Nota: Este artigo é sobre a doença. Para o médico que deu o nome à doença, veja
Alois Alzheimer.
Doença de Alzheimer |
Comparação entre um cérebro idoso normal (esquerda) e o cérebro de uma pessoa com Alzheimer (direita), estando assinaladas as características diferenciadoras |
Especialidade | Neurologia |
Sintomas | Dificuldade em recordar eventos recentes, dificuldades na linguagem, desorientação, alterações de humor[1][2] |
Início habitual | Acima dos 65 anos de idade[3] |
Duração | Crónica[2] |
Causas | Pouco compreendidas[1] |
Fatores de risco | Genética, trauma na cabeça, depressão, hipertensão arterial[1][4] |
Método de diagnóstico | Baseado nos sintomas e testes cognitivos após descartar outras possíveis causas[5] |
Condições semelhantes | Envelhecimento normal[1] |
Medicação | Inibidores da acetilcolinesterase, antagonistas dos recetores de NMDA (poucos benefícios)[6] |
Prognóstico | Esperança de vida: 3–9 anos[7] |
Frequência | 29,8 milhões (2015)[2][8] |
Mortes | 1,9 milhões (2015)[9] |
Classificação e recursos externos |
CID-10 | G30, F00 |
CID-9 | 331.0, 290.1 |
OMIM | 104300 |
DiseasesDB | 490 |
MedlinePlus | 000760 |
eMedicine | neuro/13 |
MeSH | D000544 |
Leia o aviso médico |
Doença de Alzheimer é uma doença
neurodegenerativa crónica e a forma mais comum de
demência.
[1][2] A doença manifesta-se lentamente e vai-se agravando ao longo do tempo.
[1][2] O sintoma inicial mais comum é a perda de
memória a curto prazo, com dificuldades em recordar eventos recentes.
[1] Os primeiros sintomas são geralmente confundidos com o processo normal de
envelhecimento ou manifestações de
stresse.
[1] À medida que a doença evolui, o quadro de sintomas inclui dificuldades na linguagem, desorientação, perder-se com facilidade, alterações de humor, perda de motivação, desinteresse por cuidar de si próprio, desinteresse por tarefas quotidianas e comportamento agressivo.
[1][2] Em grande parte dos casos, a pessoa com Alzheimer afasta-se progressivamente da família e da sociedade.
[1] Gradualmente, o corpo vai perdendo o controlo das funções corporais, o que acaba por levar à morte.
[10] Embora a velocidade de progressão possa variar, geralmente a
esperança de vida após o diagnóstico é de três a nove anos.
[7][11]
Não existem atualmente tratamentos para parar ou reverter a progressão de Alzheimer, embora alguns possam melhorar temporariamente os sintomas.
[2] À medida que a doença avança, a pessoa torna-se progressivamente dependente da assistência de um cuidador. Em muitos casos, é o cônjuge ou um familiar próximo quem assume o papel de principal cuidador.
[14] Os programas de exercício podem ter alguns benefícios para a realização de tarefas quotidianas, melhorando o prognóstico.
[15] Os distúrbios comportamentais e a
psicose associados à demência são muitas vezes tratados com
antipsicóticos, embora não sejam recomendados, uma vez que existem poucos benefícios e um aumento do risco de morte prematura.
[16][17]
Em 2015 havia aproximadamente 29,8 milhões de pessoas em todo o mundo com Alzheimer.
[8][2] A doença tem geralmente início em pessoas com idade superior a 65 anos, embora 4 a 5% dos casos sejam
de início precoce.
[3] A doença afeta cerca de 6% das pessoas com 65 ou mais anos de idade.
[1] Em 2015, a demência foi a causa de 1,9 milhões de mortes.
[9] A doença de Alzheimer foi descrita pela primeira vez em 1906 pelo psiquiatra e patologista alemão
Alois Alzheimer.
[18] Em
países desenvolvidos, Alzheimer é uma das doenças com maiores custos sociais e económicos.
[19][20] A doença tem um custo significativo para os cuidadores, a nível social, psicológico, físico e económico.
[14]
Estádios da doença de Alzheimer
- Efeitos do envelhecimento na memória, mas que não são Alzheimer
- Estádio inicial de Alzheimer
- Estado de distração ou falta de atenção[21]
- Esquecer-se de compromissos[21]
- Pequenas alterações notadas por familiares próximos[21]
- Alguma confusão em ambientes que não sejam familiares[21]
- Estádio intermédio de Alzheimer
- Dificuldade acrescida em recordar informações recentes[21]
- Confusão crescente num número maior de situações[21]
- Problemas na fala[21]
- Iniciar repetidamente a mesma conversa[21]
- Estádio avançado de Alzheimer
- Maior agressividade ou passividade[21]
- Alguma perda de auto-consciência[21]
- Défice cognitivo debilitante[21]
- Personalidade abusiva, ansiosa ou paranóica[21]
A doença de Alzheimer evolui de forma única em cada pessoa, embora existam sintomas em comum; por exemplo, o sintoma inicial mais comum é a perda de
memória. Muitas vezes, os primeiros sintomas da doença são confundidos com os processos normais de envelhecimento ou stress. Quando se suspeita de Alzheimer, o paciente é submetido a uma série de testes cognitivos e radiológicos para confirmar o diagnóstico. Com o avançar da doença vão aparecendo novos sintomas como
confusão mental, irritabilidade e agressividade, alterações de humor, falhas na linguagem, perda de memória a longo prazo e o paciente começa a desligar-se da realidade. Antes de se tornar totalmente aparente, a doença de Alzheimer evolui ao longo de um período indeterminado de tempo e pode manter-se assintomática durante anos.
[22] A evolução da doença pode ser dividida em quatro fases:
Os primeiros sintomas são muitas vezes atribuídos, de forma equivocada, ao
envelhecimento natural ou ao o
stresse.
[23] Alguns testes neuropsicológicos podem revelar deficiências cognitivas moderadas até oito anos antes da pessoa cumprir os critérios de diagnóstico de Alzheimer.
[24] Estes primeiros sintomas podem afetar algumas das mais complexas atividades do quotidiano.
[25] O mais perceptível défice cognitivo na fase inicial é a perda de
memória a curto prazo, ou seja, a dificuldade em recordar factos aprendidos recentemente ou em memorizar nova informação.
[24][26]
Entre outros possíveis sintomas dos estádios iniciais de Alzheimer estão também problemas subtis com as
funções executivas da
atenção, planeamento, flexibilidade,
raciocínio abstrato ou problemas na
memória semântica (memória dos significados e relações afetivas).
[24] Durante este estádio pode também ser observada
apatia, que é o mais persistente sintoma
neuropsiquiátrico ao longo da evolução da doença.
[27] Também são comuns sintomas depressivos, irritabilidade e a diminuição da percepção das próprias dificuldades de memória.
[28] Este estádio pré-clínico da doença tem também sido denominado
défice cognitivo ligeiro, embora ainda se debata se este termo corresponde a um estádio de diagnóstico distinto ou se identifica o primeiro estádio de Alzheimer.
