sexta-feira, 11 de dezembro de 2020

DO TEMPO DA OUTRA SENHORA - 11 DE DEZEMBRO DE 2020

 /12/2020 10:58

  •  Você

Do Tempo da Outra Senhora


Ricardo Fonseca e a Alegoria da Justiça

Posted: 08 Sep 2020 09:56 AM PDT


Alegoria da Justiça. Ricardo Fonseca (1986-  ).

CRÉDITOS
Fotografia de Luís Mendeiros
Cortesia de Ricardo Fonseca

Ricardo Fonseca representa aqui a Justiça, uma das 4 virtudes cardeais. Já representou outras, assim como virtudes teologais. Neste caso concreto, a alegoria da Justiça apresenta como é habitual os seus 3 atributos: olhos vendados (demonstração de imparcialidade), a espada (símbolo da força de que dispõe para impor o direito) e a balança (significando a ponderação dos interesses dos litigantes).
A alegoria da Justiça é sempre representada por uma figura feminina, que Ricardo Fonseca caracterizou de uma forma magistral semi-despida, como forma de exaltar a beleza da Justiça na reposição da verdade e no castigo do crime.
Esta alegoria da Justiça é uma representação pioneira como foram duzentos anos atrás alegorias como “O Amor é Cego”, “Primaveras” e “Bailadeiras”, que os barristas são muito solicitados a produzir, fruto do marketing que tem sido feito em torno dos Bonecos de Estremoz, sobretudo depois da sua classificação pela UNESCO. Mas há outros caminhos, como o caminho da inovação, como aqui foi seguido por Ricardo Fonseca, cuja criação é há muito minha conhecida e que aplaudo. Sem dúvida que Ricardo Fonseca, conjuntamente com as Irmãs Flores e Jorge da Conceição são os maiores inovadores que a barrística de Estremoz alguma vez conheceu. Inovaram a nível de temas abordados, aprofundaram a perfeição na modelação e o primor e a originalidade na decoração das suas figuras.
Eles rasgaram os horizontes à barrística de Estremoz, pois continuando a modelar à maneira local, libertaram-se de certos dogmas de representação bafientos. Se calhar para alguns a Justiça devia estar de pezinhos, segurar um arco com flores, empunhar uma foice ou um cajado e ter na cabeça um chapeirão alentejano. Mas não, Ricardo Fonseca sabe com “quantas varas se faz um cesto” e a sua opção de barrista sem peias nas mãos e venda nos olhos, foi executar o que aqui está. Para que conste.
- PARABÉNS, RICARDO!

Bonecos de Estremoz: Irmãs Flores (2ª parte)

Posted: 04 Sep 2020 01:03 PM PDT


O Amor é cego.

A extensão do texto e o considerável
número de ilustrações, aconselhou que
fosse dividido em duas partes,
 que foram publicadas sucessivamente.
Esta é a 2.ª parte.

CRÉDITOS
Fotografias de Luís Mendeiros
Cortesia de Irmãs Flores

Aconselho vivamente a leitura da biografia destas barristas, estabelecida na 1.ª parte.


Bailadeira grande.

Bailadeira pequena.

Primavera de arco.

Primavera de arco com Sistema Solar.

Preto a cavalo.

Rei negro.

 Rei negro.

Lanceiro a cavalo.

Camponesa medieval.

Camponês medieval.

Dama antiga.

Senhora a ler.

Pastor de tarro e manta.

Ceifeira.

Camponesa.

Mulher das galinhas.

Amazona da galinha.

Cavaleiro.

Mantieiro.

Roupeira.

Homem da vindima.

Mulher a dobar.
Campino.

Cantarinha enfeitada com flores.

Cantarinha enfeitada com pombas.

Candelabro.

Castiçais.

Santo António.

Nossa Senhora da Conceição.

Nossa Senhora das Graças.

Presépio de Trono ou de Altar.

Presépio de caixa.

Presépio de caixa.

Todos diferentes, todos iguais!

