domingo, 8 de março de 2020

DO TEMPO DA OUTRA SENHORA - 8 DE MARÇO DE 2020


Do Tempo da Outra Senhora


Posted: 07 Mar 2020 02:55 PM PST


A ALEGADA SUBALTERNIDADE DA MULHER EM RELAÇÃO AO HOMEM
As mulheres são nossas avós, nossas mães, nossas companheiras, nossas filhas. Com elas vivemos e por elas vivemos. E isso é o amor nas suas múltiplas vertentes.
Segundo o Génesis (o primeiro dos cinco livros bíblicos que a tradição judaico-cristã atribui a Moisés), no sexto dia da criação do Mundo e a partir do barro, Deus moldou o primeiro homem (Adão) e mais tarde, fazendo-o mergulhar em sono profundo, retirou-lhe uma costela e a partir dela fez a primeira mulher (Eva), a fim de que o homem não vivesse sozinho e tivesse uma ajuda adequada no seu dia-a-dia.
Esta visão mitológica da criação do mundo coloca imediatamente a mulher numa posição subalterna em relação ao homem. Com efeito na 1ª Epístola de São Paulo aos Coríntios, afirma-se a dado passo, que não foi o homem que foi tirado da mulher, mas a mulher do homem, assim como tão pouco foi o homem criado para a mulher, mas sim a mulher para o homem.
Também de acordo com a mesma epístola, é uma desonra para o homem usar cabelo comprido, ao passo que é uma glória para a mulher usar uma longa cabeleira, porque esta lhe foi dada por Deus como um véu e sobre a sua cabeça a mulher deve usar um sinal da sua submissão. Ao orar a Deus, deve assim estar coberta com um véu.
Numa sociedade democrática, a imagem que hoje fazemos da mulher nada tem a ver com aquela que é sugerida pela 1ª Epístola de S. Paulo aos Coríntios.
Ao longo dos séculos e a nível planetário, a mulher tem sido vítima de descriminação e de violência e tem procurado melhores condições de vida e de trabalho, através da luta por si desenvolvida, sobretudo a partir dos primeiros anos do século XX, nos Estados Unidos da América e na Europa. Foi graças a essas lutas que a mulher alcançou conquistas sociais, políticas e económicas.
Há dois aspectos que têm a ver com o meu trabalho na área cultural, nos quais se encontra bem vincada a subalternidade da mulher em relação ao homem. Trata-se de algumas tradições orais e de imagens humorísticas da mulher.
Como arqueólogo da nossa literatura oral, interesso-me por provérbios, cancioneiros, adivinhas, calão, rezas, benzeduras, topónimos, alcunhas, etc. Limitando-me aos provérbios, chamo a atenção para estes:
- “A mulher e o vinho tiram o homem do seu juízo.“
- “A mulher e a galinha, com sol recolhida.“
- “A mulher e o pedrado, quer-se pisado.“
- “A mulher e a pega fala o que dizeis na praça.“
- “A mulher e a cereja, por seu mal se enfeita.“
- “Da laranja e da mulher, o que ela der.“
- “Nem o rouxinol de cantar, nem a mulher de falar.“
- “O homem na praça, e a mulher em casa.“
É péssima a imagem da mulher transmitida por estes provérbios, compilados em 1651, pelo padre jesuíta eborense António Delicado. Estes provérbios, encarados como sentenças contextualizadas na época em que ele viveu ou anteriores a ela, continuam a aparecer completamente descontextualizados, para gáudio de alguns homens, nos livros de provérbios que por aí se vão editando. Uma compilação séria de provérbios terá necessariamente de identificar o colector e o contexto de tempo e de lugar, o que não tem sido feito.
Passemos agora ao segundo aspecto onde ficou registado o vinco da subalternidade da mulher em relação ao homem. Trata-se da cartofilia. Na verdade, a mulher sai muito maltratada na imagem que dela é dada por alguns bilhetes-postais ilustrados humorísticos tanto do tempo da nossa I República como do Estado Novo.
No contexto actual, em que a igualdade de género ainda não é plena, o respeito que nos merece a mulher, leva a que encaremos estes bilhetes-postais ilustrados como produto de uma época, em que nos mais diferentes domínios, a mulher era encarada como um ser inferior ao homem, atitude que hoje é desprovida de qualquer sentido.
