quinta-feira, 20 de outubro de 2016

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Expresso
Bom dia, já leu o Expresso Curto Bom dia, este é o seu Expresso Curto

Miguel Cadete
Por Miguel Cadete
Diretor-Adjunto
 
20 de Outubro de 2016
 
Trump admite não aceitar o resultado das eleições
 
Ainda antes do último debate entre Hillary Clinton e Donald Trump ter início, o “El País” fazia o ponto da situação: “É mais provável Messi ou Ronaldo falharem um pénalti do que uma vitória de Trump”. Na verdade, horas antes, o “New York Times” tinha publicado uma sondagem que dava apenas 8% de possibilidades para Trump se tornar Presidente dos Estados Unidos da América.

Aparentemente, este terceiro e último debate com Hillary Clinton tornava-se na derradeira chance para Donald Trump recuperar perante a sua adversária tamanha desvantagem. Em princípio, algo tinha que mudar. Mas a verdade é que nada mudou. Os dois candidatos esgrimiram os mesmos argumentos já apresentados nos dois anteriores debates, mostrando-se satisfeitos com o lugar que ocupavam.

A grande surpresa veio de Trump, autor da maioria dos soundbites, mas não é claro que tenha conquistado votos. Quando lhe perguntaram se aceitaria o resultado das eleições de 8 de novembro, respondeu “na altura, logo se vê”. E quando o moderador Chris Wallace, da Fox News, insistiu na questão, Trump falou em corrupção, desonestidade, nas mentiras do “New York Times”, em “milhões de pessoas que estão registadas e não deveriam poder votar” para concluir: “digo na altura. Vou manter-vos em suspense”. O descrédito sobre o sistema eleitoral norte-americano no seu auge.

As acusações, frases incendiárias, tiradas para a plateia foram as mesmas dos debates anteriores, desta vez com passagens por temas como a posse de armas, o aborto, a Constituição americana – logo numa primeira parte sonolenta – mas também os emails de Clinton, os impostos de Trump, a política fiscal, Putin, o ISIS e toda a artilharia de questões que tem preenchido esta campanha, tal como Joana Azevedo Viana conta no Expresso online.

A questão que ficou por responder foi, porém, outra. Por que razão corre Donald Trump? Nenhum candidato recuperou tamanha desvantagem a três semanas das eleições e ele nada fez para aumentar o número de eleitores. A frase que dominou o debate e que está nas manchetes dos sites de notícias pode não perturbar o seu eleitorado mas deu uma dimensão ainda maior à ideia de que a democracia americana é um estorvo para Trump. Porque se candidatou então? O seu comportamento permaneceu neste último combate em direto na TV tão errático e incoerente quanto muitos dos seus argumentos. O que quer este homem? Michael Moore, o realizador, tem uma ideia.

Hillary Clinton, por seu lado, surgiu igual a si própria ainda que em pose quase presidencial. Vestiu de branco, como se fosse noiva da América, e sorriu paternalisticamente enquanto escutava as atoardas de Donald Trump. Em vantagem, procurou consolidar o seu eleitorado. Na declaração final falou para todos os americanos, “democratas e republicanos”. E, em total contraste, com o politicamente incorreto do seu adversário voltou a defender as mulheres, os mais pobres, as pequenas empresas, os direitos da comunidade LGBT e por aí fora. Como resposta ouviu Trump chamar-lhe mentirosa dezenas de vezes e um ou outro impropério como “que mulher desagradável” (“such a nasty woman”). Foi formosa mas não tão segura, como diz o “New York Times”

De acordo com a sondagem da CNN, venceu este debate, tal como tinha acontecido com os dois anteriores, agora por uns claros 13 pontos de diferença (52% contra 39%). Não é crível que ainda possa perder as eleições. Seria o mesmo que falhar um pénalti numa baliza com 52 metros largura.
 

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OUTRAS NOTÍCIAS

Messi, já se sabe, falha poucos pénaltis.
Mas ontem não precisou de chutar da marca de grande penalidade para transformar o regresso de Pep Guardiola ao estádio do Barcelona num inferno. O Manchester City sofreu quatro golos sem resposta no terceiro jogo da fase de grupos da Liga dos Campeões. Neymar marcou o outro, numa assistência de, quem mais?, Messi. Curiosamente, o brasileiro já tinha falhado um penálti.

