sexta-feira, 21 de fevereiro de 2020

OBSERVADOR - DESPORTO

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Desporto

Por Bruno Roseiro, Editor de Desporto
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Mesmo para quem acompanhava o jogo pela televisão, mesmo para quem raramente acompanhe até um jogo de futebol, aquele som era por demais evidente. Uma vez, duas vezes, três vezes. Demasiadas vezes. Vezes a mais que nunca deveriam ter acontecido uma única vez. Era impossível alguém não ter ouvido. Alguém não ter percebido. Mas este é também um dos problemas do futebol português – muitas vezes, é mais fácil não ouvir. Porque assim também é mais fácil fingir que não se percebe. E só mesmo quando a realidade choca com esses mesmos problemas é que todos os sentidos se ativam de imediato: vê-se como nunca, ouve-se melhor, sente-se muito mais e existem aqueles que cheiram a oportunidade para saborearem meia dúzia de minutos (a mais) de protagonismo. O caso de Marega tornou-se um problema transversal à sociedade. A solução, essa, deve ser para todos os “Maregas”.
Reboninemos o filme. O FC Porto tinha saído a ganhar para o intervalo com um golo de Douglas na própria baliza após remate de Sérgio Oliveira que bateu na trave e foi desviada de forma infeliz pelo brasileiro. Depois, Bruno Duarte empatou a abrir o segundo tempo, o V. Guimarães até estava melhor, Mbemba voltou a arriscar um passe longo que no meio da atrapalhação de Venâncio isolou Marega, o maliano picou com classe por cima do guardião contrário para o 2-1, teria feito algo nos festejos, foram arremessadas muitas cadeiras e outros objetivos, viu amarelo alegadamente por esses gestos feitos, ouviram-se depois de forma percetível os insultos racistas e o jogador pediu para sair, apesar de vários companheiros de equipa e até adversários o terem tentado demover. O que se soube logo após o encontro? Que os insultos começaram ainda no aquecimento (e há vídeos com isso), prosseguiram no jogo e que aquele apontar com o dedo para o braço tinha já uma mensagem contra o racismo de que estava a ser vítima. Estes foram os factos. Estes são os factos. E é à luz destes factos que tudo se seguiu.
– Sérgio Conceição reagiu de pronto na zona de entrevistas rápidas. “Estavam a insultar desde aquecimento o Moussa [Marega] e nós aqui somos uma família, independentemente da nacionalidade, da cor da pele, da altura, da cor do cabelo. Somos uma família, somos humanos e aquilo que se passou aqui hoje foi lamentável”, disse;
– Moussa Marega explicou num texto publicado na página oficial do Instagram que o árbitro teve a perceção do que se estava a passar e nada fez: “Gostaria de dizer a esses idiotas que vêm ao estádio fazer gritos racistas … vá-se f****! Também agradeço aos árbitros por não me defenderem e por me terem dado um amarelo porque defendo a minha cor da pele. Espero nunca mais encontrá-lo em um campo de futebol! VOCÊ É UMA VERGONHA !!!!”;
– Miguel Pinto Lisboa, presidente do V. Guimarães, defendeu os valores do clube que chocam contra qualquer tipo de racismo mas falou em atitudes provocatórias do jogador: “O Vitória tem como cores o preto e branco porque na génese tem a igualdade de raças. Também nós temos jogadores de todas as cores e raças. Promovemos a igualdade de género e raça no desporto. Não nos revemos nestes comportamentos que possam ferir esta igualdade. Se algum dos adeptos do Vitória teve comportamento destes o clube vai tomar as medidas correspondentes. No entanto, houve comportamento provocatórios de profissionais de futebol que pretenderam incendiar o espetáculo”;
– Criou-se uma verdadeira onda de solidariedade para com Marega, de instituições a clubes, passando por atletas não só do FC Porto mas também de outras equipas, e até o governo comentou o caso. “Os insultos dirigidos ao jogador Marega envergonham todos quantos pugnam por uma sociedade inclusiva. Os valores do desporto nada têm que ver com estas atitudes racistas, xenófobas e ignóbeis”, disse o secretário de Estado, João Paulo Rebelo;