O que se passou, entretanto, a nível social? 
A LUTA DA MULHER PELA IGUALDADE DE GÉNERO
Em 1907, um grupo de mulheres fundara o “Grupo Português de Estudos Feministas”, visando difundir os ideais da emancipação feminina e doutrinar as portuguesas através da edição de uma colecção de livros relacionados com a propaganda feminista.
A partir daquele grupo vai fundar-se em 1908, uma associação política e feminista, a “Liga Republicana das Mulheres Portuguesas”, com a finalidade de orientar, educar e instruir, nos princípios democráticos, a mulher portuguesa, fazer propaganda cívica inspirada no ideal republicano e democrático e promover a revisão das leis na parte respeitante à mulher, visando a sua independência económica e a conquista de direitos civis e políticos. A Liga era apoiada pelo Partido Republicano e em particular por dirigentes como António José de Almeida, Bernardino Machado e Magalhães Lima, que na perspectiva de criarem mais uma frente de combate à Monarquia, incentivavam a luta das mulheres pela igualdade de direitos que lhes possibilitassem uma maior intervenção na vida do país, a nível social, económico e político.
Após a revolução republicana de 5 de Outubro de 1910, é criada em 1911 a “Associação de Propaganda Feminista”, em cujos objectivos se incluíam a independência política, a defesa dos direitos das mulheres e a reivindicação do sufrágio feminino restrito.
A primeira lei eleitoral da I República Portuguesa, datada de 1911, reconhecia o direito de votar aos “cidadãos maiores de 21 anos que saibam ler e escrever ou sejam chefes de família”.
Nas eleições para a Assembleia Constituinte de 1911, realizadas em 28 de Maio desse ano, votaria a primeira mulher portuguesa, Carolina Beatriz Ângelo, médica cirurgiã, activista dos direitos femininos e fundadora da Associação de Propaganda Feminista. Invocando a sua condição de chefe de família, uma vez que era viúva e mãe, Carolina Beatriz Ângelo conseguiu que um tribunal lhe confirmasse o direito a votar com base no sentido do plural da expressão "cidadãos portugueses", cujo masculino se refere simultaneamente a homens e a mulheres. Para evitar que tal exemplo pudesse ser repetido, a lei eleitoral foi alterada em 1913, reconhecendo agora o direito de votar aos “cidadãos do sexo masculino, maiores de 21 anos que saibam ler e escrever”.
Só com Salazar em 1931, é que o direito de voto das mulheres foi formalmente estabelecido, ainda que com muitas restrições, visto que só podiam votar as mulheres que tivessem cursos secundários ou superiores, enquanto para os homens bastava saber ler e escrever.
Ainda com Salazar em 1946, a lei eleitoral alargou o direito de voto às mulheres chefes de família e às casadas que, sabendo ler e escrever, tivessem bens próprios e pagassem pelo menos 200 escudos de contribuição predial, assim como aos homens que, sendo analfabetos, pagassem ao Estado pelo menos 100 escudos de impostos.
Em Dezembro de 1968, já com Marcelo Caetano, foi reconhecido o direito de voto às mulheres portuguesas, ainda que as Juntas de Freguesia continuassem a ser eleitas apenas pelos chefes de família. Só depois de 25 de Abril de 1974, seriam revogadas todas as restrições à capacidade eleitoral dos cidadãos tendo por base o género. Convém salientar que antes do 25 de Abril:
- As mulheres tinham menos direitos que os homens;
- As professoras primárias tinham de pedir autorização para casar, que só era concedido se o pretendido tivesse um ordenado igual ou superior ao da mulher;
- As mulheres precisavam de autorização do marido para poderem ser comerciantes, para arrendarem uma casa e para viajar para o estrangeiro;
- Nas eleições só podiam votar os chefes de família, com um grau de instrução mínima e rendimentos. Assim ficavam de fora as mulheres, os analfabetos e os pobres.
