Os
descobrimentos portugueses foram o conjunto de conquistas realizadas pelos
portugueses em viagens e explorações marítimas entre
1415 e
1543que começaram com a
conquista de Ceuta em
África. Os descobrimentos resultaram na
expansão portuguesa e deram um contributo essencial para delinear o
mapa do mundo, impulsionados pela
Reconquista e pela procura de alternativas às rotas do comércio no
Mediterrâneo. Com estas descobertas os portugueses iniciaram a
Era dos Descobrimentos europeusque durou do
século XV até ao
XVII e foram responsáveis por importantes avanços da tecnologia e
ciência náutica,
cartografia e
astronomia, desenvolvendo os primeiros navios capazes de navegar em segurança em mar aberto no
Atlântico. Deve-se, todavia, referir que a construção naval chinesa produzia no século XV navios com 120 m de comprimento, tais como os da frota do almirante Zheng He e das suas 7 expedições no Oceano Indico no intervalo de 1402 a 1435.
Embora com antecedentes no reinado de
D. Dinis (1279) e nas expedições às
Ilhas Canárias do tempo de
D. Afonso IV, é a partir da conquista de
Ceuta em 1415, que
Portugal inicia o projecto nacional de navegações oceânicas sistemáticas
[1] que ficou conhecido como "descobrimentos portugueses".
Com a
Reconquista concluída,
Dinis I de Portugal interessou-se pelo comércio externo, organizando a exportação para países europeus. Em
1293 instituiu a chamada
Bolsa dos Mercadores, um fundo de seguro marítimo para os comerciantes portugueses que viviam no
Condado da Flandres, que pagavam determinadas quantias em função da tonelagem, que revertiam em seu benefício se necessário.
Vinho e
frutos secos do
Algarve eram vendidos na Flandres e na
Inglaterra,
sal das regiões de
Lisboa,
Setúbal e
Aveiroeram exportações rentáveis para o
Norte da Europa, além de
couro e Kermes, um corante escarlate. Os portugueses importavam
armaduras e
armas, roupas finas e diversos produtos fabricados da Flandres e da
Itália[2].
Em
1317 D. Dinis fez um acordo com o navegador e mercador genovês
Manuel Pessanha(Emanuele Pessagno), nomeando-o primeiro
almirante da frota real com privilégios comerciais com seu país, em troca de vinte navios e suas tripulações, com o objetivo de defender as costas do país contra ataques de
pirataria (
muçulmana), lançando as bases da
Marinha Portuguesa e para o estabelecimento de uma comunidade mercante genovesa em Portugal
[3]. Obrigados a reduzir suas atividades no
Mar Negro, os mercadores da
República de Génova tinham-se voltado para o comércio
norte Africanode
trigo,
azeite (também fonte de energia) e
ouro - navegando até aos portos de
Bruges(Flandres) e
Inglaterra. Genoveses e florentinos estabeleceram-se então em Portugal, que lucrou com a iniciativa e experiência financeira destes rivais da
República de Veneza.
Entre
1325 e
1357 D.
Afonso IV de Portugal concedeu o financiamento público para levantar uma frota comercial e ordenou as primeiras explorações marítimas, com apoio de genoveses, sob o comando de Manuel Pessanha. Em
1341 as
ilhas Canárias, já conhecidas dos genoveses, foram oficialmente descobertas sob o patrocínio do rei Português
[5]. A sua exploração foi concedida em
1338 a mercadores estrangeiros, mas em
1344 Castela disputou-as, concedendo-as ao castelhano D.
Luís de la Cerda. No ano seguinte, Afonso IV enviou uma carta ao
Papa Clemente VI referindo-se às viagens dos portugueses às Canárias e protestando contra essa concessão. Nas reivindicações de posse, sucessivamente renovadas pelos dois povos, prevaleceu, no final, a vontade do
rei de Castela sobre estas ilhas.
