São Martinho |
por João Alves Dias
"Texto publicado na Voz Portucalense, de 6 de Novembro de 2013, na rúbrica ESPECIAL - pág. 7. Chamo a v/atenção para o facto de ter dividido esta prosa em capítulos e assinalado a negrito algumas palavras e frases - apenas para acentuar o seu significado - e NÃO DESVIRTUAR o sentido que João Alves Dias lhe quis dar, ao qual endereço as minhas saudações e pedido de desculpa. Obrigado. ANTÓNIO FONSECA".
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«Na sequência do texto "Foi na década de cinquenta", apresento um excerto do inquérito realizado no concelho de Valongo. Em honra de S. Martinho cuja festa se aproxima:
"A Pia, que deu nome a toda a serra, é uma cisterna natural, aberta na rocha, no cimo do monte. A tradição diverge acerca da sua origem. Uns dizem que foi S. Martinho que passou por aqueles sítios. Ao chegar ao alto, o cavalo sentiu sede. Então S. Martinho bateu com o bordão naquele penedo e imediatamente se formou uma cavidade na fraga da qual brotou água que a encheu totalmente. Outros dizem que não foi S. Martinho, mas o seu cavalo que abriu a pia com uma patada, por isso, lá estão as duas ferraduras: uma no fundo, da pata que bateu, e outra fora, da pata pousada. Segundo outros, não se tratava de S. Martinho, mas dos mensageiros que tinham ido a Tours buscar relíquias do Santo para a igreja de Cedofeita. No regresso, ao passar pelo lugar onde hoje existe a Pia, sentiram sede. E a tradição agora diverge: alguns dizem que foi nesta ocasião que miraculosamente abriram a Pia para se saciar bem como aos cavalos; segundo outros, a pia, já existente, por matar a sede a tão santos mensageiros, recebeu dons especiais. Sempre que havia uma longa seca, o povo de S. Martinho, com o seu pároco à frente, partir da igreja, em procissão de penitência, para a "serra da Pia". Chegados lá, escoavam a cisterna que o senhor abade limpava com uma toalha de seda. Quando a procissão regressava a meio da encosta, já a chuva caia abundantemente.
Saciados, os mensageiros descansam na planura que lhe fica junto, o chamado "campo de S. Martinho". E desdobram os seus olhares pelo longo vale que se estendia a seus pés. Uma exclamação de prazer brota da sua alma cansada de tantos dias pelos caminhos das montanhas: "Que vale longo!...". Descem a serra e começam a pregar. Ao partir, gratos pelos dons recebidos, deixam como padroeiro o glorioso S. Martinho. Ordenam que se levante uma igreja à qual legam reliquias do Santo. E "baptizam" aquela terra tão acolhedora: "Para o fututo chamar-se-á S. Martinho do Vale Longo".
À guisa de comentário... Ainda na minha infância, no tempo do Pde Nogueira, subimos à serra em procissão a rezar para que chovesse. E minha mãe dizia-me: "vento à Pia à chuva assobia".
Já em 897, um documento falava de "S. Martinho de Vallongo". Em 1651, aparece como "S. Martinho do Campo de Luriz". As "Memórias Paroquiais", de 1758, referem "Sam Martinho do Campo". Depois, roubnaram-lhe o S. Martinho e ficou apenas Campo, mas os seus naturais continuaram a ser "Sãomartinhenses".
Este ano, o Estado, contra a vontade poopular e ao arrepio da história, criou a espúria "União de Freguesias de Campo e Sobrado"!...
Quanta ignorância e quão intolerável prepotência!...
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Transcrito com a devida vénia, do
Semanário Diocesano VOZ PORTUCALENSE
por
ANTÓNIO FONSECA