A actual Constituição da República Portuguesa consigna no seu Artigo 13.º (Princípio da igualdade) que:
“1. Todos os cidadãos têm a mesma dignidade social e são iguais perante a lei.
2. Ninguém pode ser privilegiado, beneficiado, prejudicado, privado de qualquer direito ou isento de qualquer dever em razão de ascendência, sexo, raça, língua, território de origem, religião, convicções políticas ou ideológicas, instrução, situação económica, condição social ou orientação sexual.”
Significa isto que entre outras coisas, a Constituição da República Portuguesa consigna a igualdade de género, a qual tem merecido especial atenção por parte do Parlamento Europeu ao longo dos últimos 30 anos, especialmente no que se refere a condições de trabalho, violência e discriminação. Para concretizar este objectivo, o Parlamento Europeu tem recorrido a instrumentos como: legislação, apoio a projectos de organizações não governamentais e campanhas de sensibilização.
Em Portugal existe uma Comissão para a Cidadania e a Igualdade de Género (CIG). Integrada na Presidência do Conselho de Ministros e sob a tutela do Gabinete da Secretária de Estado da Igualdade, a CIG é um dos mecanismos governamentais para a Igualdade de Género e tem a missão de garantir a execução das políticas públicas no âmbito da cidadania e da promoção e defesa da igualdade de género. 
MOSTRA ICONOGRÁFICA “AS MULHERES DO MEU PAÍS”
Os três primeiros quartéis do século XX foram entre nós, anos de luta da mulher pela igualdade de género, que ainda continua.
Como etnógrafo amador, socorro-me dos bilhetes-postais ilustrados antigos como documentário topográfico, etnográfico, histórico, sociológico e artístico do país. Foi assim que do meu vasto acervo, seleccionei 36 exemplares da primeira metade do século XX, 3 por cada uma das nossas 12 regiões (Minho, Trás-os-Montes e Alto Douro, Douro Litoral, Beira Litoral, Beira Alta, Beira Baixa, Ribatejo, Estremadura, Alentejo, Madeira e Açores). Foram esses postais que estiveram na génese da montagem da mostra iconográfica sob o título em epígrafe, onde se mostram com toda a sua força anímica, as mulheres do povo, da serra à campina, da charneca à beira-rio e à beira mar, no continente e nas ilhas. Mulheres com trajos de trabalho ou de romaria, mas sempre em perfeita sintonia com o meio, o clima e a identidade cultural regional. Lavradoras, camponesas, mondadeiras, ceifeiras, azeitoneiras, vindimadeiras, aguadeiras, pastoras, peixeiras, varinas, lavadeiras, regateiras, vendedoras de flores, fiandeiras, bordadeiras ou simplesmente mulheres. Mulheres que arrostando com a descriminação, mas lutando contra ela, ajudaram a fazer este país, com a força do seu trabalho, com o seu exemplo e maternidade. Mulheres que lutaram ao lado do homem. Mulheres que foram avós, mães, companheiras e filhas. Mulheres de ontem, tais como as de hoje, com quem vivemos e por quem vivemos por amor. Mulheres que são “As Mulheres do Meu País”, título da mostra iconográfica que entronca no título homónimo do livro da escritora, tradutora, jornalista e resistente anti-fascista Maria Lamas, Presidente em 1947 do Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas, organização centrada na defesa dos direitos sociais e políticos das mulheres, fundada em 1914 pela médica ginecologista Adelaide Cabete. Este Conselho foi encerrado por ordem de Salazar em Julho de 1947, no ano de presidência de Maria Lamas. Esta terminaria em 1948, a obra “As Mulheres do Meu País”, que dedica a todas as mulheres portuguesas. Trata-se de uma monumental reportagem sobre a vida das mulheres portuguesas, publicada sob a forma de 15 fascículos, o último dos quais em Abril de 1950, no ano a seguir a ter estado presa pela primeira vez, no forte de Caxias.
À memória de Maria Lamas e a todas “As Mulheres do Meu País” que têm sabido lutar contra a discriminação, se dedicou a presente mostra iconográfica.

