terça-feira, 4 de junho de 2024

JORGE DE SENA - ESCRITOR - MORREU EM 1978 - 4 DE JUNHO DE 2024

 

Jorge de Sena

Jorge Cândido de Sena
Nome completoJorge Cândido de Sena
Nascimento2 de novembro de 1919
Lisboa
Morte4 de junho de 1978 (58 anos)
Santa BárbaraCalifórnia
NacionalidadePortugal Português brasileiro
CônjugeMaria Mécia de Freitas Lopes (1949, 9 filhos)
EducaçãoUniversidade do Porto
OcupaçãoPoetaescritorprofessor e tradutor
PrémiosPrémio P.E.N. Clube Português de Ensaio (1981)
Magnum opusSinais de Fogo

Jorge Cândido de Sena GCSE • ComIH (Lisboa2 de novembro de 1919 — Santa BarbaraCalifórnia4 de junho de 1978) foi poeta, crítico, ensaísta, ficcionista, dramaturgo, tradutor e professor universitário português, naturalizado brasileiro em 1963[1].

Biografia

Primeiros anos

Filho único de Augusto Raposo de Sena, natural de Ponta Delgada e comandante da marinha mercante, e de Maria da Luz Telles Grilo de Sena, natural da Covilhã e dona-de-casa. Ambas as famílias eram da alta burguesia, a paterna de suposta linhagem aristocrática de militares e altos funcionários, e a materna de comerciantes ricos do Porto. Segundo relata no seu conto Homenagem ao Papagaio Verde, teve uma infância recolhida, solitária e infeliz, o que fez com se tornasse introspetivo, observador e imaginativo.

Fez a instrução primária e os primeiros anos do liceu no Colégio Vasco da Gama. Concluiu os estudos secundários no Liceu Camões, onde foi aluno de Rómulo de Carvalho. Era um jovem que lia avidamente, tocava piano e escrevia poemas. Na Faculdade de Ciências de Lisboa, fez os exames preparatórios com as notas mais elevadas.

Na Escola Naval

Sena nutria a ideia algo romântica de se tornar oficial da marinha, seguindo as pisadas do pai. Em 1938, aos 17 anos, entrou para a Escola Naval como 1º do seu curso. A 2 de outubro de 1937, iniciou a sua viagem de instrução a bordo do navio-escola Sagres. Visitou os portos de S. Vicente, Santos, LobitoLuanda, S. Tomé e Dakar, chegando a Lisboa no final de fevereiro de 1938. O contacto com a imensidão do oceano, a azáfama da vida a bordo e o movimento e mudança constantes agradaram ao jovem Sena, mas nem tudo correu bem. Segundo o relato de um antigo camarada de curso, naquele ano a viagem de instrução foi excecional e particularmente dura e exigente em termos de preparação e destreza física, copiando o modelo da marinha alemã. Na parte teórica do curso Sena era brilhante, mas em termos atléticos era medíocre e apesar dos muitos esforços que fez não conseguiu satisfazer as elevadas expectativas do comandante do curso, que parecia nutrir um ódio de estimação pelo cadete contemplativo e intelectual. No final da viagem, foi comunicado a Sena que iria ser proposta a sua exclusão da Marinha por lhe faltarem as "necessárias qualidades" para oficial. Sena ficou profundamente frustrado e desgostoso com esta rejeição e o seu afastamento definitivo de um modo de vida que tanto almejava.

Engenharia civil, casamento e primeiras obras

Apesar da sua inclinação natural para a literatura, Sena frequenta, em setembro de 1942, o primeiro ciclo do Curso de Oficiais Milicianos, o qual abandona, enfrentando graves problemas de saúde. Depois de um ano letivo em Lisboa, regressa, em 1943, apoiado financeiramente por Ruy Cinatti e José Blanc de Portugal, à Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto (que iniciara em 1940) para frequentar o curso de Engenharia Civil, concluindo-o em 1944. O curso pouco o entusiasmou, mas durante todo esse tempo escreveu bastantes poemas, artigos, ensaios e cartas. Desde os 16 anos que escrevia e em 1940, sob o pseudónimo de Teles de Abreu, publicou os seus primeiros poemas na revista Cadernos de Poesia, dirigida por Cinatti, Blanc de Portugal e Tomás Kim. Em 1942, publica o seu primeiro livro de poemas, Perseguição, que não impressiona muito o seu amigo e crítico João Gaspar SimõesAdolfo Casais Monteiro considera-o um livro revelador mas difícil.