Há unanimidade dos historiadores em considerar a
conquista de Ceuta como o início da expansão portuguesa, tipicamente referida como os
Descobrimentos. Foi uma praça conquistada com relativa facilidade, por uma expedição organizada por
D. João I, em
1415. A aventura ultramarina ganharia grande impulso através da acção do
Infante D. Henrique, reconhecido internacionalmente como o seu grande impulsionador, e continuada pelo seu sobrinho e protegido
Infante D. Fernando, duque de Beja e Viseu.
Até ao
século XIX, considerava-se como única a que a motivação
reino português para as conquistas africanas em
Marrocos tinha sido de ordem religiosa e
espírito de cruzada. O cronista
Gomes Eanes de Zurara refere-se nesse sentido que os Infantes tinham as suas razões, os letrados as suas, mas a decisão cabia ao rei
D. João I. Diz assim: “
Eu não o teria por vitória, nem o faria em boa verdade, ainda que soubesse cobrar todo o mundo por meu, se não sentisse que em alguma maneira era serviço de Deus”
[6]. O motivo religioso, sobrepondo-se a todos os outros, foi como tal apontado, entre outros, por
João de Barros,
Luís de Camões,
Gil Vicente.
Sem falarmos no papel dos reis portugueses na
Reconquista da
Península Ibérica e independentemente de nos apercebermos todo um pensamento de acordo com uma época que mantinha os valores da
Cavalaria medieval, que já vinha detrás, a provar está o consentimento e bênção do papado dado ao pedido D.
Dinis para combater os corsários mouros e ao de D.
Duarte, em
1436, nas intervenções de ocupação de território sarraceno, infiel e ímpio, junto do
Norte de África. Daí as sucessivas
bulas da Cruzada que se lhe seguiram e foram dirigidas ao
Reino de Portugal e à portuguesa
templária Ordem de Cristo[7]. Isto para consentir e agradecer toda a intervenção nesse sentido da conquista de os territórios "nullius diocesis" (sem diocese
apostólica) para aumentar o número de cristãos e o seu prestígio. Entre outras, temos a
bula Apostolice Sedis emitida em 23 de Maio de
1320 pelo
Papa João XXII; a
Etsis suscepti, em
1442; a
Dum diversas, em 18 de Junho de
1452; logo depois a
Romanus Pontifex em 8 de Janeiro de
1455 1454, enviadas pelo
Papa Nicolau V; e mais tarde surge a bula
Inter cætera, em 4 de Maio de
1493, pelo
Papa Calisto III.
Mas havia também outras razões para a conquista de
Ceuta, mais de um século depois resumidas pelo carmelita
Frei Amador Arrais, ligando-as à acção de
D. Afonso IV na
Batalha do Salado - “
El-Rei Dom João o primeiro, começou a conquista de África, tomãdo Septa, Baluarte da Cristandade, & Chave de toda Hespanha, Porta do comércio do poente para levante."
No século XX, houve historiadores que julgaram o passado com as preocupações do presente, considerando a primazia do interesse económico: procurar acesso directo a fontes de fornecimento de
trigo, de
ouro ou de
escravos no norte de África. Mas houve também historiadores, como
David Lopes, rebatendo essa tese: "
Ainda que Ceuta tivesse importância como centro de comércio, a sua conquista por cristãos desviaria dela o tráfico muçulmano"
[8],
As conquistas de Marrocos, porém, sob o impulso do
Infante D. Henrique, vieram a dar lugar aos descobrimentos. Segundo
Gomes Eanes de Zurara, na
Crónica do descobrimento e conquista da Guiné (Capítulo VII), as expedições organizadas pelo Infante tinham cinco motivações:
- (1ª) conhecer a terra além das Canárias e do cabo Bojador;
- (2ª) trazer ao reino mercadorias;
- (3ª) saber até onde chegava o poder dos muçulmanos;
- (4ª) encontrar aliados que o pudessem ajudar numa guerra que durava há trinta e um anos;
- (5ª) e trazer para a fé de Cristo todas as almas que se quisessem salvar.
