Afonso Lopes Vieira
Afonso Lopes Vieira | |
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Afonso Lopes Vieira, por Columbano Bordalo Pinheiro (1910). | |
Nascimento | 26 de janeiro de 1878 Leiria, Portugal |
Morte | 25 de janeiro de 1946 (67 anos) Lisboa, Portugal |
Residência | Lisboa (Largo da Rosa); Casa de S. Pedro, S. Pedro de Moel |
Nacionalidade | Português |
Ocupação | Poeta |
Magnum opus | Romance de Amadis |
Afonso Lopes Vieira (Leiria, 26 de janeiro de 1878[1] — Lisboa, 25 de janeiro de 1946) foi um poeta português.
Índice
Biografia[editar | editar código-fonte]
Natural de Leiria, fez-se bacharel em Leis, pela Universidade de Coimbra, em 1900. Sobre o seu percurso universitário viria a revelar, anos depois, ter sido «o mesmo aluno medíocre que já fora nos liceus»[2].
Terminados os estudos, Lopes Vieira começou por tentar o exercício da advocacia, junto do seu pai, Afonso Xavier Lopes Vieira. Em 1906, porém, abandonou essa carreira, radicando-se em Lisboa, onde foi exercer o ofício de redator na Câmara dos Deputados. Manteve-se nessa função até 1916, quando passou a dedicar-se exclusivamente à atividade literária.
Na capital, Lopes Vieira residiu no Palácio da Rosa, na Mouraria, que fora dos marqueses de Castelo Melhor, e seria propriedade do poeta entre 1927 e 1942. Em frente do palácio existe hoje o seu busto.
Ainda jovem, Afonso Lopes Vieira descobriu os clássicos da literatura através da biblioteca do seu tio-avô, o poeta Rodrigues Cordeiro, e iniciou a sua colaboração em jornais manuscritos, de que são exemplos A Vespa e O Estudante. Com a publicação do livro Para Quê? (1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de significativa atividade literária — Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922) — encerrando a sua atividade poética, assim julgava, com a antologia Versos de Afonso Lopes Vieira (1927). A sua derradeira publicação seria a inovadora e epigonal obra Onde a terra se acaba e o mar começa (1940).
Segundo o Dicionário Cronológico de Autores Portugueses, vol. III, Lisboa, 1994, Lopes Vieira pertenceu a uma geração de homens animados por ideais renascentistas, homens para quem literatura e Pátria eram realidades co-naturais, a uma cabendo uma missão orientadora e sendo a outra uma entidade fundamentalmente espiritual e linguística. O caráter ativo e multifacetado do escritor tem expressão na sua colaboração em A Campanha Vicentina, na multiplicação de conferências em nome dos valores artísticos e culturais nacionais, recolhidas nos volumes Em demanda do Graal (1922) e Nova demanda do Graal (1942). A sua ação não se encerra, porém, aqui, sendo de considerar a dedicação do poeta (que haveria de morrer sem filhos) à causa infantil, com o livro Animais Nossos Amigos (1911) e o filme infantil O Afilhado de Santo António (1928). Por fim, assinale-se a sua demarcação face ao despontar do salazarismo, expressa no texto Éclogas de Agora (1935),[3] sob a égide e em defesa do Integralismo Lusitano.
Tem ainda intensa colaboração em publicações periódicas, de que são exemplo as revistas Ave Azul[4] (1899-1900), A Farça [5] (1909-1910), Serões[6] (1915-1920), Arte & vida [7] (1904-1906) A republica portugueza[8] (1910-1911), na II série da revista Alma nova [9] (1915-1918), Atlantida[10] (1915-1920), Revista de turismo [11] iniciada em 1916, Contemporânea[12] (1915-1926), Homens Livres [13] (1923), Conímbriga [14] de 1923, Ordem Nova [15] (1926-1927), Lusitânia [16] (1924-1927) e no periódico O Azeitonense [17] (1919-1920).
