quinta-feira, 25 de outubro de 2018

EXPRESSO

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Cristina Figueiredo
CRISTINA FIGUEIREDO
EDITORA DE POLÍTICA DA SIC
 
Os ódios que os consomem
25 de Outubro de 2018
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Começo este Curto com uma informação útil que, fosse este um dia normal, apareceria apenas no final da newsletter: a oitava temporada de Homeland ("Segurança Nacional") só estreia em junho de 2019. Quem é fã da série norte-americana, que eleva as teorias da conspiração a níveis nunca antes imaginados, perceberá porque me lembrei dela ontem, à medida que se ia sabendo que, depois do casal Clinton, ainda na terça-feira, também o casal Obama, a sede da CNN em Nova Iorque, o antigo procurador-geral Eric Holder e as congressistas Debbie Wasserman Schultz e Maxine Waters - todos alvos recorrentes das críticas de Donald Trump e dos seus apoiantes - receberam ameaças de bomba, sob a forma de pacotes contendo explosivos enviados pelo correio.

Nenhuma das "encomendas" chegou aos destinatários: foram interceptadas a tempo pelo FBI. Mas rapidamente se percebeu que eramsemelhantes à bomba artesanal (ainda não há certeza se construídas apenas para parecerem explosivas, sem o serem efetivamente) que, essa sim, chegara mesmo à caixa de correio do multimilionário George Soros (um apoiante de longa data da causa Democrata) na segunda-feira. A New Yorker defende a tese que "se estas bombas foram, de facto, enviadas pela mesma pessoa ou grupo, a inclusão de Soros [que não é assim tão conhecido] na lista sugere que o remetente (...) tem estado atento."E explica: "Recentemente, Donald Trump responsabilizou Soros pelos protestos contra a nomeação de Brett Kavanaugh para o Supremo Tribunal. O senador Chuck Grassley, do Iowa, presidente do Comité Judicial do Senado, quando perguntado se acreditava que Soros estava a pagar aos manifestantes, disse "inclino-me a acreditar que sim". E ainda na semana passada o deputado Matt Gaetz, da Florida, culpou Soros pela caravana de migrantes que vem da América Central para os EUA pela fronteira mexicana."

O filho de Soros, Alexander, tem pelo menos duas certezas: seja de quem for a responsabilidade direta pelo envio das bombas, estas "não podem ser dissociadas do novo normal dessa praga atual que é a demonização política" e representam "uma ameaça não apenas para as pessoas, mas para o próprio futuro da democracia americana", escreve num artigo publicado no New York Times e em cujo título ("The hate that is consumming us") me inspirei para intitular este Curto.

Claro que o Presidente norte-americano e os principais líderes Republicanos se apressaram a condenar o sucedido e a decretar tolerância zero para com "atos de violência política de qualquer género". Não tanto por que é politicamente correto (olha quem!) fazê-lo. Mas sobretudo porque tudo isto ocorre em plena campanha para as "mid-term elections", a 6 de novembro - em que estão em causa os 435 lugares do Congresso e 35 dos 100 do Senado, sendo que o equilíbrio nas duas câmaras resultante deste ato eleitoral é fundamental para a reeleição (ou não) de Trump nas presidenciais de 2020.

Podia muito bem ser apenas o (imaginativo) trailer da nova temporada de Homeland. Mas, num fenómeno que começa preocupantemente a banalizar-se, há momentos em que a realidade supera a ficção. E este foi mais um.
 
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OUTRAS NOTÍCIAS, CÁ DENTRO...


Continuam as ondas de choque do segundo volume das memórias do antigo Presidente da República Cavaco Silva, que se começou a conhecer na segunda-feira e ontem foi apresentado (por Leonor Beleza) na fundação Gulbenkian. Na plateia destacou-se a presença de Pedro Passos Coelho, também ele a escrever as suas memórias, e vários outros sociais-democratas afetos ao antecessor de Rui Rio. António Costa, em visita ao Porto, perguntado se já tinha lido o livro onde é descrito como "um hábil profissional da política de pendor taticista, um artista da arte de nunca dizer não", comentou... não comentando. E não foi meigo nesse 'não-comentário', secundando (ainda que com maior subtileza) o presidente do PS, Carlos César - que, na véspera, acusara Cavaco de "delação" e "falta de sentido de Estado". Sobre isto escreveHenrique Monteiro, na sua coluna de opinião na última edição do Expresso Diário. Se a continuação do 'folhetim' lhe interessa, não perca a entrevista que Cavaco vai dar à SIC na próxima sexta-feira, durante o Jornal da Noite conduzido por Clara de Sousa.

Com a saída de Azeredo Lopes do ministério da Defesa e a demissão do Chefe de Estado Maior do Exército o chinfrim sobre o caso Tancosdiminuiu substancialmente mas a controvérsia não desapareceu. Ontem, o Parlamento discutiu a proposta do CDS para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito ao roubo (e posterior devolução) das armas do paiol de Tancos no início do verão de 2017. Apesar das reservas de alguns, nenhum partido se vai opor à iniciativa, que será votada amanhã. Ontem ainda ficou a saber-se que o antigo chefe de gabinete de Azeredo Lopes, o tenente-general Martins Pereira, que foi ao DCIAP prestar declarações no âmbito do inquérito, não foi constituído arguido. Mas hoje o Público e o Correio da Manhã fazem manchete com o que o antigo responsável contou aos investigadores: que assim que recebeu o memorando que denunciava a operação de encobrimento na devolução das armas informara ministro. Uma "confissão" que, a saber-se antes, teria imediatamente feito cair o governante... não fosse este ter percebido há duas semanas que era melhor mesmo sair pelo próprio pé.

Amanhã há greve da função pública. Mas já hoje os guardas prisionais prosseguem o quarto dia de greve e as forças policiais também se manifestam no Terreiro do Paço. Assunção Cristas (que dá uma extensa entrevista ao Público e à Rádio Renascença), que já reuniu com os sindicatos da polícia diz compreender os protestos: "Há promessas que foram feitas pelo Governo que não são cumpridas"Aqui fica a saber o que uns pedem e o que outros já deram.

O Presidente da República convocou para dia 7 de novembro uma reunião do Conselho de Estado. Ponto único na agenda: o Brexit. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, está convidado.

É dia de Liga Europa, O Sporting recebe o Arsenal, às 17h55, e o jogo vai ser transmitido pela SIC. Ontem, na Champions, o FC Porto foi até Moscovo para vencer por 3-1 o Lokomotiv e, assim, ficar isolado na liderança do grupo D e mais próximo dos oitavos de final. O feito faz o pleno das primeiras páginas dos desportivos. A Tribuna conta-lhe como foi.



