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Por Martim Silva
Diretor-Executivo
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24 de Junho de 2016 |
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Brexit ganhou (ou o momento mais marcante na Europa desde a queda do Muro)
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Bom dia, Hoje é daqueles dias em que sabemos que acordámos e o mundo mudou. Ainda não sabemos quanto mudou, mas que mudou, mudou...
01.30 da manhã. Vou-me deitar e tudo aponta ainda para a vitória do
Remain. As primeiras sondagens indicam uma vantagem que pode ser de
52-48 para a manutenção do país na União Europeia. As primeiras reacções
vão todas nesse sentido e até o líder do UKIP, Nigel Farage, admite que
o “Brexit” ia perder. O abalo tinha sido grande mas parecia que ia
passar sem mossas maiores. 05.30 da manhã. Toca o
despertador. As notícias no telemóvel não enganam: a reviravolta estava
aí e o Reino Unido ia mesmo sair da União Europeia. O mesmo Farage já
clamava ao mundo que 23 de junho ia ficar para a história como o
“independence day”. Pelas 06.15 começo a escrever este artigo.
A borboleta tinha batido as asas. Só que neste caso trata-se de uma
borboleta de 58 milhões de pessoas e que é tão só a quinta maior
economia mundial (e a segunda da União Europeia, só suplantada pela
Alemanha. O Pedro Cordeiro, enviado do Expresso ao referendo, escreveu já esta manhã sobre o resultado do referendo. “A Europa não volta a ser o que era”, diz ele. Na consulta, o
resultado oficial foi de 51,9% para o Brexit (17 410 742 votos) e 48,1%
para a manutenção (16 141 241). 1,3 milhões de votos e o mundo mudou… Que não haja engano. Podemos estar a assistir à mais extraordinária sucessão de eventos na Europa desde a queda do Muro de Berlim, em 1989.
As consequências, embora muitas delas imprevisíveis, são potencialmente
devastadoras. E que ninguém pense que o Brexit é algo lá longe e que
não nos afecta. A primeira consequência é política e interna dentro do próprio Reino Unido. Cameron não se vai aguentar no poder
(ele que iniciou todo o processo, prometendo uma consulta popular que
estava convencido que jamais aconteceria). Às 08.18 o primeiro-ministro
do Reino Unido falou, à porta do 10 de Downing Street. “O país precisa
de uma nova liderança”, disse. No referendo, Escócia e
Irlanda do Norte votaram maioritariamente pela manutenção do país na
União Europeia e poderá a prazo estar em causa a sua própria
continuidade dentro do Reino Unido. A primeira-ministra da Escócia, Nicola Sturgeon, declarava já hoje
pelas 05.50 da manhã que a Escócia votou de forma clara pela manutenção
na União Europeia. Recorde-se que um referendo na Escócia em 2014 teve
como resultado a reafirmação da manutenção escocesa no Reino Unido, mas o
assunto volta agora a tornar-se premente. Finalmente, o que se pode passar na Europa? Ninguém
sabe mas dificilmente as coisas ficarão na mesma. Nunca um país tinha
abandonado o clube europeu. Numa das primeiras reacções, já vimos o
líder nacionalista holandês (Geert Wilders) afirmar que deseja um referendo no seu país, precisamente com o mesmo conteúdo do que ontem aconteceu no Reino Unido. E o Washington Post fala já num conjunto
de países, que incluem França, Holanda, Dinamarca, Suécia e Hungria,
que podem estar, de uma forma ou de outra, na lista para poderem ser os
próximos a deixar a União. Um dos primeiros e mais impactantes efeitos do resultado da consulta é económico e nos mercados. E deve ser daqueles que mais vamos ouvir falar nas próximas horas e nos próximos dias. Para já, os valores da libra
estão em queda e atingiram mínimos de 31 anos. A queda da moeda começou
por volta da meia noite, quando os resultados começaram a ser
anunciados… E já há efeitos nas bolsas, com Tóquio a abrir em derrocada. Como aconteceu o que aconteceu?
A ida às urnas foi mais alta nas regiões que mais votaram no Brexit,
especialmente no norte e leste de Inglaterra. Em Londres, na Escócia e
na Irlanda do Norte votou-se claramente a favor da manutenção na União
Europeia, mas aí a abstenção foi mais elevada que no resto do país. E o
tema “imigração” acabou por ser provavelmente um dos mais fortes nos
pratos da balança a pesar a favor da saída. Se ainda quiser ir revisitar tudo o que se passou ao longo desta incrível noite, deixo-lhe aqui os links dos especiais do Expresso, do Guardian e ainda do Financial Times. E neste artigo da Sky pode relembrar tudo o que se passou
nos últimos três anos (desde que a 23 de Janeiro de 2013 Cameron se
lembrou de falar na ideia de um referendo) e que culminou nos
acontecimentos desta noite. O Financial Times chama ao Brexit o “divórcio mais complicado do mundo” e neste artigo
explica os próximos passos que levarão à saída da União do país. Só
para ter uma ideia, estima-se que as negociações para a saída do país
podem levar algo como entre dois a… dez anos. Uma nota
final para lhe dizer que normalmente o Expresso Curto tem como objetivo
informá-lo sobre o que de mais importante e significativo se passa no
país e no mundo. Hoje, não tenho de todo em todo a pretensão de fazer
isso com o que escrevo aqui sobre o Brexit. Esta leitura não encerra o
que se passou. Esta leitura é tão só um alerta para a importância do que
se está a passar e sobretudo para o que ainda vai acontecer. Este vai
ser o tema do dia. O tema do mês. E o tema deste ano de 2016. Remember
this day
