|
|
POR MARTIM SILVA
Diretor-Executivo
|
|
|
23 de Janeiro de 2017 |
|
A primeira entrevista de Marcelo. E o primeiro fim-de-semana (credo!) com Trump
|
|
Bom dia, Marcelo, cá dentro, Trump, pelo Mundo
1. Amanhã, terça-feira, faz um ano que Marcelo Rebelo de Sousa ganhou "sem espinhas" as eleições Presidenciais. Ontem à noite, o Presidente da República deu a sua primeira entrevista como chefe do Estado, à SIC. A conversa, de 35 minutos, em direto a partir do Palácio de Belém, e com Ricardo Costa e Bernardo Ferrão como entrevistadores, passou pelos principais temas nacionais de atualidade: a Concertação Social, a estabilidade política, a banca, a economia (défice, dívidida e crescimento). E ainda teve tempo para a revelação de que lá para setembro de 2020, a menos de cinco meses do fim do mandato, vai revelar se é candidato a mais cinco anos em Belém.
A Helena Pereira passa aqui em revista a entrevista de Marcelo, em cinco pontos essenciais. Uma conversa em que revelou quando é que vai dizer se é ou não recandidato a Belém (eu aposto que vai ser), em que sublinhou que "líder da oposição e governo devem durar uma legislatura" (destaca o ECO) e em que elogiou o acordo de Concertação Social e defendeu a descida da TSU para os patrões.
Num registo mais pessoal, Marcelo confessou a solidão do lugar e disse que interveio o que interveio neste primeiro ano porque tinha mesmo de o fazer. E "as pessoas são o que são".
Público e Diário de Notícias dão hoje destaque de manchete à entrevista. O Público destaca a afirmação de Marcelo "não há impasse na vida política". Já o DN afirma que "Marcelo quer plano B para o salário mínimo se falhar bónus da TSU".
Na opinião, três registos que merecem leitura: O Pedro Adão e Silva afirma que "O Bloco Central de Palácios está vivo". "O pós-realidade do primeiro-ministro Marcelo" é o título da (crítica) crónica de Henrique Raposo. No Público, o David Dinis diz que "Marcelo é para ler nas entrelinhas".
Um lamento para o tempo exíguo da entrevista. Trinta e cinco minutos para passar em revista um ano marcante de mandato é pouco mais que nada. Marcelo falou dos temas essenciais, mas fê-lo de forma telegráfica. E sobre Trump e o mundo e o verdadeiro terramoto que vivemos, nem um suspiro.
2. Se a primeira entrevista de Marcelo marca a atualidade nacional, lá fora ainda são os efeitos do tufão Trump que se fazem sentir. O novo presidente dos EUA tomou posse na sexta-feira e os últimos dias foram fertéis em desenvolvimentos que vale a pena seguir (aliás, a este ritmo talvez seja avisado o Expresso Curto ter aqui uma rubrica 'Trump' de caráter permanente):
Mal tomou posse, Trump já aprovou uma ordem executiva para iniciar o processo de revisão do Obamacare. Theresa May, líder do governo do Reino Unido, revelou que vai encontrar-se com Trump ainda esta semana. A página em espanhol da Casa Branca já foi descontinuada. A embaixada americana em Israel vai passar de Telavive para Jerusalém.
Mas a grande nota destes primeiros dois dias vai para a verdadeira guerra de números a que se assiste. O assessor de imprensa Sean Spicer estreou-se nos habituais briefings na Casa Branca. E logo a acender o rastilho para mais uma polémica, dizendo que é um facto ("ponto final") que a posse de Trump teve mais gente a assistir do que a de Obama (facto, digo eu, facilmente desmentível pelas imagens que correram mundo). Logo a seguir, Kellyane Conway, uma das principais conselheiras de Trump, veio a público defender o assessor de imprensa da Casa Branca, sublinhando que as mentiras que disse não são mentiras... são "factos alternativos" (alternative facts)
No tempo da pós-verdade, eis uma expressão que marca desde já este início de mandato.