Posted: 03 Sep 2020 08:15 AM PDT


Fig. 1 - Peralta, Senhora de pezinhos e Nossa Senhora (ganchos de meia).
Ana Catarina Grilo (1974-  ).


LER AINDA 
Bonecos de Estremoz: Ganchos de meia 
Introdução
No passado dia 16 de Junho publiquei neste blogue, um texto intitulado “Ganchos de meia e sua recuperação”, no qual equacionei a problemática suscitada pela execução das pequenas figurinhas em barro. Posteriormente, em conversa com o barrista Jorge da Conceição, tive conhecimento que a manufactura dos ganchos de meia em barro, não tinha sido abordada por ele no Curso de Formação sobre Técnicas de Produção de Bonecos de Estremoz, que no ano transacto tivera lugar no Palácio dos Marqueses de Praia e Monforte. Perguntei-lhe então se não via inconveniente em que divulgasse junto dos seus formandos uns “Apontamentos sobre ganchos de meia” que entretanto redigira e que viria a editar no meu blogue e dos quais, entretanto, lhe dei conhecimento. Ele gostou do texto e foi de opinião que era de difundir o mesmo junto dos seus formandos, visando motivá-los à produção de ganchos de meia.
Neste momento, há novos barristas que já corresponderam à sugestão de manufacturarem ganchos de meia e outros estão em vias de o fazer. Na sua criação e para além da diferença nas marcas identitárias de cada um, foram utilizados três tipos de fixação dos ganchos de meia ao peito das utilizadoras. São eles:
- Fixação por argola longitudinal
- Fixação por gancho
- Fixação por duas argolas transversais
Vejamos então o trabalho que foi produzido, bem como as inovações introduzidas por cada barrista.
Fixação por argola longitudinal
Ana Catarina Grilo confeccionou recentemente 3 ganchos de meia (Fig. 1). Todos eles com a particularidade de o arame posterior de fixação ter a forma de argola cravada no sentido longitudinal da figura, visando a sua fixação ao peito da utilizadora, através do recurso a um alfinete de ama minúsculo, cujo comprimento é de cerca de 2 cm.
Os ganchos de meia de Ana Catarina Grilo são exactamente do tipo daqueles que Luís Chaves (1888-1971) (*) adquiriu em Estremoz e que integram o acervo do Museu Nacional de Etnologia. Todavia, a utilização dos ganchos de meia nessa época era feita com recurso a uma fita enfiada na argola e presa no ombro com um alfinete dobrado em U invertido.
Os ganchos de meia desta barrista medem cerca de 5 cm de comprimento. São eles: Peralta, Senhora de pezinhos e Nossa Senhora. A sua modelação e pintura foi muito simples, como é habitual neste tipo de peças. O Peralta e a Senhora de pezinhos têm as mãos apoiadas na parte frontal superior das coxas. Nossa Senhora tem as mãos postas em atitude de oração. Apenas uma diferença em relação aquilo que era prática corrente anterior. Nossa Senhora não apresenta pezinhos, como se estes estivessem encobertos pelo vestido. Creio que foi uma opção acertada por parte da barrista, pois se os pezinhos conferem graciosidade a uma figura feminina, a não visualização de pezinhos na imagem de Nossa Senhora é mais adequada na representação de uma figura à qual se associa austeridade, recolhimento e espiritualidade.