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OUTRAS NOTÍCIAS Cá dentro, Por cá, continuam as mudanças na comunicação social. David Dinis vai ser director do Público, substituindo Bárbara Reis, e assim deixando a liderança da TSF. TSF onde tinha ido substituir Paulo Baldaia, que agora também é apontado como novo director do Diário de Notícias, de onde vai sair André Macedo… Ontem Paulo Portas estreou-se nos comentários na TVI. E analisou o referendo no Reino Unido, dizendo que uma vitória do Brexit seria o abrir de uma Caixa de Pandora. Pois… Abre hoje a primeira casa para crianças doentes sem cura em Portugal, noticia o Público. O Governo assume que o fecho de agências da Caixa Geral de Depósitos em Portugal é inevitável. A mãe a quem foram retiradas as três filhas entrou no décimo dia de greve de fome. Suspeito do caso Lava Jato prefere ser julgado em Portugal. A última noite foi noite de São João e o rei foi… Marcelo. No Europeu de futebol é
tempo de pausa antes de amanhã recomeçarem os jogos, agora com as
primeiras três partidas dos oitavos de final (Portugal joga este sábado
pelas oito da noite com a Croácia). Entretanto, já foi escolhido o onze ideal da primeira fase da competição. Portugueses? Nem um. Mas há dois croatas… O L’Equipe também já elegeu
as melhores partidas desta primeira fase do Euro, e uma delas teve as
cores portuguesas (não é difícil adivinhar qual foi o jogo). Lá fora, Na Colômbia foi assinado um histórico acordo de cessar-fogo entre o presidente Juan Manuel dos Santos e as FARC. O que se segue agora no país e que solidez tem este acordo? Já no próximo domingo, aqui mesmo ao lado, os espanhóis voltam às urnas,
para tentar desatar o nó criado pelas eleições gerais do final do ano
passado e que não permitiram a formação de um Governo. O problema é que
as sondagens voltam a não mostrar de forma clara qual poderá ser o
desfecho depois do escrutínio de domingo. A propósito destas eleições, vale a pena ler o artigo de Francisco Seixas da Costa. Ainda em Espanha, um homem de 70 anos foi preso por tentar comprar uma menor para se casar com ela. Na campanha presidencial norte-americana, ficou a saber-se
que Donald Trump acabou de transformar um empréstimo de 50 milhões de
dólares à sua campanha num donativo. Resultado? Já não volta a ver o
dinheiro.Ainda nos Estados Unidos, o Supremo Tribunal bloqueou uma decisiva lei da Administração Obama sobre imigração.
E, já no próximo domingo, é inaugurado o novo Túnel do Panamá, depois das monumentais obras de expansão da ligação entre o Atlântico e o Pacífico. Incrível é a história à volta da icónica imagem de Iwo Jima,
em que soldados americanos içam a bandeira do país. Afinal, um dos
soldados que se pensava lá ter estado… não estava. E quem estava era um
outro soldado, Harold Schultz, que ao longo de décadas passou
anonimamente ao lado da história. O todo poderoso líder e fundador do Facebook. Mark Zuckerberg, tem uma forma no mínimo curiosa de se proteger de hackers. Saiba qual é, aqui.
As meninas adoram princesas e filmes e histórias de princesas (eu bem
sei o que passo em casa, com a Frozen a passar em loop no dvd), mas um estudo indica que também os rapazes podem aprender muito com estas histórias. FRASES “Estamos determinados para manter a nossa unidade como 27”, Donald Tusk, presidente do Conselho Europeu “Estagnação da economia é fruto de quatro anos de destruição produtiva”, Maria Mortágua, do Bloco de Esquerda, no Jornal de Negócios “Não sei o que é hoje o Syriza. Nem o Syriza sabe. O Bloco distanciou-se”, outra vez Mariana Mortágua, desta vez no i O QUE EU ANDO A LER Já aqui foi falado duas vezes, pelo Henrique Monteiro e Miguel Cadete, mas ainda assim volto à carga. Falo do imprescindível "António Barreto – Política e Pensamento",
de Maria de Fátima Bonifácio, da D. Quixote. Mas proponto uma abordagem
diferente, e deixo aqui duas das histórias mais deliciosas que lá se
encontram. 1. Estamos no pós-revolução. Soares pediu-lhe para ir
“com muita urgência” à Rua da Emenda, sede do PS. “Louva o papel” de
Barreto na campanha de Vila Real, “louva o livro Capitalismo e Emigração
em Portugal, pede-lhe para fazer um programa de governo”. “Eu não sei o
suficiente para fazer um programa de governo”, atalhou Barreto. Mas
para Soares não havia impossíveis: “Você coordena, mete-se aqui em meio
andar, dou-lhe nomes para cada sector, encomenda capítulos a cada um,
adeus, adeus”… e de repente eu vou fazer o programa do PS 2. VI
Governo Provisório: Barreto é chamado por Mário Soares e Jorge Campinos,
que lhe dizem, talvez mais exactamente, intimam: “ você vai para o
governo”. Barreto hesita… as evasivas e justificações de Barreto não
tiveram acolhimento, a quem aliás parecera que nada ficara de facto
assente. Porém, dali a poucos dias, no Parlamento, chamaram-no ao
telefone. Do lado de lá estava Mário Soares: “estou à sua espera para
tomar posse daqui a um quarto de hora, já dei o seu nome ao Presidente
da República, já está assinado, o termo de posse está feito” 26 de
Setembro de 1975. Barreto ouviu e, de casaco de bombazine vestido, pediu
uma gravata emprestada ao empregado do bar da York House e vai para
Belém para tomar posse. Outra sugestão de leitura, que já
deixou a mesa de cabeceira (onde estava estacionado há muito) para vir
parar às minhas mãos, é "O Pintassilgo", de Dona Tartt. Por hoje é tudo, tenha um grande dia.
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