Se, com o Infante, ao avançar pela costa de África na direcção do sul, parece haver sobretudo a intenção de envolver pela retaguarda o grande poderio islâmico, adversário da Cristandade (uma estratégia militar e diplomática tributária do espírito das
Cruzadas), a crescente intervenção dos "cavaleiros-mercadores" (Magalhães Godinho) nos reinados de
D. Afonso V e
D. João II, acabará por levar a expansão portuguesa até ao
Oriente em busca das especiarias. Em
1453, com a tomada de
Constantinopla pelos
Otomanos, as trocas comerciais no
Mediterrâneo de
Veneza e de
Génova ficaram muito reduzidas. O proveito de uma rota comercial alternativa mostrava-se recompensador. Portugal iria ligar directamente as regiões produtoras das
especiarias aos seus mercados na
Europa. Quando se firma o projecto da descoberta do
caminho marítimo para a Índia, a expansão portuguesa sem esquecer a vertente religiosa está também já dominada pelo interesse comercial.
A conquista de
Ceuta em
1415 é geralmente referida como o início dos "descobrimentos Portugueses". Nela participaram os infantes D. Duarte, D. Pedro e o
Infante D. Henrique que a partir de então dirige as primeiras expedições no
Atlântico, como investimento do
Reino de Portugal através da
templária Ordem de Cristo e do seu próprio património pessoal. As primeiras navegações estão associadas à sua figura a partir da base que, saindo do porto de
Castro Marimque tinha sido a primeira sede da referida
ordem militar e da qual ele era o
grão-mestre, estabeleceu em
Lagos e na
Sagres, onde foi acompanhado por um grupo de cartógrafos, astrónomos e pilotos. Além dos interesses materiais, o príncipe ambicionava ao estabelecer uma aliança com o
Preste João, um príncipe cristão que governava as terras da
Etiópia. Graças a essa aliança, pensava-se recomeçar as
Cruzadas, mas numa escala planetária, alcançar o Paraíso (o
Éden) do qual esse rei africano era o guardião, e expulsar os
muçulmanos da
Terra Santa para alcançar a
Idade do Ouro e
Jerusalém Celeste. Após a conquista os infantes foram armados cavaleiros pelo rei.
Por trás deste movimento, como dirigente governativo, estava o seu irmão
Infante D. Pedro, 1.° duque de Coimbra assim como um grupo vasto de religiosos cristão e judeus, mercadores e armadores profissionais, interessados e participantes nas navegações, responsáveis por uma série importante de iniciativas a que o
navegador aderiu. Entre eles o seu aventureiro sobrinho navegador,
Infante D. Fernando, duque de Beja, pai de D.
Manuel I, que deu toda a continuidade a esses intentos.
As rotas henriquinas (c.1430-1460): ventos (verde), correntes (azul) e rotas (vermelho). Quanto mais para Sul, maior a
volta necessária para regressar
Os arquipélagos da Madeira e das
Canárias despertaram, desde cedo, o interesse tanto dos Portugueses como dos Castelhanos; por serem vizinhos da costa africana, representavam fortes potencialidades económicas e estratégicas. A disputa destes territórios deu origem ao primeiro conflito ibérico motivado por razões expansionistas que só terminou com a assinatura do
Tratado das Alcáçovas-Toledo em
1479.
Mapa da costa oeste africana representando a
feitoria da "A mina", século XVI
Já na regência de
D. Afonso V, em
1441 Antão Gonçalves foi incumbido de descobrir o
Rio do Ouro. Fez os primeiros cativos africanos: um homem de cor parda a que os portugueses chamavam de azenegues e uma moura negra. No mesmo ano,
Nuno Tristão chegou ao
Cabo Branco. Juntamente com
Antão Gonçalves fizeram incursões ao referido
Rio do Ouro, de onde foi obtido
ouro em pó e alguns escravos, a primeira grande captura. A partir de então ficou generalizada a convicção de que essa área da costa africana poderia, independentemente de novos avanços, sustentar uma actividade comercial capaz de responder às necessidades de
numerário que, em Portugal, como em toda a Europa, se fazia sentir. Em
1456,
Diogo Gomesdescobre
Cabo Verde e segue-se o povoamento das ilhas ainda no
século XV[11] .