Em 1947, Sena inicia a sua carreira de engenheiro, que durou 14 anos. Trabalhou como engenheiro civil na Câmara Municipal de Lisboa, na Direção-Geral dos Serviços de Urbanização e na Junta Autónoma das Estradas (JAE), onde permanecerá até ao seu exílio para o Brasil em 1959.

Em 1940, no Porto, Jorge de Sena conhece e torna-se amigo de Maria Mécia de Freitas Lopes (irmã do crítico e historiador literário Óscar Lopes), começando a namorar em 1944 e casando-se em 1949. Jorge de Sena e Mécia de Sena tiveram nove filhos. Mécia, sua incansável companheira e enérgica colaboradora, apoiando o escritor nas inúmeras crises que lhe surgiram ao longo de uma vida por vezes atribulada.

Trabalhava incansavelmente, para sustentar a crescente família. Além do seu absorvente trabalho diurno na JAE (que lhe possibilitou viajar e conhecer o Portugal profundo), Sena também se dedicava à direção literária em editoras, à tradução e revisão de textos, ocupações que lhe roubavam precioso tempo para a investigação literária e a para a sua obra. A banalidade e a pequenez do quotidiano no Portugal de Salazar das décadas de 1940 e 1950 atormentam-no, bem assim como a mediocridade, a mesquinhez e a intriga dos meios literários, a opressão política, a censura literária, resultando num ambiente de trabalho sufocante e absolutamente frustrante, mas que não deixam de o inspirar para o poema É tarde, muito tarde na noite…

Durante esses anos publica várias obras: O Dogma da Trindade Poética – Rimbaud (1942), Coroa da Terra, poesia (1946), Páginas de Doutrina Estética de Fernando Pessoa (organização), 1946, Florbela Espanca (1947), Pedra Filosofal poesia (1950), A Poesia de Camões (1951), etc. Colabora na revista Mundo Literário [2] (1946-1948) com contos e poesia e também como crítico artístico na rubrica cinema e também nas revistas Litoral [3] (1944-1945) e Atlântico [4].

Exílio no Brasil

A sua situação como escritor e cidadão estava a tornar-se insustentável. Como escritor, não tinha tempo livre para escrever, apenas o podia fazer de modo insuficiente e limitado à noite e aos domingos. Também o facto de não pertencer a nenhum círculo académico e a falta de apoio institucional lhe frustrava qualquer pretensão de poder vir a editar alguma obra mais ambiciosa. Por outro lado, a sua participação numa tentativa revolucionária abortada em 12 de março de 1959, colocou-o em posição de prisão iminente, no caso muito provável de algum dos conspiradores presos pela PIDE denunciar os que ainda se encontravam livres.

Em agosto de 1959, viajou até ao Brasil, convidado pela Universidade da Bahia e pelo Governo Brasileiro a participar no IV Colóquio Internacional de Estudos Luso-Brasileiros. Tendo sido convidado como catedrático contratado de Teoria da Literatura, em Assis, no Estado de S. Paulo, aproveitou essa oportunidade e aceitou o lugar, iniciando assim o seu longo exílio. Ele faz amizade com o poeta Jaime Montestrela, que dedicou o seu livro Cidade de lama. Por motivos profissionais, teve de adotar a cidadania brasileira.

Não foi, contudo, um exílio libertador. Sentia saudades da pátria, apesar do rancor perene que nutria pela pequenez, mesquinhez e falta de reconhecimento nacionais que o atormentariam até ao final da vida.

Em 1961, Jorge de Sena foi ensinar Literatura Portuguesa na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Araraquara. Em 1964, depois de vencer alguns preconceitos académicos pelo facto de ser licenciado em Engenharia, Jorge de Sena defendeu a sua tese de doutoramento em Letras (Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular), tendo obtido os títulos académicos "com distinção e louvor".