– Um pouco por todo o mundo, o caso não demorou a correr todos os órgãos internacionais;
Depois disso, a PSP foi analisar as imagens e terá identificado já alguns dos adeptos que proferiram os insultos racistas, o Ministério Público abriu um inquérito para averiguar os factos, a Federação levantou também um processo ao V. Guimarães-FC Porto, figuras de Estado como Marcelo Rebelo de Sousa, Ferro Rodrigues ou Augusto Santos Silva pediram também consequências e ações para combater o fenómeno, a Liga arrancou com uma campanha na próxima jornada contra o racismo e até o treinador do Bayer Leverkusen, Peter Bosz, comentou que, consigo, a equipa tinha toda saída de campo (sendo que em Portugal, à luz dos regulamentos, isso daria punição de cinco a oito pontos). Questões: 1) Quando chegarão conclusões? 2) Como chegarão conclusões? 3) O que se pode fazer para que nunca cheguem a existir conclusões pela inexistência de casos? As perguntas existem, as respostas só o futuro dirá (e lá fora podemos encontrar grandes exemplos, boas maneiras, más condutas e normas que não devem ser seguidas). Com a certeza de que o caso do maliano está longe de ser único em Portugal e que muitas vezes afeta até jogadores jovens, indefesos, que investem tudo o que não têm para terem às vezes umas chuteiras melhores ou menos gastas para fazerem o que mais gostam e que merecem a mesma solidariedade, como foi discutido no “Nem tudo o que vai à rede é bola” da Rádio Observador esta semana. Enquanto se pensa, se reflete e se trava para perceber a forma como isto acelerou, fica a descrição de Marega sobre o que sentiu, numa entrevista à rádio francesa RMC no dia seguinte ao jogo no Dom Afonso Henriques.
“Foi muito mais difícil, realmente senti-me uma m****, foi uma grande humilhação para mim. Tocou-me bastante. Gostava que o jogo tivesse parado, gostava que o árbitro e a Liga tivessem uma outra atitude. Uma coisa são os slogans contra o racismo, outra é a ação que se passa todos os dias. Isso é só para tirar fotografias, mais nada. O que diria se pudesse falar com o presidente da República? Seria um honra e podia dizer-lhe o que senti ao ser insultado daquela forma. Não gostei mesmo nada de sentir aquele ódio, fiquei muito desiludido.”
Depois, veio a Liga Europa. Marega não foi completamente esquecido (Peter Bosz, técnico do Bayer Leverkusen, disse que se fosse com a sua equipa saía de campo) mas o foco centrou-se de novo no que se passava no campo e como uma grande conclusão fácil de resumir: os que jogavam fora perderam, quem começou em casa ganhou, todos mantêm a possibilidade de passagem em aberto. O Sporting fez uma das melhores exibições da época e o 3-1 até foi um resultado escasso para o que se passou num jogo onde Vietto foi destaque, Sporar estreou-se a marcar e muitos adeptos tiveram de descalçar-se para entrar no recinto. Já o Benfica averbou o quarto encontro consecutivo sem vitórias, perdendo por 2-1 em Kharkiv num jogo onde valeu a grande penalidade de Pizzi. Na Alemanha, o FC Porto saiu derrotado por 2-1 diante do Bayer Leverkusen numa partida marcada pela repetição do penálti que deu aos alemães ao segundo golo. Por fim, em Glasgow, o Sp. Braga de Rúben Amorim teve uma entrada de sonho mas permitiu que o Rangers desse a volta e 15 minutos na parte final de uma partida eletrizante (3-2).
A segunda mão joga-se já esta semana. O Sp. Braga recebe o Rangers na quarta-feira (17h), ao passo que, no dia seguinte, há FC Porto-Bayer Leverkusen (17h55), Basaksehir-Sporting (17h55) e Benfica-Shakhtar Donetsk (20h). Antes jogam-se os últimos jogos da primeira mão dos oitavos da Liga dos Campeões: Chelsea-Bayern e Nápoles-Barcelona na terça-feira (20h), Lyon-Juventus e Real Madrid-Manchester City na quarta-feira (20h). Antes disso, no fim de semana, destaque no sábado para o Chelsea-Tottenham (12h30), o Spal-Juventus (17h) e o Leicester-Manchester City (17h30); no domingo para o Manchester United-Watford (14h), o Arsenal-Everton (16h30), o Atl. Madrid-Villarreal (20h) e o PSG-Bordéus (20h); e na segunda-feira para o Liverpool-West Ham (20h).