Em
1455 é emitida a
bula Romanus Pontifex do
Papa Nicolau V confirmando as explorações portuguesas e declarando que todas as terras e mares descobertos a sul do Bojador e do cabo são pertença dos reis de Portugal, que poderá cobrar impostos sobre a navegação e comércio. No ano seguinte chegava a
Bristol o primeiro carregamento de açúcar provindo da ilha da Madeira.
Em
1469,
Afonso V, Rei de Portugal dadas as poucas receitas da exploração, concedeu o monopólio do comércio no
Golfo da Guiné ao mercador de Lisboa
Fernão Gomes, contra uma renda anual de 200.000 réis
[12]. Segundo
João de Barros, ficava aquele
«honrado cidadão de Lisboa» com a obrigação de continuar as explorações, pois o exclusivo era garantido com
«condição que em cada um destes cinco anos fosse obrigado a descobrir pela costa em diante cem léguas, de maneira que ao cabo do seu arrendamento desse quinhentas léguas descobertas»[13]». Este avanço, do qual não há grandes pormenores, teria começado a partir da
Serra Leoa, onde haviam já chegado
Pedro de Sintra e
Soeiro da Costa.
Com a colaboração de navegadores como
João de Santarém,
Pedro Escobar,
Lopo Gonçalves,
Fernão do Pó e
Pedro de Sintra, Fernão Gomes fê-lo mesmo para além do contratado. Com o seu patrocínio, os portugueses chegaram ao Cabo de Santa Catarina, já no Hemisfério Sul.
João de Santarém e
Pêro Escobar exploraram a costa setentrional do
Golfo da Guiné, atingindo a «minha de ouro» de
Sama (actualmente
Sama Bay), a costa da
Mina, a de
Benin, a do
Calabar e a do
Gabão e as ilhas de
São Tomé e Príncipe e de
Ano Bom[14]. Quando as expedições chegaram a
Elmina na
Costa do Ouro, em
1471[15], encontraram um florescente comércio de ouro.
Em
1474, D. Afonso V entregou ao seu filho, o
príncipe D. João, futuro D. João II, com apenas dezanove anos, a organização das explorações por terras africanas. Mais tarde, em 1481, o rei confirmou a missão do príncipe em novo diploma: «
…sabemos certo que ele dá, per si, e per seus oficiais, mui boa ordem à navegação destes trautos e os governa mui bem.».
Assim que lhe foi entregue a política de expansão ultramarina, D. João organizou a primeira viagem de
Diogo Cão. Este fez o reconhecimento de toda a costa até à região do
Padrão de Santo Agostinho. Em
1485, Diogo Cão levou a cabo uma segunda viagem até à
Serra Parda.
Há notícias de carregamentos de açúcar da Madeira serem entregues em
Rouen (
1473) e
Dieppe (
1479).
Em
1479, buscando proteger o investimento resultante das descobertas, Portugal negociou com
Castela o
Tratado das Alcáçovas-Toledo, estabelecendo a paz e concertando a política externa Atlântica dos dois reinos rivais: Portugal obtinha o reconhecimento do seu domínio sobre a ilha da Madeira, o Arquipélago dos Açores, o de Cabo Verde e a costa da Guiné, enquanto que Castela recebia as ilhas Canárias, renunciando a navegar ao Sul do cabo Bojador, ou seja, do Paralelo 27 no qual se encontravam. O tratado dividia as terras descobertas e a descobrir por um
paralelo na altura das
Canárias, dividindo o mundo em dois
hemisférios: a norte, para a Coroa de Castela; e a sul, para a Coroa de Portugal. Preservavam-se, desse modo, os interesses de ambas as Coroas, definindo-se, a partir de então, os dois ciclos da expansão: o chamado ciclo oriental, pelo qual a Coroa portuguesa garantia o seu progresso para o sul e o Oriente, contornando a costa africana (o chamado "périplo africano"); e o que se denominou posteriormente de ciclo ocidental, pelo qual Castela se aventurou no oceano Atlântico, para oeste até ao Novo Mundo.