Fig. 2 - Frade (gancho de meia). Luísa Batalha (1959-  ).
Fixação por gancho
Luís Batalha produziu também recentemente um gancho de meia com a singularidade de o arame posterior de fixação estar virado para baixo (Fig. 2), visando ser espetado no vestuário da utilizadora, na zona do peito. Um tal modo de fixação é exactamente igual ao concebido por José Maria de Sá Lemos (1892-1971) quando nos anos 30 do séc. XX recuperou a extinta manufactura dos Bonecos de Estremoz, recorrendo a Ana das Peles (1869-1945) primeiro e a Mariano da Conceição (1903-1959) depois. São deste tipo e remontam a 1948 os ganchos de meia pertencentes à colecção do Museu Rural de Estremoz e executados por Mariano da Conceição. São também deste tipo, os ganchos de meia executados por Liberdade da Conceição (1913-1990), pertencentes à minha colecção e à de seu neto Jorge da Conceição. São ainda deste tipo os ganchos de meia produzidos pelas irmãs Flores (1957, 1958 -  ), pertencentes à minha colecção e à colecção de Leonor Bonito.
Ao recuperar a tradição de fabrico de ganchos de meia, Sá Lemos introduziu uma modificação importante em relação àquilo que constituía prática anterior, já que concebeu um modo de fixação diferente. Não sei porquê, mas creio que à inovação não terá sido estranho o facto de ser menos prático o modo de fixação anteriormente usado e que recorria a uma fita presa ao ombro com um alfinete dobrado em U invertido.
O gancho de meia de Luísa Batalha mede cerca de 5 cm, representa um frade e apresenta duas características que o tornam interessante. Por um lado, o frade não apresenta pezinhos e sustenta-se na posição vertical, apoiado na parte inferior do hábito. Não tendo pezinhos, que confeririam alguma graciosidade à figura e à semelhança do que já foi referido relativamente a Nossa Senhora, a representação assume um cunho mais austero, reservado e espiritual. Por outro lado e ao contrário daquilo que até agora tinha sido realizado por outros barristas, a figura não assenta as mãos na parte superior frontal das coxas, nem apresenta as mãos em postura de oração. A modelação de Luísa Batalha simulou qualquer das mãos enfiada na manga do lado oposto. Tratou-se de uma solução técnica notável e inovadora, já que evitou saliências nas quais o fio se poderia embaraçar e danificar o gancho de meia.

Fig. 3 - Peralta e Senhora de pezinhos (ganchos de meia). Joana Oliveira (1978- ).
Fixação por duas argolas transversais
Joana Oliveira teve à partida a preocupação de vir a executar ganchos de meia, tal como os anteriores com cerca de 5 cm de comprimento, mas que para além de cumprirem a sua função habitual, actualmente em desuso, pudessem igualmente desempenhar outra função que era a de serem utilizados como pregadeiras ornamentais. Nessa perspectiva e visando a sua utilização no exterior, havia que substituir a fixação por meio de gancho de arame cravado na parte posterior da figura, pois com o movimento a pregadeira corria o risco de se desprender. Trocámos impressões sobre o assunto e eu acarinhei desde logo a ideia da bifuncionalidade dos ganchos de meia, tanto mais que tenho uma amiga, Leonor Bonito, que há muito e de vez em quando, utiliza como pregadeiras, ganchos de meia produzidos pelas Irmãs Flores.
Ana Catarina Grilo já recorrera a fixação por argola de arame cravada no sentido longitudinal da figura, no qual era enfiado um alfinete de ama de cerca de 2 cm para fixação ao peito da utilizadora. Joana Oliveira optou por uma fixação recorrendo a argola de arame embutida no sentido transversal da figura. Todavia a figura oscilava para um lado e para o outro da vertical. Observei-lhe que o problema seria facilmente resolvido, utilizando não uma mas duas argolas, afastadas de cerca de 1 cm (Fig. 3). Sugeri-lhe ainda que em vez de argolas usasse dois pedaços de arame em forma de U achatado, à semelhança de agrafos. Tal ideia foi posta em prática e o resultado foi gratificante para ambos: um Peralta e uma Senhora de Pezinhos com uma graciosa pintura em pormenor.
Balanço final
À laia de balanço final é de concluir que surgiram três soluções distintas para o mesmo problema, que é o de assegurar a continuidade da manufactura dois ganchos de meia em barro, de Estremoz. É caso para clamar:
- TODOS DIFERENTES, TODOS IGUAIS!

Bibliografia
(*) - CHAVES, Luís. Arte popular do Alentejo /Os ganchos de meia de barro d’Estremoz in Separata da Águia, nº67-68, Porto, 1917.

Etiquetas

Seguidores

Pesquisar neste blogue