José Duarte Ramalho Ortigão nasceu no Porto, na Casa de Germalde, freguesia de
Santo Ildefonso. Era o mais velho de nove irmãos, filhos do primeiro-tenente de artilharia Joaquim da Costa Ramalho Ortigão e de sua mulher
D. Antónia Alves Duarte Silva.
Viveu a sua infância numa quinta do Porto com a avó materna, com a educação a cargo de um tio-avô e padrinho Frei José do Sacramento. Em Coimbra, frequentou brevemente o curso de Direito. Ensinou francês e dirigiu o
Colégio da Lapa no Porto, do qual seu pai havia sido diretor. Iniciou-se no jornalismo colaborando no
Jornal do Portoe no jornal de cariz monárquico
O Correio:
Semanário Monárquico [2] (1912-1913). Também foi colaborador em diversas publicações periódicas, em alguns casos postumamente, entre as quais se destaca:
Acção realista (1924-1926);
O António Maria[3] (1879-1885;1891-1898);
Branco e Negro [4] (1896-1898);
Brasil-Portugal[5](1899-1914);
Contemporânea (1915-1926);
A Esperança [6] (1865-1866;
Galeria republicana (1882-1883);
Gazeta Literária do Porto [7] (1868),
Ideia Nacional [8](1915),
A Imprensa [9] (1885-1891);
O Occidente [10] (1878-1915);
Renascença [11] (1878-1879?);
Revista de Estudos Livres [12] (1883-1886),
A semana de Lisboa [13] (1893-1895);
A Arte Portuguesa [14] (1895);
Tiro e Sport [15] (1904-1913);
Serões (1901-1911);
O Thalassa: semanario humoristico e de caricaturas (1913-1915) e, a título póstumo, no periódico
O Azeitonense [16] (1919-1920).
Em 24 de outubro de 1859 casou com D. Emília Isaura Vilaça de Araújo Vieira, de quem veio a ter três filhos: Vasco, Berta e Maria Feliciana.
No ano seguinte, em 1867, visita a Exposição Universal em Paris, de que resulta o livro
Em Paris, primeiro de uma série de livros de viagens. Insatisfeito com a sua situação no Porto, muda-se para Lisboa com a família, obtendo uma vaga para oficial da
Academia das Ciências de Lisboa.
Reencontra em Lisboa o seu ex-aluno
Eça de Queirós e com ele escreve um "romance execrável" (classificação dos autores no prefácio de 1884):
O Mistério da Estrada de Sintra (1870), que marca o aparecimento do romance policial em Portugal. No mesmo ano, Ramalho Ortigão publica ainda
Histórias cor-de-rosa e inicia a publicação de
Correio de Hoje (1870-71).
[1] Em parceria com Eça de Queirós, surgem em 1871 os primeiros folhetos de
As Farpas, de que vem a resultar a compilação em dois volumes sob o título
Uma Campanha Alegre. Em finais de 1872, o seu amigo Eça de Queirós parte para Havana exercer o seu primeiro cargo consular no estrangeiro, continuando Ramalho Ortigão a redigir sozinho
As Farpas.
Entretanto, Ramalho Ortigão tornara-se uma das principais figuras da chamada
Geração de 70. Vai acontecer com ele o que aconteceu com quase todos os membros dessa geração. Numa primeira fase, pretendiam aproximar Portugal das sociedades modernas europeias, cosmopolitas e anticlericais. Desiludidos com as
luzes europeias do progresso material, porém, numa segunda fase voltaram-se para as raízes de Portugal e para o programa de um "reaportuguesamento de Portugal". É dessa segunda fase a constituição do grupo "
Os Vencidos da Vida", do qual fizeram parte, além de Ramalho Ortigão, o
Conde de Sabugosa, o
Conde de Ficalho, o
Marquês de Soveral, o
Conde de Arnoso,
Antero de Quental,
Oliveira Martins,
Guerra Junqueiro,
Carlos Lobo de Ávila,
Carlos de Lima Mayer e
António Cândido.
[1] À intelectualidade proeminente da época juntava-se agora a nobreza, num último esforço para restaurar o prestígio da Monarquia, tendo o Rei
D. Carlos I sido, significativamente, eleito por unanimidade "confrade suplente do grupo".
[1]
Na sequência do assassínio do Rei, em 1908, escreve
D. Carlos o Martirizado. Com a implantação da República, em 1910, pede imediatamente a Teófilo Braga a demissão do cargo de bibliotecário da Real Biblioteca da Ajuda, escrevendo-lhe que se recusava a aderir à República
"engrossando assim o abjecto número de percevejos que de um buraco estou vendo nojosamente cobrir o leito da governação". Saiu em seguida para um exílio voluntário em Paris, onde vai começar a escrever as
Últimas Farpas (1911-1914) contra o regime republicano. O conjunto de
As Farpas, mais tarde reunidas em quinze volumes, a que há que acrescentar os dois volumes das
Farpas Esquecidas, e o referido volume das
Últimas Farpas, foi a obra que mais o notabilizou por estar escrita num português muito rico, com intuitos pedagógicos, sempre muito crítico e revelando fina capacidade de observação. Eça de Queirós escreveu que Ramalho Ortigão, em
As Farpas, "estudou e pintou o seu país na alma e no corpo".