O projecto para o
caminho marítimo para a Índia foi delineado por D. João II como medida de redução dos custos nas trocas comerciais com a Ásia e tentativa de monopolizar o comércio das especiarias. A juntar à cada vez mais sólida presença marítima portuguesa, D. João almejava o domínio das rotas comerciais e expansão do
reino de Portugal que já se transformava em
ImpérioPorém, o empreendimento não seria realizado durante o seu reinado. Seria o seu sucessor, D. Manuel I que iria designar
Vasco da Gama para esta expedição, embora mantendo o plano original.
Porém, este empreendimento não era bem visto pelas altas classes. Nas
Cortes de Montemor-o-Novo de
1495 era bem patente a opinião contrária quanto à viagem que D. João II tão esforçadamente havia preparado. Contentavam-se com o
comércio da Guiné e do Norte de África e temia-se pela manutenção dos eventuais territórios
além-mar, pelo custo implicado na expedição e manutenção das rotas marítimas que daí adviessem. Esta posição é personificada na personagem do
Velho do Restelo que aparece, n'
Os Lusíadasde
Luís Vaz de Camões, a opor-se ao embarque da armada.
Tratado de Tordesilhas e o domínio do Atlântico Sul[editar | editar código-fonte]
D. João II consegue uma renegociação, mas só entre os dois Estados, sem a intervenção do Papa, propondo estabelecer um paralelo das Ilhas Canárias. Os castelhanos recusaram a proposta inicial, mas prestaram-se a discutir o caso. Reuniram-se então os
diplomatas em
Tordesillas.
Como resultado das negociações, foi assinado em 7 de Junho de 1494 o
Tratado de Tordesilhas entre
Portugal e
Castela. Este tratado estabelecia a divisão do Mundo em duas áreas de exploração: a portuguesa e a castelhana, cabendo a Portugal as terras "descobertas e por descobrir" situadas antes da
linha imaginária que demarcava 370
léguas (1.770
km) a oeste das ilhas de
Cabo Verde, e à Espanha as terras que ficassem além dessa linha.
[18]
Em princípio, o tratado resolvia os conflitos que seguiram à descoberta do Novo Mundo por Cristóvão Colombo e garantia a Portugal o domínio das águas do
Atlântico Sul, essencial para a manobra náutica então conhecida como
volta do mar, empregada para evitar as correntes marítimas que empurravam para norte as embarcações que navegassem junto à costa sudoeste africana, permitindo a ultrapassagem do
cabo da Boa Esperança.
Viagem de Vasco da Gama (a preto) e as viagens anteriores de
Pêro da Covilhã(laranja) e
Afonso de Paiva (azul), com o caminho percorrido antes de se separarem a verde.
Nos anos que se seguiram à assinatura do Tratado de Tordesilhas (1494) Portugal prosseguiu no seu projecto de alcançar a Índia, o que foi finalmente alcançado pela frota de
Vasco da Gama, na sua primeira viagem de
1497-
1499.
Mantendo o plano de D. João II, o rei
D. Manuel I mandou aparelhar as naus e escolheu Vasco da Gama, cavaleiro da sua casa, para capitão desta armada. Segundo o plano original, D. João II teria designado seu pai,
Estêvão da Gama, para chefiar a armada; mas a esta altura já ambos tinham falecido.
A 8 de Junho de 1497 iniciou-se a expedição semi-planetária que terminaria dois anos depois com a entrada da nau
Bérrio pelo
rio Tejo adentro, trazendo a boa-nova. Neste dia parte do
Restelo a armada chefiada por
Vasco da Gama. Tratava-se de uma expedição comportando três embarcações. É a partir da viagem de Vasco da Gama que se introduzem as naus. A
20 de Maio de
1498 Vasco da Gama chega a
Calecute. Estabelecia-se assim o
caminho marítimo para a Índia.
Rota seguida por Pedro Álvares Cabral em 1500 (em vermelho) e a rota de retorno (em azul).
Em 1499, após o retorno de Vasco da Gama,
Pedro Álvares Cabral foi nomeado capitão-mor da armada que se dirigiria à
Índia. A sua missão era a de estabelecer relações diplomáticas e comerciais com o
Samorim, promovendo a imagem de Portugal e instalando um entreposto comercial ou
feitoria, retornando com o máximo de mercadorias.
