativo aos ucranianos e à região.[260]
Apesar das sanções internacionais sem precedentes contra a Rússia, os pagamentos por matérias-primas energéticas foram amplamente poupados dessas medidas, assim como o fornecimento de alimentos devido ao potencial impacto nos preços mundiais dos alimentos. A Rússia e a Ucrânia são os principais produtores de trigo que é exportado através do Estreito do Bósforo para países do Mediterrâneo e do Norte da África.[261][262]
As sanções econômicas afetaram a Rússia desde o primeiro dia da invasão, com o mercado de ações caindo 39% (Índice RTS), com quedas semelhantes nos dias seguintes. O rublo russo também caiu para mínimos recordes, com os russos correndo para trocar dinheiro.[263][264][265] As bolsas de valores em Moscou e São Petersburgo foram suspensas até pelo menos 9 de março, o fechamento mais longo da história da federação russa.[266] Em 26 de fevereiro, a S&P Global Ratings rebaixou a classificação de crédito do governo russo para "lixo", fazendo com que os fundos que exigem títulos com grau de investimento despejassem a dívida russa, dificultando muito mais empréstimos para a Rússia.[267]
Como resultado da invasão, os preços do petróleo Brent subiram acima de 100 dólares o barril pela primeira vez desde 2014.[268] A invasão ameaçou o fornecimento de energia da Rússia para a Europa e pode impactar os fluxos através de gasodutos, como o Nord Stream,[269][270] fazendo com que os países europeus busquem diversificar suas rotas de fornecimento de energia.[271] Os analistas disseram que, dependendo do cenário do preço do petróleo, os preços do petróleo podem subir para 125 a 185 dólares o barril.[272][273]
Os preços do trigo atingiram seus preços mais altos desde 2008 em resposta ao ataque.[274] Na época da invasão, a Ucrânia era o quarto maior exportador de milho e trigo e o maior exportador mundial de óleo de girassol, com a Rússia e a Ucrânia exportando juntas 29% da oferta mundial de trigo e 75% das exportações mundiais de óleo de girassol. Em 25 de fevereiro, o contrato futuro de trigo de referência no Chicago Board of Trade atingiu seu preço mais alto desde 2012, com os preços do milho e da soja também em alta. O presidente da American Bakers Association alertou que o preço de qualquer coisa feita com grãos começaria a subir, pois todos os mercados de grãos estão inter-relacionados.[275] Em 4 de março de 2022, a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) informou que o Índice Mundial de Preços de Alimentos atingiu um recorde histórico em fevereiro, registrando um aumento de 24% ano a ano. A maioria dos dados do relatório de fevereiro foi compilada antes do ataque, mas analistas disseram que um conflito prolongado pode ter um grande impacto nas exportações de grãos.[276][277]
O economista-chefe agrícola do Wells Fargo afirmou que a Ucrânia provavelmente seria severamente limitada em sua capacidade de plantar na primavera de 2022 e perderia um ano agrícola, enquanto um embargo às colheitas russas criaria mais inflação nos preços dos alimentos. A recuperação das capacidades de produção agrícola pode levar anos, mesmo depois que os combates pararem.[275] Os preços crescentes do trigo resultantes do conflito pressionaram países como o Egito, que são altamente dependentes das exportações russas e ucranianas de trigo, e provocaram temores de agitação social.[278] Em 24 de fevereiro, a China anunciou que retiraria todas as restrições ao trigo russo, no que o South China Morning Post chamou de potencial "salva-vidas" para a economia russa.[279]
Ajuda militar
Após a invasão, as nações ocidentais começaram a assumir novos compromissos de entrega de armas. Bélgica,[280] República Tcheca,[281] Estônia,[282] França, Grécia, Países Baixos, Portugal[283] e o Reino Unido anunciaram que enviariam suprimentos para apoiar e defender os militares e o governo ucraniano.[284] Em 24 de fevereiro, a Polônia entregou alguns suprimentos militares à Ucrânia, incluindo 100 morteiros, várias munições e mais de 40 mil capacetes.[285][286] Enquanto alguns dos 30 membros da OTAN concordaram em enviar armas, a OTAN como organização não o fez.[69]