[29]
A progressiva degeneração da memória e da capacidade de aprendizagem características da doença permitem, a dado momento, que possa ser realizado um diagnóstico conclusivo de Alzheimer. Embora na generalidade dos casos os problemas de memória sejam o sintoma mais evidente, numa pequena percentagem de pessoas são mais proeminentes as dificuldades de linguagem, funções executivas,
perceção (
agnosia) ou execução de movimentos (
apraxia).
[30] A doença não afeta todas as capacidades de memória de igual forma. As
memórias mais antigas da vida da pessoa (
memória episódica), os factos já aprendidos (memória semântica) e a
memória implícita (a memória do corpo para realizar ações, como usar um garfo para comer) são menos afetadas pela doença em comparação com novos factos ou memórias recentes.
[31][32]
Os problemas na linguagem são caracterizados principalmente pela diminuição do
vocabulário e pela diminuição na fluência do discurso, o que leva a um empobrecimento geral da linguagem escrita e oral.
[30][33] No entanto, durante este estádio geralmente a pessoa com Alzheimer ainda é capaz de comunicar ideias básicas de forma adequada.
[30][33][34] As dificuldades de coordenação e de planeamento (
apraxia) podem se manifestar durante a realização de
tarefas motoras finas, como ao escrever, desenhar ou vestir-se, embora sejam geralmente impercetíveis.
[30] À medida que a doença progride, as pessoas com Alzheimer conseguem realizar muitas tarefas de forma autónoma, embora possam precisar de assistência ou supervisão para as atividades de maior exigência cognitiva.
[30]
A determinado ponto, a progressiva degeneração cognitiva afeta a independência da pessoa, a qual se mostra incapaz de realizar a maior parte das atividades do dia a dia.
[30] As dificuldades na linguagem tornam-se evidentes devido à incapacidade em se recordar de vocabulário, o que leva a substituições incorretas de palavras de forma frequente (
parafasia). As capacidades de leitura e de escrita também são progressivamente perdidas.
[30][34] À medida que a doença progride, diminui a coordenação nas sequências motoras mais complexas, pelo que o risco de sofrer uma queda aumenta.
[30] Durante esta fase agravam-se também os problemas com a memória e a pessoa pode deixar de reconhecer familiares próximos.
[30] Começam também a ser visíveis défices na
memória a longo prazo, que em estádios anteriores se mantinha intacta.
[30]
Nesta fase, as alterações comportamentais e neuropsiquiátricas tornam-se mais prevalentes. As manifestações mais comuns são um estado geral de confusão e ausência,
irritabilidade e episódios incontroláveis de manifestações emotivas, como choro, agressão involuntária ou resistência à prestação de cuidados de saúde.
[30] Cerca de 30% das pessoas com Alzheimer desenvolvem sintomas de
delírio.
[30] As pessoas perdem também a consciência do processo e das limitações da sua própria doença (
anosognosia).
[30] Pode também aparecer
incontinência urinária.
[30] Estes sintomas geram
stresse para os familiares e cuidadores, que pode ser diminuído inscrevendo a pessoa em
apoio domiciliário ou lares de repouso.
[30][35]
Durante a última fase da doença, a pessoa está completamente dependente dos cuidadores. A linguagem é reduzida a frases simples ou até a palavras isoladas, levando eventualmente à perda completa da capacidade de se exprimir verbalmente.
[30][34] Apesar da perda da linguagem verbal, muitas vezes as pessoas continuam a compreender e responder a sinais emocionais. Embora a agressividade ainda possa estar presente, a apatia extrema e o cansaço são sintomas muito mais comuns. Nesta fase, as pessoas com a doença eventualmente acabam por não conseguir realizar sem assistência até mesmo as tarefas mais simples. A massa muscular e a mobilidade degeneram-se ao ponto em que a pessoa não consegue sair da cama e perde a capacidade de alimentar a si própria. Alzheimer é uma doença terminal, em que a causa direta de morte não é a doença em si, mas geralmente um fator externo, como uma
infeção por
escaras ou
pneumonia.
[30]
As causas de maior parte dos casos de Alzheimer são ainda desconhecidas, exceto em 1-5% dos casos onde têm sido identificadas diferenças genéticas.
[36] Existem diversas
hipóteses que tentam chegar a uma explicação para a origem da doença:
Com base em revisões de estudos entre gémeos e família, a
hereditariedade genética da doença de Alzheimer varia entre 49% e 79%.
[37][38] Cerca de 0,1% dos casos são formas familiares de transmissão
autossómica dominante, as quais geralmente ocorrem antes dos 65 anos de idade.
[39] Esta forma da doença é denominada
doença de Alzheimer familiar. A maior parte dos casos de Alzheimer familiar autossómico dominante é atribuída a mutações em um de três genes: os que codificam a
proteína precursora amiloide (PPA) e as
presenilinas 1 e 2.
[40] A maior parte das mutações nestes genes aumenta a produção de uma pequena proteína denominada
Aβ42, a qual é o principal componente das
placas senis.
[41] Algumas das mutações apenas alteram a proporção entre a Aβ42 e as outras formas principais, como a Aβ40, sem no entanto aumentar a quantidade de Aβ42.
[42][43] Isto sugere que as mutações das presenilinas podem provocar a doença, mesmo que diminuam a quantidade total de Aβ produzida.
[44]
A maior parte dos casos de Alzheimer não evidencia transmissão autossómica dominante, sendo nesse caso denominados "doença de Alzheimer esporádica". Nestes casos, as diferenças genéticas e ambientais podem constituir
fatores de risco. O fator de risco genético melhor compreendido é a hereditariedade do
alelo ε4 da
apolipoproteína E (APOE).
[45][46] Entre 40 e 80% das pessoas com Alzheimer possuem pelo menos um alelo APOEε4 allele.
[46] Este alelo aumenta o risco de vir a sofrer da doença em três vezes nos
heterozigotos e quinze vezes nos
homozigotos.
[39] Tal como em muitas doenças humanas, os fatores ambientais e modificadores genéticos resultam em
penetrância incompleta. Por exemplo, algumas populações
nigerianas não exibem a relação entre a quantidade de APOEε4 e a incidência ou idade habitual de início da doença observada em outras populações humanas.
[47][48] As mutações no gene
TREM2 têm sido associadas a um risco 3 a 5 vezes maior de vir a desenvolver Alzheimer.
[49][50] Os estudos de associação pangenómica recentes verificaram a existência de dezanove áreas nos genes que aparentam afetar o risco de Alzheimer.
[51]
A hipótese mais antiga, na qual se baseia a maior parte das terapêuticas farmacológicas, é a hipótese colinérgica.
[52] Esta hipótese propõe que a doença de Alzheimer seja provocada por uma insuficiência na síntese do
neurotransmissor acetilcolina. Esta hipótese não reúne atualmente apoio generalizado, em grande parte porque a medicação para o tratamento da deficiência em acetilcolina não tem demonstrado ser eficaz. Têm sido também propostos outros efeitos colinérgicos; por exemplo, a agregação em grande escala de
amiloides,
[53] que provoca neuroinflamação generalizada.