O período de seis anos que passou no Brasil foi muito produtivo. Finalmente, tinha toda a disponibilidade para se dedicar à sua obra com a devida profundidade e profissionalismo. Poesia, teatro, ficção, ensaísmo e investigação. Parte do romance Sinais de Fogo e a totalidade dos contos Novas Andanças do Demónio foram escritos neste período.

Estados Unidos e últimos anos

A degradação da situação política no Brasil, com a instalação de uma ditadura militar a partir de março de 1964, fez com que Jorge de Sena, mais do que nunca avesso a prepotências, aceitasse um convite para ensinar Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Wisconsin, para partir para os Estados Unidos em outubro de 1965. Em 1967 foi nomeado catedrático do Departamento de Espanhol e Português da referida universidade.

De 1970 até 1978 foi catedrático efetivo de Literatura Comparada na Universidade da Califórnia, em Santa Barbara. Apesar da satisfação de ensinar e da amizade que os alunos lhe dedicavam, Sena não foi feliz. Queixava-se da "medonha solidão intelectual da América" onde não havia "convívio intelectual algum" e da esterilidade e espírito burguês do meio académico, que não se interessava pela sua obra.

Quando se deu o Revolução de 25 de Abril de 1974 Jorge de Sena ficou entusiasmado e queria regressar definitivamente a Portugal, ansioso de dar a sua colaboração para a construção da democracia. Sena visitou Portugal, contudo, nenhuma universidade ou instituição cultural portuguesa se dignou convidar o escritor para qualquer cargo que fosse, facto que muito o desiludiu e amargurou, decidindo continuar a viver nos Estados Unidos, onde tinha a sua carreira estabelecida.

Jorge de Sena morreu em 4 de junho de 1978, aos 58 anos, de cancro.

Em 1978, a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o escritor dando o seu nome a uma rua na zona da Quinta de Santa Clara, na Ameixoeira.[5]

Em 11 de setembro de 2009, os seus restos mortais foram trasladados de Santa Barbara, Califórnia, para o Talhão dos Artistas do Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, depois duma cerimónia de homenagem na Basílica da Estrela, com a presença de familiares, amigos e entidades oficiais.[6]

Obra

Foi um dos mais influentes intelectuais portugueses do século XX, com vasta obra de ficçãodramaensaio e poesia, além de importante epistolografia com figuras tutelares da literatura portuguesa e brasileira. A sua obra de ficção mais famosa é o romance autobiográfico Sinais de Fogo, adaptado ao cinema em 1995 por Luís Filipe Rocha. Grande parte da sua obra foi publicada postumamente pelos cuidados da viúva, Mécia de Sena.

Poesia

  • Perseguição (1942)
  • Coroa da Terra (1946)
  • Pedra Filosofal (1950)
  • As Evidências (1955)
  • Fidelidade (1958)
  • Metamorfoses (1963)
  • Arte de Música (1968)
  • Peregrinatio ad Loca Infecta (1969)
  • Exorcismos (1972)
  • Conheço o Sal e Outros Poemas (1974)
  • Sobre Esta Praia (1977)
  • Quarenta Anos de Servidão (1979, póstumo)
  • Dedicácias (1980, póstumo)
  • Sequências (1980, póstumo)
  • Visão Perpétua (1982, póstumo)
  • Post-Scriptum I (1985, póstumo)
  • Post-Scriptum II (1985, póstumo)
  • Poesia I (1977)
  • Poesia II (1978)
  • Poesia III (1978)

Ficção

Drama

  • O Indesejado (1951)
  • Ulisseia Adúltera (1952)
  • O Banquete de Dionísos (1969)
  • Epimeteu ou o Homem Que Pensava Depois (1971)