Mas Pedro Álvares Cabral, por alturas de
Cabo Verde, desvia-se da rota. Tendo-se afastado da costa
africana, a
22 de abril de 1500, após quarenta e três dias de viagem, avistou o
Monte Pascoal no litoral sul da
Bahia. No dia seguinte, houve o contato inicial com os
indígenas. A 24 de abril, seguiu ao longo do litoral para o norte em busca de abrigo, fundeando na atual baía de
Santa Cruz Cabrália, nos arredores de
Porto Seguro, onde permaneceu até
2 de maio.
Cabral tomou posse, em nome da
Coroa portuguesa, da nova terra, a qual denominou de "
Ilha de Vera Cruz" (mais tarde
Terra de Santa Cruz e finalmente
Brasil - face à abundante existência de madeira
pau-brasil), e enviou uma das embarcações menores com a notícia, inclusive a
Carta de Pero Vaz de Caminha, de volta ao reino. Retomou então a rota de Vasco da Gama rumo às Índias.
Ao cruzar o
cabo da Boa Esperança, perderam-se quatro dos navios, entre os quais o de
Bartolomeu Dias, navegador que o descobrira em 1488.
Diogo Dias contava entre os navegadores experientes da frota de Pedro Álvares Cabral na segunda armada à Índia. É citado na Carta do Achamento do Brasil de Caminha como «homem gracioso e de prazer». A
10 de Agosto de
1500, após ter dobrado o cabo da Boa Esperança, separou-se do resto da expedição devido aos ventos, e descobriu uma ilha a que deu o nome de São Lourenço, mais tarde designada
Madagáscar. Sua embarcação se perdeu durante a tormenta, e acabou sendo o primeiro capitão português a viajar pelo mar Vermelho. Incapaz de prosseguir rumo à Índia, retornou a Portugal, onde chegou com apenas sete homens.
A armada de Pedro Álvares Cabral chega a
Calecute em
1501, onde ocorrem confrontos com o Samorim, com o qual acaba por romper relações. Assim, dirige-se para Sul e estabelece uma
feitoriaem
Cochim.
A expedição de
Pedro Álvares Cabral viria a abrir uma polémica
historiográfica acerca do "acaso" ou da "intencionalidade" da descoberta. Note-se que uma das testemunhas que assinaram o
Tratado de Tordesilhas por Portugal foi
Duarte Pacheco Pereira, um dos nomes ligados a um suposto descobrimento do Brasil pré-Cabralino. Embora não existam evidências concretas a sustentar qualquer das hipóteses, certo é que por esta data já se tinha, na
Europa, o conhecimento da existência de terras a leste da linha do
Tratado de Tordesilhas.
Globo de João de Lisboa - excerto do Livro de Marinharia (assinado 1514)
- Consignemos porém de passagem que com o Magalhães ia o piloto portuguez João de Lisboa, que já no Brazil havia estado antes, e que escreveu um livro sobre marinharia, cujo aparecimento seria talvez de trascendente importancia para a historia geographica.
O Livro de Marinharia de
João de Lisboa (c.1470-1525) tem 1514 como única data inscrita pelo autor
[20], e apresenta um notável globo terrestre, em representação polar, cuja execução coloca em causa todo o conhecimento marítimo à época da sua morte. Nesse mapa, para além de contornos muito precisos de toda a América, nomeadamente do Estreito de Magalhães, incluem-se menções explícitas ao Japão e à Nova Guiné. Acresce um mapa da América Central e Peru que torna evidente a presença de castelos portugueses na área de influência inca, territórios que depois seriam ocupados pelos espanhóis, de acordo com a divisão de Tordesilhas.