[54]
Em 1991, a hipótese amiloide postulou que os depósitos extracelulares de
beta amiloides (A
β) são a causa fundamental da doença de Alzheimer.
[55][56] Este postulado baseia-se na localização do gene da
proteína precursora amiloide no
cromossoma 21 e no facto da quase totalidade das pessoas com
trissomia 21, as quais têm uma cópia adicional de genes, manifestarem Alzheimer antes dos 40 anos de idade.
[57][58] Para além disso, existe uma
isoforma específica da
apolipoproteína, denominada
APOE4, que é um fator de risco genético significativo para a doença. Enquanto que as apolipoproteínas aumentam a separação dos beta amiloides, algumas isoformas, como a APOE4, não são muito eficazes nesta tarefa e provocam a acumulação excessiva de amiloides no cérebro.
[59] Existem ainda evidências adicionais na descoberta de que ratos
transgénicos que expressam uma forma mutante da APP humana desenvolvem placas amiloides fibrilares e patologia cerebral semelhante a Alzheimer.
[60][61][62][63]
Uma vacina experimental demonstrou ser eficaz a eliminar placas de amiloides durante ensaios clínicos em seres humanos, embora não tenha tido qualquer efeito significativo na demência.
[64] Isto levou os investigadores a suspeitar de que os
oligómeros fossem a principal forma patogénica das A
β. Estes oligómeros, também denominados ligantes difusos derivados do amiloide (ADDL), ligam-se a um recetor de superfície nos
neurónios e alteram a estrutura da
sinapse, interrompendo assim a comunicação entre os neurónios.
[65] Um dos possíveis recetores dos oligómeros A
β é a
proteína prião, a mesma proteína associada à
doença das vacas loucas e à condição humana derivada, a
doença de Creutzfeldt-Jakob, pelo que existe a possibilidade destas doenças neurodegenerativas estarem relacionada com a doença de Alzheimer.
[66] Em 2009 esta hipótese foi atualizada, sugerindo que um dos principais responsáveis pela doença não seria o próprio beta amiloide, mas um parente próximo da proteína beta amiloide. Esta teoria sustenta que o mesmo mecanismo amiloidal que desliga as ligações entre os neurónios no cérebro durante o crescimento rápido no início da vida pode ser mais tarde espoletado pelos processos de envelhecimento e provocar a atrofia neuronal da doença de Alzheimer.
[67]
A hipótese da proteína tau propõe que a doença seja desencadeada por anormalidades na
proteína tau.
[56] Neste modelo, a proteína tau hiperfosforilada começa por se associar a outras cadeias de tau, formando
novelos neurofibrilares no interior das células nervosas.
[68] Quando isto ocorre, os
microtúbulos desintegram-se, destruindo o sistema de transporte dos neurónios.
[69] Isto pode provocar inicialmente disfunções na comunicação bioquímica entre os neurónios e numa fase posterior a morte das células.
[70]
A doença de Alzheimer interrompe a
homeostase celular do cobre, ferro, e zinco iónicos, embora não seja ainda claro se isto é causa ou consequência das alterações nas proteínas. Estes
iões afetam e são afetados pela proteína tau, APP e
APOE.
[71] Alguns estudos revelaram existir um risco acrescido de desenvolver Alzheimer na presença de alguns fatores ambientais como a ingestão de
metais, sobretudo de
alumínio.
[72] No entanto, a qualidade de alguns destes estudos tem sido alvo de críticas,
[73] e outros estudos concluíram que não existe qualquer relação entre estes fatores ambientais e o desenvolvimento de Alzheimer.
[74] Alguns investigadores levantaram também a hipótese do cobre na dieta poder desempenhar algum papel de causa.
[75]
Outra hipótese sustenta que a doença possa ser causada pela desagregação da
mielina no cérebro devido à idade, processo que liberta ferro e provoca ainda mais lesões. Os processos homeostáticos de reparação da mielina contribuem para o desenvolvimento de depósitos proteicos, como os beta amiloides ou a proteína tau.
[76][77][78] Tem também sido proposto que o tipo 1 do vírus da
herpes simplex desempenha um papel de causa em pessoas portadoras de versões susceptíveis do gene APOE.
[79] O
stress oxidativo pode também ter um papel significativo na formação da doença.
[80][81][82]
As pessoas com Alzheimer revelam uma perda de 70% das células do
cerúleo, as quais para além de serem neurotransmissoras, fornecem
noradrenalina, um agente anti-inflamatório nos microambientes em volta dos neurónios, das
células da glia e dos vasos sanguíneos no
neocórtex e no
hipocampo. Demonstrou-se também que a noradrenalina estimula a
micróglia de ratos a suprimir a produção de
citocinas induzidas por A
βe a
fagocitose de A
β. Isto sugere que a degeneração do cerúleo pode ser responsável pelo aumento da deposição de A
β no cérebro de pessoas com a doença.
[83]
Uma pesquisa propõe que interações entre
ferro e amiloide produzem compostos de ferro quimicamente reduzidos, incluindo a
magnetita, que podem ser responsáveis pela toxicidade que contribui para o desenvolvimento e progressão da doença de Alzheimer.
[84]
Histopatologia das placas senis no córtex cerebral de uma pessoa com Alzheimer de aparecimento pré-senil.
Tanto as
placas amiloides como os
novelos neurofibrilares são claramente observáveis ao
microscópio no cérebro de pessoas com Alzheimer.
[93] As placas são depósitos densos e praticamente insolúveis de
peptídeos beta amiloides e material celular no exterior e em redor dos neurónios. Os novelos são agregados de
proteína tau associada aos
microtúbulos que se tornou hiperfosforilada e se acumulou no próprio interior das células. Embora alguns idosos possam desenvolver placas e novelos devido ao processo de envelhecimento, o cérebro de pessoas com Alzheimer apresenta um número muito superior em áreas específicas, como no lobo temporal.
[94] Os
corpos de Lewy não são incomuns em pessoas com Alzheimer.
[95]
A doença de Alzheimer é uma
proteopatia, ou seja, uma doença caracterizada por anomalias no
enovelamento de proteínas. É causada pela acumulação no cérebro de placas de proteínas
beta amiloide e
tau de enovelamento anómalo.
[96] As placas são constituídas por pequenos
peptídeos com 39-43
aminoácidos de comprimento, denominados beta amiloides (A
β). Os beta amiloides são fragmentos de uma proteína maior denominada
proteína precursora de amiloide (APP), uma
proteína transmembranar que penetra a membrana dos neurónios. A APP é essencial para o crescimento, sobrevivência e reparação de lesões dos neurónios.
[97][98] Na doença de Alzheimer existe um processo desconhecido que faz com que a APP se divida em fragmentos menores de
enzima ß através de
proteólise.