Ao mesmo tempo, a conselheira revelou que o presidente não vai, ao contrário do que admitiu em campanha, divulgar as suas declarações fiscais.
Mais números? O NYT revela que a manifestação anti-Trump deste fim de semana reuniu mais pessoas que a posse de Trump. O próprio Trump já veio a público comentar a polémica, desvalorizando as manifestações e lembrando que as eleições foram há pouco tempo.
Quer mais? Cá vai: o responsável pela conta de Twitter de Trump, que continua muito ativa, de nome Scavino, notabilizou-se por inventar notícias e divulgar mentiras.
Em entrevista este fim de semana ao El Pais, o Papa Francisco já comentou a situação política norte-americana. Apelando a alguma calma e serenidade. Mas lembrando que a história está carregada de maus exemplos de homens que se apresentaram como salvadores.
Deixo-lhe ainda aqui o texto que o Miguel Monjardino escreveu este sábado no Expresso sobre esta "nova era Atlântica" que agora começa. |
|
OUTRAS NOTÍCIAS, Lá fora, Realçe para as primárias da esquerda na corrida às presidenciais francesas desta primavera. Enquanto Le Pen se mantém confortável na liderança das sondagens e Macron é o escolhido da direita, agora é a vez da esquerda definir quem vai levar à luta. Na primeira volta das primárias, o antigo ministro da Educação Benoit Hamon levou a melhor sobre Manuel Valls, e os dois vão à segunda volta para a semana. Hamon foi ministro de Valls em 2014 (da Educação) mas entrou em rutura com o primeiro-ministro e o presidente François Hollande. Nesta disputa, Hamon aparece como o candidato de esquerda mais à esquerda, enquanto Valls está situado mais ao centro.
Em Itália, um dos sobreviventes da avalanche dos últimos dias conta como "só tinhamos neve para comer". Ainda há mais de vinte pessoas desaparecidas.
Um atentado numa gasolineira em Belfast feriu um polícia.
Um acidente de comboio causou 27 mortos na Índia.
Carolina do Mónaco faz 60 anos.
Em novembro, um acidente aéreo tirou a vida a 19 futebolistas e totalidade da equipa técnica do Chapecoense, da primeira divisão do futebol brasileiro. Ontem, o clube, totalmente remodelado, fez o seu primeiro jogo desde a tragédia.
Cá dentro, Ainda há muito a mexer à volta da Concertação Social. Catarina Martins dá hoje uma entrevista ao Público em que afirma "não estamos a fazer tiro ao acordo de concertação". E assegura que o seu partido, depois de chumbar a TSU para os patrões, vai ser construtivo na busca de outras soluções para as empresas. Deste lado, Vieira Lopes, da Confederação do Comércio, já veio falar em descida de impostos como alternativa.
No fim de semana, no Expresso, escrevíamos como Costa está a preparar 40 milhões de euros para conseguir compensar as empresas e segurar o acordo com os patrões. E lembrávamos como CIP e UGT, e os respetivos líderes António Saraiva e Carlos Silva, têm de enfrentar eleições internas e gerir as críticas que estão a surgir.
A partir de hoje, Marcelo começa, em Belém, a receber parceiros sociais.
Depois de meses e meses de muita polémica e ainda maior frustração de muitos lisboetas, Fernando Medina começa a ter trunfos para apresentar nas autárquicas deste ano. Ontem fez um verdadeiro número de comunicação com o final das obras no eixo Av da República-Saldanha.
No mesmo dia, Bagão Félix veio declarar o apoio público a Medina, em detrimento de Assunção Cristas, elogiando o bom trabalho do autarca em Lisboa.
Ano sim, ano sim, tão certo como virem da Madeira bananas deliciosas é os responsáveis políticos locais voltarem ao discurso bacoco das acusações de "neo-colonialismo" a Lisboa. Ontem, aproveitando o congresso do PSD local, Miguel Albuquerque tirou o estafado discurso da luta contra o centralismo.