...E LÁ FORA


Contagem decrescente para as presidenciais no Brasil. O antigo presidente Lula da Silva escreveu, a partir da prisão, uma carta em que apela ao voto em Haddad"Não podemos deixar que o desespero leve o Brasil na direção de uma aventura fascista", argumenta. Numa entrevista ao Diário de Notícias, o comediante Gregório Duvivier (da "Porta dos Fundos") admite que o receio pela vida o pode levar a sair do Brasil caso Jair Bolsonaro vença as eleições. Noutra entrevista, o empresário Luciano Hang, um dos envolvidos no escândalo das notícias falsas difundidas pelo Whatsapp para prejudicar o candidato do PT, explica ao Expresso porque apoia Bolsonaro: "É necessário por ordem no país". Já o Diário de Notícias conta-lhe por que é que o Rio de Janeiro está em vias de se tornar "a cidade mais à direita do mundo". O eurodeputado socialista Francisco Assis, que está no Brasil a acompanhar a campanha eleitoral, volta ao tema no seu artigo semanal no Público para afirmar que a escolha em quem votar é clara e simples: "De um lado, um democrata de provas dadas; do outro, um antidemocrata de convicções assumidas."

Ainda o assassínio do jornalista saudita Jamal Kashoggi, dentro do consulado do seu país em Istambul. Donald Trump admitiu o envolvimento do príncipe saudita, Mohammed bin Salman, no violento homicídio: se há alguém que possa ter estado envolvido "é ele", disse o Presidente dos EUA ao Wall Street Journal. Já no Reino Unido, o Governo de Theresa May está a ser acusado de cumplicidade com a "ditadura assassina" do regime saudita. "Shame on us", escreve-se no The Guardian. Se quer tentar perceber a importância deste caso, a revista norte-americana The Atlantic sistematiza-lhe (quase) toda a informação essencial aqui.

Pedro Sanchez e Pablo Casado estão de candeias às avessas. Ontem o Parlamento espanhol reuniu-se para discutir o último Conselho Europeu mas a crise na Catalunha acabou por dominar o debate, com o líder do PP, a acusar o chefe do Governo de ser "parte ativa e responsável no golpe de Estado que se está a perpetrar no país"; Sanchez não gostou: "Se não retira a acusação de que sou um golpista, o senhor e eu não temos nunca mais nada sobre que falar”. Até a esta hora não havia notícia de reatamento das relações.

Preocupação para os investidores: as bolsas continuam em queda. O Eco explica-lhe aquiporquê. Se preferir uma visão geograficamente mais próxima de Wall Street, tem a do New York Times (com um impressionante gráfico a mostrar as perdas abruptas dos últimos dias) aqui.
Na Argentina, a austeridade contida nas medidas do Orçamento do Estado para 2019 está a fazer crescer a violência nas ruas. Ontem pelo menos 26 pessoas foram detidas na sequência de confrontos entre polícia e manifestantes, em frente ao Parlamento em Buenos Aires.


AS MANCHETES DOS JORNAIS E REVISTAS 


"Autarca de Viseu investigado por ligações a corrupção no turismo" (Jornal de Notícias)
"Ex-chefe de gabinete diz que informou Azeredo da encenação" (Público)
"Socialistas furiosos com livro de Cavaco" (i)
"Como o Rio de Janeiro se pode tornar a cidade mais à direita do mundo " (Diário de Notícias - versão digital)
"Azeredo sabia da farsa de Tancos" (Correio da Manhã)
"Bónus para emigrantes pode violar Constituição" (Jornal de Negócios)
"Sítios mágicos para caminhadas de outono" (Visão)
"Vinte escapadas de outono" (Sábado)
"Locomotiva azul" (A Bola)
"Embalados" (Record)
"Dragão em fuga" (O Jogo)


O QUE ANDO A LER 


O que havia de ser?! "Quinta-feira e outros dias - da coligação à geringonça", pois claro. Confesso ter as maiores dúvidas sobre se um ex-Presidente da República deveria revelar, e ainda para mais nos termos adjetivados em que Cavaco Silva o faz, o conteúdo de conversas que manteve na "intimidade" do seu gabinete, quando passou tão pouco tempo sobre os acontecimentos relatados e tantos daqueles que são referidos no livro ainda são protagonistas ativos da vida do país. Mas, reservas à parte, impossível para quem gosta de política não ler com apetite o relato do que se passou durante os anos de Governo de Passos Coelho, dos embates com o Tribunal Constitucional à crise precipitada pelo "irrevogável" de Paulo Portas, da tentativa falhada de um acordo de salvação nacional entre a coligação e o PS de António José Seguro ao "parto" (a expressão é do autor) da "geringonça". Há momentos no livro que resultam em puro "voyeurismo": somos convidados a ser "moscas", a estar lá. Até podemos corar um bocadinho de vergonha mas o regozijo, não há como não assumir, é inegável.

Outra leitura, esta mais ligeira: "Penas de Pato" (nas livrarias há cerca de um mês) colige algumas das crónicas quinzenais de Miguel Araújo na Visão. Lê-se... de uma penada. O compositor e cantor tem um talento ímpar para lidar com as palavras, o que já é bem visível nas letras das suas canções, e aqui se revela em prosas despretensiosas mas só aparentemente singelas. Uma das minhas preferidas chama-se "Deus" (está na página 72).

E por aqui me fico. Neste dia, há precisamente 100 anos, morria, com apenas 30, o genial Amadeo de Souza Cardoso. E, há 137, nascia Pablo Picasso. Curiosamente, lembra o Diário de Notícias, Amadeo não gostava de Picasso(artigo para assinantes). Dizia o pintor andaluz haver pessoas que transformam o sol numa mancha amarela e outras que transformam uma mancha amarela no sol. Ora aqui está uma perspetiva interessante para observar a humanidade nesta quinta-feira... e (n)outros dias.

 
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OBSERVADOR

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360º

Por Miguel Pinheiro, Diretor Executivo
Bom dia!
Enquanto dormia...
Durante a madrugada foram encontrados mais dois engenhos explosivos nos Estados Unidos: um foi enviado a Joe Biden, vice-Presidente de Obama, e o outro a Maxine Waters, da Câmara dos Representantes, que já recebera outro ontem. A lista dos alvos até agora é esta:
  1. O ex-Presidente Barack Obama;
  2. O ex-vice-Presidente Joe Biden;
  3. A ex-secretária de Estado Hillary Clinton;
  4. A CNN, que recebeu um pacote dirigido ao ex-diretor da CIA John Brennan;
  5. O ex-procurador geral Eric Holder, que não recebeu a encomenda, que acabou no escritório da congressista Debbie Schultz;
  6. Maxine Waters, democrata da Câmara dos Representantes, que recebeu dois engenhos;
  7. O multimilionário George Soros
Todos os alvos estão ligados ao Partido Democrata, o que colocou Trump sob pressão.Ontem à tarde, o Presidente disse, na Casa Branca, com solenidade: "Temos que nos unir". Mas à noite, num comício, já recorreu ao humor: "Já viram como me estou a comportar bem?".