(Presidente da Associação Filatélica Alentejana)

 MINHO
Mulheres na fonte


TRÁS-OS MONTES E ALTO
Camponeses numa feira de gado – Montalegre

 DOURO
Lavradora - Póvoa de Varzim


 BEIRA ALTA
Camponesas - Caramulo


 BEIRA BAIXA
Fiandeira - Monsanto


BEIRA LITORAL
Vendedoras no mercado - Leiria


 RIBATEJO
Dançarinos


 ESTREMADURA
Lavadeira - Caneças


 ALENTEJO
Azeitoneira - Estremoz


 ALGARVE
Camponesa


 MADEIRA
Rapariga moendo trigo


  
AÇORES
Camponesas - Angra do Heroísmo

CEM ANOS DEPOIS DA GRIPE ESPANHOLA, PANDEMIA QUE MATOU MILHÕES DE PESSOAS, SURGE "CORONA VÍRUS". SERÁ TÃO MORTÍFERA ??? - 8 DE MARÇO DE 2020,

100 ANOS DEPOIS...


Em 1918 surgiu a GRIPE ESPANHOLA que vitimou 50 a 100 MILHÕES DE PESSOAS, em todo o mundo.
Agora apareceu o "CORONA VÍRUS" ou "COVID 19". 

Espero que nunca atinja os Números ATRÁS CITADOS.

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Gripe espanhola de 1918

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
(Redirecionado de Gripe espanhola)
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Nota: Peste pneumónica redireciona para aqui. Para a doença provocada pela bactéria Yersinia pestis, consulte Peste pulmonar.

Vírus da gripe espanhola reconstituído
Gripe de 1918 (frequentemente citada como Gripe Espanhola) foi uma pandemia do vírus influenza que se espalhou por quase toda parte do mundo.[1] Foi causada por uma virulência incomum e frequentemente mortal de uma estirpe do vírus Influenza A do subtipo H1N1.
Vitimando entre 50 e 100 milhões de pessoas pelo mundo (ou até 5% da população mundial), foi a pandemia mais letal da história da humanidade.[2][3]

Descrição

A origem geográfica da pandemia de gripe de 1918-1919 (espanhola) é desconhecida. Foi designada de gripe espanholagripe pneumónicapeste pneumónica ou, simplesmente, pneumónica.
A designação "gripe espanhola" deu origem a algum debate na literatura médica da época, que talvez se deva ao fato de a imprensa na Espanha, não participando na guerra, ter noticiado livremente que civis em muitos lugares estavam adoecendo e morrendo em números alarmantes.[4]
A doença foi observada pela primeira vez em Fort RileyKansasEstados Unidos, em 4 de Março de 1918,[5] e em QueensNova Iorque em 11 de Março do mesmo ano. Os primeiros casos conhecidos da gripe na Europa ocorreram em Abril de 1918 com tropas francesas, britânicas e americanas, estacionadas nos portos de embarque na França durante a Primeira Guerra Mundial. Em Maio, a doença atingiu a GréciaPortugal e Espanha. Em Junho, a Dinamarca e a Noruega. Em Agosto, os Países Baixos e a Suécia. Todos os exércitos estacionados na Europa foram severamente afectados pela doença, calculando-se que cerca de 80% das mortes da armada dos Estados Unidos se deveram à gripe.
Estima-se que a gripe espanhola tenha vitimado entre 50 e 100 milhões de pessoas em todo o mundo, se tornando um dos desastres naturais mais letais da história humana.[6]