O Benfica desembaraçou-se do Dínamo de Kiev, vencendo fora por dois a zero. Golos de Cervi e Salvio que fazem hoje as delícias das primeiras páginas dos jornais desportivos. “Águia voa no frio” e “Bravo!” ou “Tango no gelo” pode ler-se em encarniçadas manchetes. Diogo Pombo faz a crónica do jogo para a Tribuna: “eles vão-se chegando à frente”.

Rocha Andrade, o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais, continua envolvido na controvérsia do caso Galp. O Europeu de futebol já lá vai mas o secretário de Estado continua a ser atacado. Depois de entrevistas suas ontem publicadas, onde assumia que todos os membros do Governo têm inibições, a oposição pergunta-lhe “quem”, “quais”, “como” e “porquê”.

Mais um sinal de que a classe política também não goza de grande credibilidade é a discussão na Assembleia da República sobre os salários dos administradores da CGD. PSD ajuda PS contra PCP e BE. O mundo ao contrário. António Costa defende que os salários deve ser indexados pelo mercado e não pela remuneração do primeiro-ministro, lê-se no “Público”.



FRASES

“Infelizmente ordenado do primeiro-ministro é muito inferior ao que existe na banca, mas não me queixo”. António Costa, primeiro-ministro

“Para as pessoas se rirem é preciso muito sofrimento deste lado”. Salvador Martinha, humorista, ao jornal “i”

“Taxistas não deram nenhum contributo útil para a regulamentação da Uber e da Cabify”. Matos Fernandes, ministro do Ambiente, ao “DN”

“Governo não inspira confiança a investidores”. Ferraz da Costa, presidente do Forum para a Competitividade, ao “Público”

“Queremos que isto acabe depressa”. Pai do GNR assassinado, ao “Correio da Manhã”



O QUE ANDO A LER




“Todos querem ser donos do fim do mundo”. É assim o arranque de “Zero K”, o último romance de Don DeLillo. É assim que o pai falava ao personagem principal. DeLillo, que terá sido a grande dúvida da Academia Sueca quanto ao vencedor do último Prémio Nobel da Literatura, permanece seco e intenso.

Exatamente o oposto de Nelson Rodrigues, o controverso escritor brasileiro que começa a ser reeditado em Portugal. “Não mentira ao sogro. Sua vida conjugal era, de fato, de uma melancolia tremenda. Descontado o período da lua de mel, que ele estimava em oito dias, nunca mais fora bem-tratado. Sofria as mais graves desconsiderações, inclusive na frente de visitas. E, certa vez, durante um jantar com outras pessoas, ela o fulminara, com a seguinte observação, em voz altíssima:
- Vê se pára de mastigar a dentadura, sim?”

Para terminar, outro concorrente a Prémio Nobel, que em breve estará em Lisboa no Lisbon & Estoril Film Festival. Adonis, o sírio que revolucionou a poesia árabe, escreve assim, em tradução de Nuno Júdice:
“Surgirá um astrolábio novo

Para dizer que um novo corpo celeste habita o coração do Alhambra

E que a poesia grava sobre ele os seus traços?

E porque será que me desagrada ver-me

De uma outra forma que não seja aquela que eu não vejo?”


Por hoje é tudo. Logo mais, é publicada mais uma edição do Expresso Diário, às 18 horas. Todo o noticiário é atualizado em permanência no Expresso Online. Amanhã, Nicolau Santos servirá esta bica escaldade.

Tenha um bom dia!

 

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360º

Por Miguel Pinheiro, Diretor Executivo
Bom dia!
Enquanto dormia...... Donald Trump largou uma bomba ao retardador no último debate com Hillary Clinton. Quando lhe perguntaram se aceitaria o resultado das eleições, mesmo que fosse uma derrota, respondeu: “Vejo isso na altura. Vou deixar-vos em suspense, OK?”. Nunca se tinha ouvido nada assim numa campanha presidencial. As sondagens deram a vitória no frente a frente a Hillary, mas foi o resultado mais renhido dos três debates: 52%-39%.

