quarta-feira, 5 de fevereiro de 2020

OBSERVADOR - 5 DE FEVEREIRO DE 2020

360º

Pedro Benevides
Editor de PolíticaQuarta-feira, 5 fevereiro 2020

Enquanto dormia…

… o João Francisco Gomes passou a noite acordado a ver algum do melhor entretenimento que os EUA produzem atualmente. Não foi o Super Bowl, que já passou, nem os óscares, que são domingo. Foi o discurso do Estado da União do Presidente Trump. Pode parecer aborrecido, mas acredite que entre os momentos Oprah Winfrey e os gestos dramáticos que marcaram a noite, este é um texto para ser lido com um balde de pipocas ao lado em vez do café matinal. E digo-lhe já que não foi a única boa leitura que o João Francisco preparou para si esta manhã. Já lá vamos.

Para já, um suspiro de alívio: os dois novos casos suspeitos de corona vírus em Portugal deram negativo. É um alívio relativo, já que o número de infeções e de mortes continua a aumentar e sabe-se até que o médico que deu o primeiro alerta (e que na sequência disso recebeu uma visita da polícia chinesa) também já está infetado. Uma história para ler aqui.

Trump: as surpresas televisivas, o discurso de boas notícias e um ambiente de cortar à faca

Esta noite foi a segunda vez que um Presidente norte-americano que enfrenta um processo de impeachment fez o tradicional discurso do Estado da União. E quando toda a gente esperava que Trump aproveitasse o facto de estar perante os congressistas que o acusaram e os senadores que o estão a julgar para se defender, o Presidente dos EUA foi por outro caminho, o dos reality shows, que conhece bem.

Durante uma hora e quinze minutos, houve tempo para atribuir uma bolsa escolar a uma jovem presente na galeria, houve um inesperado reencontro familiar entre um militar regressado do Médio Oriente e a sua mulher e filhos e o comentador político Rush Limbaugh foi condecorado de surpresa. Também houve política, claro, com Trump a falar de assuntos tão variados como os empregos, a economia, a saúde, a educação, as armas, o Irão, a China ou a fronteira com o México. Está tudo bem, do seu ponto de vista, claro.

Mas o melhor de uma noite pensada quase em exclusivo para bons momentos de televisão, foi a tensão visível entre Donald Trump e Nanci Pelosi, a presidente da Câmara dos Representantes. Trump recusou cumprimentá-la no arranque da sessão, Pelosi respondeu no fim com um gesto dramático ao rasgar o discurso de Donald Trump e a atirar os pedaços de papel pela secretária, enquanto os republicanos gritavam “mais quatro anos!”.

Claro que os apoiantes de Trump estão em alta, depois do desastre que o Caucus do Iowa representou para os democratas – e do qual só agora se começam a ouvir resultados. E esta noite espera-se uma decisão favorável a Trump que ponha fim ao processo do impeachment.

Quando cumprir a lei provoca um desastre ambiental

Só este título é suficiente para se perceber que temos uma história absurda para lhe contar. Começamos por recordar o desastre ambiental do ano passado que fez com que o rio Tejo desaparecesse de um momento para o outro. Houve muitas vidas afetadas, gente que vivia da pesca e que ficou sem rendimento porque o peixe desapareceu, gente que tinha negócios de turismo e ficou sem recursos porque a água desapareceu, houve até moinhos que estavam submersos desde os anos 70 e que agora reapareceram com a descida brutal do nível das águas.

Era preciso perceber porque é que isto tinha acontecido. E a equipa do Observador encontrou a explicação, que é bastante simples e bastante surreal: o problema está na própria lei que regula a relação entre Portugal e Espanha no âmbito da quantidade de água que todos os anos os espanhóis têm de mandar para o lado português. Há quotas definidas, mas alguma (demasiada?) flexibilidade na gestão das descargas. E acabou por acontecer o que aconteceu. O Governo português reconhece que a situação foi grave, mas quanto a uma renegociação do acordo com os espanhóis, o ministro do Ambiente é claro: nem pensar nisso, já que negociar alterações pode prejudicar Portugal.

O trabalho que lhe apresentamos (também ele com o dedo do João Francisco Gomes) explica tudo, num impressionante dossier multimédia, com texto, video, fotografia, imagens de drones e gráficos que merecem ser lidos (e vistos) até ao fim. Até porque o desastre pode voltar a acontecer.

Hoje é o tudo por tudo para fechar as votações do Orçamento

E enquanto dormia, no Parlamento permaneciam madrugada fora deputados e jornalistas, uns para votar, outros para dar conta da evolução dos trabalhos do Orçamento do Estado que tem votação final global marcada para amanhã. Até lá, continua hoje a maratona artigo a artigo na especialidade, com avanços e recuos, mudanças inesperadas do sentido de voto, promessas de grandes descidas de impostos (mas só para o ano), críticas duras e trocas de acusações, e as já célebres coligações negativas.

Aqui fica o resumo do que ficou aprovado já a madrugada ia longa:

O PSD absteve-se e ajudou o PS a manter a atualização das tabelas de IRS abaixo da inflação
O mesmo PSD deixou passar creches gratuitas para todas as crianças, mas depois mudou de ideias. A medida abrange apenas as famílias carenciadas.
Por outro lado, os sociais-democratas juntaram-se à esquerda e todos juntos suspenderam a construção da linha circular do Metro de Lisboa
Os medicamentos para animais passam a ser dedutíveis no IRS
O programa de redução dos preços dos passes foi reforçado em 9 milhões e os passes 4_18 e sub23 foram alargados aos estudantes do ensino profissional
Já os estudantes com rendimentos de trabalho até 2200 euros por ano ficam isentos de IRS
O Financiamento adicional ao Fundo de Resolução para o Novo Banco tem de ser aprovado no Parlamento (o que é uma mudança relativa)
O Governo está obrigado a divulgar a lista semestral de imóveis com amianto
Uma coligação negativa travou cativações no INEM e em outros organismos da saúde, e outra deu mais dinheiro à RTP Madeira
Foi aprovada a criação de uma taxa sobre as empresas de celulose
Comida saudável nas escolas, sim, mas os partidos rejeitaram o fim do leite com chocolate
As forças de segurança podem contar com mais 2500 profissionais já este ano e a PJ está autorizada a contratar 30 especialistas de polícia científica
Há novidades para os cuidados paliativos, o estatuto do cuidador informal e o Laboratório Nacional do Medicamento

Hoje há mais e, como se percebe por esta extensa lista, seguir o complicado guião das votações não é fácil. Mas os especiais que temos aberto todas as manhãs e que vamos completando ao longo do dia estão devidamente indexados para que possa ficar a saber todas as mudanças que o novo orçamento trará.

Tudo em aberto para a final da Taça de Portugal

Este fim de semana há o clássico Benfica – Porto (e já há quem mande alguns recados), mas esta noite foi de protagonismo para ambas as equipas nas meias finais da Taça de Portugal. O Benfica confirmou o favoritismo e venceu o Famalicão por 3-2 na primeira mão, mas o FC Porto cedeu um empate a uma bola em Viseu, e deixou tudo em aberto para segunda mão a disputar no Dragão. O Bruno Roseiro resume a noite assim: Vitinha acordou quem preferiu voltar a dormir. Já a Mariana Fernandes fala-nos de um autêntico filme de Hollywood: Uma vez na Luz, com Gabriel Pitt e Rafa DiCaprio.

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