Ensaios

  • Da Poesia Portuguesa (1959)
  • O Poeta é um Fingidor (1961)
  • O Reino da Estupidez (1961)
  • Uma Canção de Camões (1966)
  • Os Sonetos de Camões e o Soneto Quinhentista Peninsular (1969)
  • A Estrutura de Os Lusíadas e Outros Estudos Camonianos e de Poesia Peninsular do Século XVI (1970)
  • Maquiavel e Outros Estudos (1973)
  • Dialécticas Aplicadas da Literatura (1978)
  • Fernando Pessoa & Cia. Heterónima (1982, póstumo)

Correspondências com

Prémios

Recebeu o Prémio Internacional de Poesia Etna-Taormina, pelo conjunto da sua obra poética, e foi condecorado com o grau de Comendador da Ordem do Infante D. Henrique (9 de abril de 1977), por serviços prestados à comunidade portuguesa. Recebeu, postumamente, a Grã-Cruz da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada de Portugal a 30 de agosto de 1978.[7] Em 1980, foi inaugurado o Jorge de Sena Center for Portuguese Studies, na Universidade da Califórnia, em Santa Bárbara.

O erotismo segundo Jorge de Sena

Para se compreender o espírito livre e independente de Jorge de Sena, são úteis os seguintes textos, extraídos da obra Máscaras de Salazar, de Fernando Dacosta:

[...] a mais completa liberdade [deve] ser garantida a todas as formas de amor e de contacto sexual. Nenhuma sociedade estará jamais segura, em qualquer parte, enquanto uma igreja, um partido ou um grupo de cidadãos hipersensíveis possa ter o direito de governar a vida privada de alguém. [Um dos] prazeres sexuais dos seres humanos tem sido o de reprimir a sexualidade, a própria e a dos outros. Defendo todas as formas de prostituição, como profissão protegida pela lei e vigiada pela saúde pública. Ainda que isso possa chocar muita gente, parece que, desde sempre, houve machos e fêmeas cujo talento na vida, e cuja vocação definida, é emprestarem o próprio corpo. E quem se vende ou quem compra (o que não tem nada a ver com capitalismo, mas com o direito de qualquer pessoa a dispor de si mesma, em acordo com outra) deve ter a protecção da lei contra redes de exploração, chantagens, etc. O que duas pessoas (ou um grupo delas) fazem uma com a outra, fora das vistas dos demais, não diz respeito a esses demais, a não ser que eles vivam na observação mórbida de imaginarem (num misto de horror e curiosidade, que os torna moralistas raivosos) o que os outros fazem. E o que os outros fazem não altera em nada o equilíbrio social. [A pornografia pode ser] um prazer para muita gente e, às vezes, o único que lhes é concedido, pois as pessoas idosas, solitárias, não atractivas, não encontram nunca o chinelo velho para o seu pé doente. Uma prostituição oficializada é obra de caridade para com os feios e os tímidos. [Porque hão-de ser] só os ricos e os de maiores posses a terem acesso à pornografia, e não os pobres? As classes mais desprotegidas deviam ter a sua pornografia mais barata, subsidiada pelo Governo, se o Governo fosse ao mesmo tempo inteligente e progressista nestas matérias. Somos um país imoral, um país depravado às ocultas. Foi isso, no entanto, que nos salvou de mergulhar nas sombras horrendas do puritanismo. Puritanismo que não é parte da nossa herança cultural. Mil vezes a pornografia do que a castração, a prostituição do que a hipocrisia. Se alguma coisa há que deve ser sagrada, é o prazer sexual entre pessoas mutuamente concordantes em dá-lo e recebê-lo, ou negociá-lo. [Os adolescentes e as crianças sempre souberam] muito mais do que os adultos fingem que eles sabem. Raros terão sido os jovens seduzidos na sua inocência. Na maior parte dos casos, o contrário é que é verdade. Se alguma coisa há que deva ser sagrada, é o prazer sexual entre pessoas concordantes em usufruí-lo e partilhá-lo.