Na Primeira Liga, relançada de vez que ficou a luta pelo título com a derrota do Benfica na Luz com o Sp. Braga e pelo triunfo em Guimarães do FC Porto, os dragões recebem o Portimonense no domingo (20h30), ao passo que as águias deslocam-se a Barcelos para defrontarem o Gil Vicente na segunda-feira (19h30). O Sporting, que não foi além de um empate em Vila do Conde com o Rio Ave e só ficou no quarto lugar porque o Famalicão empatou na receção ao Desp. Aves, vai receber em Alvalade o Boavista no domingo, a partir das 17h30.
A terminar, mais algumas notícias de destaque que poderá não ter acompanhado esta semana:
  • Depois de ter ganho a Supertaça do Brasil, num triunfo convincente frente ao Athl. Paranaense por 3-0 com golos de Bruno Henrique, Gabriel Barbosa e Arrascaeta, o Flamengo de Jorge Jesus empatou no Equador com o Independiente del Valle (2-2), jogando agora no Maracanã a decisão da Recopa Sul-Americana (madrugada de quarta para quinta-feira, 00h30), que pode valer já o segundo troféu da temporada;
  • Bruno Fernandes regressou da melhor forma à Premier League após o nulo em Old Trafford com os Wolves, contribuindo com um assistência para Maguire para a vitória do Manchester United em Stamford Bridge ante o Chelsea, num jogo onde acertou ainda no poste num livre direto que merecia melhor destino;
  • Iker Casillas anunciou de forma oficial que será candidato à presidência do Real Federação de Futebol de Espanha, ainda que se recuse (pelo menos para já) a colocar um ponto final na carreira de jogador;
  • Manchester City foi castigado com dois anos de exclusão das provas europeias pela UEFA, depois de terem sido encontradas irregularidades graves nos papéis referentes ao cumprimento do fair play financeiro (num processo que teve por trás dois portugueses: Cunha Rodrigues e Rui Pinto, ou os Football Leaks)
  • Madjer, considerado pela France Football o melhor jogador de sempre de futebol de praia em 2019 depois de ter sido melhor jogador do ano em cinco ocasiões e de ter ganho três Mundiais e cinco Europeus por Portugal, anunciou de forma oficial o fim da carreira e passou a coordenador técnico da Federação, numa semana que foi marcada na modalidade por nova vitória do Sp. Braga no Mundialito de Clubes.
  • Roger Federer anunciou que foi sujeito a uma artroscopia ao joelho direito e vai falhar a parte da época em terra batida (incluindo Roland Garros), devendo surgir de novo em condições em Wimbledon;
  • Pedro Sousa tornou-se apenas o terceiro português a chegar à final de um torneio ATP depois de Frederico Gil e João Sousa (que já leva dez) mas, também ele assolado por um problema físico que o levou a jogar com uma visível ligadura na zona do gémeo, acabou por perder em dois sets com o norueguês Casper Ruud;
  • António Félix da Costa, da DS Techeetah, conseguiu um grande segundo lugar no Grande Prémio do México de Fórmula E, após uma qualificação onde não foi além da nona posição, saltando do sétimo para o terceiro posto do Mundial quando estão decorridas quatro provas. “O carro é muito rápido mas tenho de conseguir melhorar as qualificações, o que melhoraria a minha vida nas corridas”, comentou no final;
  • Patrícia Mamona ganhou a prova de triplo salto do Meeting de L’Eure, em França (pista coberta), saltando a 14,33 metros naquela que foi a segunda melhor marca do ano até esse momento, sinal da preparação positiva que está a fazer também para o grande objetivo da época, os Jogos Olímpicos. Nota ainda para a qualificação de Rui Pinto para os Europeus de Paris e para o Mundial de meia maratona após o 21.º lugar na distância em Barcelona, com o tempo de 1.03,70, muito próximo da marca alcançada no ano passado;