O Benfica ganhou 2-0 ao Dínamo de Kiev, o que deixa o clube mais tranquilo na Liga dos Campeões. O Rui Miguel Tovar conta como tudo se passou na crónica do jogo, que pode ler aqui.

Durante a madrugada, a GNR cercou as aldeias de Gache e de Ludares, em Vila Real, mas não conseguiu apanhar o fugitivo dos crimes de Aguiar da Beira. As buscas continuam hoje e já se ouvem críticas: Mário Mendes, ex-secretário-geral do Sistema de Segurança Interna, disse ao DN, que há "falhas de coordenação bastante grandes" entre as forças policiais.


Informação relevanteComo dizia Sérgio Godinho, há dias de manhã em que um homem à tarde não pode sair à noite. Ontem foi um desses dias para António Costa. Tudo correu mal no governo e na "geringonça". As coisas descarrilaram logo com a entrevista do secretário de Estado Rocha Andrade a avisar que "todos os membros do Governo têm uma lista de entidades sobre as quais não devem tomar decisões" e, como explicam aqui a Rita Tavares e a Rita Dinis, só foram piorando com o passar das horas: as mudanças nos recibos verdes provocaram uma guerra de protagonismo entre o BE e o PCP, ao mesmo tempo que a secretária de Estado da Segurança Social tentava dizer que era tudo "prematuro"; no Parlamento, os partidos da esquerda criticaram o ordenado do novo presidente da Caixa; e até houve queixas por causa do Tratado Orçamental.

Mas vamos lá voltar ao começo: o que é que estava na cabeça de Rocha Andrade quando deu aquela entrevista? Estava a referir-se a quê quando disse a frase "Já me foram presentes decisões para tomar relativamente a outras entidades em que tive a necessidade de invocar essa escusa, porque se verificavam situações que comprometiam a minha capacidade de decisão"? O Rui Pedro Antunes foi consultar novamente a declaração de rendimentos que o secretário de Estado dos Assuntos Fiscais entregou ao Tribunal Constitucional e não viu nada que justificasse isto. Ao que o Observador apurou, serão decisões relativas a pessoas com as quais tem relações pessoais de grande proximidade.

E em relação ao salário do novo presidente da Caixa Geral de Depósitos, como é que as coisas ficaram?
  • No Parlamento, houve uma gigantesca confusão: PSD, CDS, PCP e BE concordam que o ordenado deve ser mais baixo do que os anunciados 423 mil euros anuais mas não conseguiram votar em conjunto para impedir isso, deixando-se enrolar em discussões de detalhe.
  • Em Belém, houve um aviso: depois de ter promulgado o decreto-lei que permitia o aumento de salários, o Presidente disse ontem que, havendo dinheiro público na CGD, “não é possível nem desejável pagar o que se pagaria se fosse um banco privado sem fundos públicos”.
  • Em São Bento, houve uma certeza: ao final da noite, António Costa deixou uma frase definitiva a um grupo de militantes socialistas: “Pode ser impopular o vencimento, mas eu não arrisco a má gestão da Caixa”.
Quando entregou o Orçamento, o Governo garantiu que a carga fiscal vai descer ligeiramente. Os partidos da direita dizem o contrário. A Ana Suspiro fez um fact check ao assunto.

A agenda de Marcelo Rebelo de Sousa e de António Costa anda muito preenchida por estes dias: O Exército já interrogou várias pessoas sobre a morte de dois militares em treinos dos Comandos. E tudo indica que não terão estado em causa “infrações disciplinares” por parte dos responsáveis pela formação. Ainda falta o resultado das autópsias.

Mais um problema para as obras na Segunda Circular: segundo João Gonçalves Pereira, vereador do CDS, a composição do júri que tomou decisões sobre a obra foi alterada várias vezes, o que pode tornar o processo nulo. Hoje, o tema é discutido na câmara.