Em 27 de fevereiro, a UE concordou em comprar armas coletivamente para a Ucrânia. O chefe de política externa da UE, Josep Borrell, afirmou que compraria 450 milhões de euros (502 milhões de dólares) em assistência letal e um adicional de 50 milhões de euros (56 milhões de dólares) em suprimentos não letais. Borrell disse que os ministros da Defesa da UE ainda precisam determinar os detalhes de como comprar o material e transferi-lo para a Ucrânia, mas que a Polônia concordou em atuar como um centro de distribuição.[287][288][289] Borrell também afirmou que pretendia fornecer à Ucrânia caças que eles já são capazes de pilotar. Estes não seriam pagos através do pacote de assistência de 450 milhões de euros. Polônia, Bulgária e Eslováquia tinham exemplares de MiG-29 e a Eslováquia também tinha o Su-25, que eram caças que a Ucrânia já voava e podiam ser transferidos sem treinamento de pilotos.[290] Em 1º de março, Polônia, Eslováquia e Bulgária confirmaram que não forneceriam caças para a Ucrânia.[291]
Em 26 de fevereiro, o Secretário de Estado dos Estados Unidos, Antony Blinken, anunciou que havia autorizado 350 milhões de dólares em assistência militar letal, incluindo "sistemas anti-blindagem e antiaérea, armas pequenas e munições de vários calibres, coletes à prova de balas e equipamentos relacionados"[292][293] A Rússia afirmou que os drones dos Estados Unidos deram inteligência à Marinha da Ucrânia para ajudar a atingir seus navios de guerra no Mar Negro, o que os EUA negaram.[294] Em 27 de fevereiro, Portugal anunciou que enviaria fuzis automáticos H&K G3 e outros equipamentos militares.[283] A Suécia e a Dinamarca decidiram enviar 5 mil e 2,7 mil armas antitanque, respectivamente, para a Ucrânia.[295][296] A Dinamarca também forneceu peças de 300 mísseis Stinger não operacionais, que os Estados Unidos primeiro ajudariam a tornar operacionais.[297] A Turquia também forneceu drones TB2 2.[298]
O governo norueguês, depois de inicialmente dizer que não enviaria armas para a Ucrânia, mas enviaria outros equipamentos militares como capacetes e equipamentos de proteção,[299][300][257] anunciou em 28 de fevereiro que também doaria até 2 mil M72 LAW armas de antitanque para a Ucrânia.[301][302][303] Em uma mudança de política igualmente importante para um país neutro, a Finlândia anunciou que enviaria 2,5 mil fuzis de assalto junto com 150 mil cartuchos, 1,5 mil armas antitanque de tiro único e 70 mil pacotes de ração de combate, para adicionar aos coletes à prova de bala, capacetes e suprimentos médicos já anunciados.[304]
Organizações internacionais
Em 27 de fevereiro, Ursula von der Leyen anunciou que a União Europeia proibiria os meios de comunicação estatais russos RT e Sputnik em resposta à desinformação e sua cobertura do conflito na Ucrânia.[305] Ela também disse que a UE financiaria a compra e entrega de equipamentos militares à Ucrânia e propôs a proibição de aeronaves russas usando o espaço aéreo da UE.[306]
Polônia, Romênia, Lituânia, Letônia e Estônia desencadearam consultas de segurança da OTAN sob o Artigo 4 do Tratado do Atlântico Norte. O governo estoniano emitiu uma declaração do primeiro-ministro Kaja Kallas que diz: "A agressão generalizada da Rússia é uma ameaça para o mundo inteiro e para todos os países da OTAN e as consultas da OTAN sobre o fortalecimento da segurança dos seus Aliados devem ser iniciadas para implementar medidas adicionais para garantir a defesa. A resposta mais eficaz à agressão da Rússia é a unidade."[307] Em 24 de fevereiro, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, anunciou novos planos que "nos permitirão enviar capacidades e forças, incluindo uma Força de Resposta da OTAN, para onde forem necessárias".[308] Após a invasão, a OTAN anunciou planos para aumentar sua presença militar nos países bálticos, na Romênia e na Polônia.[309][310]
Após a reunião do Conselho de Segurança da ONU de 25 de fevereiro, Stoltenberg anunciou que partes da Força de Resposta da OTAN seriam enviadas, pela primeira vez, para membros da OTAN ao longo da fronteira oriental do blobo. Ele afirmou que as forças incluiriam elementos da Força-Tarefa Conjunta de Alta Prontidão (VJTF), atualmente liderada pela França.[311] Stoltenberg afirmou ainda que alguns membros da OTAN estão fornecendo armas para a Ucrânia, incluindo as de defesa aérea. Os Estados Unidos anunciaram em 24 de fevereiro que enviariam 7 mil soldados para se juntar aos 5 mil soldados estadunidenses que já estão na Europa.[311] As forças da OTAN incluem o USS Harry S. Truman, que entrou no Mar Mediterrâneo na semana anterior como parte de um exercício planejado. O grupo de ataque do porta-aviões foi colocado sob o comando da OTAN, a primeira vez que isso ocorreu desde o fim da Guerra Fria.[312]