EU, A TV E UM COMANDO

O JOGO EM PALAVRAS

PÓDIO

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A HISTÓRIA

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Observador 360º

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Fotografia de Dulce NetoDulce Neto
editora executiva
Sexta-feira, 21 fevereiro 2020
Enquanto dormia…
… ficávamos a saber da morte de Joaquim Pina Moura, o ministro da Economia e das Finanças dos governos socialistas de António Guterres. Os movimentos contra a eutanásia não baixavam os braços depois de a Assembleia da República ter aprovado os cinco projetos para a despenalização da morte assistida, e tornava-se público que Vaz das Neves, o ex-presidente da Relação de Lisboa tinha sido constituído arguido, no processo da Operação Lex, que Luis Rosa, redator principal do Observador, comenta aqui.
Com o fim de semana à porta, prepare-se para um Carnaval com temperaturas de primavera: os jornalistas Diogo Lopes e a Ana Cristina Marques dão-lhe uma ajuda com 9 sugestões que vão de Amarante a  Reguengos de Monsaraz, de Amadeu de Souza Cardoso a um passeio sensorial em Sintra. Ou então, aproveite para espreitar as novidades que há no quarteirão das artes do Porto.

Pina Moura, delfim de Cunhal, cardeal no PS

Aos 67 anos, Joaquim Pina de Moura morreu ontem, vítima de uma doença neurodegenerativa. Apontado como delfim de Cunhal no PCP, ficou conhecido como o cardeal de António Guterres em cujos governos assumiu as pastas da Economia e das Finanças. O ex-primeiro ministro português e secretário geral da ONU lamentou a morte do economista e lembrou “a grande dedicação à causa pública”, enquanto Mário Centeno referiu o seu contributo para a construção de economia. Já o amigo Seixas da Costa recordou o seu sentido de humor e Paulo Ferreira, comentador de economia do Observador, lembrou o seu percurso, desde a ruptura com o PCP à ascensão e queda nos governos socialistas e à entrada para a Iberdrola.

Eutanásia foi aprovada. E agora? O que se segue? Quanto vai custar? Qual o papel de Marcelo?

Os cinco projetos da eutanásia foram ontem aprovados pela maioria dos deputados na Assembleia da República, naquele que foi considerado por vários parlamentares e outras vozes da sociedade civil como, por exemplo, o juiz Eurico Reis, “um dia histórico”. Foi apenas o primeiro passo de um longo caminho até a nova lei entrar em vigor. O que se vai passar a seguir?

Uma noite que só sorriu para o Sporting

Uma vitória e três derrotas marcaram a noite dos clubes portugueses na Liga Europa. Primeiro, os que perderam (mas não tudo):
Depois, o único que ganhou:




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Washington parece finalmente ter-se dado conta do factor de estabilidade de Angola em África. O retorno do investimento americano é indissociável da consolidação da política angolana anticorrupção.
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Só o doente tem o direito a uma decisão desta dimensão. Deve ter o direito de pôr fim à vida em paz, no seu país, sem necessidade de “fugir” para países onde esta prática é legal.
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Nenhum dos projectos de lei agora aprovados pelo Parlamento sequer estabelecem procedimentos que assegurem o mínimo de rigor, cautela, certeza e/ou segurança na aplicação da lei
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Nas mais diversas áreas da sociedade, personalidades com o mesmo tom de Marega, marcaram a História, e muitos ainda continuam a fazer história, desde o desporto, à musica e política.
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É evidente que o “consumidor consciente” de hoje exige às marcas uma reflexão profunda à sua atuação: o que andamos a fazer no planeta e que legado estamos a deixar às gerações de amanhã?
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