Segunda e ultimogénita filha
[3] do empresário Artur Teixeira de Bessa (
1882-
1924), de uma família rural de
Entre Douro e Minho, e de Laura Jurado Ferreira (1899-?), que era filha de pai português, Lourenço Guedes Ferreira, engenheiro dos Caminhos de Ferro, e de mãe espanhola, Lorenza Agustina Jurado Franco, nascida em
Zamora.
[4]
Regressado a
Portugal, o pai de Agustina, que já no
Brasil se dedicara à exploração de casas de espetáculo e de jogo, tornou-se gerente do
Casino da Póvoa. As contingências da sua vida levaram a família a viver em vários lugares do
Norte e do
Douro —
Gaia,
Porto,
Póvoa de Varzim,
Águas Santas,
Bagunte,
Vila do Conde e
Godim, naquela que era a casa de família da sua mãe. A relação com a região duriense, durante largas temporadas da sua infância e adolescência, marcaria de forma indelével a obra da escritora.
[5]
Desde muito jovem que Agustina se interessou por livros, descobrindo na biblioteca do avô materno, os clássicos da literatura espanhola, francesa e inglesa, marcantes na sua formação literária. Em
1932 vai para o
Porto estudar, onde passa parte da adolescência, mudando-se para
Coimbra em
1945, e, a partir de
1950 fixa definitivamente a sua residência no
Porto.
Agustina casou-se em 25 de julho de
1945, na cidade do
Porto, com o estudante de
Direito Alberto Luís, que conheceu através de um anúncio no jornal
O Primeiro de Janeiro, publicado pela escritora, no qual procurava uma pessoa culta com quem se corresponder. Do seu casamento teve uma única filha,
Mónica Bessa-Luís Baldaque, museóloga, pintora e autora de vários livros. Do casamento de sua filha nasceu um filho chamado Alberto e duas filhas, Leonor e Lourença Agustina. Do casamento de Alberto nasceu 1 filho a que foi dado o nome de Alberto ; do casamento da Leonor nasceu 1 filho a que foi dado o nome de Chiaro.
[6]
Agustina Bessa-Luís estreou-se como uma brilhante romancista em
1949, ao publicar a
novela Mundo Fechado, mas seria o romance
A Sibila, publicado em
1954 que constituiu um enorme sucesso e lhe trouxe imediato reconhecimento geral. E é com
A Sibila que Bessa-Luís atinge a total maturidade do seu originalíssimo processo criador.
É conhecido o seu interesse pela vida e obra de um dos grandes expoentes da escola romântica,
Camilo Castelo Branco, cuja herança se faz sentir quer a nível temático (inúmeras obras de Agustina se relacionam com a sociedade de Entre Douro e Minho), quer a nível da técnica narrativa (explorou ficcionalmente a própria vida de Camilo). Essa filiação associa Agustina à corrente
neo-romântica, como defende
Eduardo Lourenço.
[7]
Vários dos seus romances foram já adaptados ao
cinema pelo realizador
Manoel de Oliveira, com quem manteve uma relação de amizade e de colaboração próxima. Exemplos desta parceria são
Fanny Owen (
Francisca,
1981),
Vale Abraão (filme homónimo,
1993),
As Terras do Risco (
O Convento,
1995) ou
A Mãe de um Rio (
Inquietude,
1998). É também autora de peças de teatro e guiões para televisão, tendo o seu romance
As Fúrias sido adaptado para teatro e encenado por
Filipe La Féria, (
Teatro Nacional D. Maria II, 1995).
A sua criação é extremamente fértil e variada. A autora escreveu até o momento mais de cinquenta obras, entre
romances,
contos,
peça de teatro|peças de teatro, biografias romanceadas, crónicas de viagem,
ensaios e
livros infantis. Foi traduzida para
alemão,
castelhano,
dinamarquês,
francês,
grego,
italiano e
romeno. O seu livro-emblema,
A Sibila, já atingiu a vigésima quinta edição.
Desde Julho de 2006, pouco depois de terminar a sua última obra,
A Ronda da Noite, que Agustina Bessa-Luís deixou de escrever e se retirou da vida pública, devido a razões de saúde.
[8][9]
Em
2004, aos 81 anos, recebeu o mais importante prémio literário da língua portuguesa: o
Prémio Camões. Na acta do júri da XVI edição do Prémio, pode ler-se que "
o júri tomou em consideração que a obra de Agustina Bessa-Luís traduz a criação de um universo romanesco de riqueza incomparável que é servido pelas suas excepcionais qualidades de prosadora, assim contribuindo para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum".
Escreveu livros de diversos tipos, mas a maioria são romances. Com a novela
Mundo Fechado estreou-se como romancista. Contudo,o romance
A Sibila é que lhe trouxe enorme prestígio. A sua escrita opõe-se a qualquer tentativa de contextualização, em termos de correntes, na história da literatura portuguesa. A escritora surgiu no panorama literário português numa altura em que a oposição entre o
neo-realismo e o
modernismo do movimento da
Presença atingia o seu auge. Dedicou-se quase inteiramente à criação literária e desde sua estreia em 1948 manteve um ritmo de publicação pouco usual nas letras portuguesas.