Cidadão do mundo, Afonso Lopes Vieira não esqueceu as suas origens, conservando as imagens de uma Leiria de paisagem bucólica e romântica, rodeada de maciços verdejantes plantados de vinhedos e rasgados pelo rio Lis, mas, sobretudo, de São Pedro de Moel, lugar da sua Casa-Nau,[18] e paisagem de eleição do escritor, enquanto inspiração e génese da sua obra. O Mar e o Pinhal são os principais motivos da sua poética. Nestas paisagens o poeta confessa sentir-se «[…] mais em família com o chão e com a gente», evidenciando no seu tratamento uma apetência para motivos líricos populares e nacionais. Essencialmente panteísta, leu e fixou as gentes, as crenças, os costumes, e as paisagens de uma Estremadura que interpretou como «o coração de Portugal, onde o próprio chão, o das praias, da floresta, da planície ou das serras, exala o fluido evocador da história pátria; província heróica, povoada de mosteiros e castelos…» (Nova demanda do Graal, 1942: 65).
Depois do seu falecimento, a casa de São Pedro de Moel, outrora lugar de tertúlias de escritores e intelectuais, foi transformada em casa-museu e é hoje parte das instalações da Colónia Balnear Afonso Lopes Vieira, que o poeta, ao legar o edifício à Câmara Municipal da Marinha Grande, em 1938, destinou a casa de férias dos filhos dos operários vidreiros, bombeiros e trabalhadores das matas nacionais.[18] Em 1949 a Câmara Municipal de Lisboa atribuiu o nome do poeta a uma artéria da capital, entre a Avenida do Brasil e a Avenida da Igreja, em Alvalade.[19] A Biblioteca Municipal de Leiria Afonso Lopes Vieira, cujo edifício atual foi inaugurado em 1997, contempla a reconstituição da sua biblioteca e gabinete de trabalho que tinha no Palácio da Rosa, e parte das obras que este herdara de Rodrigues Cordeiro, além de várias peças do mobiliário de sua casa, graças à intervenção de Américo Cortez Pinto.[20]
A 14 de fevereiro de 1920, foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[21]
Lopes Vieira é considerado um eminente poeta, ligado à corrente da chamada Renascença Portuguesa e um dos primeiros representantes do Neogarretismo.
Obra[editar | editar código-fonte]
- Para quê? (1898)
- Naufrago-versos lusitanos (1899)
- Auto da Sebenta (1900)
- Elegia da Cabra (1900)
- Meu Adeus (1900)
- Ar Livre (1906)
- O Poeta Saudade (1901)
- Marques - História de um Peregrino (1904)
- Poesias Escolhidas (1905)
- O Encoberto (1905)
- O Pão e as Rosas (1910)
- Gil Vicente-Monólogo do Vaqueiro (1910)
- O Povo e os Poetas Portugueses (1911)
- Rosas Bravas (1911)
- Autozinho da Barca do Inferno (adaptação) (1911)
- Os Animais Nossos Amigos (1911)
- Canções do Vento e do Sol (1912)
- Bartolomeu Marinheiro (1912)
- Canto Infantil (1913)
- O Soneto dos Tûmulos (1913)
- Inês de Castro na Poesia e na Lenda (1914)
- A Campanha Vicentina (1914)
- A Poesia dos Painéis de S.Vicente (1915)
- Poesias sobre as Cenas de Schumann (1916)
- Autos de Gil Vicente (1917)
- Canções de Saudade e de Amor (1917)
- Ilhas de Bruma (1918)
- Cancioneiro de Coimbra (1920)
- Crisfal (1920)
- Cantos Portugueses (1922)
- Em Demanda do Graal (1922)
- País Lilás, Desterro Azul (1922)
- O Romance de Amadis (1923)
- Da Reintegração dos Primitivos Portugueses (1924)
- Diana (1925)
- Ao Soldado Desconhecido (1925)
- Os Versos de Afonso Lopes Vieira (1928)
- Os Lusíadas (1929)
- O Poema do Cid (tradução) (1930)
- O livro do Amor de João de Deus (1930)
- Fátima (1931)
- Poema da Oratória de Rui Coelho (1931)
- Animais Nossos Amigos (1932)
- Santo António (1932)
- Lírica de Camões (1932)
- Relatório e Contas da Minha Viagem a Angola (1935)