Num artigo de opinião no The New York Times, Alexander Soros, filho de George Soros, escreve sobre "o ódio que nos está a consumir".

Os espectadores da CNN viram tudo em direto: os dois pivots ouviram o alarme dentro do estúdio quando estavam a meio da emissão, a redação foi evacuada e eles continuaram a transmissão da rua, usando dois telemóveis.


Mais informação importante

“Quatro anos são suficientes para estas funções. É desgastante, física e emocionalmente.” Pedro Nuno Santos, secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares com a missão de manter a "geringonça" unida, dá a sua primeira entrevista depois da entrega do último Orçamento da legislatura. Em conversa com o Pedro Benevides e com a Rita Tavares, fala sobre o passado e, mais importante ainda, sobre o futuro. Alguns exemplos:
  • “É uma profunda injustiça dizer que sou um radical que não quer nada com o PSD e o CDS”;
  • “O Orçamento que sai das Finanças, tal como as Finanças o desejariam, não tinha passado uma única vez”;
  • “A componente política, que tenho, é relevante para qualquer função ministeriável”;
  • “Hoje em dia já ninguém me põe no lugar”;
  • “Não estou na grelha de partida com ninguém. Não tenho nenhum padrinho”;
  • “Vendi o Porsche, admito que foi um erro”.

Ontem, durante o interrogatório pelo Ministério Público, o tenente-general Martins Pereira, ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes, terá confirmado que informou o então ministro da Defesa sobre o memorando relativo ao roubo de Tancos. A notícia é avançada pelo Público e pelo CM. O DN escreve que Azeredo Lopes será agora chamado a depor.

Vieira da Silva foi ao Parlamento tentar explicar a confusão sobre um novo regime de reformas antecipadas. Mas não conseguiu. E irritou-se: depois do ministro das Finanças na véspera, também o ministro da Segurança Social entendeu que os deputados não têm capacidade para acompanhar a profundidade do seu intelecto.

António Costa anunciou finalmente o concurso para a nova ala pediátrica do Hospital de S. João. Pequeno detalhe: não há data para isso.

Sob pressão do PAN, o Governo acabou neste orçamento com a isenção na cobrança de IVA nas prestações dos artistas tauromáquicos. Mas os toureiros podem acabar por ganhar com a medida porque poderão passar a deduzir despesa com artigos que compram.

Cavaco Silva lançou ontem publicamente o seu livro de memórias. Não apareceu ninguém do CDS, mas Passos Coelho esteve na assistência.Elogiando o ex-Presidente, referiu que o livro “diz muito” mas “não diz tudo”. Passos terá "muito para dizer e para juntar" no seu próprio livro, que está a acabar de escrever.

Assunção Cristas abre a porta à presença do novo partido de Santana Lopes num futuro governo de centro-direita. Sobre o PS, diz, em entrevista ao Públicoe à RR: “Não queremos ter nenhum acordo com os socialistas”. Posta perante a escolha nas eleições brasileiras, revela: "Entre Bolsonaro e Haddad, escolhia não votar".

O príncipe herdeiro da Arábia Saudita falou pela primeira vez em público sobre o homicídio de Jamal Khashoggi. Distanciou-se do que aconteceu e garantiu que os assassinos serão levados à justiça.

Antes, o príncipe Mohammad bin Salman (conhecido pelas iniciais MBS) tinha protagonizado outro golpe de propaganda: foi fotografado e filmado a dar um aperto de mão ao filho de Khashoggi.

Apesar destes esforços de relações públicas, o regime continua sob pressão. Ontem, soube-se que um aliado do príncipe herdeiro terá falado por Skype com os homens suspeitos da morte de Khashoggi. A ordem que lhes deu terá sido esta: “Tragam-me a cabeça desse cão”.

O FC Porto venceu o Lokomotiv Moscovo por 3-1 na Liga dos Campeões. Na crónica do jogo, o Bruno Roseiro escreve sobre a vitória que permitiu que os mexicanos portistas continuassem a festa em Moscovo depois do Mundial.

Com esta vitória, o FCP tem a certeza de que segue em frente? Nem por isso. A equipa passou em 2014 e foi eliminada em 2015 com sete pontos. “Lançados? No avião para voltar…”, diz Sérgio Conceição.

Depois de Mourinho ter tido de ir a pé para o jogo com a Juventus, o Lokomotiv precisou de recorrer ao metro. O autocarro da equipa ficou preso no trânsito e os jogadores não tiveram outra saída para conseguirem chegar a horas.

A noite de ontem na Champions teve futebolistas portugueses como protagonistas em vários jogos diferentes. Houve um bis, um autogolo, um penálti falhado e outro cometido.


Os nossos Especiais

Depois de passar a primeira volta a dizer que "Haddad é Lula", o PT faz, agora, de tudo para fugir da sombra do ex-Presidente. Seria uma forma de ganhar votos ao centro, mas, como explica o João de Almeida Dias, daí só resultou um novo #elenão. (E Lula também não ajuda: ontem escreveu uma carta da prisão.)
 

A nossa Opinião

Helena Garrido escreve "O regresso dos défices escondidos": "O futuro dirá se Mário Centeno corrigiu estruturalmente as contas públicas ou foi apenas um ministro que usou novas técnicas e tácticas contabilísticas e políticas. O futuro parece estar a chegar".

Eu escrevo "Alegrem-se: somos um país sem problemas": "Vieira da Silva surgiu com uma solução para as pensões. Mas Costa nunca disse que havia um problema. Por isso as pessoas perguntam: se não existe um problema, porque havemos de sofrer com uma solução?"

Paulo Tunhas escreve "As intenções das palavras": "A linguagem é uma coisa que se mexe e procurar imobilizá-la e regulá-la muito certinha é anular aquilo, a tal mobilidade, que lhe permite manter um certo contacto com a realidade a que se refere".


Notícias surpreendentes

Hoje estreia “Halloween”, de David Gordon Green, 40 anos depois do original de John Carpenter. Eurico de Barros escreve que esta "é a melhor conclusão possível para o pesadelo" e dá-lhe quatro estrelas.

Há mais um filme para ver esta semana: “A Revolução Silenciosa” conta a história de como, nos anos 50, um punhado de alunos de um liceu da RDA fez frente ao regime comunista.

Passámos um dia nos bastidores com a diretora artística do Teatro São Luiz, Aida Tavares, que acaba de ser reconduzida para mais um mandato de quatro anos. Houve reuniões, emails, ensaios, planos e uma feijoada à hora de almoço.

Madonna quer contratar um chef de cozinha com experiência em refeições kosher, que seguem as regras do judaísmo. Salário: até 120 mil euros ao ano. Um dos seus locais de trabalho será Lisboa.

Meghan Markle foi retirada de um mercado nas Ilhas Fiji por razões de segurança. Estava demasiada gente à espera da duquesa de Sussex, que está grávida do primeiro filho.