História da Epidemia


Um hospital nos Estados Unidos, em 1918, lotado de vítimas da gripe espanhola.
Na segunda metade de 1918, justo no último ano de uma guerra como nunca se havia visto antes, a Primeira Guerra Mundial, surgiu uma gripe cujo vírus foi 30 vezes mais letal. Ou seja, caracterizou-se mundialmente pela elevada morbilidade e mortalidade, especialmente nos sectores jovens da população e pela frequência das complicações associadas. A Gripe Espanhola provocou a morte de cerca de 50 a 100 milhões de pessoas em todo o globo durante os dois anos da pandemia[7] — chegando a afetar cerca de 50% da população mundial, enquanto a Primeira Guerra Mundial, nos seus quatro anos de duração, matou aproximadamente 8 milhões de pessoas. Em Portugal, verificou-se uma elevadíssima taxa de mortalidade, com duas ondas epidêmicas e uma ocorrência muito marcada entre os 20 e os 40 anos, que terá causado cerca de 120 000 mortos.[8]Ademais, a falta de estatísticas confiáveis, principalmente no Oriente (como China e Índia) pode ocultar um número ainda maior de vítimas.
Suas origens são desconhecidas, mas é comum entre alguns mamíferos e aves, tanto selvagens como domésticas. Como não há registros entre outros primatas, é considerada uma doença da civilização, surgida pela sedentarização ocorrida no período neolítico[9]. Ainda, é provável que o vírus responsável pela pandemia esteja relacionado com o vírus da gripe suína, isolado por Richard E. Shope em 1920.
Apesar do nome, a gripe não começou na Espanha. A pandemia tomou essa denominação porque a Espanha — que durante a guerra tinha se mantido neutra, não censurava notícias e a imprensa espanhola divulgava “o terror causado pelos 8 milhões de infectados pela ‘fiebre de los tres días’ — que atingiu até o rei Alfonso 13”[7], enquanto os exércitos das demais nações bloqueavam informações que fossem estrategicamente desfavoráveis e pudessem atingir o ânimo das tropas: “Daí a dedução equivocada de que a doença matava mais naquele país, consagrando o nome Gripe Espanhola”[10].
A gripe manifesta-se no aparelho respiratório, cujos sintomas são tosse, dor de garganta, febre, calafrios, fraqueza, prostração e dores nos músculos e juntas. O contágio é feito pelas gotículas expelidas pela pessoa contaminada. Mais tarde, foi descoberto que o vírus tem três subtipos – A B e C, com diferentes graus de morbidade, com ampla capacidade de mutação e de gerar outras recombinações, o que forma novas variantes virais. Essa dificuldade de uma imunização longa ou definitiva fez com que fosse criada a Rede Mundial de Vigilância na qual a comunidade científica e as autoridades de saúde de diversos países se unem para monitorar as mutações do vírus.
Uma das mais letais epidemias da história humana, a gripe, também chamada de Influenza, percorreu todos os continentes em três ondas distintas.

As três ondas da Gripe Espanhola

  1. primeira onda aconteceu entre março e abril, no Kansas, Estados Unidos, num campo de treinamento de tropas destinadas ao front da 1ª Guerra e, apesar de ter sido considerada branda, levou à morte, em todo o primeiro semestre, aproximadamente dez mil pessoas, grande parte atribuídas à pneumonia.
  2. segunda onda, aconteceu quando, depois de percorrer os continentes, retornou aos Estados Unidos em agosto, matando milhões, transformada “em algo monstruoso, parecendo-se muito pouco com o que é comumente considerado gripe”[9], com uma taxa de letalidade de 6 a 8%.
  3. terceira onda foi mais moderada e aconteceu no início de 1919, de fevereiro a maio daquele ano. No entanto, “Nada – nem infecção, nem guerra, nem fome – jamais tinha matado tantos em tão pouco tempo”[9].

A Gripe Espanhola no Imaginário Social

No clima de horror e desespero gerado pela pandemia, havia diversas explicações para o seu acontecimento. Três versões rondavam o imaginário social ocidental[9]:
  1. Devido a sua matriz judaico-cristã, no Ocidente há quem pensasse que o apocalipse estava por vir. A guerra e a peste seriam então, uma punição divina pelos pecados cometidos, pela falta de religião, pela devassidão e pelo materialismo.
  2. Com base em crenças ancestrais e em antigas teorias médicas, a passagem de três cometas foi acusada de ser responsável pela guerra, doença e fome
  3. A guerra levou a alguns a a creditarem a contaminação aos inimigos bélicos.