Referências

  1.  «Jorge de Sena - Portugal/Brasil - Poesia Iberoamericana - www.antoniomiranda.com.br»www.antoniomiranda.com.br. Consultado em 23 de julho de 2018
  2.  Helena Roldão (27 de janeiro de 2014). «Ficha histórica: Mundo literário : semanário de crítica e informação literária, científica e artística (1946-1948).» (PDF)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 3 de novembro de 2014
  3.  Helena Roldão (19 de junho de 2018). «Ficha histórica:Litoral : revista mensal de cultura (1944-1945)» (PDF)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 25 de janeiro de 2019
  4.  Helena Roldão (12 de Outubro de 2012). «Ficha histórica:Atlântico: revista luso-brasileira (1942-1950)» (pdf)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 25 de Novembro de 2019
  5.  https://www.facebook.com/423215431066137/photos/pb.423215431066137.-2207520000.1448277902./874870145900661/?type=3&theater
  6.  Parte da informação biográfica coligida a partir de Jorge de Sena por Eugénio Lisboa, Editorial Presença, Lisboa, s/d.
  7.  «Cidadãos Estrangeiros Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Jorge de Sena". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 12 de julho de 2019

Bibliografia

Edição dirigida por Mécia de Sena, Edições 70

  • Os grão-capitães (contos). Obras de Jorge de Sena, Lisboa
  • Antigas e novas andanças do demónio (contos). Obras de Jorge de Sena, Lisboa
  • O Físico prodigioso (novela). Obras de Jorge de Sena, Lisboa
  • Sinais de fogo (romance)Obras de Jorge de Sena, Edições 70, Lisboa
  • Dialécticas teóricas da literatura (ensaios). Obras de Jorge de Sena, Lisboa
  • Dialécticas aplicadas da literatura (ensaios). Obras de Jorge de Sena, Lisboa
  • 80 poemas de Emily Dickinson (tradução e apresentação). Obras de Jorge de Sena, Lisboa
  • Os sonetos de Camões e o soneto quinhentista (ensaio). Obras de Jorge de Sena, Lisboa, 1980
  • A estrutura de "Os Lusíadas" (ensaios). Obras de Jorge de Sena, Lisboa
  • Trinta anos de Camões (ensaios). Obras de Jorge de Sena, Lisboa, 1980
  • Fernando Pessoa & C.a Heterónima (ensaios). Obras de Jorge de Sena, Lisboa, 1984

Obras Completas, edição coordenada por Jorge Fazenda Lourenço, ed. Guimarães

  • I - Sinais de Fogo, Lisboa, 2009
  • II - O Físico Prodigioso, Lisboa, 2010
  • III - 80 Poemas de Emily Dickinson, Lisboa, 2010
  • IV - Antologia Poética, Lisboa, 2010
  • V - Rever Portugal - Textos Políticos e Afins, Lisboa, 2011
  • VI - América, América, Lisboa, 2011
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Ligações externas

MANUEL FARIA E SOUSA - ESCRITOR - MORREU 1649 - 4 DE JUNHO DE 2024

 

Manuel de Faria e Sousa

Manuel de Faria e Sousa
Nascimento18 de março de 1590
Pombeiro de Ribavizela
Morte3 de junho de 1649 (59 anos)
Madrid
CidadaniaReino de Portugal
Filho(a)(s)Giuseppe de Faria
Ocupaçãoescritorpoetahistoriador
Prêmios
  • Comendador da Ordem de Cristo

Manuel de Faria e Sousa (FelgueirasPombeiro de Ribavizela18 de março de 1590 — Madrid3 de junho de 1649) foi um fidalgohumanistaescritorpoeta, crítico, historiadorfilólogo e moralista português. As suas obras foram quase todas escritas em língua castelhana, pátria que adoptou. Foi Comendador da Ordem de Cristo.