No outro arquipélago, no congresso do PSD Açores, Passos aproveitou para novo ataque ao governo, garantindo que o seu partido não vai ser a "peça sobresselente" da geringonça".
Gestor, esteve à frente da Central de Cervejas e da RTP, Alberto da Ponte morreu ontem, vítima de doença.
O Jornal de Angola, num editorial supostamente dedicado a comentar as eleições americanas, volta a lançar acusações a Portugal - de querer interferir nas eleições angolanas previstas para este ano.
Os novos militantes do PSD são mais do dobro dos do PS, noticia o DN.
Se lhe perguntarem qual o exame do secundário em que os alunos portugueses mais dificuldades tiveram no último ano, o que responderia? Provavelmente, história não seria a escolha óbvia. E no entanto é a resposta correta. O Expresso procurou perceber as razões para este fracasso.
Dinossauro que se preze luta para contrariar a extinção da espécie. Fernando Ruas que o diga.
Há 100 novos docentes no ensino superior, contratados este ano.
Na liga portuguesa, com Jorge Jesus a atirar a toalha ao chão e a dizer que agora a luta é pelo segundo lugar, este fim de semana Porto e Benfica cumpriram e mantém-se com uma distância de quatro pontos (daqui a duas semanas é o Porto-Sporting). Ontem, os encarnados venceram com mais uma brilhante exibição de Pizzi.
Já o presidente dos leões, Bruno de Carvalho, foi para o Facebook dizer que os erros dos árbitros "já nos custaram pelo menos 12 pontos".
Finalmente, e para terminar, a notícia que dá conta de um estudo que conclui que os "utilizadores das redes sociais confiam naquilo que partilham mas nem tudo é verdade". Pois...
FRASES "País deve estar preparado para o fim do euro", Catarina Martins, líder do BE, em entrevista ao Público
"Não há obra nem iniciativa sem crítica", Fernando Medina, presidente da Câmara de Lisboa
"É preciso ver o que faz. Não podemos ser profetas de calamidades", Papa Francisco, sobre Donald Trump
"Uma crise política este ano acho mesmo impossível". Marques Mendes, no seu comentário semanal na SIC, esta semana antecipado para sábado por causa da entrevista de Marcelo
O QUE ANDO A LER Nos últimos dias, uma leitura caiu-me no colo na melhor altura possível. Em tempos de tanto pessimismo e de tantas dúvidas e interrogações e cepticismo com o que se passa no mundo, "Thank You For Being Late", de Thomas L. Friedman, um dos mais aclamados colunistas do New York Times, é uma lufada de ar fresco e optimismo (fundamentado) que se recomenda vivamente.
Depois de "O Mundo é Plano" (2005, Actual Editora) e de "Quente, Plano e Cheio" (2008, Actual Editora), Friedman chega agora com mais um olhar sobre o que se passa neste mundo cada vez mais veloz. E é precisamente da velocidade com que as coisas estão a mudar em termos tecnológicos, na globalização e no ambiente que o autor trata. Com acutilância, profundidade e uma forma de explicar o mundo que é das mais clara que se podem encontrar na atualidade.
O "Thank You For Being Late" do título explica o propósito do livro. O autor, como tantos de nós, nunca tem tempo para nada. Os seus pequenos-almoços são na maior parte dos dias ocupados com encontros com fontes, empresários, economistas, políticos, etc. Ao longo do tempo, reparou que os atrasos frequentes o faziam ter tempo para si... sem nada para fazer. Tempo utilizado para relacionar factos, ligar pensamentos e ideias. No fundo, para pensar. Daí o agradecimento a quem se atrasa e lhe pede desculpa.
E é disso que este livro (ainda sem edição portuguesa) trata. De pensamento com qualidade e profundidade sobre o que se passa no planeta. Imperdível.
Tenha um grande dia. Com frio, mas um pouco menos do que nos últimos dias. |
|
|