O que é que Kate Middleton usou no regresso aos eventos oficiais? Um vestido de Alexander McQueen, um colar que entrou na família real em 1863, os brincos da princesa Diana e a icónica tiara que a mesma usou em diversas ocasiões e que era da Rainha Mary. O Mauro Gonçalves conta a história destas peças.

Em outubro de 1976, Niki Lauda e James Hunt estavam separados por três pontos antes da última corrida do campeonato de Fórmula 1. Após quase morrer em pista meses antes, o austríaco fez o que nunca tinha feito: pôs a vida antes da meta e perdeu um campeonato. A Mariana Fernandes conta a história, antes da corrida que decidirá o campeão de F1 deste ano, no próximo fim de semana.


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INIMIGO PÚBLICO

Inimigo Público


Posted: 25 Oct 2018 03:10 AM PDT
O antigo primeiro-ministro passou a noite a ler o segundo volume da biografia de Cavaco e aceitou fazer uma análise crítica em exclusivo para O INIMIGO. No post-it que nos fez chegar, Sócrates escreveu apenas “li enquanto via aqueles concursos da noite para o pessoal gastar guito a telefonar. Não é nenhum Domingos Farinho”, referindo-se […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now
Posted: 25 Oct 2018 03:07 AM PDT
O nosso suplemento PÚBLICO noticia hoje que o ex-chefe de gabinete de Azeredo Lopes informou-o de que iam fazer uma grande palhaçada com a devolução das armas roubadas em Tancos. A novidade terá sido prestada via WhatsApp, a famosa rede encriptada fechada utilizada apenas pelos serviços secretos e altas patentes militares portuguesas, e Azeredo foi […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now
Posted: 24 Oct 2018 07:27 AM PDT
Jair Bolsonaro continua em contagem decrescente para ser presidente do Brasil e recusa debater com Haddad. O candidato do PT mantém a esperança de poder debater com o adversário, apoiante da tortura durante a ditadura militar, quando o próprio Bolsonaro for visitá-lo e torturá-lo à prisão política, assim que ganhar as eleições. “Terça que vem […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now
Posted: 24 Oct 2018 07:24 AM PDT
A Associação Sócio-Profissional Independente da Guarda (ASPIG/GNR) voltou hoje a insistir que os criminosos “não são merecedores do mesmo respeito e consideração” que o cidadão comum e entende que os detidos no parque de campismo de Gondomar não teriam sido sujeitos à controversa sessão fotográfica se tivessem sido caçados no ambiente de glamour e sofisticação […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now
Posted: 24 Oct 2018 07:21 AM PDT
A grande candidata à liderança da JS, Maria Begonha, apresenta vários erros no CV, incluindo habilitações académicas falsas e, ao que o IP apurou, o próprio nome, pois assina como Maria Bogonha César, quando não tem na realidade qualquer parentesco com Carlos César e portanto não tem direito à direcção da JS nem a assessorias […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now
Posted: 24 Oct 2018 07:20 AM PDT
Francisco Assis vai participar no comício de encerramento da campanha de Fernando Haddad e, tal como foi espancado pelos apoiantes de Fátima Felgueiras em Felgueiras, será esbofeteado pelos familiares de Fátima Felgueiras no Brasil que apoiam Jair Bolsonaro porque estão fartos de corruptos. Sandra Felgueiras também estará no Brasil para levar Fernando Haddad até à […]This posting includes an audio/video/photo media file: Download Now

JUSTIÇA - 25 DE OUTUBRO DE 2018

Justiça

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
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Disambig grey.svg Nota: Para outros significados, veja Justiça (desambiguação).
A Justiça, escultura de Alfredo Ceschiatti, em frente ao Supremo Tribunal Federal, em Brasília, no Brasil. Segue a tradição de representá-la com os olhos vendados, para demonstrar a sua imparcialidade, e a espada, símbolo da força de que dispõe para impor o direito. Algumas representações da justiça possuem, também, uma balança, que representa a ponderação dos interesses das partes em litígio.
Justiça é um conceito abstrato que se refere a um estado ideal de interação social em que há um equilíbrio, que por si só, deve ser razoável e imparcial entre os interessesriquezas e oportunidades entre as pessoas envolvidas em determinado grupo social.[1] Trata-se de um conceito presente no estudo do direitofilosofiaéticamoral e religião. Suas concepções e aplicações práticas variam de acordo com o contexto social e sua perspectiva interpretativa, sendo comumente alvo de controvérsias entre pensadores e estudiosos.
Em um sentido mais amplo, pode ser considerado como um termo abstrato que designa o respeito pelo direito de terceiros, a aplicação ou reposição do seu direito por ser maior em virtude moral ou material. A justiça pode ser reconhecida por mecanismos automáticos ou intuitivos nas relações sociais, ou por mediação através dos tribunais, através do Poder Judiciário.
Na Grécia, a justiça era representada por uma deusa, Thémis, e mais tarde, Diké, que era representada de olhos abertos. Já na Roma Antiga, a justiça era representada por uma estátua, com olhos vendados, visa seus valores máximos onde "todos são iguais perante a lei" e "todos têm iguais garantias legais", ou ainda, "todos têm direitos iguais". A justiça deve buscar a igualdade entre os cidadãos.
Justiça também "é uma das quatro virtudes cardinais", e ela, segundo a doutrina da Igreja Católica, consiste "na constante e firme vontade de dar aos outros o que lhes é devido" (CCIC, n. 381).

Conceito de Justiça na História[editar | editar código-fonte]

Grécia Antiga[editar | editar código-fonte]

