Delfim Santos |
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Nome completo | Delfim Pinto dos Santos |
Conhecido(a) por | Estudou em Viena e em Cambridge o neopositivismo, sobre o qual escreveu o primeiro estudo crítico em língua portuguesa; introduziu em Portugal a ontofenomenologia de Nicolai Hartmann; foi pioneiro em Portugal nos debates das filosofias da existência; em educação promoveu a introdução dos meios audiovisuais no ensino. |
Nascimento | 6 de novembro de 1907 Porto, Portugal |
Morte | 25 de setembro de 1966 (58 anos) Cascais, Portugal |
Nacionalidade | Português. |
Cônjuge | Christine Thérèse Brunner (Santos) em 15.04.35 · Maria Manuela de Hanemann Saavedra de Sousa Marques (Pinto dos Santos) em 05.11.57. |
Filho(s) | 4 |
Ocupação | Professor, escritor, conferencista. |
Influências |
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Influenciados |
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Cargo | Foi o primeiro Professor Catedrático de Pedagogia em Portugal e o primeiro Diretor do Centro de Investigação Pedagógica da Fundação Gulbenkian. Presidente do Conselho Pedagógico do Instituto de Meios Audiovisuais de Ensino (IMAVE). Director do Instituto Pedagógico de Adolfo Coelho da FLUL. |
Género literário | Ensaio, conferência, crítica, artigo de opinião. |
Movimentoliterário | Renascença Portuguesa · A Águia · Renovação Democrática · Presença. |
Magnum opus | Fundamentação Existencial da Pedagogia, Lisboa, 1946. |
Escola/tradição | Ontofenomenologia hartmanniana · Abordagens humanista, existencial e fenomenológica da problemática humana. |
Principais interesses | Filosofia alemã; pedagogia; formação profissional e orientação vocacional; caracterologia; história da filosofia em Portugal e no Brasil. |
Ideias notáveis | Análise categorial da realidade. |
Página oficial |
http://www.delfimsantos.org/ |
Assinatura |
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Delfim Pinto dos Santos (
Porto,
1907 —
Cascais,
1966) foi um
filósofo,
pedagogo,
escritor e
professor universitário
português, autor de uma extensa obra abrangendo os géneros do tratado filosófico, do
ensaio, do
memorialismo, da
oratória, da
crítica (literária e alguma cinematográfica) e da
crónica, difundida em numerosas publicações da imprensa periódica, científica, cultural e da especialidade.
Nasceu no
Porto, na freguesia da Sé. Começou a trabalhar aos onze anos de idade, ajudando o pai, Arnaldo Pinto, na sua oficina de ourivesaria. Pouco após a morte deste, ocorrida em
1922, quando o filho tinha apenas quinze anos, compreendeu que a sua vocação seriam os estudos e inscreveu-se no ensino liceal noturno, concluindo em
1927 o Curso Complementar de Ciências e o de Letras. Por essa altura foi um participante empenhado nas atividades culturais e desportivas da
Associação Cristã da Mocidade, de caráter
protestante.
Em 1937 regressou a Portugal, para logo partir de novo para a Alemanha, enviado pelo IAC, como leitor de língua portuguesa na
Universidade de Berlim. Aí frequentou de novo os seminários de
Nicolai Hartmann e familiarizou-se com o pensamento de
Martin Heidegger, de cuja obra se tornou atento leitor e comentador.
Recebeu em 1940 o grau de doutor pela
Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra com uma dissertação versando sobre
Conhecimento e realidade, voltando novamente para Berlim até 1942, data em que regressou definitivamente a Portugal.
Após uma breve passagem pelo
Liceu Camões, onde foi professor dos futuros escritores
José Cardoso Pires e
Luiz Pacheco, foi convidado a integrar o quadro da
Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa onde ingressou no início de 1943 na Seção de Ciências Pedagógicas com a categoria de primeiro assistente e aí iniciou uma brilhante carreira de professor; em 1947 concorre a professor extraordinário da mesma Seção com a dissertação
Fundamentação existencial da pedagogia e em 1950 torna-se o primeiro professor catedrático de Pedagogia em Portugal. Regeu as cadeiras de História da Educação, Organização e Administração Escolar; Moral; e História da Filosofia Antiga (1943-47), bem como, desde 1948, o curso de Pedagogia e Didática. Também foi professor de Psicologia e Sociologia no
Instituto de Altos Estudos Militares em diversos anos letivos entre 1955 e 1962.