A Gripe Espanhola no Brasil

No Brasil, as referências sobre a Influenza circularam na imprensa em princípios de agosto e ganharam força quando membros de uma esquadra brasileira foram contaminados pela doença no norte da África, na segunda metade de setembro[9]. Foi no dia 24 daquele mês que a Missão Médica enviada pelo país para ajudar no esforço de guerra francês foi atingida pela gripe no porto de DacarSenegal, que à época era colônia francesa. Há divergências quanto às datas, mas autores alegam que provavelmente Recife foi o primeiro porto brasileiro infectado, ainda em setembro, com a chegada do navio Demerara[9], vindo da Europa, que depois seguiu para Salvador e Rio de Janeiro e, em novembro de 1918 à Amazônia. O jornal cearense O Povo[11] informa que em setembro de 1918 a epidemia chegou em Fortaleza. Os portos eram os principais focos de disseminação da doença, pelo grande trânsito de navios que provinham da Europa e atracavam nos principais portos brasileiros. Assim o Demerara transformou-os em focos de difusão da doença[9].
A pandemia chegou a matar mais de 35 mil pessoas no país. Segundo o Instituto Butantan, foram "[...] 12.700 no Rio de Janeiro, 6.000 em São Paulo, 1.316 em Porto Alegre, 1.250 em Recife e 386 em Salvador.". Em Manaus, foram quase 900 mortos, com 9.000 infectados, entretanto, as autoridades de saúde estimaram que o número de mortos pudesse ser bem maior por conta da lotação dos cemitérios da cidade. Muitas pessoas morreram sem obituário ou sequer entraram para as estatísticas da capital amazonense [12]. A doença foi tão severa que vitimou até o Presidente da República, Rodrigues Alves, em 1919.
Os períodos de periculosidade de infecção levaram à imposição de medidas sanitárias. Foram fechadas escolas, estabelecimentos comerciais, cinemas, cabarés, bares, festas populares e partidas esportivas foram proibidas, tudo isso para evitar a aglomeração de pessoas. Isto, pois, as atividades que exigiam maior contato interpessoal aumentavam as chances de contaminação. Foram meses em que a vida social limitou-se ao máximo.
Consequentemente, no Brasil, o primeiro festejo popular de maior dimensão (o Carnaval) que ocorreu após o término da terceira onda da doença, houve um exacerbamento dos sentidos. Em fevereiro de 1920 uma euforia geral tomou conta da população, levando aos extremos a liberação dos usos e costumes, acabando com pudores. Em 1938, referindo-se a esse período, Carmem Miranda gravou "E o Mundo Não se Acabou". A música, composta por Assis Valente, expressa a atmosfera apocalíptica do contexto pandêmico.
"Anunciaram e garantiram que o mundo ia se acabar/Por causa disso a minha gente lá de casa começou a rezar... acreditei nessa conversa mole/Pensei que o mundo ia se acabar/E fui tratando de me despedir/E sem demora fui tratando de aproveitar/Beijei na boca de quem não devia/Peguei na mão de quem não conhecia/Dancei um samba em traje de maiô/E o tal mundo não se acabou... Ih! Vai ter barulho e vai ter confusão/ Porque o mundo não se acabou".

A Gripe Espanhola em Porto Alegre

Janete Silveira Abrão[13] cita Sandra Pesavento que afirmava sobre a organização sanitária no Rio Grande do Sul em 1918 e, mais especificamente, em Porto Alegre: “as ruas não eram limpas, a cidade não tinha esgotos cloacais, o recolhimento do lixo era mal feito e, como coroamento destes descasos das autoridades, as epidemias encontravam ambiente propício para se desenvolver”.
Segundo Abrão, a gripe Espanhola chegou ao Rio Grande do Sul em outubro de 1918, através dos navios procedentes do Rio de Janeiro que atracavam no porto de Rio Grande. A influenza atingiu todas as zonas da cidade, repartições públicas e privadas. Colégios e faculdades tiveram suas aulas suspensas, as lojas fechavam uma vez que não havia funcionários para atender os clientes e nem clientes para serem atendidos. As casas de diversões suspendiam seus espetáculos. Bancários, carteiros, empregados da Companhia Telefônica Rio-Grandense, todos ficaram doentes. A gripe Espanhola e, seus efeitos, mudaram a rotina da cidade, ruas, praças e cafés tornaram-se desertos. As notícias foram amplamente divulgadas através dos jornais Correio do Povo, A Federação, Revista Máscara, O Independente etc.