[99] Um destes fragmentos dá origem a fibrilos de beta amiloide, que formam grupos que se depositam no exterior dos neurónios em formações densas conhecidas como
placas senis.
[93][100]
A doença de Alzheimer também é considerada uma
taupatia devido à agregação anormal de
proteína tau. Cada neurónio tem um
citoesqueleto, uma estrutura interna de suporte constituída parcialmente por estruturas denominadas
microtúbulos. Estes microtúbulos atuam como carris, orientando os nutrientes e as moléculas do corpo das células para as extremidades dos
axónios e vice-versa. A proteína tau estabiliza os microtúbulos quando
fosforilada, pelo que é denominada proteína associada aos microtúbulos. Na doença de Alzheimer, a proteína tau sofre alterações químicas, tornando-se hiperfosforilada, e começa a associar-se com outros novelos, cria novelos neurofibrilares e desintegra o sistema de transporte dos neurónios.
[101]
Ainda não se conhece de forma precisa como é que as alterações na produção e agregação dos peptídeos beta amiloides dão origem à patologia de Alzheimer.
[102][103] A hipótese amiloide geralmente aponta para a acumulação de peptídeos beta amiloides como o evento central que desencadeia a degeneração de neurónios. A acumulação de agregados de fibrilos, os quais se acredita serem a forma tóxica da proteína responsável pela interferência com a
homeostase de
iões de
cálcio da célula, induz
morte celular programada.
[104] Também se sabe que o A
β se acumula na
mitocôndria das células de cérebros de Alzheimer, também inibindo determinadas funções enzimáticas e a utilização de
glicose pelos neurónios.
[105]
Existem diversos processos inflamatórios e
citocinas que também têm um papel na patologia da doença de Alzheimer. A
inflamação é um marcador genérico de lesões no
tecido em qualquer doença, e pode ser secundária às lesões no tecido em Alzheimer ou uma resposta imunitária.
[106] Têm também sido descritas alterações na distribuição de diferentes fatores neurotróficos e na expressão dos seus recetores, como o
fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF).
[107][108]
TEP do cérebro de uma pessoa com Alzheimer que revela a perda de funções no
lobo temporal.
O estado da doença pode ser caracterizado em maior profundidade através da avaliação das funções intelectuais, entre as quais a avaliação da memória.
[23] Várias organizações médicas têm vindo a criar critérios de diagnóstico com o intuito de padronizar e facilitar o processo de diagnóstico. O diagnóstico pode ser confirmado com elevado grau de precisão através de um exame
histológico ao tecido cerebral
após a morte.
[113]
Para o diagnóstico específico da doença de Alzheimer, os critérios mais utilizados internacionalmente são os do Manual de Diagnóstico e Estatística da Associação Americana de Psiquiatria (DSM-IV-TR, 2000) e os
critérios de Alzheimer NINCDS-ADRDA, extensivamente revistos em 2007.
[113][116] Os critérios NINCDS-ADRDA especificam que a presença de défices cognitivos deve ser confirmada com exames neuropsicológicos de modo a poder determinar um diagnóstico para a possível ou provável presença da doença de Alzheimer. Especificam ainda que o diagnóstico definitivo só é possível mediante uma análise
histopatológica, incluindo um exame
microscópico ao tecido cerebral (
autópsia ou
biópsia).
[117] Tanto os critérios NINCDS-ADRDA como os DSM-IV-TR especificam os oito domínios cognitivos que são debilitados pela doença de Alzheimer:
memória,
linguagem,
perceção,
atenção, capacidades construtivas, orientação,
resolução de problemas e capacidades funcionais.
[118]
Os exames de
rastreio neuropsicológico podem auxiliar o diagnóstico de Alzheimer. Nestes exames, é pedido às pessoas que copiem desenhos semelhantes aos da imagem, memorizem palavras, leiam ou subtraiam números.
Na avaliação de défices cognitivos, uma das ferramentas mais amplamente utilizadas são os exames neuropsicológicos, como o
exame breve do estado mental. No entanto, para obter resultados mais precisos é necessário um conjunto de exames, especialmente durante os estádios iniciais da doença.
[119][120] Os exames neurológicos são também fundamentais no
diagnóstico diferencial de Alzheimer em relação a outras doenças.
[23]
No diagnóstico podem também ser realizadas entrevistas com os familiares. Os cuidadores podem fornecer informações importantes sobre as capacidades quotidianas ou sobre a diminuição das capacidades mentais da pessoa.
[121] O ponto de vista do cuidador é particularmente importante, uma vez que a pessoa com Alzheimer muitas vezes não está consciente das suas próprias debilidades.
[122] Em muitos casos, a própria família também tem dificuldade em se aperceber dos sintomas iniciais de demência e pode não transmitir informação precisa ao médico.
[123]
Os exames complementares disponibilizam informação adicional sobre algumas características da doença e são também usados para despistar outros diagnósticos. Os
exames ao sangue permitem identificar outras causas de demência que não Alzheimer,
[23] causas essas que em alguns casos podem ser reversíveis.
[124] É também vulgar a realização de exames à função da
tiroide, à
vitamina B12, à deteção de
sífilis ou
anemia, exames que permitam excluir problemas
metabólicos, incluindo exames à função
renal, níveis de
eletrólitos e
diabetes e ainda exames que permitam determinar a quantidade de
metais pesados no organismo.
[23]
Podem também ser realizados
testes psicológicos para determinar a possibilidade de
depressão, uma vez que esta doença pode ser concorrente com Alzheimer, um sinal precoce de défice cognitivo,
[125] ou até a própria causa.
[126][127]
A investigação em Alzheimer tem se debruçado no diagnóstico da condição antes dos próprios sintomas se manifestarem,
[128] tendo sido desenvolvida uma série de exames bioquímicos que permitem a deteção precoce da doença. Um destes exames envolve a análise do
líquido cefalorraquidiano para a presença de beta amiloides ou proteínas tau,
[129] tanto do total de proteínas como da concentração de proteínas tau
181P fosforiladas.
[130] Este exame proteico, realizado através de
punção lombar, pode prever o aparecimento de Alzheimer com
sensibilidade entre 94 e 100%.
[130] Quando usado em conjunto com os exames imagiológicos, permite aos médicos identificar em pessoas com perda significativa de memória aqueles que se encontram a desenvolver a doença.
[130]
Atualmente não existem evidências conclusivas que permitam apoiar qualquer medida em concreto para a prevenção de Alzheimer.
[131][132][133][134][135] Os estudos globais de medidas para prevenir ou retardar o desenvolvimento da doença produzem na maior parte das vezes resultados inconsistentes. Os estudos epidemiológicos têm proposto a existência de relações entre a probabilidade de desenvolver Alzheimer e determinados factores modificadores, como o tipo de dieta, o risco cardiovascular, produtos farmacêuticos ou atividades intelectuais, entre outros. No entanto, só uma investigação mais aprofundada, incluindo ensaios clínicos, é que pode confirmar se estes fatores podem ajudar a prevenir a doença.