As primeiras concepções a respeito da justiça surgiram na Grécia Antiga, onde se utilizava a expressão Dikaiosyne (Δικαιοσύνη) para representar a personificação de uma integridade moral relacionada ao Estado e aos governos.
Aristóteles definia justiça como sendo uma igualdade proporcional: tratamento igual entre os iguais, e desigual entre os desiguais, na proporção de sua desigualdade. Aristóteles também reconhece que o conceito de justiça é impreciso, sendo muitas vezes definido a contrariu sensu, de acordo com o que entendemos ser injusto – ou seja, reconhecemos com maior facilidade determinada situação como sendo injusta do que uma situação justa.[2]
Platão reconhece a justiça como sinônimo de harmonia social, relacionando também esse conceito à ideia de que o justo é aquele que se comporta de acordo com a lei. Em sua obra A República, Platão defende que o conceito de justiça abrange tanto a dimensão individual quanto coletiva: a justiça é uma relação adequada e harmoniosa entre as partes beligerantes de uma mesma pessoa ou de uma comunidade.[3] Platão associava a justiça aos valores morais.[4]
Céfalo afirmou que a justiça consiste em falar a verdade e devolver ao outro o que lhe tomou, e após apontamentos feitos por Sócrates acrescenta que só pode falar a verdade  e entregar o pertence, após uma analise da condição mental da pessoa.[5]
Para Polemarco a justiça consistia em dar a cada um o que lhe é devido, em fazer o bem aos amigos e o mal aos inimigos. Já Trasímaco com argumentos contrários a Sócrates, disse que a Justiça é relativa, depende do interesse do mais forte, qual seja o que detém o poder. Algo que depende do interesse de quem governa.[6]
A república é o verdadeiro esforço de Platão na busca por uma definição de Justiça,[7] traz consigo a ideia da superioridade da vida do Homem justo sobre o injusto. Utilizando o método da dialética para ensinar, debater e, sobretudo chegar a uma definição clara, precisa e universal de Justiça, Sócrates se posiciona como um perguntador e por meio das perguntas averígua se há contradição do que o interlocutor fala e acredita como verdadeiro.
Diante dos diálogos foram surgindo diversas posições e tipos de argumentações. Dentre os principais interlocutores estavam Céfalo, Polemarco[8] e Transimaco[9].
Para Céfalo a justiça consiste em falar a verdade e devolver ao outro o que lhe tomou,
“Não ludibriar ninguém nem mentir, mesmo involuntariamente, nem ficar a dever, sejam sacrifícios aos deuses, seja dinheiro a um homem, e depois partir para o além sem temer nada_ para isso a posse das riquezas contribui em alto grau.” [10]
E após apontamentos feitos por Sócrates acrescenta que só pode falar a verdade e entregar o pertence, após uma analise da condição mental da pessoa.
“Como neste exemplo: se alguém recebesse armas de um amigo em perfeito juízo, e este, tomado de loucura, lhas reclamasse, toda gente diria que não se lhe deviam entregar, e eu não seria justo restituir-lhas, nem tão pouco consentir em dizer toda a verdade a um homem neste estado.”[11]
Polemarco entre um diálogo com Sócrates assume a tese defendida por Simônides,[12] afirmando que ‘’é justo devolver aquilo que devemos’’,[13] ou seja, a justiça consistia em dar a cada o que lhe é devido, em fazer o bem aos amigos e o mal aos inimigos. Porém, Sócrates se contrapõe ironicamente a essa definição e utiliza um raciocínio em que a ação de fazer mal aos inimigos e bem aos amigos se baseia numa relação de amizade e, portanto, é a ação de um homem injusto já que fazer o mal não é a ação do homem justo. Dessa forma, Sócrates argumenta ser justo aquele que pratica a justiça independente ser ele amigo ou inimigo.
“_portanto, Polemarco, acontecerá que, para muitos, quantos errarem no seu juízo sobre os homens, será justo prejudicar os amigos, pois são maus aos teus olhos, e ajudar os inimigos, pois os têm por bons. E assim afirmaremos exatamente o contrário do que fizemos dizer a Simônides.”[14]
E, Sócrates ainda fala que de modo algum que fazer mal a alguém fosse justo.
“Portanto, se alguém disser que a justiça consiste em restituir a cada um aquilo que lhe é devido, e com isso quiser significar que homem justo deve fazer o mal aos inimigos, e bem aos amigos, quem assim falar não é sábio, porquanto não disse a verdade. portanto, em caso algum nos pareceu que fosse justo fazer mal a alguém.”[15]
Já Trasímaco entra no discurso com ar de quem estava enfurecido e atacando Sócrates, afirma:
“porque vos mostrai tão simplórios, cedendo alternadamente o lugar um ao outro? Se na verdade queres saber o que é a justiça, não te limites a interrogar nem procures a celebridade a refutar quem te responde, reconhecendo que é mais fácil perguntar do que dar a réplica. Mas responde tu mesmo e diz o que entendes por justiça.”[16]
Com argumentos contrários a Sócrates, disse que a Justiça é relativa, depende do interesse do mais forte.
“_ Ouve então. Afirmo que a justiça não é outra coisa senão a conveniência do mais forte. (...).”[17]
Qual seja o que detém o poder. Algo que depende do interesse de quem governa e que é justo cumprir as ordens dadas pelos governantes.
“Certamente que cada governo estabelece leis de acordo com a sua conveniência: a democracia, leis democráticas; a monarquia, monárquicas, e os outros, da mesma maneira. Uma vez promulgadas essas leis, fazem saber que é justo para os governos aquilo que lhes convém, e castigam os transgressores, a título de que violaram a lei e cometeram uma injustiça. (...), o que convém aos poderes constituídos. Ora, estes é que detêm a força. De onde resulta, para quem pensar corretamente, que a justiça é a mesma em toda a parte: a conveniência do mais forte.”[17]
Sócrates então aumenta o campo da discussão, na ideia de mostrar que justiça não se refere apenas ao utilitarismo, desfazendo as convicções de Trasímaco, até provar que tudo aquilo citado tratava-se de opiniões individuais, sendo meras aparências e não possuindo caráter universal.
“(...) que concordaste que também é justo cometer atos prejudiciais aos governantes e aos mais poderosos, quando os governantes, involuntariamente, tomam determinações inconvenientes para eles, uma vez que declaras ser justo que súditos executem o que prescreveram os governantes. (...) não será forçoso que resulte daí a seguinte situação: que é justo fazer o contrário do que tu dizes? Pois nõ há dúvida que se prescreve aos mais fracos que façam o que é prejudicial ao mais fortes.”[18]
Após análise dos diálogos, é possível perceber que Céfalo (falar a verdade), Polemarco (em fazer o bem aos amigos e o mal aos inimigos) e Trasímaco (que a Justiça é relativa, depende do interesse do mais forte.) apresentam versões distintas de justiça, o que afasta a visão universal defendida por Sócrates (que a justiça é virtude e sabedoria, e a injustiça maldade e ignorância...),[19] motivo pelo qual impossibilita o diálogo entre as partes, dificultando formular um conceito universal e aprovado por todos com relação à Justiça.
Ainda sobre as noções de justiça criticadas por Platão no livro i da república, pode-se acrescentar que:
Para Céfalo, o conceito de justiça é “Não ludibriar ninguém nem mentir, mesmo involuntariamente, nem ficar a dever, seja sacrifícios aos deuses, seja dinheiro a um homem, e depois partir para o além sem temer nada (…)”, Sócrates resume dizendo que é “falar a verdade e devolver ao outro o que lhe pertence.”[20]
É perceptível na concepção de Céfalo que a ideia de justiça é subjetiva, não podendo ter sua aplicação em uma escala universal.
Em segundo, Polemarco, filho de Céfalo que tentou sustentar o argumento do pai, afirma que a justiça “consiste em fazer bem aos amigos e mal aos inimigos.” [21] Seguindo esta linha de raciocínio, como pode a justiça estar ligada ao bem e ao mal de maneira tão subjetiva? Cabendo a cada indivíduo decidir quem é bom e quem é mau, quem merece ou não receber ajuda, ou como citado no livro, aquele que merece ou não receber tratamento médico. Neste diálogo, Sócrates define que justiça deve ser para todos. Dessa forma, não se pode  dizer que algo é bom ou mau ao mesmo tempo. Se for bom, deve ser para todos e em qualquer circunstância.
A terceira perspectiva vem de Trasímaco, que entende que justiça é o interesse do mais forte. Para ilustrar seu conceito, o filósofo utiliza como exemplo o Estado. Esta é uma instituição que detém o poder coercitivo sobre os cidadãos, fazendo com que seu interesse prevaleça no meio social, podendo assim ser classificado como o suposto ser mais forte. É valido lembrar que Trasímaco viveu em um contexto caracterizado pelo auge da democracia grega e das Cidades-Estado, ou Pólis.[22]
No diálogo, verificamos que Trasímaco apresenta sua ideia de justiça de forma que, ser justo é uma atitude de um indivíduo ingênuo, e que ser injusto, no entanto, é ser esperto e cuidadoso. "(...) Dessa maneira, Sócrates concluiu que a justiça somente traz satisfação, enquanto que a injustiça não pode trazer benefícios, portanto jamais a injustiça será mais vantajosa do que a justiça(...)”.[23]
Em geral, o que podemos perceber em ambas as perspectivas analisadas é que Sócrates rebateu os argumentos dos demais de forma a desconstruir seus conceitos e, desta forma, fazendo-os repensar suas respostas, um método que até hoje funciona muito bem, uma vez que ainda é utilizado para desconstruir paradigmas impostos como dogmas.
Sendo assim, não existe um conceito universal de justiça. Observa-se que o que é justo para uns, pode não ser justo para outros. Cada indivíduo, de acordo com suas experiências, desenvolve noções diferentes à respeito de temas diversos. Por exemplo: numa demanda judicial, o veredito final para aquele que conseguiu êxito na demanda, a considera justa, mas aquele que não teve seus anseios atendidos reclama de que a decisão foi injusta, lembrando que, para Platão, este exemplo não pode trazer o conceito de justiça, pois tem relação com a doutrina sofista.
Mediação
Aristóteles, no livro V da Ética a Nicômaco, fe[24]z um estudo acerca do que seria a justiça corretiva, que em sua concepção “a justiça corretiva seria o intermediário entre a perda e o ganho”.  Observa-se que a justiça corretiva necessita da intervenção de uma terceira pessoa que será o responsável por decidir eventuais conflitos que surgem nas relações interpessoais. Portanto, a figura do juiz, na justiça corretiva, para Aristóteles é de extrema importância, pois esse passa a personificar o que seria justo.
Para Eduardo Bittar (2010, p. 135) a justiça corretiva visa o “restabelecimento do equilíbrio rompido entre os particulares: a igualdade aritmética”.[25] Aristóteles (1987) aduz que “a lei considera apenas caráter distintivo do delito e trata as partes como iguais, se uma comete e a outra sofre injustiça, se uma é autora e a outra é a vítima do delito”.[26] Acrescenta também que “sendo essa espécie de injustiça uma desigualdade, o juiz procura igualá-la”,[26] além disso, exemplifica o filósofo que:
Porque também no caso em que um recebeu o outro infligiu um ferimento, ou um matou e o outro foi morto, o sofrimento e a ação foram desigualmente distribuídos, mas o juiz procura igualá-los por meio da pena, tomando uma parte do ganho do acusado. (ARISTÓTELES, 1987)[26]
Logo, para Aristóteles, “seja como for, uma vez estimado o dano, um é chamado de perda e o outro ganho”.[26]
Assim, tem-se que na justiça corretiva, o juiz tem um papel fundamental, pois ele será o mediador de todo o processo. Para o filósofo Aristóteles (1987), “recorrer ao juiz é recorrer à justiça, pois a natureza do juiz é ser uma espécie da justiça animada”.[26] Logo, as pessoas recorrem ao juiz como um intermediário, aquele que irá resolver o conflito sendo justo para ambas as partes. Ensina Aristóteles (1987) que naquela época “em alguns Estados os juízes são chamados de mediadores, na convicção de que, se os litigantes conseguirem o meio termo, conseguirão o que é justo. O justo, pois, é um meio termo já que o juiz o é”.[26]
Então, para Aristóteles a mediação é uma característica essencial para o juiz, pois “o juiz estabelece a igualdade. É como se houvesse uma linha dividida em partes desiguais e ele retira a diferença pela qual o seguimento maior excede a metade para acrescentá-la menor. E quando o todo foi igualmente dividido, os litigantes dizem que receberam “o que lhes pertence”- isto é, receberam o que é igual”.[26]
Portanto, o juiz tem um papel muito importante para Aristóteles porque faz a justiça, pois sendo o juiz um mediador, ou seja, intermediário, ele deve resolver os litígios de forma justa para as partes, logo tem-se que o juiz é a justiça personificada. 