Os nossos Especiais "Deixar um bebé sozinho a chorar durante a noite é como abandoná-lo". A frase, que dá seguramente para muitas discussões, é de Helen Ball, investigadora na área da antropologia, fisiologia e biologia do sono do bebé e consultora da UNICEF. Numa entrevista à Rita Ferreira, a especialista explica a sua tese e dá alguns conselhos.


Notícias surpreendentes
Os europeus chegaram ontem a Marte por volta das 17h35. A missão ExoMars 2016 quer descobrir se há sinais de vida.

É a primeira rede social de realidade aumentada e é portuguesa. Quando alguém chega a um local, tira uma foto e a partilha na rede social, um amigo pode ver aquela imagem desde que vá ao mesmo sítio. Os criadores da Catxy descrevem-na como uma espécie de "Pokémon Go da vida real".

A nova edição do FIFA 17 traz uma novidade: o modo The Journey permite acompanhar um jogador fora do estádio. Os críticos de videojogos da Rubber Chicken já experimentaram: "É uma excelente viagem na primeira pessoa ao mundo do futebol".

Há edifícios altos, muito altos e altíssimos. Durante quatro mil anos, a Grande Pirâmide de Gizé, com 145 metros, foi a construção mais alta feita pelo ser humano. Mas agora parece que há recordes todos os dias. A explicação para isso - e as fotos dos maiores edifícios, está aqui.

"Café Society" é o novo Woody Allen e estreia hoje. Eurico de Barros dá-lhe quatro estrelas: "É um filme de uma simplicidade aparente, enganadora".
Há mais dois filmes para ver: "Abril e o Mundo Extraordinário" é uma animação de longa-metragem "a que os apreciadores de ficção científica alternativa e steampunk chamarão um figo"; e "O Ornitólogo", do português João Pedro Rodrigues, é "uma interpretação muito pessoal, bastante transgressora – para o lado homoerótico e “pasolinesco” –, e crescentemente estetizante, alegórica e desconcertante, da vida de Santo António de Pádua".

"A Canção de Lisboa", "A Menina da Rádio", "O Delfim". A Academia Portuguesa de Cinema inaugurou uma exposição com alguns dos cartazes mais emblemáticos do cinema português. Veja já alguns exemplos.

Quando acabar esta viagem pelo cinema português, regresse ao Observador - vai ser um dia cheio de notícias.
Até já!

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ebê russa que nasceu sem os braços aprende a comer com os pés


Link to HypeScience

Posted: 19 Oct 2016 01:23 PM PDT
Vídeo da pequena Vasiliny tem derretido corações no mundo inteiro; feliz da vida, a menininha usa os pés para ajeitar o alimento e levá-lo à boca com um garfo de plástico
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Já pensou que incrível seria se pudéssemos converter dióxido de carbono atmosférico em combustível, em escala industrial?
Posted: 19 Oct 2016 05:52 AM PDT
De acordo com uma nova pesquisa, assim como o universo, o nosso cérebro pode ser programado para maximizar a desordem, um princípio semelhante ao da entropia
Observador, José Manuel Fernandes
Ontem, 20:22Você

Macroscópio

Por José Manuel Fernandes, Publisher
Boa noite!


Este segunda-feira participei numa conferência com Luís Amado (que foi ministro da Defesa e ministro dos Negócios Estrangeiros em vários governos do PS) para debater o mundo com que António Guterres terá de lidar como secretário-geral das Nações Unidas. Até entrar no auditório da AESE Business School, que organizava o encontro, eu julgava ser uma pessoa especialmente pessimista – sobretudo pessimista quando, olhando para o mundo perigoso em que vivemos, procurava pensar sobre o nosso futuro comum. Bastaram-me alguns minutos a ouvir Luís Amado para perceber que, se calhar, sou afinal um optimista. É que nunca ouvira ninguém dizer, preto no branco, que atravessamos aquele que é, provavelmente, o período mais perigoso para as relações internacionais, e para a paz no Mundo, desde o fim da II Guerra Mundial. Não vou aqui resumir os argumentos desenvolvidos nessa conferência, antes parto da simples constatação desse pessimismo para vos sugerir algumas leituras que, não sendo apocalípticas, suscitam suficientes inquietações para que deixemos de olhar apenas para o umbigo das nossas discussões domésticas e demos alguma atenção ao que se passa em redor. E também à circunstância de encontrar cada vez mais pessoas que, nos mais diferentes órgãos de informação, falam em “regresso aos anos de 1930” ou mesmo em “III Guerra Mundial”.