[136]
Embora os fatores de risco cardiovasculares, como a
hipercolesterolemia,
hipertensão arterial,
diabetes ou o
tabagismo, estejam associados a um maior risco de vir a desenvolver Alzheimer,
[137][138] as
estatinas (fármacos para a diminuição do
colesterol) não são eficazes na prevenção ou atraso da evolução da doença.
[139][140] O uso prolongado de
anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) está associado à diminuição da probabilidade de se vir a desenvolver Alzheimer.
[141] Os estudos humanos
postmortem, em
modelos animais ou investigação
in vitro também apoiam a noção de que os AINEs são capazes de reduzir a inflamação relacionada com as placas amiloides.
[141] No entanto, os ensaios clínicos que investigaram o seu uso como tratamento paliativo não demonstraram resultados positivos, aparentemente porque a concentração de AINEs no cérebro após a administração oral é muito pequena.
[142] A
terapia de substituição hormonal, embora tenha sido usada no passado, pode aumentar o risco de demência.
[143]
As atividades intelectuais, como ler, jogar jogos de tabuleiro, tocar instrumentos musicais e socializar regularmente estão associadas a uma diminuição do risco de Alzheimer em estudos epidemiológicos, embora não se tenha ainda descoberto uma relação causa-efeito.
As pessoas que se envolvem em atividades intelectuais, como a leitura, jogos de tabuleiro, palavras-cruzadas, toque de
instrumentos musicais, ou que têm
interação social de forma regular demonstram menor risco de vir a desenvolver doença de Alzheimer.
[144] Isto é consistente com a teoria da
reserva cognitiva, que alega que determinadas experiências de vida levam a uma maior eficiência no funcionamento dos
neurónios, o que faz com que o indivíduo seja dotado de uma reserva cognitiva que retarda o aparecimento das manifestações de demência.
[144] O nível de escolaridade retarda o desenvolvimento do síndrome de Alzheimer e não apresenta relação com a diminuição da esperança de vida após o diagnóstico.
[145] Aprender uma segunda língua, mesmo que durante a terceira idade, aparenta retardar o aparecimento da doença.
[146] A
atividade física também está associada a um menor risco de Alzheimer.
[145]
Os consumidores de
dieta mediterrânica apresentam menor risco de vir a desenvolver Alzheimer,
[147][148] podendo até melhorar os resultados em pessoas com a doença.
[149] Por outro lado, os consumidores de dietas ricas em
gorduras saturadas e
hidratos de carbono simples apresentam maior risco.
[150] O mecanismo de ação proposto tem sido o efeito benéfico a nível cardiovascular da dieta mediterrânica.
[148] Diversos alimentos ricos em
flavonoides, como o
cacau,
vinho tinto ou o
chá, podem diminuir o risco de Alzheimer.
[151][152] No entanto, há poucas evidências que sustentem que o consumo ligeiro a moderado de álcool, em particular de
vinho tinto, esteja associado a um menor risco de Alzheimer.
[153] Há evidências conjeturais de que a
cafeína possa ser protetora.
[154]
A
curcumina não demonstra ter qualquer benefício em seres humanos, embora haja evidências conjeturais em animais.
[165] Há evidências inconsistentes e pouco convincentes de que o
ginkgo tenha qualquer efeito positivo no défice cognitivo ou na demência.
[166] Também não há evidências concretas de que os
canabinoides sejam eficazes na melhoria dos sintomas de Alzheimer ou demência.
[167] No entanto, alguma investigação em fase inicial mostra ser promissora.
[168]
Não existe cura para a doença de Alzheimer. Existem diversos tratamentos que proporcionam alívio relativo dos sintomas, embora sejam de natureza
paliativa. Os tratamentos atuais podem ser divididos em farmacológicos, psicossociais e a nível de cuidados de saúde.
Estrutura molecular da
memantina, um medicamento aprovado para sintomas avançados de Alzheimer
A diminuição da atividade dos neurónios colinérgicos é uma característica bem compreendida da doença de Alzheimer.
[172] Os inibidores da acetilcolinesterase são usados para reduzir a velocidade a que a
acetilcolina(ACh) é fragmentada, aumentando assim a concentração de ACh no cérebro e combatendo a perda de ACh provocada pela morte dos neurónios colinérgicos.
[173] Existem evidências da eficácia destes medicamentos em casos leves a moderados da doença,
[174][175] e algumas evidências durante a fase avançada. Só a
donepezila é que está aprovada para o tratamento da demência avançada de Alzheimer.
[176] A utilização destes fármacos no
défice cognitivo ligeiro não demonstrou ter qualquer efeito no atraso do aparecimento de Alzheimer.
[177] As
reações adversas mais comuns são
náuseas e
vómitos, ambos ligados ao excesso colinérgico. Estas reações adversas manifestam-se em cerca de 10-20% dos utilizadores, a sua gravidade é entre leve e moderada e podem ser controladas através do ajuste gradual das doses de medicação.
[178] Entre os efeitos secundários menos comuns estão
cãibras musculares,
diminuição do ritmo cardíaco, diminuição do
apetite e do peso e aumento da produção de
ácido gástrico.
[179]
O
glutamato é um
neurotransmissor excitatório do
sistema nervoso, embora uma quantidade excessiva no cérebro possa provocar a morte das células através de um processo denominado
excitotoxicidade, o qual consiste na sobre-estimulação dos recetores de glutamato. A excitotoxicidade ocorre não só na doença de Alzheimer, como também noutras doenças neurológicas como na
doença de Parkinson e na
esclerose múltipla.
[180] A
memantina é um
antagonista dos recetores de NMDA não competitivo, inicialmente usado no tratamento de
gripe. Atua no
sistema glutamatérgico bloqueando os
recetores NMDA e inibindo a a sobrestimulação pelo glutamato.
[180] A memantina é moderadamente eficaz no tratamento de Alzheimer moderada a grave. No entanto, os seus efeitos nas fases iniciais da doença são ainda desconhecidos.
[181] As reações adversas com memantina são pouco frequentes e leves, incluindo
alucinações,
confusão,
tonturas,
dores de cabeça e
fadiga.
[182] A combinação de memantina e donepezila tem demonstrado ser estatisticamente significante, mas de eficácia clínica marginal.
[183]
As intervenções psicossociais são usadas de forma complementar à terapêutica farmacológica e podem ser divididas em abordagens ao comportamento, emoções, cognição ou estimulação. No entanto, a investigação disponível sobre a sua eficácia raramente é específica para Alzheimer, focando-se na demência de uma forma geral.
[188]
As intervenções ao nível do comportamento tentam identificar e reduzir os antecedentes e as consequências de comportamentos problemáticos. Embora esta abordagem não demonstre eficácia em melhorar a função geral,
[189] pode ajudar a diminuir problemas comportamentais específicos, como
incontinência urinária.
[190] Para outros problemas, como o comportamento errante, não existem ainda dados de qualidade sobre a eficácia destas técnicas.