Idade Média[editar | editar código-fonte]

Dentro da teoria do Direito NaturalSão Tomas de Aquino conceituou justiça como sendo a disposição constante da vontade em dar a cada um o que é seu - suum cuique tribuere - e classifica-a como comutativa, distributiva e legal, conforme se faça entre iguais, do soberano para os súbditos e destes para com aquele, respectivamente. Tomás de Aquino entende que não há um código incondicionado ou absoluto de uma justiça invariável, tendo em vista que a razão humana é variável – ainda que a vontade de buscar a justiça seja um perpétuo objetivo para o homem. Tomás de Aquino, ainda, aproxima muito seu conceito da religião, ao argumentar que, se somente a vontade de Deus é perpétua e se justiça é uma perpétua vontade, então a justiça somente pode estar em Deus.[27] Na Vulgata católica, o conceito de justiça aparece descrito mais do que qualquer outro tópico se repetindo mais de 200 vezes naquele livro.[28]

Juspositivismo moderno[editar | editar código-fonte]

Hans Kelsen apresenta a justiça como sendo uma ideia irracional; por mais indispensável que seja para a ação dos homens, não se trata de um conceito sujeito à cognição. Kelsen enxerga a justiça como sendo um julgamento subjetivo de valor, que não pode ser analisado cientificamente.[29]
Para Hart, a ideia de justiça divide-se em duas partes: um aspecto uniforme ou constante, resumido no preceito de tratar da mesma maneira os casos semelhantes e um critério mutável ou variável usado para determinar quando, para uma dada finalidade, os casos são semelhantes ou diferentes.[30] Assim, desde que todos os seres humanos de uma comunidade estejam ligados entre si por laços de igualdade, tem-se que nenhum deles poderá aproveitar-se de sua superioridade econômica ou política para alcançar um fim em detrimento de seu semelhante.[31]

Teorias da Justiça[editar | editar código-fonte]

As principais teorias modernas sobre justiça revelam-se em duas grandes categorias: para uma primeira corrente, a ideia de justiça relaciona-se diretamente com a ideia de equidade (ou ainda, fairness, utilizando-se da expressão inglesa). Para uma segunda corrente, a ideia de justiça está mais ligada ao conceito de bem-estar (welfare). Cada uma dessas correntes comporta uma série de teorias diferentes, que se utilizam de distintas perspectivas para tratar do tema.