[21]
Em 1510
Afonso de Albuquerque conquistou
Goa, na
Índia e pouco depois, em
1511,
Malaca, na
Malásia. Simultaneamente investiu esforços diplomáticos com os mercadores do
sudeste asiático, como os chineses, na esperança de que estes fizessem eco das boas relações com os portugueses. Conhecendo as ambições siamesas sobre Malaca, imediatamente enviou
Duarte Fernandes em missão diplomática ao
Reino do Sião (actual
Tailândia), onde foi o primeiro europeu a chegar viajando num junco chinês que retornava à China, estabelecendo relações amigáveis entre os reinos de Portugal e do Sião
[22].
Em
1513, partindo de
Malaca (actual Malásia)
Jorge Álvares atinge o Sul da
China. A esta visita seguiu-se o estabelecimento de algumas
feitorias portuguesas na província de
Cantão, onde mais tarde se viria a estabelecer o entreposto de
Macau. De acordo com os registos disponíveis, foi o primeiro
europeu a alcançar e visitar o território que actualmente é
Hong Kong.
As novas rotas comerciais estabelecidas pelos os descobrimentos, ligando Lisboa a
Nagasaki (1580-1640) e a rota rival espanhola, o
galeão de Manila, iniciada em 1565 (branco)
Em
1543,
Francisco Zeimoto,
António Mota e
António Peixoto são os primeiros portugueses a atingir o
Japão. Terão aportado ao Japão a 23 de Setembro, tendo sido este primeiro contacto de europeus com o Japão, relatado pelo cronista
Fernão Mendes Pinto. Segundo este, a ilha de Tanegashima teria sido o primeiro lugar visitado pelos portugueses, que espantaram os autóctones não só com o relato de terras e costumes que tinham visto como com a novidade das armas de fogo, visto que o conhecimento da pirobalística ainda não tinha chegado ao Japão. A chegada dos portugueses deu origem ao
período de comércio Nanban (os portugueses eram designados por Nanban-jin, denominação que significa «bárbaros do sul»), durante o qual uma intensa interação com os poderes europeus ocorreu tanto a nível econômico como religioso.
Descobrimentos, viagens e explorações portuguesas: datas e primeiros locais de chegada de 1415-1543, principais rotas no Oceano Índico (azul), territórios portugueses no reinado de
D. João III (verde)
Os descobrimentos Portugueses marcaram a primeira presença dos europeus, chegando pelos
Oceanos, entre os primórdios do Século XV e a primeira metade do Século XVI, em muitos dos actuais países. Os portugueses foram os pioneiros nos países:
- América do Norte - Canadá (Terra Nova e Labrador)
- América do Sul - Brasil
- Oceania - Austrália, Papua-Nova Guiné, Vanuatu
- África (litoral atlântico e ilhas) - Marrocos (e Saara Ocidental), Mauritânia, Senegal, Gâmbia, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné, Serra Leoa, Libéria, Costa do Marfim, Gana, Benim, Nigéria, Camarões, Guiné Equatorial, Gabão, São Tomé e Príncipe, Angola, Namíbia, África do Sul.
- África (Litoral índico e ilhas) - Moçambique, Madagascar, Tanzânia, Maurícia, Comores, Quênia, Somália
- Ásia - Iêmem (Kamaran, Socotra), Omã, Bahrein, Irão (Ormuz), Índia (Goa, Damão e Diu, Dadrá e Nagar-Aveli, Calicute, etc.), Sri-Lanka (antigo Ceilão), Maldivas, Tailândia (Sião), Malásia, Indonésia, Timor-Leste, Ilha Formosa (Taiwan), China, Japão.
- Ilhas diversas pertencentes a países europeus - Canárias (ESP); Açores e Madeira (POR); Ascensão, Santa Helena (território) e Tristão da Cunha (RU)
- Navios
Até ao século XV os portugueses praticavam a navegação de
cabotagem utilizando a
barca e o
barinel, embarcações pequenas e frágeis de um mastro com
vela quadrangular fixa, usadas nas primeiras viagens às ilhas Canárias, Madeira e Açores, e no litoral africano até
Arguim, na actual
Mauritânia. Mas que não conseguiam dar resposta às dificuldades no avanço para Sul, como os
baixios, os
ventos fortes e as
correntes marítimas desfavoráveis, sendo substituídas pelas caravelas.