[191][192]
As intervenções de abordagem emocional incluem a
terapia de reminiscência, a
terapia de validação,
psicoterapia de apoio, a
terapia de integração sensorial e a
terapia de presença simulada. Embora existam poucos ou nenhuns estudos científicos formais sobre a psicoterapia de apoio, alguns médicos consideram que tenha alguma utilidade em ajudar pessoas com défices moderados a adaptar-se à doença.
[188] A terapia de reminiscência envolve a discussão de experiências passadas, individualmente ou em grupo, muitas vezes com a ajuda de fotografias, objetos domésticos, música e gravações ou qualquer objeto do passado que seja familiar ao doente. Embora haja poucos estudos de qualidade sobre a eficácia desta terapia, é possível que seja benéfica para a
cognição e
ânimo.
[193] A terapia de presença simulada baseia-se nas
teorias de vinculação e envolve a reprodução de uma gravação com as vozes dos familiares mais próximos da pessoa com Alzheimer. Existem evidências parciais de que esta terapia pode diminuir as atitudes provocadoras.
[194] A terapia de validação alega que a ansiedade da pessoa pode ser reduzida caso se tente entrar na sua realidade, em vez de a tentar trazer à nossa realidade, reduzindo assim o número de conflitos, enquanto que a terapia de integração sensorial baseia-se em exercícios destinados a estimular os sentidos. No entanto, não há evidências científicas que apoiem a utilidade destas terapias.
[195][196]
As intervenções de abordagem cognitiva, nas quais se inclui a terapia de orientação da realidade e terapia de reabilitação cognitiva, propõem-se a diminuir os défices cognitivos. A terapia de orientação da realidade consiste em apresentar informações sobre o tempo, local ou pessoa de modo a facilitar a compreensão do doente em relação ao que está à sua volta e ao seu lugar nela. Por outro lado, a terapia de reabilitação cognitiva tenta melhorar as capacidades debilitadas através do exercício das capacidades mentais. Ambos têm demonstrado alguma eficácia em melhorar as capacidades cognitivas,
[197][198] embora em alguns dos estudos estes efeitos fossem transitórios e também tivessem sido indicados alguns efeitos negativos, como a frustração.
[188]
Os tratamentos de estimulação cognitiva incluem a
arte terapia,
musicoterapia, terapia assistida com animais,
fisioterapia ou outro tipo de atividades recreativas. Há poucas evidências que apoiem a eficácia da estimulação na melhoria do comportamento, ânimo ou funções. No entanto, embora estes efeitos sejam importantes, o principal apoio para o recurso às terapias de estimulação são as alterações positivas na rotina diária do paciente.
[188]
A tarefa de cuidar do idoso precisa ser dividida e compartilhada com outros membros da família e profissionais de saúde para não sobrecarregar uma só pessoa
Uma vez que a doença de Alzheimer não tem cura e o paciente vai gradualmente perdendo a capacidade de cuidar de si próprio, o tratamento passa principalmente pela prestação de cuidados. Durante os estádios leve e moderado, determinadas alterações ao meio envolvente e ao estilo de vida podem aumentar a segurança do paciente e reduzir os encargos para os cuidadores.
[199][200] Entre estas alterações estão a adesão a rotinas simplificadas, a instalação de fechaduras de segurança, a rotulagem de artigos domésticos ou a utilização de objetos quotidianos modificados.
[188][201][202]
Os pacientes podem eventualmente tornar-se incapazes de se alimentar a si próprios, o que exige que os alimentos sejam cortados em bocados mais pequenos ou ralados.
[203] É comum que as pessoas com Alzheimer comecem a ter problemas com a alimentação, devido às
dificuldades em engolir, redução do apetite ou dificuldade em reconhecer a comida. Os prestadores e familiares muitas vezes pedem para que o paciente possa ser alimentado através de um
tubo de alimentação. No entanto, não há evidências de que este método ajude as pessoas em fase avançada de demência a ganhar peso, recuperar forças ou que melhore a qualidade de vida, podendo até aumentar o risco de
pneumonia por aspiração.
[204][205][206] O uso de restrições físicas raramente é indicado, qualquer que seja a fase da doença, embora haja situações em que é necessário para impedir que o paciente se magoe a si ou aos cuidadores.
[188]
À medida que a doença avança podem surgir diversos problemas médicos, como doenças dentais,
escaras,
desnutrição, infeções oculares, problemas de
higiene,
respiratórios e de
pele. As boas práticas na prestação de cuidados podem prevenir muitos destes problemas, embora quando surjam seja necessário tratamento profissional.
[207][208] Durante a fase final da doença, o tratamento centra-se no alívio do desconforto até à morte.
[209]
É difícil diagnosticar a doença de Alzheimer durante os primeiros estádios. O diagnóstico definitivo geralmente só consegue ser determinado quando o défice cognitivo compromete a realização de atividades diárias, embora a pessoa possa continuar a viver de forma independente. Os sintomas progridem desde ligeiros problemas cognitivos, como perda de memória, até estádios avançados de distúrbios cognitivos e não cognitivos que impossibilitam que o paciente viva sozinho, especialmente durante a fase final da doença.
[30]
A
esperança de vida da população com Alzheimer é reduzida.
[210][211][212] A esperança média de vida após o diagnóstico é de aproximadamente sete anos.
[210] Menos de 3% das pessoas vive para além dos quatorze anos.
[213] Apesar de nos casos de Alzheimer precoce a média da esperança de vida ser superior, é bastante mais reduzida quando comparada com a generalidade da população.
[212] O prognóstico de sobrevivência é menos favorável em homens do que em mulheres.
[213][214]
A doença é a causa de
morte subjacente em 70% dos casos.
[210] A
pneumonia e a
desidratação são as mais frequentes causas de morte imediata.
[210][214] As características da doença associadas a esta reduzida sobrevivência são o agravamento do défice cognitivo, a diminuição das capacidades executoras, a ocorrência de quedas e transtornos neurológicos.
[211][215][216]
As duas principais medidas usadas em estudos
epidemiológicos sobre Alzheimer são a incidência e a prevalência. A
incidência é o número de novos casos por cada unidade de pessoa-tempo em risco; geralmente, o número de novos casos por cada milhar de pessoas-ano. A
prevalência é o número total de casos da doença em determinada população a dado momento. No que diz respeito à incidência, os
estudos longitudinais coorte (estudos onde a população sem a doença é seguida ao longo dos anos) mostram taxas de incidência entre 10 a 15 por cada mil pessoas-ano para todas as demências e entre 5-8 para os casos específicos de Alzheimer, o que significa que mais de metade de todos os novos casos anuais de demência são Alzheimer.
[217][218] A idade avançada é o principal fator de risco da doença, pelo que a taxa de incidência não é igual em todas as idades: por cada cinco anos após os 65 anos, o risco de adquirir a doença duplica, em média.
[217][218] Existem também diferenças entre os sexos na taxa de incidência, uma vez que as mulheres apresentam maior risco de desenvolver Alzheimer, principalmente acima dos 85 anos.