O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou a Rússia a encerrar imediatamente a agressão na Ucrânia, enquanto os embaixadores da França e dos Estados Unidos anunciaram que apresentariam uma resolução ao Conselho de Segurança da ONU em 25 de fevereiro de 2022.[313][314] Em 25 de fevereiro, a Rússia vetou um projeto de resolução do Conselho de Segurança que "deplorava, nos termos mais fortes, a agressão da Federação Russa", como esperado. Onze países votaram a favor e três se abstiveram, entre eles China, Índia e Emirados Árabes Unidos.[315] 27 de fevereiro é a data marcada para o Conselho de Segurança da ONU votar sobre a realização de uma sessão especial de emergência da Assembleia Geral da ONU para votar uma resolução semelhante. Se a votação for aprovada, espera-se que a sessão da Assembleia Geral seja realizada em 28 de fevereiro.[316]
O Conselho da Europa suspendeu os direitos de representação da Rússia na instituição.[317] Pela primeira vez desde a sua fundação, a OTAN ativou a força de resposta, permitindo aos seus membros recorreram mais rapidamente ao apoio da organização militar.[318] A OCDE cancelou definitivamente o processo de adesão da Rússia, suspenso desde 2014, e encerrou a representação em Moscovo.[319]
Protestos e boicote
Quase 2 mil russos em 60 cidades em toda a Rússia foram detidos pela polícia em 24 de fevereiro por protestar contra a invasão, de acordo com OVD-Info;[320] o Ministério do Interior da Rússia justificou essas prisões devido às "restrições do coronavírus, inclusive em eventos públicos" que continuam em vigor.[321] As autoridades russas alertaram os russos sobre as repercussões legais por participarem de protestos contra a guerra.[322] O vencedor do Prêmio Nobel da Paz, Dmitry Muratov, anunciou que o jornal Novaya Gazeta publicará sua próxima edição em ucraniano e russo. Muratov, o jornalista Mikhail Zygar e outros assinaram um documento afirmando que a Ucrânia não era uma ameaça para a Rússia e pedindo aos cidadãos russos que denunciassem a guerra.[323]
Protestos em apoio à Ucrânia foram em todo o mundo. Na República Tcheca, cerca de 80 mil pessoas protestaram na Praça Venceslau em Praga.[324] Em 27 de fevereiro, mais de 100 mil pessoas se reuniram em Berlim para protestar contra a invasão da Rússia.[325] Durante a votação do referendo constitucional, manifestantes bielorrussos em Minsk gritaram "Não à guerra" nos locais de votação.[326] Em 28 de fevereiro, em vez do tradicional desfile do Carnaval de Colônia, que havia sido cancelada devido à pandemia de COVID-19,[327][328] mais de 250 mil, em vez dos 30 mil previstos, reuniram-se em uma marcha pela paz para protestar contra a invasão russa.[329]
Um movimento de boicote contra produtos russos e bielorrussos se espalhou rapidamente. Na Lituânia, Letônia e Estônia, a maioria dos supermercados removeu produtos russos e bielorrussos, como alimentos, bebidas, revistas e jornais.[331][332][333] No Canadá, os conselhos de controle de bebidas de várias províncias foram obrigados a remover o álcool fabricado na Rússia das prateleiras.[334][335] Nos Estados Unidos, alguns estados impuseram restrições legais à venda de bebidas alcoólicas russas e muitos bares, restaurantes e varejistas de bebidas alcoólicas retiraram as marcas russas da venda voluntariamente, com alguns apoiando as bebidas ucranianas em mais uma demonstração de solidariedade com a Ucrânia.[336][337] Após protestos, os monopólios do álcool finlandês, norueguês e sueco pararam a venda de bebidas alcoólicas russas.[338][339] Além disso, os dois principais varejistas da Finlândia retiraram produtos russos de suas prateleiras.[340] A Apple parou de vender iPhones e outros produtos na Rússia. Harley-Davidson, General Motors e Volvo suspenderam todas as suas operações na Rússia.[341] A varejista sueca de roupas H&M suspendeu temporariamente as vendas no país, fechando mais de 150 lojas.[342] Longas filas foram vistas nos locais da IKEA em 3 de março, o último dia antes de suas 17 lojas na Rússia fecharem.[343] Também foram relatados casos de discriminação contra a diáspora russa.[344]
Ver também
- Incidentes aeronáticos durante a invasão russa da Ucrânia em 2022
- Segunda Guerra Fria
- Conflitos pós-soviéticos
- Guerra Russo-Georgiana
- Guerra Russo-Ucraniana
- Conflito russo-checheno
Notas e referências
Notas
Referências
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