Participou em numerosos congressos internacionais de filosofia na Europa e em 1949 integrou a delegação oficial portuguesa ao Congresso Nacional de Filosofia em Mendoza, Argentina; em 1954 tomou parte, com outros intelectuais portugueses, na representação oficial portuguesa às comemorações do IV Centenário da Fundação da Cidade de São Paulo, que então decorreram na capital paulista, sendo convidado para orador na sessão plenária inaugural do Congresso Internacional de Filosofia. Idêntica distinção lhe foi conferida no Primeiro Congresso Nacional de Filosofia em Portugal, realizado em Braga em 1955.
Tendo-se destacado pela sua abordagem filosófica aos temas pedagógicos, foi em 1962 convidado pela
Fundação Calouste Gulbenkian a apresentar uma proposta para a criação do Centro de Investigação Pedagógica dessa Fundação, tornando-se seu diretor desde 1963 até à sua morte ocorrida em 1966.
Foi um dos pioneiros na adoção dos meios audiovisuais na Educação e nessa qualidade foi convidado a presidir ao Conselho Pedagógico do Instituto de Meios Audiovisuais de Ensino (IMAVE), organismo criado em dezembro de 1964 pelo Ministério da Educação Nacional para dar início no mês seguinte à Telescola, vigente até 2003. Este importante recurso de educação à distância para as populações rurais era direcionado para o então chamado 'Ciclo Preparatório'.
Entre as muitas revistas nacionais e estrangeiras nas quais viria a colaborar destacam-se as portuenses
Porto Académico (1929),
Princípio [3] (1930)
O Tripeiro (1931),
Prisma [4] (1936-1941), a revista
A Águia,
[5] da qual foi o último diretor (1932),
Revista do Porto (1941),
Prometeu (1947),
Ourivesaria Portuguesa (1949) e os periódicos portuenses
Diário de Sport (1924),
Diário do Norte(1949 e 1951) e
O Comércio do Porto (1957). Mas durante quinze anos manteve a sua principal tribuna pública no lisboeta
Diário Popular (de 1943 a 1958), contribuindo com a sua reflexão para os grandes debates públicos.
Professor carismático, de genuina vocação maiêutica, criou vasto renome com as suas aulas, atraindo ouvintes não inscritos como alunos regulares. O seu empenho como educador abrangia a extensão universitária, levando-o a apoiar, promover ou participar em inúmeras iniciativas como debates, ciclos de conferências, palestras, com especial interesse pelas de proveniência estudantil, como as de teatro universitário, apadrinhando o Grupo de Teatro Moderno, de inovador repertório contemporâneo português. Conviveu também intensamente com os meios literários e artísticos da capital, com destaque para o círculo criado em torno da poetisa
Natália Correia, entre outros grupos de diversas sensibilidades.
Entreteve uma rica correspondência com personalidades europeias e sul-americanas. Entre os seus correspondentes estrangeiros com quem manteve contacto pessoal destacam-se, entre muitos outros, os nomes de
Sigmund Freud,
Mircea Eliade e especialmente
Hermann Hesse (Prêmio Nobel da Literatura de 1946), em cuja obra se reflete a problemática educativa, sendo por sua iniciativa que em 1952 se publicou em Lisboa a primeira tradução portuguesa de Hesse, a novela
Ele e o Outro (
Klein und Wagner), com tradução de
Manuela de Sousa Marques, a sua futura esposa.
[6]
Em sua homenagem o seu nome foi atribuído a uma escola em Lisboa e a diversas ruas em Portugal, nomeadamente em Lisboa (Telheiras), em Oeiras (Carnaxide), em Évora e em Matosinhos (Custóias). Em 2016, por ocasião do Cinquentenário da sua morte, o
Município de Cascais atribuiu o seu nome à nova
Rotunda Prof. Delfim Santos que remata a
A5.
Desde a sua morte esteve sepultado no Porto, no Cemitério do Prado do Repouso. Em 31 de maio de 2017 a
Câmara Municipal de Lisboa acolheu Delfim Santos no Jazigo dos Escritores Portugueses, também conhecido por «Panteão dos Escritores», no
Cemitério dos Prazeres.