Conhecida não só como
romancista, mas também como autora de
peças de teatro, guiões de cinema,
biografias,
ensaios e
livros infantis, a sua obra conta até ao momento com mais de meia centena de títulos. Também colaborou no jornal
57[11] (1957-1962) . A autora revela grande preocupação pela condição social e cultural dos portugueses, particularmente interessada em perscrutar o passado, recorrendo à ficção para problematizar o conhecimento histórico e vivencial.
- 1981 - Francisca, real. Manoel de Oliveira, romance Fanny Owen
- 1993 - Vale Abraão, real. Manoel de Oliveira, romance Vale Abraão
- 1995 - O Convento, real. Manoel de Oliveira, com Catherine Deneuve e John Malkovich, romance As Terras do Risco
- 1996 - Party, real. Manoel de Oliveira, peça Party: Garden-Party dos Açores
- 1998 - Inquietude, real. Manoel de Oliveira, conto A Mãe de um Rio, Prêmio Globo de Ouro (1999) para a melhor realização
- 2002 - O Princípio da Incerteza, real. Manoel de Oliveira, romance O Princípio da Incerteza
- 2005 - Espelho Mágico, real. Manoel de Oliveira, romance A Alma dos Ricos
- 2009 - A Corte do Norte, real. João Botelho
- 1953 - Prémio Delfim Guimarães (Guimarães Editores), (A Sibila)
- 1954 - Prémio Eça de Queirós (Secretariado Nacional de Informação), (A Sibila)
- 1966 - Prémio Ricardo Malheiros (Academia das Ciências de Lisboa), (Canção Diante de uma Porta Fechada)
- 1967 - Prémio Nacional de Novelística (Secretariado Nacional de Informação), (Homens e Mulheres)
- 1977 - Prémio Ricardo Malheiros (Academia das Ciências de Lisboa) — Prémio Literário, (As Fúrias)
- 1980 - Prémio P.E.N. Clube Português de Ficção, (O Mosteiro)
- 1980 - Prémio D. Dinis (Fundação Casa de Mateus), (O Mosteiro)
- 1983 - Prémio de Romance e Novela, Associação Portuguesa de Escritores, (Os Meninos de Ouro)
- 1988 - Prémio RDP Antena 1 da Literatura (Ex-aequo), (Prazer e Glória)
- 1993 - Prémio da Crítica (Centro Português da Associação Internacional de Críticos Literários), (Ordens Menores)
- 1994 - Prémio Municipal Eça de Queirós (Câmara Municipal de Lisboa) — Prémio de Prosa de Ficção, (As Terras do Risco)
- 1996 - Prémio Máxima de Literatura (Memórias Laurentinas e Party)
- 1997 - Prémio União Latina de Literaturas Românicas, Itália (Um Cão que Sonha)
- 2001 - Grande Prémio de Romance e Novela da Associação Portuguesa de Escritores (Jóia de Família)
- BULGER, Laura Fernanda, A Sibila: Uma superação inconclusa, Lisboa, 1990.
- CASTELO BRANCO, Maria do Carmo, A fala da Sibila: nótulas para a leitura de “A Sibila” de Agustina Bessa Luís, Porto, 1990.
- COSTA, Maria Moreira da, A Sibila de Agustina Bessa Luís, Mem Martins, 1990.
- DUMAS, Catherine, Estética e personagens no romance de Agustina Bessa Luís, Porto, 2002.
- LEÃO, Isabel Vaz Ponce de; Olímpio PINHEIRO, Agustina 1948-1998. Bodas escritas de oiro, Porto, 1999.
- LEMOS, Filomena Maria; Laura Maria PEREIRA, Ler, reler, criar, produzir… a obra literária “Dentes de Rato”, Lisboa, 2000.
- LIMA, Isabel Pires de, Vozes e olhares no feminino, Porto, 2001.
- LOPES, Silvina Rodrigues, A alegria da comunicação, Lisboa, 1989.
- LOPES, Silvina Rodrigues, Agustina Bessa Luís: As hipóteses do romance, Porto, 1992.
- MACHADO, Álvaro Manuel, Agustina Bessa Luís: O Imaginário Total, Lisboa, 1983.
- MANUEL, Maria Antónia Câmara; João Manuel MORAIS, Análise de “A Sibila” de Agustina Bessa Luís, Lisboa, 1987.
- MARINHO, Maria de Fátima, O romance histórico em Portugal, Porto, 1999.
- PADRÃO, Maria Glória; Maria Helena PADRÃO, A Sibila de Agustina Bessa Luís: o romance e a crítica, 3a ed., Porto, 1987.
- PADRÃO, Maria Helena Os Sentidos da Paixão Edições da Universidade Fernando Pessoa, Porto, 1998.
- PORTELA Filho, Artur, Agustina por Agustina. Entrevista conduzida por Artur Portela Fº, Lisboa, 1986.
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