[17]
"
A orientação mental da mocidade contemporânea comparada à orientação dos rapazes do meu tempo estabelece entre as nossas respectivas cerebrações uma diferença de nível que desloca o eixo do respeito na sociedade em que vivemos obrigando a elite dos velhos a inclinar-se rendidamente à elite dos novos".
[18]
Vítima de cancro, recolheu-se na casa de saúde do Dr. Henrique de Barros, na então Praça do Rio de Janeiro, em Lisboa, vindo a falecer em 27 de setembro de 1915, na sua casa da Calçada dos Caetanos, na Freguesia da Lapa.
Foi Comendador da
Ordem Militar de Cristo e Comendador da
Imperial Ordem da Rosa do
Brasil. Além de
bibliotecário na
Real Biblioteca da Ajuda, foi Secretário e Oficial da Academia Nacional de Ciências, Vogal do Conselho dos Monumentos Nacionais, Membro da
Sociedade Portuguesa de Geografia, da
Academia das Belas Artes de Lisboa, do
Grémio Literário, do
Gabinete Português de Leitura do Rio de Janeiro,
[1] e da Sociedade de Concertos Clássicos do Rio de Janeiro. Em Espanha, foi-lhe atribuída a Grã-Cruz da
Ordem de Isabel a Católica e foi membro da
Academia de História de Madrid, da
Sociedade Geográfica de Madrid, da
Real Academia de Bellas Artes de San Fernando, da
Unión Iberoamericana e da
Real Academia Sevillana de Buenas Letras.
Foram impressas duas notas de 50$00 Chapa 6 e 6A de
Portugal com a sua imagem.
Estátua de Ramalho Ortigão no
Porto.
- 1868 - Em Pariz
- 1870 - O Mistério da Estrada de Sintra (com Eça de Queirós). (eBook)
- 1870-71 - Correio de Hoje
- Biografia de Emília Adelaide Pimentel.
- 1870 - Histórias Cor-de-Rosa
- 1871-72 - As Farpas (com Eça de Queirós)
- 1871-1882 - As Farpas.
- 1875 - Banhos de Caldas e Águas Minerais.
- 1876 - As Praias de Portugal
- Teófilo Braga: Esboço Biográfico.
- Notas de Viagem.
- Pela Terra Alheia: Notas de Viagem.
- A Lei da Instrução Secundária na Câmara dos Deputados de Portugal.
- 1883 - A Holanda.
- 1887 - John Bull - Depoimento de uma testemunha acerca de alguns aspectos da vida e da civilização inglesa.
- 1896 - O Culto da Arte em Portugal. (eBook)
- 1908 - D. Carlos o Martirizado.
- 1911-14 - Últimas Farpas.
- 1914 - Carta de um Velho a um Novo.
Referências
- ↑ Ir para:a b c d e «Ramalho Ortigão». Porto Editora. Infopédia. Consultado em 24 de outubro de 2012.
- Ir para cima↑ Rita Correia (4 de agosto de 2015). «Ficha histórica: O correio : semanario monarchico (1912-1913)» (PDF). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 27 de junho de 2016.
- Ir para cima↑ Rita Correia (27 de Outubro de 2006). «Ficha histórica: O António Maria (1879-1885;1891-1898).» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 12 de Maio de 2014.
- Ir para cima↑ Rita Correia (1 de Fevereiro de 2012). «Ficha histórica: Branco e Negro : semanario illustrado (1896-1898)» (pdf). Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 21 de Janeiro de 2015.
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- Ir para cima↑ Novas Cartas inéditas de Eça de Queirós, Camilo, etc., a Ramalho Ortigão, Rio de Janeiro, Alba Editora, 1940, p. 95
- Ir para cima↑ Leão Ramos Ascensão, O Integralismo Lusitano, Edições Gama, Porto, 1943, p. 49
- 1997 - Quintas, José Manuel - O Integralismo Lusitano e a herança de «Os Vencidos da Vida», Sintra, Academia da Força Aérea, 1997.
- 1999 - Oliveira, Maria João L. Ortigão de - O essencial sobre Ramalho Ortigão, Lisboa, INCM, 1999.
- 2000 - Oliveira, Rodrigo Ortigão de - A Família Ramalho Ortigão, Porto, Ed. Lit. Rodrigo Ortigão de Oliveira, 2000, 368 p. ISBN 972-95094-8-4
- Antonio Candido [et Al.] - Os vencidos da vida , Porto, Fronteira do Caos, 2006.
Ligações externa