Justiça como equidade[editar | editar código-fonte]

Perspectiva utilitarista[editar | editar código-fonte]

A perspectiva utilitarista do conceito de justiça foi desenvolvida por autores como John Stuart MillHenry Sidgwick e Jeremy Bentham, este último sendo um dos principais expoentes desse pensamento. Sendo uma teoria preponderantemente consequencialista, o utilitarismo define a utilidade social em termos de utilidades individuais, ou seja, define a função de utilidade de cada pessoa em termos de suas preferências individuais.
Bentham propunha que o princípio da utilidade (prazer/dor; felicidade/tristeza) deveria ser um norteador não só para as ações dos indivíduos, mas do próprio Estado, no tocante à nomogênese jurídica. Deste modo, entendendo os interesses da comunidade como as somas dos interesses de seus diversos membros, caberia aos governantes e legisladores propor leis e políticas públicas no sentido de gerar o máximo de felicidade para todos.[32]
A relação da justiça com o utilitarismo reside no fato das regras morais da justiça estarem diretamente relacionadas ao que há de essencial na promoção da felicidade humana, sendo valores como a imparcialidade e a igualdade virtudes ou obrigações da justiça[33]

Perspectiva liberal de John Rawls[editar | editar código-fonte]

John Rawls foi um dos mais influentes teorizadores do conceito de justiça como equidade (fairness), através de sua obra "Uma Teoria da Justiça", publicada em 1971.
Retomando a teoria do contrato social, Rawls propõe-se a imaginar uma situação hipotética e histórica similar ao estado de natureza (chamada de posição original) na qual determinados indivíduos escolheriam princípios de justiça. Tais indivíduos, concebidos como racionais e razoáveis, estariam ainda submetidos a um "véu de ignorância", ou seja, desconheceriam todas aquelas situações que lhe trariam vantagens ou desvantagens na vida social (classe social e status, educação, concepções de bem, características psicológicas, etc.). Desta forma, na posição original todos compartilham de uma situação equitativa: são considerados livres e iguais.
Ao retomar a figura do contrato social como método, Rawls não tem como objetivo fundamentar a obediência ao Estado (como na tradição do contratualismo clássico de Thomas HobbesJohn Locke e Jean-Jacques Rousseau). Ligando-se a Immanuel Kant(construtivismo kantiano), a ideia do contrato é introduzida como recurso para fundamentar um processo de eleição de princípios de justiça, que são assim descritos por ele:
  • Princípio da Liberdade: cada pessoa deve ter um direito igual ao mais abrangente sistema de liberdades básicas iguais que sejam compatíveis com um sistema de liberdade para as outras
  • Princípio da Igualdade: as desigualdades sociais e econômicas devem ser ordenadas de tal modo que sejam ao mesmo tempo:
    • consideradas como vantajosas para todos dentro dos limites do razoável (princípio da diferença);
    • vinculadas a posições e cargos acessíveis a todos (princípio da igualdade de oportunidades).
Fiel à tradição liberal, Rawls considera o princípio da liberdade anterior e superior ao princípio da igualdade. Também o princípio da igualdade de oportunidades é superior ao princípio da diferença. Em ambos os casos, existe uma ordem lexical. No entanto, ao unir estas duas concepções sob a ideia da justiça, sua teoria pode ser designada como "liberalismo igualitário", incorporando tanto as contribuições do liberalismo clássico quanto dos ideais igualitários da esquerda.
Tais princípios exercem o papel de critérios de julgamento sobre a justiça das instituições básicas da sociedade, que regulam a distribuição de direitos, deveres e demais bens sociais. Eles podem ser aplicados (em diferentes estágios) para o julgamento da constituição política, das leis ordinárias e das decisões dos tribunais. Rawls também esclareceu que as duas formas clássicas de capitalismo (de livre mercado ou de bem-estar social), bem como o socialismo estatal seriam "injustos". Apenas um "socialismo liberal" (com propriedade coletiva dos meios de produção)" ou mesmo uma "democracia de proprietários" poderia satisfazer, concretamente, seus ideais de justiça.

Perspectiva libertária (Hayek e Nozick)[editar | editar código-fonte]

Entre os principais críticos da perspectiva liberal adotada por Rawls, destacam-se as teorias defendidas pelo americano Robert Nozick[34] e o austríaco Friederich Hayek,[35] defensorias de uma perspectiva ainda mais libertária, baseada na ideia de uma liberdade negativa como o princípio básico das ideias liberais, qual seja, a não interferência do Estado na vida privada (em especial, na esfera do mercado).
Hayek afirma que os desejos dos defensores da igualdade são tão irreconciliáveis com a liberdade quanto são as demandas mais estritamente igualitárias. Para Hayek, uma ordem social ideal ("A Grande Sociedade", como ele denomina) é uma ordem formada por homens livres que tem apenas a lei como regra de conduta. Essas regras tem a função de reger a sociedade no seu todo, além de serem também normas geradoras de ordem econômica que, por sua vez, serão direcionadas ao bom desempenho do mercado. A justiça, tal como a sociedade, também é um produto da evolução dessas normas que conduzem à formação de normas de conduta justa, e não uma evolução das concepções sociais de uma comunidade. Essa "justiça social", para Hayek, é uma miragem: não se pode acreditar que seja possível descobrir uma norma universal aplicável que possa resolver se uma situação é ou não justa.
Robert Nozick apresenta também uma tese voltada para a exaltação das liberdades de mercado e da limitação do papel do Estado na área social na forma de um Estado mínimo, opondo-se ao modelo redistributivo de Rawls. Sua visão de justiça parte do princípio de que todos os indivíduos têm direitos invioláveis e que o Estado mínimo deve garantir sua proteção através funções restritas à proteção dos direitos fundamentais dos indivíduos, como a proteção contra a força, roubo, fraude e incumprimento de contratos.

Perspectiva comunitarista[editar | editar código-fonte]

Outra linha crítica da teoria de Rawls foi desenvolvida nos Estados Unidos no início da década de 1980 por acadêmicos como Charles TaylorMichael Walzer e Alsadair MacIntyre, possuindo, ainda, como um de seus principais expoentes, Michael J. Sandel, professor da Universidade de Harvard.[36]
Essa visão passa a dar mais expressão a conceitos tais como cidadania e comunidade, numa rejeição da prioridade do direito e do justo sobre o bem. Em suas obras, Sandel rejeita a corrente utilitarista, por entender que esta trata da justiça como uma questão de cálculo, e não de princípio. Ainda que Sandels reconheça que a visão rawliana supera esta visão, o professor reconhece que a visão liberal de Rawls tenta equivocadamente traduzir os bens humanos em uma única e uniforme medida de valor, sem considerar diferenças qualitativas entre esses valores. Para Sandel, não se pode alcançar uma sociedade justa simplesmente maximizando a utilidade ou garantindo a liberdade de escolha; dessa forma, procura defender uma ética política voltada a virtudes cívicas de crítica e busca por soluções a dilemas morais.