- Éclogas de Agora (livro proibido até 25 de abril de 1974) (1937)
- Ao Povo de Lisboa (1938)
- O Conto de Amadis de Portugal (1940)
- Poesias de Francisco Rodrigues Lobo (1940)
- A Paixão de Pedro o Cru (1940)
- Onde a Terra se Acaba e o Mar Começa (1940)
- O Carácter de Camões (1941)
- Cartas de Soror Mariana (tradução) (1942)
- Camões (filme de 1946) ... argumento[22]
- Nova Demanda do Graal (1947)
- Branca Flor e Frei Malandro (1947)
Notas
- ↑ Efemérides Instituto Camões
- ↑ «Instituto Politécnico de Leiria». Consultado em 16 de dezembro de 2017. Arquivado do original em 17 de dezembro de 2017
- ↑ «Afonso Lopes Vieira, Éclogas de Agora, angelfire.com». Consultado em 17 de setembro de 2012. Arquivado do originalem 10 de março de 2013
- ↑ Rita Correia (26 de março de 2011). «Ficha histórica: Ave azul : revista de arte e critica (1899-1900)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 23 de junho de 2014
- ↑ João Alpuim Botelho. «Ficha histórica: A Farça» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 17 de fevereiro de 2016
- ↑ «Serões: revista semanal ilustrada (1915-1920)» [cópia digital, Hemeroteca Digital]
- ↑ Daniel Pires (1996). «Ficha histórica: Arte e Vida: Revista d'arte, crítica e ciência (1904-1906)» (PDF). Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1900-1940) | Lisboa, Grifo, 1996 | pp. 71-72. Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 18 de setembro de 2014
- ↑ «A republica portugueza : diario republicano radical da manhan (1910-1911)» [cópia digital, Hemeroteca Digital]
- ↑ Rita Correia (19 de julho de 2011). «Ficha histórica:Alma nova: revista ilustrada (II Série) (1915-1918)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 13 de março de 2015
- ↑ Rita Correia (19 de fevereiro de 2008). «Ficha histórica: Atlantida: mensário artístico, literário e social para Portugal e Brasil»(PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 17 de junho de 2014
- ↑ Jorge Mangorrinha (16 de janeiro de 2012). «Ficha histórica:Revista de Turismo: publicação quinzenal de turismo, propaganda, viagens, navegação, arte e literatura (1916-1924)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 13 de maio de 2015
- ↑ «Contemporânea (1915; 1916-1926)» [cópia digital, Hemeroteca Digital]
- ↑ Rita Correia (6 de fevereiro de 2018). «Ficha histórica:Homens livres (1923)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 13 de março de 2018
- ↑ Jorge Mangorrinha (1 de março de 2016). «Ficha histórica: Conímbriga : revista mensal de arte, letras, sciências e crítica (1923)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 9 de fevereiro de 2018
- ↑ Rita Correia (16 de novembro de 2011). «Ficha histórica: Ordem Nova (1926-1927)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 6 de janeiro de 2015
- ↑ Rita Correia (5 de novembro de 2013). «Ficha histórica: Lusitania : revista de estudos portugueses (1924-1927)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de dezembro de 2014
- ↑ Jorge Mangorrinha (1 de abril de 2016). «Ficha histórica:O Azeitonense: orgão independente defensor dos interesses de Azeitão (1919-1920)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 18 de setembro de 2016
- ↑ ab Município da Marinha Grande
- ↑ https://www.facebook.com/423215431066137/photos/pb.423215431066137.-2207520000.1448280984./784818741572469/?type=3&theater
- ↑ Câmara Municipal de Leiria
- ↑ «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Afonso Lopes Vieira". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 8 de agosto de 2019
- ↑ RTP, Camões em linha