Biografia

Nascido na Quinta da Caravela numa família ilustre da velha aristocracia portuguesa, conforme as notas do Nobiliário do Conde D. Pedro, "os Farias teriam tido origem num Fernandes Pires de Faria, alcaide-mor de Miranda, em tempos de D. Afonso III, ou, mais seguramente, num seu filho, Nuno Gonçalves de Faria. A este veio a suceder na sua casa um filho segundo, Álvares Gonçalves de Faria, que foi pai de João Álvares de Faria, combatente de Aljubarrota, a quem de facto Fernão Lopes menciona. Casado este, teve pelo menos dois filhos, Álvaro de Faria (comendador de Avis) e Afonso Anes de Faria." Este foi antepassado de Estácio de Faria, o qual "serviu nas armadas com o governador da Índia Diogo Lopes de Sequeira, teve ofício na fazenda do Brasil, foi douto em letras, ”gastou mais que juntou”, e teve vários filhos. De sua mulher Francisca Ribeira, dos Senhores do Couto do Pombeiro (Pombeiros de Ribavizela) teve Dona Luísa de Faria, sua mãe, casada com seu Pai, Amador Pires de Eiró, Senhor da Quinta da Caravela ”e mestre de seus filhos”, de Manuel de Faria e Sousa".[1]

Estudou nos seminários de Braga para seguir a carreira eclesiástica, mas acabou por recusar esse caminho, casando com D. Catarina Machado, "filha de Pedro Machado, contador da Chancelaria do Porto, e de Catarina Lopes de Herrera, que o genro declara sepultada na Sé daquela cidade, e teve entre outros filhos a Pedro de Faria e Sousa, capitão da infantaria espanhola, na Flandres, que em Madrid casou com Dona Luísa de Nárvaez",[1] da primeira nobreza espanhola, dos Condes de Rojas. Este seu filho após a morte do pai em Madrid, logo veio para Portugal onde "foi muito bem recebido por D. João IV, e viria a ser o preparador, para publicação, de grande parte da enorme massa de inéditos do eminente polígrafo.[1]"

D. Manuel de Faria e Sousa aos catorze anos entrou ao serviço dum amigo do seu pai, D. Gonçalo de MoraisBispo do Porto, frequentando a escola episcopal, onde aprendeu História, Artes, Literatura, etc. Aí escreveu poesias que foram admiradas, e entrou em relação com altas figuras da época.

Em 1618 morre seu padrinho, tem ele 27 anos, e tem que regressar a Pombeiro, para gerir a sua Casa, com sua mulher e dois filhos.

Mas apenas um ano mais tarde encontra novo protector, e parte para Madrid com a função de secretário particular do conde de MugePedro Álvares Pereira, secretário de estado de Filipe II de Portugal. Aprende rapidamente o castelhano, e passado três anos, publica poesia nesta última língua, que vem a ser sua língua de predileção.

À morte do seu novo padrinho, D. Manuel já gozava de grande notoriedade. Veio a ser então Secretário de Estado do Reino de Portugal, cargo que desempenhou em Lisboa, e depois secretário de Manuel de Moura Corte-Real, embaixador de Filipe IV de Espanha em Roma, com quem se malaquistaria e acusaria de deslealdade para com o rei e de sodomia.[2]

Por essa altura e após a Restauração da Independência de Portugal, em 1644-1646, reedita «Fuente de Aganipe», cuja 1/ parte vem dedicada a Félix Machado da Silva Castro e Vasconcelosmarquês de Montebelo, em casa de quem ele e a esposa viviam em Madrid, um pouco como de esmola do parente rico, desde 1643 — albergue que se cifra na colaboração na edição do «Nobiliário do conde D. Pedro» e d´ «Os Lusíadas»[3].

Teve vasta descendência, (famílias Botelhos de Morais Sarmento - Conde de Armamar e Guarda-Mores do Sal de Setubal-, Vasconcelos e Sá, Cabrais - de Évora -, Condes da Ervideira, Picão Caldeira, etc.) estando a sua representação genealógica e chefia na família Botelho de Morais Sarmento. Os seus restos mortais foram transladados para o Mosteiro de Pombeiro em 1660, onde repousam, sob uma laje, à direita do altar-mor.

O autor

Foi "um dos homens mais eruditos do seu século, gosando por aquelles tempos de uma elevadíssima reputação litterária que, longe de conservar-se intacta, diminuiu consideravelmente com o correr dos annos, e com o progresso do bom gosto e dos estudos criticos", diz dele Inocêncio Francisco da Silva.[4] Juízo negativo que está hoje bem temperado por certos eruditos portugueses de relevo como Jorge de SenaJosé Hermano Saraiva, e ainda Esther de Lemos, que apesar de não negar certas irregularidades e fantasias de Faria, não lhe negam sua grande autoridade e profundo conhecimento de Camões.