Um dos centros das tensões que cruzam o nosso planeta é, como tem sido nas últimas décadas, o Médio Oriente. Só que agora a zona de maior fricção deixou de ser a gerada como conflito israelo-palestiniano para passar a ser a complexa guerra civil – ou guerras civis – que têm vindo a destruir a Síria e o Iraque. Por isso a minha primeira sugestão de leitura é um texto da Spiegel, Battle for Aleppo: How Syria Became the New Global War, onde se coloca a questão que não pode deixar de ser colocada: “Could escalation between Moscow and Washington be on the horizon?” Eis alguns dos sinais inquietantes da actual escalada: “Because Russia is taking part in Assad's air strikes on civilians, the US last week withdrew from all peace talks. In response, Russia pulled out of a deal for the disposal of surplus weapons-grade plutonium -- which can be seen as an indirect threat to use atomic weapons.” Quanto à situação em Aleppo, esta ilustração da mesma Spiegel é bem ilustrativa da forma complexa como se alinham as diferentes frentes de batalha:



(Se não virão ainda, não deixem de ver este pequeno video, legendado pelo Observador, bem revelador do grau de destruição de Aleppo e que foi filmado por uma câmara instalada num drone.)

Na Spectator, Paul Wood vai directo à interrogação com que abri esta newsletter: Could the conflict in Syria lead to world war three? Relations between America and Russia are now worse than at any time since the Cold War. Misto de reportagem e análise, é um texto que parte do drama de Aleppo, a cidade mártir, para depois discutir as diferentes hipóteses de intervenção dos Estados Unidos e chegar à conclusão que “The Russian military has now announced that it is sending a battery of the S300 air defence missiles to Syria. This is not world war three, but it is starting to look like a new Cold War. Hillary Clinton’s no-fly zone rests on the belief that Vladimir Putin will deflate like a punctured balloon when challenged. But what if he does not?

Vale a pena falar um pouco mais desta tensão e, também, do que representa e do que prossegue Vladimir Putin. No Washington Post George F. Will tem uma leitura sombria: Vladimir Putin is bringing back the 1930s. Duplamente sombria: “In many worrisome ways, the 1930s are being reprised. In Europe, Russia is playing the role of Germany in fomenting anti-democratic factions. In inward-turning, distracted America, the role of Charles Lindbergh is played by a presidential candidate smitten by Putin and too ignorant to know the pedigree of his slogan “America First.” Para sustentar o seu ponto de vista este colunista cita por diversas vezes um livro que também recomendo e cujo título diz (quase) tudo: “Authoritarianism Goes Global” (edições  da Universidade Johns Hopkins). Um

Um dos editores deste livro é um académico conhecido pelos seus estudos sobre a democracia, Larry Diamond (os outros são Marc F. Plattner e Christopher Walker), pelo que sigo para um texto deste autor hoje publicado na The Atlantic: It Could Happen Here. O “aqui” são os Estados Unidos e o que podia acontecer é um solavanco na democracia, e logo na democracia que tem servido como referência de solidez, resiliência e respeito pela Constituição. O autor parte das tensões criadas pela candidatura de Donald Trump sublinhando que “Democracies fail when people lose faith in them and elites abandon their norms for pure political advantage”. De facto, como se escrevia num outro trabalho da The Atlantic, Democracy Depends on the Consent of the Losers e aquilo que Trump tem vindo a dizer a que pode não aceitar facilmente uma derrota nas urnas.