A maior parte da sua obra filosófica, pedagógica, crítica e epistolar foi publicada em 4 volumes pela
Fundação Calouste Gulbenkian, tendo conhecido já 3 edições sucessivas.
Entre os seus trabalhos mais interpelantes destacam-se os seguintes:
- Situação valorativa do positivismo (1938).
- Da filosofia (1940).
- Conhecimento e realidade (1940).
- Fundamentação existencial da pedagogia (1946).
- O pensamento filosófico em Portugal (1946).
- Temática da formação humana (1961).
- Significação filosófica da nova teoria da ciência (1961).
Sensível ao valor pedagógico do cinema e às suas potencialidades didáticas, dedicou comentários e palestras a vários filmes, entre eles
O Filho Pródigo (Luis Trenker, Alemanha 1934),
O Terceiro Homem (Carol Reed, USA 1949) e
Umberto D. (Vittorio de Sica, Itália 1952).
Alguns artigos e cartas de Delfim Santos encontram-se online:
A vertente filosófica da sua obra recebeu especial influxo da filosofia alemã do século XX. Em momentos iniciais a sua pesquisa centrou-se na inconveniência da aplicação dos métodos matemáticos ou das ciências naturais à filosofia e ao estudo das humanidades, ocasião em que criticou as teses dos neopositivistas de Viena. Interessou-se depois pela ontofenomenologia de
Nicolai Hartmann, que escolheu como orientador de dissertação de doutoramento em Berlim, e de quem recolhe a caraterização do real não como unidade, mas como multiplicidade, ideia que desenvolverá com reflexão própria. Também na esteira de Hartmann adere resolutamente a uma "filosofia dos problemas",
aporética, e não à via sistémica e solucionista. Na fase final da sua obra explora as possibilidades de uma antropologia filosófica de cunho existencial e a sua aplicação à pedagogia, ocupando-se de temas da filosofia das ciências, em particular da física.
Procurando uma síntese existencial entre Filosofia e Pedagogia, desenvolveu um importante trabalho de atualização e de renovação do pensamento pedagógico português, com várias propostas de orgânica escolar e curricular para todos os graus, desde o jardim de infância à universidade. Foram credoras da sua especial reflexão as questões do ensino técnico-profissional, da orientação vocacional — e no âmbito desta a relevância da
caracterologia de Heymans / Le Senne / Berger para a prática educativa; no domínio da História da Educação publicou estudos sobre a
paideia grega e sobre educadores estrangeiros como
Pestalozzi e
Maria Montessori e o português
Adolpho Coelho, entre outros. Estudou também a história do pensamento filosófico português e brasileiro, nomeadamente a obra de
Silvestre Pinheiro Ferreira (1769-1846), filósofo que desenvolvera a sua ação em Portugal e no Brasil.
Delfim Santos foi entusiasta da relação portuguesa com o Brasil, que visitou por duas ocasiões, correspondendo-se com intelectuais brasileiros, nomeadamente com os filósofos Vicente Ferreira da Silva,
Miguel Reale e Luís Washington Vita.
No domínio literário esteve próximo do grupo de escritores da
revista Presença, animado por
José Régio,
João Gaspar Simões e
Adolfo Casais Monteiro, mas colaborou igualmente com a maioria das revistas literárias e culturais do seu tempo, através de artigos de fundo onde insiste no valor do elemento espiritual para a vida humana, nas possibilidades da criação individual e na consciência da transitoriedade. Também na sua obra epistolar se revela um crítico literário muito atento e recetivo à poesia e ao ensaio de autores portugueses, com grande número dos quais foi assíduo convivente.
A sua ampla intervenção na imprensa periódica, pela crónica, a
entrevista, a resposta ao inquérito, abrange sobretudo temas da cultura e da literatura portuguesas, assuntos de atualidade e questões pedagógicas, para além da reflexão sobre um tempo ameaçado por crescentes instâncias de desumanização, tais como a autodestruição da humanidade na guerra, o isolamento do indivíduo na sociedade massificada, a falsa segurança de uma vida inautêntica, alienada pela quotidianidade, em que
«o homem está em relação com as coisas, com os outros e raramente consigo mesmo».
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