Justiça como bem-estar[editar | editar código-fonte]

Perspectiva igualitária de Ronald Dworkin[editar | editar código-fonte]

O jurista Ronald Dworkin também dedicou seu pensamento a analisar o conceito de justiça e a obra de John Rawls, especialmente nos livros “A Virtude Soberana” e “Justiça para Porcos-Espinho”.
Duas ideias desempenham um papel vital na teoria desenvolvida por Dworkin: a ideia do "igual cuidado" (equal concern) e a ideia de responsabilidade especial (special responsibility). A primeira significa que a distribuição das riquezas sociais deve refletir as escolhas das pessoas, de forma que uma distribuição idêntica das riquezas não se traduziria per se em uma distribuição justa. Já a ideia de responsabilidade implica que não seriam justificadas as desigualdades materiais que não pudessem ser atribuídas às escolhas das pessoas, assim como não se justificariam aquelas que decorressem de circunstâncias que se encontram fora do controle das pessoas.
Ao defender uma concepção de igualdade de recursos, Dworkin parte do pressuposto de que as pessoas são responsáveis pelas escolhas que fazem em suas vidas, mas essa premissa não é suficiente para prover a sua concepção fundamentos sólidos. Por isso, Dworkin pressupõe também que os atributos naturais de inteligência e talento são moralmente arbitrários e, por isso, não devem surtir efeitos sobre a distribuição dos recursos na sociedade.
Uma vez que a igualdade se traduz nos recursos de que as pessoas dispõem para realizar suas escolhas, e não no bem-estar que elas possivelmente poderiam alcançar com esses recursos, os governos devem prover uma igualdade material para todos, tendo a obrigação política de tratar a vida de cada pessoa como tendo uma importância igual. A essa ideia, Dworkin denomina "justiça distributiva".

Perspectiva econômica de Richard Posner[editar | editar código-fonte]

Em seu livro The Economics of JusticeRichard Posner utiliza-se do conceito de maximização da riqueza como uma base normativa para o conceito de justiça. Para Posner, a riqueza seria maximizada no momento em que os bens materiais e outras fontes de satisfação são distribuídas de modo que o seu valor agregado é maximizado. Como caminhos para essa maximização, Posner aponta três categorias de direitos fundamentais que podem servir como facilitadores: segurança pessoal, liberdade pessoal e propriedade privada.
O papel do Estado nesta perspectiva seria não só de distribuir riqueza, mas também criá-la, através da criação de instituições e bens que possam prover benefícios à população. A concepção de justiça que decorre desta abordagem consiste em tomar a maximização da riqueza da sociedade como critério para avaliar a justiça de atos e instituições. Este critério permitiria conciliar, para Posner, as abordagens de utilidade, liberdade e equidade.

Perspectiva capacitária de Amartya Sen[editar | editar código-fonte]

Aluno de John Rawls, Amartya Sen desenvolveu uma extensa crítica e revisão das ideias básicas de Rawls. Para Sen, a justiça não deve ser avaliada em termos binários (existe justiça ou não); Sen não apoia um ideal abstrato plenamente estabelecido de justiça para avaliar a adequação de diferentes instituições – motivo pelo qual Sen busca formular sua teoria tendo a desigualdade e a diversidade como alguns de seus principais pontos de partida[37]
Em sua teoria, Sen argumenta que a uma igualdade sempre corresponderá uma desigualdade, e essa analogia não pode ser estendida à relação entre igualdade e liberdade. Partindo do estudo do fenômeno da desigualdade, Sen sugere uma perspectiva de análise baseada na "capacidade", cuja abordagem se distinguiria das perspectivas tradicionais de avaliação individual e social, as quais comumente se baseiam em variáveis tais quais "bens primários" (como no caso de Rawls), "recursos" (como no caso de Dworkin) ou "renda real" (como no caso da maioria das análises de cunho econômico).
De acordo com Sen, todas essas variáveis tradicionais consistem apenas em instrumentos para a realização do bem estar e meios para a liberdade. Já a capacidade, ao contrário, implica a liberdade para buscar funcionamentos (parte dos elementos constitutivos do bem-estar e do estado de uma pessoa), além de desempenhar um papel direto no próprio bem-estar. Além disso, a capacidade concentra-se diretamente sobre a liberdade, e não sobre os meios para realizá-la: ela é, assim, um "reflexo da liberdade substantiva". Nesse sentido, a capacidade de uma determinada pessoa representa a sua liberdade de realizar bem-estar.

Símbolos da Justiça[editar | editar código-fonte]

Estátua da justiça, em Berna, onde são visíveis os aspectos que a devem caracterizar: cegueira, pois deve ser isenta e imparcial; balança, pois deve ter discernimento para avaliar as provas apresentadas; espada, para exercer o poder de decisão.
Os símbolos da justiça são imagens alegóricas que são utilizadas e difundidas como a representação da justiça ou de sua manifestação. São símbolos usuais da justiça: a espada, a balança e a deusa de olhos vendados.
  • Espada - simboliza a força,coragem, ordem, regra e aquilo que a razão dita e a coerção para alcançar tais determinações.
  • Balança - simboliza a equidade, o equilíbrio, a ponderação, a igualdade das decisões aplicadas pela lei.
  • Deusa de olhos vendados - usualmente uma imagem da deusa romana Iustitia, que corresponde à grega Dice, significa o desejo de nivelar o tratamento jurídico de todos por igual, sem nenhuma distinção. Tem o propósito da imparcialidade e da objetividade. É a afirmação de que todos são iguais perante à lei. Portanto, uma vez que seus olhos estão vendados, elucidam o disposto clara e evidentemente. Há que se dizer que a imagem original não comportava tal venda, no entanto, com a evolução da humanidade, por obra dos alemães, esta se faz presente até hoje.
  • Deusa de olhos abertos e sem venda - pode ser interpretada como a necessidade de não deixar que nenhum pormenor relevante para a aplicação da lei seja desconsiderado, avaliar o julgamento de todos os ângulos.
O direito sem a balança para pesá-lo é força bruta e irracional. O direito sem a espada para obrigar sua aplicação é fraco. Da mesma forma que a ausência da venda nos olhos lhe retira a imparcialidade. Cada um deve completar o outro para que a justiça seja a mais justa possível.

Justiça em pinturas[editar | editar código-fonte]

Justiça em esculturas[editar | editar código-fonte]

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