Mas nem sequer é necessário que o candidato republicano abra uma crise constitucional para que os próximos meses criem um relativo vazio de poder no que toca à capacidade de acção dos Estados Unidos. É isso mesmo que sublinha Gideon Rachman, do Financial Times, em A distracted America in a dangerous world: The next three months will be a perilous time from Mosul to the South China Sea. Depois de analisar com as diferentes crises podem evoluir até um novo Presidente dos Estados Unidos tome posse em Janeiro de 2017, o autor olha criticamente para o legado de Obama: “As Mr Obama prepares to pack his bags in the White House, he may look back wryly at the foreign-policy goals that he set eight years ago. There was to be a “reset” that would lead to better relations with Russia. There would also be a new and closer working relationship with China. And there would be an end to war in the Middle East. None of those policies has come to fruition. Instead, Mr Obama will be fortunate if he can negotiate his last three months in office without presiding over a major international crisis.”

No Wall Street Journal é-se ainda mais crítico no que se refere à política síria desta Administração, escrevendo Daniel Henninger que Aleppo Is Obama’s Sarajevo. É um texto ácido: “We will wait for Mr. Obama’s memoirs to discover the moral calculus behind his abandonment of Syria’s rebels. We suspect the math will go something like this: I spent all my political capital on the Iran nuclear deal, forestalling a long-term apocalypse in return for the near-term disorders in the region. Well, the world has paid a high near-term price—in cash, security and moral capital—for one nuclear deal with Iran. That includes Aleppo.”

Dir-se-á: mas temos Mossul. Ao menos de lá vêm notícias mais optimistas, o Daesh está finalmente na defensive, a coligação com o apoio dos Estados Unidos já está nos subúrbios dessa importante cidade. O Observador já procurou clarificar o que está em causa num Explicador preparado pelo Miguel Santos – À reconquista de Mossul. O que está em jogo? – e a Economist, na sua coluna The Economist explains, era clara: Why the battle for Mosul is a turning point. É um texto que nos recordava a importância estratégica que a cidade sempre teve ao longo dos milénios: “Ever since Sennacherib made the city his capital in 700 BC, whoever ruled it has dominated the region—be they Assyrians, Babylonians, Arabs, Ottoman sultans or the British empire. It remains strategically important in the 21st century: regional powers regard a post-IS Mosul, if not as a jewel to conquer, at least as a place to deny to rivals.”

Contudo é prudente não lançar foguetes antes de tempo. Mosul will be liberated, but Iraq’s future hangs in the balance, escreve David Gardner no Financial Times. A questão que o autor levanta é que o Iraque continuará a ser um país fragmentado e toda a região continuará instável e dividida por conflitos sectários mesmo que se consiga expulsar os jihadistas de Mossul. Em síntese: “The territory of Isis’s vainglorious caliphate is being eaten away. It will lose Mosul. But until the issues of how to govern liberated territories and protect their inhabitants are properly addressed, a jihadi organisation that can combine a range of tactics from regular warfare to terrorism will still be able to change shape and survive.”

Peço desculpa por hoje estar a regressar muitas vezes ao Financial Times, mas como este Macroscópio já vai relativamente longo e apenas aflorámos alguns dos factores da actual instabilidade a nível global, queria acabar por hoje com uma referência a Philip Stephens e ao seu texto How the west has lost the world. É uma síntese interessante de como o mundo tal como o conhecemos pode estar a acabar e, sobretudo, sobre como a nova ordem (ou desordem) mundial já não será construída em torno do Ocidente. Em síntese: “The world is at a hinge point. The post-cold war settlement, organised around unchallenged US power, western-designed global institutions and multilateral rules and norms, has been eroded. The rule of power is chafing against the rule of law, nationalism against internationalism. Some think that the simple fact of economic interdependence will save the day — conflict would throw up only losers. But the dynamic can operate in the other direction. It is no accident that the International Monetary Fund’s latest annual report cites political risk as the biggest threat to the world economy. The liberal economic system depends above all on global security order.”



Tempos perigosos, tempos de decisões difíceis, tempos em que sentimos que deixámos de conhecer as regras do jogo. Luís Amado mostrou-se, repito, muito pessimista na sua conferência na AESE, e nela tocou em muitas outras frentes para além das referidas neste Macroscópio. O leitor fará o seu juízo, mas asseguro-lhe que folhear a imprensa internacional não nos deixa com vontade de festejar.

Tenham bom descanso e boas leituras.

 
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