D. Manuel de Faria e Sousa, apesar de escrever quase tudo em castelhano, escreveu a maior parte da sua obra em relação a Portugal.[5] À sua escolha dessa língua deve-se o facto de durante a maior parte da sua vida Portugal fazer parte integrante do Reino de Espanha, e da língua castelhana ser consideravelmente mais divulgada em Europa que a portuguesa: para dar a conhecer as façanhas dos portugueses, e mesmo a grande obra do "seu poeta" Camões, entendeu certamente que era a melhor solução.

A sua obra, a par da sua própria poesia, torna quase toda em volta dos descobrimentos portugueses, e da figura de Camões.

A ele se deve o primeiro estudo qualificado sobre a vida e obra do grande poeta. Para conferir a Camões o estatuto que hoje lhe reconhecemos, Faria e Sousa teve de enveredar e persistir na investigação para vencer as opiniões da época que criticavam a estrutura, inspiração e a qualidade d’Os Lusíadas.

Hoje, como o dá a entender mais acima Inocêncio Francisco da Silva, Manuel de Faria e Sousa, apesar de ser sempre uma figura incontornável da investigação Camoniana, é considerado como um grande falsificador dessa obra, juntando-lhe poemas que não eram da sua autoria mas que considerava de alto nível, e que por consequente – segundo ele – só podiam ter sido escritos pelo seu poeta; ou até forjando ele mesmo alguns deles para a grande obra, ou rectificando alguns autênticos, quando lhe parecia necessário... Mas as proporções dessas manipulações, e a sinceridade de Faria, são ainda hoje tema de debate dos investigadores.

O maior elogio a Faria e Sousa, como crítico literário, encontra-se em Lope de Vega: "assi como Luiz de Camoens es príncipe de los poetas que escrivieron en idioma vulgar, lo es Manuel Faria de los commentadores en todas lenguas."

Obra

Frontispicio de Europa Portuguesa, 1678
  • Muerte de Jesus y llanto de Maria. madrid, 1623
  • fabula de Narciso e Echo. Lisboa, 1623. Em português
  • Divinas e humanas flores. Madrid, por Diego Flameco 1624
  • Noches claras. Madrid, por Diego Flameco 1624
  • Fuente de Aganipe y Rimas varias. Madrid, por Carlos Sánchez Bravo 1644 (?) y 1646. Poesias em português e castelhano. Em sete partes:
  1. 600 sonetos
  2. 12 "poemas em outava rythma, silvas e sextinas[4]"
  3. por "centurias": canções, odes, 200 madrigaes, sextinas e tercetos
  4. 20 eclogas
  5. redondilhas, glosas, cantilenas, decimas, romances e epigramas
  6. "Musa nueva" com sonetos, oitavas, tercetos, canções, etc. reduzidos a versos octosilabos
  7. "Engenho" de acrostichos, esdrúxulos, ecos, etc.

"Todas as sete partes são precedidas de discursos cheios de erudição, acerca das especies de poesia que cada uma compreende."

  • Epithalamio de los casamientos de los señores Marqueses de MolinaSaragoça1624
  • Epitome de las historias portuguesas. Madrid, por Francisco martinez 1628

"É a mesma obra que o auctor refundiu e ampliou com o titulo de "Europa portuguesa[4]".