[218][219] Existe uma relação inversamente proporcional entre a prevalência de demência e a escolaridade. Nos indivíduos com oito anos ou mais de escolaridade a prevalência é de 3,5%, enquanto que nos analfabetos é de 12,2%.
[220]
A prevalência de Alzheimer em determinada população depende de diversos fatores, entre os quais a incidência e a taxa de sobrevivência. Uma vez que a incidência de Alzheimer aumenta com a idade, é especialmente importante considerar a média de idades da população a estudar. Em Portugal e durante o ano de 2009, a Alzheimer Europe estima que existam cerca de 153 000 pessoas com demência, das quais 90 000 com Alzheimer.
[221] No Brasil, em 2009, o número total de casos era de cerca de um milhão.
[222] Nos Estados Unidos, segundo dados de 2000, estima-se que a prevalência seja de 1,6% no intervalo entre os 65 e 74 anos, aumentando para 19% no intervalo de 75-84 e para 42% no intervalo superior a 84 anos.
[223][224] Em regiões menos desenvolvidas, as taxas de prevalência são inferiores.
[225] A
Organização Mundial de Saúde estima que em 2005 0,379% das pessoas em todo o mundo tivessem demência, número que aumentará para 0,441% em 2015 e para 0,556% em 2030,
[226] conclusões que são confirmadas por outros estudos.
[225] Outro estudo estimou que em 2006 0,4% da população mundial (intervalo entre 0,17–0,89%) fosse atingida por Alzheimer, o que corresponde a um número absoluto de
26,6 milhões (intervalo
11,4–59,4 milhões). Estima-se também que em 2050 a taxa de prevalência será três vezes superior e o número absoluto de casos quatro vezes superior.
[227][228]
Equipa do laboratório de
Alois Alzheimer (3º a contar da direita na fila superior). Alzheimer foi o primeiro a identificar a doença, em 1901. Da equipa fazia também parte
Friedrich Lewy (1º a contar da direita na fila superior), o qual descobriu os
corpos de Lewy.
Já na
Antiguidade clássica os médicos e filósofos
gregos e
romanos associavam a progressão da
demência à idade avançada.
[229] No entanto, só em 1901 é que o
psiquiatra alemão
Alois Alzheimer identificou pela primeira vez um caso da patologia que viria a ser denominada doença de Alzheimer, numa mulher de cinquenta anos a que chamava
Auguste D. O médico seguiu a paciente até à sua morte, em 1906, data em que publicou o primeiro relatório sobre o caso.
[230][231][232] Durante os cinco anos seguintes, foram reportados na literatura médica onze casos semelhantes, alguns dos quais referindo-se já à doença pelo termo Alzheimer.
[18] A doença foi pela primeira vez descrita como condição autónoma por
Emil Kraepelin, depois de ter suprimido algumas das características clínicas (alucinações) e patológicas (alterações arterioescleróticas) do relatório original de Auguste D.
[233] Kraepelin incluiu a doença de Alzheimer, também denominada por si "demência pré-senil", na oitava edição do seu
Manual de Psiquiatria, publicado em 15 de julho de 1910.
[234]
Durante a maior parte do
século XX, o diagnóstico de Alzheimer era reservado para indivíduos entre os 45 e 65 anos de idade que desenvolviam sintomas de
demência. No entanto, esta terminologia foi alterada em 1977 após numa conferência se ter concluído que as manifestações patológicas da demência senil e pré-senil eram praticamente idênticas, embora os autores também tenham acrescentado que isto não excluía a hipótese de terem diferentes causas.
[235] Isto levou a que o diagnóstico de Alzheimer se tornasse independente da idade.
[236] Durante algum tempo usou-se o termo "demência senil do tipo Alzheimer" para descrever a condição em pacientes com idade superior a 65 anos, enquanto que o termo "doença de Alzheimer" era usado para as pessoas com idade inferior. Finalmente, o termo "doença de Alzheimer" foi adotado pela nomenclatura clínica para descrever indivíduos de todas as idades com um quadro de sintomas, evolução e
neuropatologia em comum.
[237]
A demência, e especificamente a doença de Alzheimer, está entre as doenças com maiores custos sociais na
Europa e nos
Estados Unidos,
[19][20] sendo também cada vez maior noutros países como a
Argentina ou a
Coreia do Sul.
[238][239] Estes custos têm tendência a aumentar com o envelhecimento da população, tornando-se cada vez mais um
problema social. Os custos associados à doença de Alzheimer incluem despesas médicas diretas, como as despesas com
enfermagem ou
apoio domiciliário, despesas médicas indiretas, como a estadia em centros de dia, e custos indiretos, como a perda de
produtividade não só do paciente como do prestador de cuidados.
[20] Embora os números difiram entre os vários estudos, o custo da demência à escala global foi estimado em cerca de 160 mil milhões de
dólares.
[240]
A principal fonte dos custos sociais é a prestação de cuidados de saúde a longo prazo por
profissionais de saúde e, em particular, o internamento em instituições, o qual corresponde a dois terços dos custos.
[19] O custo de vida na residência é igualmente muito elevado,
[19] sobretudo quando são também contabilizados os custos para a família, como o tempo investido na prestação de cuidados ao doente e a perda de rendimento daí decorrente.
[241] Os custos aumentam à medida que aumenta a gravidade da doença e a presença de distúrbios comportamentais,
[242] estando também relacionados com o aumento progressivo do tempo exigido para os cuidados físicos.
[241] Desta forma, qualquer tratamento que atrase o declínio cognitivo, que atrase o internamento ou que reduza o número de horas na prestação de cuidados traz benefícios a nível económico. As avaliações económicas dos tratamentos atuais demonstraram resultados positivos.
[20]
Em muitos casos, é o cônjuge ou um familiar próximo quem assume o papel de principal cuidador.
[243] Os cuidadores são responsáveis pela manutenção da segurança física, redução da ansiedade e agitação, melhoria da comunicação, promoção da independência nas atividades de autocuidado, atendimento das necessidades de socialização e privacidade, manutenção da nutrição adequada, controlo dos distúrbios do padrão de sono e transporte para serviços de saúde, além das inúmeras atividades diárias de cuidados domésticos.
[244] A doença tem um impacto significativo para os cuidadores, a nível social, psicológico, físico e económico.
[14][245][246] Os pacientes e a família geralmente preferem o
apoio domiciliário.
[247] Esta opção também atrasa ou elimina a necessidade de tratamentos profissionais e de maior custo económico.
[247][248]
Os cuidadores de pacientes com demência estão susceptíveis a uma elevada prevalência de transtornos mentais e físicos.
[249] Entre os fatores de risco que contribuem para esta prevalência estão a presença da pessoa cuidada em casa, o fato do paciente ser o cônjuge e determinados comportamentos do paciente que exigem elevada atenção, como depressão, distúrbios de comportamento, alucinações, problemas de sono ou
isolamento social.