O retorno do vírus no século XXI

Em 2009, o vírus H1N1 — do tipo A — tornou a assustar a população mundial[11], felizmente com uma força infinitamente menor do que no século anterior. Diante disto, governos de inúmeros países se mobilizaram numa ampla campanha de vacinação. Não houve epidemia ou pandemia, o que ocorreu em massa foi justamente a vacinação, que se repete anualmente desde então.
Atualmente, os grupos de risco são:
  • Gestantes;
  • Mães até 45 dias após o parto;
  • Idosos;
  • Crianças de seis meses a cinco anos;
  • Portadores de doenças crônicas não transmissíveis;
  • Trabalhadores da saúde;
  • População Indígena;
  • Pessoas privadas de liberdade.

Personalidades infectadas pelo vírus

Personalidades brasileiras vítimas da gripe

Personalidades portuguesas vítimas da gripe

Referências

  1.  Fernandes & Salgado (21 de fevereiro de 2018). «The 100 years of Influenza Pandemic» (PDF)EC Microbiology. Consultado em 1 de março de 2018
  2.  Patterson, K. D.; Pyle, G. F. (1991). «The geography and mortality of the 1918 influenza pandemic». Bull Hist Med65 (1): 4–21
  3.  Billings, Molly (1997). «The 1918 Influenza Pandemic». Virology at Stanford University. Consultado em 1 de maio de 2009Cópia arquivada em 4 de maio de 2009
  4.  «Spanish flu facts» (em inglês). Channel 4. 5 de Outubro de 2005. Consultado em 19 de Abril de 2018.
  5.  Avian Bird Flu. 1918 Flu (Spanish flu epidemic)
  6.  Taubenberger, Jeffery K.; Morens, David M. (2006). «1918 Influenza: the mother of all pandemics». Centers for Disease Control and Prevention. Emerging Infectious Diseases12 (1). PMC 3291398Acessível livrementePMID 16494711doi:10.3201/eid1201.050979. Consultado em 5 de março de 2016Cópia arquivada em 1 de outubro de 2009
  7. ↑ Ir para:a b «100 anos Gripe Espanhola»100anosgripeespanhola.tmp.br. Consultado em 11 de novembro de 2018
  8.  Gripe Espanhola foi provocada por um vírus das aves
  9. ↑ Ir para:a b c d e f g TEIXEIRA, Luiz Antonio et al (orgs) (2018). História da Saúde no Brasil. São Paulo: Hucitec Editora. pp. 284–327
  10.  BERTUCCI, Liane Maria (2004). Influenza, a medicina enferma. Campinas: Unicamp. 442 páginas
  11. ↑ Ir para:a b Online, O POVO. «Há 100 anos, Gripe Espanhola matou presidente, afetou o Ceará e mudou o mundo»www.opovo.com.br. Consultado em 11 de novembro de 2018
  12.  Silva, Costa, Julio, Hildebrando (junho de 2011). «A desolação, o pavor e o luto: a história da gripe espanhola em Manaus» (PDF). Consultado em 29 de fevereiro de 2020
  13.  ABRÃO, Janete Silveira (1998). BANALIZAÇÃO DA MORTE NA CIDADE CALADA: a Hespanhola em Porto Alegre, 1918. Porto Alegre: EDIPUCRS. pp. 51–72
  14.  Alfaro 2006, pp. 491-493

Bibliografia

  • Alfaro, Catarina (2006). «Biografia de Amadeo de Souza-Cardoso: 1887-1918». In: A.A.V.V. Amadeo de Souza-Cardoso: diálogo de vanguardas. Lisboa: Fundação Calouste Gulbenkian. ISBN 978-972-635-185-6
  • Abreu, Laurinda; José Vicente Serrão (org) (2018). «Revisitar a pneumónica de 1918-1919» [dossier], Ler História, 73, 9-120.

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