  • Escuriale por Jacobum Gibbes Anglum. Madrid, 1658. tradução em castelhano duma descrição do Escurial em latim.
  • Lusiadas, de Luis de Camoensprincipe de los poetas de España. Comentadas. Madrid, por Juan Sanches, 1639.[5]

"Diz Faria e Sousa, que começára esta obra em 1614, e que n'ella consumira vinte e cinco annos, examinando mais de mil auctores, e entre estes trezentos italianos. Apesar do applauso com que a obra foi recebida, alguns inimigos de Faria (entre os quais figurava D. Agostinho Manuel de Vasconcelos, estimulado contra elle em razão de contendas litterarias que traziam entre si) o foram denunciar á Inquisição de Castela, acusando certos lugares da obra de menos catholicos, e requerendo a sua condemnação. Como porém aquelle tribunal não attendesse as suas queixas, voltou-se D. Agostinho para a Inquisição de Lisboa, e conluiando-se com Manuel de Galhegos e Manuel Pires d'Almeida, também emulos e inimigos de Faria, todos juntos apresentaram um libello, em que se renovavam as acusações. Afinal os Commentarios foram mandados examinar, resultando ser-lhes levantada a prohibição que de principio se lhes impuzera. Manuel de Faria intimado para responder às accusações, compoz em quinze dias, segundo elle affirma, uma defeza que fez imprimir, com o título:[4]"

  • Informacion a favor de Manuel de faria y sousa etc., 1640
  • Peregrino instruido
  • Imperio de la China e cultura evangelica en el, etc.
  • Nenia: poema acrostico a la reyna de España D. Isabel de Bourbon. Madrid, 1644
  • Nobiliario del Conde de Barcellos D. Pedro, hijo delrey D. Dionis de Portugal, traducido' etc. Madrid, 1646

Edições Postumas

  • El gran justicia de Aragon Don Martin Baptista de Lanuza. Madrid, 1650
  • Asia Portuguesa. 3 tomos:
  1. Lisboa, Henrique Valente de Oliveira, 1666 : História da Índia, desde o seu descobrimento até o ano de 1538.
  2. Lisboa, Antonio Craesbeeck de Mello, 1674 : História da Índia, de 1538 a 1581.
  3. Lisboa, ibidem1675: História da Índia, durante a dominação castelhana (1581 - 1640).
  1. Lisboa, Antonio Craesbeeck de Mello, 1678 : Do diluvio universal ao Portugal com rei Próprio.
  2. Lisboa, Ibid1679: Governo do Conde D. Henrique ao fim do reino de D. João III.
  3. Lisboa, Ibid1680: Do rei D. Sebastião até Filipe III de Portugal.
  • África Portuguesa. Lisboa, Antonio Craesbeeck de Mello, 1681: História desde as conquistas de D. João I até o ano de 1562.
  • Rimas varias de Luis de Camoens, etc. comentadas. Lisboa, Theotonio Damaso de Mello, 1685.

Notas

  1. ↑ Ir para:a b c Jorge de Sena : Trinta anos de Camões. P. 171 a 265, Camões - Faria e Sousa e Prefácio à reedição de Rimas várias de Manuel de Faria e Sousa. edições 70, Lisboa 1980
  2.  Santiago Martínez Hernández, «Aristocracia y anti-olivarismo: el proceso al marqués de Castelo Rodrigo, embajador en Roma, por sodomía y traición (1634-1635)» in José Martínez Millán, Manuel Rivero Rodríguez & Gijs Versteegen (coords.), La Corte en Europa: Política y Religión (siglos XVI-XVIII), vol. II, pp. 1147-1196. Madrid, Ediciones Polifemo, 2012.
  3.  Lusíadas comentadas por Manuel Faria e Sousa, Vol. I, Reprodução fac-similada pela edição de 1639, Imprensa Nacional - Casa da Moeda, Lisboa, 1972, pág. 37
  4. ↑ Ir para:a b c d Diccionario bibliographico portuguez, estudos de Innocencio Francisco da Silva
  5. ↑ Ir para:a b «Os Lusíadas»World Digital Library. 1800–1882. Consultado em 31 de agosto de 2013

Fontes

  • Diccionario bibliographico portuguez, estudos de Innocencio Francisco da Silva, applicaveis a Portugal e ao Brasil. Lisboa, 1860. Reimpressão: Imprensa nacional - Casa da moeda 1998
  • Jorge de Sena: Trinta anos de Camões. P. 171 a 265, Camões - Faria e Sousa e Prefácio à reedição de Rimas várias de Manuel de Faria e Sousa. edições 70, Lisboa 1980

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