A
caravela foi o navio que marcou os descobrimentos portugueses, resultando do aperfeicoamento de embarcações já usadas na faina da pesca. Era e ágil e de navegação mais fácil, com uma tonelagem entre 50 a 160 toneladas e 1 a 3 mastros com velas latinas triangulares que permitiam
bolinar. A pouca capacidade de carga e tripulação eram os seus principais inconvenientes, mas que não obstaram ao seu sucesso. Entre as caravelas famosas estão a
Bérrio e a
Caravela Anunciação.
Com a passagem das navegações costeiras às oceânicas também as
naus se desenvolveram de forma assinalável em Portugal. "Nau" era o sinónimo arcaico de
navio de grande porte, destinado essencialmente a transportar mercadorias. Devido à
pirataria que assolava a costa, passaram a ser utilizadas na marinha de guerra. Foram introduzidas as bocas-de-fogo, que levaram à classificação das naus segundo o poder de
artilharia. À medida que se foi desenvolvendo o comércio marítimo, foram sendo modificadas as suas características. A capacidade aumentou das duzentas
toneladasno
século XV até às quinhentas. As naus eram imponentes e tinham, em geral, duas cobertas, castelos de
proa e de
popa, dois a quatro
mastros e
velas sobrepostas. Na
carreira da Índia no século XVI foram também usadas as
carracas, naus de
velas redondas e borda alta com três
mastros que atingiam 2000 toneladas.
- Navegação astronómica
No
século XIII era já conhecida a
navegação astronómicaatravés da posição solar. Para a navegação astronómica os portugueses, como outros europeus, recorriam a instrumentos de navegação árabes, como o
astrolábio e o
quadrante, que aligeiraram e simplificaram. Inventaram outros, como a
balestilha, para obter no mar a altura do
sol e outros
astros, como o
Cruzeiro do Sul descoberto após a chegada ao hemisfério Sul por João de Santarém e Pêro Escobar em 1471, que iniciaram a navegação guiada por esta constelação. Mas os resultados variavam conforme longo do ano, o que obrigava a correcções. Para isso os portugueses utilizaram tabelas de inclinação do Sol, as
Tábuas astronómicas, preciosos instrumentos de navegação em alto-mar, que conheceram uma notável difusão no século XV. Quando se introduziram na
náutica as observações
astronómicas que a revolucionaram, em particular a observação de altura
meridiana do Sol para com o conhecimento da
declinação solar, se poder calcular a
latitude do lugar, recorreu-se às tábuas
Almanach Perpetuum, do astrónomo
Abraão Zacuto, publicadas em
Leiria em
1496, que foram utilizadas, juntamente com o seu astrolábio melhorado, por Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.
- Técnicas de navegação
Mapa mostrando a localização das principais correntes e ventos oceânicos giratórios
Além da exploração do litoral foram feitas também viagens para o mar largo em busca de informações
meteorológicas e
oceanográficas (foi nestes trajectos que se descobriram os arquipélagos da Madeira e dos Açores, o
Mar dos Sargaços). O conhecimento do regime de ventos e correntes do Atlântico e a determinação da latitude por observações astronómicas a bordo, permitiu a descoberta da melhor rota oceânica de regresso de África: cruzando o Atlântico Central até à latitude dos Açores, aproveitando os ventos e correntes permanentes favoráveis, que giram no sentido dos ponteiros do relógio no hemisfério norte devido à
circulação atmosférica e ao efeito de
Coriolis, facilitando o rumo directo para Lisboa e possibilitando assim que os portugueses se aventurassem cada vez para mais longe da costa, manobra que ficou conhecida como "volta da Mina", ou "
Volta do mar".
- Cartografia
Na terceira fase da antiga cartografia náutica portuguesa, caracterizada pelo abandono da influência de
Ptolemeu na representação do Oriente e por uma melhor precisão na representação das terras e continentes, destaca-se
Fernão Vaz Dourado (Goa ~1520 — ~ 1580), cuja obra apresenta extraordinária qualidade e beleza, conferindo-lhe a reputação de um dos melhores cartógrafos de seu tempo. Muitas de suas cartas são de grande escala.