[250][251] Em relação aos problemas económicos, os familiares cuidadores muitas vezes abdicam de tempo no emprego, acompanhando em casa o paciente, em média, 47 horas por semana. Nos Estados Unidos, os custos diretos e indiretos do acompanhamento em casa de um paciente com Alzheimer variam entre 18.000$ e 77.500$ por ano.
[243][241] A
terapia cognitivo-comportamental e o ensino de estratégias de
coping, quer individualmente quer em grupo, têm demonstrado alguma eficácia na melhoria da saúde mental dos cuidadores.
[14][252]
À data de 2014, foram ou estavam a ser investigados mais de 400 possíveis tratamentos farmacológicos em mais de 1500
ensaios clínicos à escala mundial, cerca de um quarto dos quais na última fase antes de revisão pelas entidades reguladoras.
[253] Uma das principais áreas de investigação clínica foca-se no tratamento da patologia da doença. Um dos objetivos mais comuns dos compostos atualmente em investigação, como no caso da
apomorfina, é a diminuição da quantidade de
beta amiloides.
[254] Em estudo encontra-se também a
imunoterapia ou
vacinação contra a proteína amiloide.
[255] Ao contrário da vacinação de prevenção, esta terapia seria usada no tratamento de pessoas já diagnosticadas e baseia-se no conceito de treino do
sistema imunitário para reconhecer, atacar e reverter a deposição de amiloide, invertendo o curso da doença.
[256] Uma destas vacinas é o
bapineuzumab, um anticorpo desenhado para ser idêntico ao anticorpo anti-amiloide natural.
[257]
Entre outras abordagens estão os agentes neuroprotetores, como o AL-108,
[258] e os agentes de atenuação das interações proteína-metal, como o PBT2.
[259] O
etanercepte, uma
proteína de fusão bloqueadora dos recetores
TNFα, mostrou resultados promissores.
[260] Verificou-se que o vírus da
herpes (HSV-1) se implantava no mesmo local das placas de amiloide,
[261] o que sugere a possibilidade da doença de Alzheimer ser tratada ou prevenida com medicamentos
antivirais.
[261][262]
Em 2008, dois ensaios distintos demonstraram resultados positivos na alteração do curso da doença em Alzheimer leve a moderada após a administração de
cloreto de metiltionínio (marca comercial "Rember"), um fármaco que inibe a agregação de proteína tau,
[263][264] e
latrepirdina (marca "Dimebon"), um
anti-histamínico.
[265] Os ensaios de fase III com Dimebon não conseguiram demonstrar efeitos positivos.
[266][267][268] A investigação com metiltionínio demonstrou que a
biodisponibilidade de metiltionínio era afetada pela alimentação e acidez do estômago, levando a dosagens inesperadamente variáveis.
[269] Estão em ensaios de fase III novas fórmulas, como o
pró-fármaco LMTX.
[270]
Alguns estudos indicam que a utilização prolongada de
Anti-inflamatórios não esteroides (AINEs) por pessoas com doenças crónicas pode oferecer alguma proteção contra a demência. A relação pode ter origem em várias substâncias pró-inflamatórias envolvidas na fisiopatologia da doença e diretamente presentes em placas neuríticas, assim como pela ação direta de certos anti-inflamatórios sobre a clivagem de proteína precursora de amiloide.
[271] O
ibuprofeno e a
indometacina - mas não o
naproxeno, o
celecoxib ou o
ácido acetilsalicílico - demonstraram reduzir os níveis de Aβ acima de 80% em culturas celulares. Como nem todos os anti-inflamatórios não esteroides apresentaram esse efeito, acredita-se que essa redução ocorra por um processo independente da atividade anti-inflamatória sobre a
ciclo-oxigenase.
[272]
A empresa de fármacos
Eli Lilly divulgou em
2015 os primeiros resultados de testes clínicos com a droga
Solanezumab, que reduz a taxa de progressão da doença de Alzheimer. Caso seja aprovada em futuros testes, a droga poderá ser a primeira a efetivamente reduzir a progressão do Alzheimer.
[273] Também em
2015, Dr. Bence Gyorgy, do Massachusetts General Hospital e Xandra Breakefield estavam trabalhando com
ratos de laboratório, em um esforço para desenvolver abordagens baseadas
CRISPR para tratar Alzheimer e para corrigir uma forma genética da surdez.
[274]
No final de 2016, em um estudo, Li-Huei Tsai, do
MIT descobriu que luzes piscantes a 40 hertz aumentaram as
oscilações gama[275] e diminuíram os níveis
beta amiloide pela metade no córtex visual de camundongos nos estádios muito precoces da doença de Alzheimer.
[276]
Em pessoas já com demência, a
tomografia computorizada por emissão de fotão único (SPECT) aparenta ser superior a distinguir a doença de Alzheimer de outras causas possíveis, em comparação com os convencionais testes mentais e análise do histórico clínico.
[277] Os avanços nesta área levaram a que fossem propostos novos critérios de diagnóstico.
[23][116] A
ressonância magnética volumétrica permite detetar alterações no tamanho das regiões do cérebro. A medição das regiões que sofrem atrofia durante a evolução da doença de Alzheimer é promissora enquanto indicador de diagnóstico e pode vir a ser menos dispendiosa do que outros métodos imagiológicos atualmente em estudo.
[278] Embora o
composto B de Pittsburgh ainda se encontre em investigação, um
radiofármaco semelhante para
tomografia por emissão de positrões, denominado
florbetapir, foi recentemente aprovado nos Estados Unidos para o diagnóstico de Alzheimer.
[279]
Vários projetos utilizam a
ciência cidadã na pesquisa da doença de Alzheimer e buscam a descoberta de medicamentos através de jogos on-line. Desde 2005, "Patients Like Me
[280] contribui com seus dados para ajudar os médicos a encontrar melhores resultados para uma melhor compreensão da doença. "CureTogether",
[281] em julho de 2008, criou um lugar onde os pacientes que sofrem de várias condições médicas podem ir para compartilhar informações e recursos com outros pacientes e pesquisadores.
[282]
Em 2013, um experimento em "ganchos" de música, "#Hooked",
[283] criado pelo musicólogo computacional John Ashley Burgoyne
[284] e pesquisadores da
Universidade de Amsterdam e da
Universidade de Utrecht, pedem para milhares de pessoas nomearem uma música de uma lista para ajudar os cientistas a compreender a memória musical dos seres humanos. O jogo "EyesOnALZ" (anteriormente conhecido como WeCureALZ), preparou o teste alfa do primeiro jogo on-line que permitiria a procura de capilares paralisadas nos cérebros de ratos sofrendo de Alzheimer.
[285] Em 2018, o "EyesOnALZ", o primeiro projeto de crowdsourcing para envolver o público na pesquisa de Alzheimer,
[286] atingiu um grande marco ao superar 10 mil cientistas cidadãos que ajudaram a acelerar a demorada análise de dados de vasos sanguíneos paralisados no cérebro.
[287]