sábado, 22 de abril de 2023

FRANCISCO MARTINS RODRIGUES - Político - MORREU EM 2008 - 23 DE ABRIL DE 2023

 

Francisco Martins Rodrigues

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Francisco Martins Rodrigues
Francisco Martins Rodrigues intervém nas X Jornadas Independentistas Galegas, decorridas na Galiza, a 18 de Março de 2006.
Conhecido(a) porFundador do Partido Comunista de Portugal (marxista-leninista) e da União Democrática Popular.
Nascimento1927
Moura
Morte22 de abril de 2008 (81 anos)
Lisboa
Nacionalidadeportuguês
OcupaçãoPolítico

Francisco Martins Rodrigues (Moura1927 — Lisboa22 de abril de 2008) foi um político português da esquerda e fundador do PCP(m-l) e da UDP.

Filho de um Oficial do Exército expulso por ser oposicionista ao governo, Francisco Martins iniciou o seu percurso político em 1949 no Movimento de Unidade Democrática (MUD), após a deslocação da família para Lisboa, onde estuda até ao 6.º ano do liceu e trabalha, primeiro numa livraria e depois como aprendiz de mecânico na TAP.

Actividade opositora, primeiras detenções e incorporação ao PCP

É preso pela primeira vez, durante três meses, em 1951 por se manifestar contra a NATO, o que provoca o seu despedimento. Sucessivamente detido em pouco tempo, abandona a casa dos pais, passando a viver na semi-clandestinidade até 1953, quando adere como funcionário no Partido Comunista Português (PCP).

Em 1956 começa a questionar a linha do PCUS, após o XX Congresso, nomeadamente a chamada 'coexistência pacífica'. No ano seguinte, é detido novamente, pela quarta vez, e é conduzido à prisão de Peniche onde estuda e começa a elaborar textos teóricos marxistas. Lá conhece dirigentes como Álvaro CunhalFrancisco Miguel Duarte e Jaime Serra.

Fuga de Peniche

A 3 de Janeiro de 1960, participou na célebre "Fuga de Peniche", juntamente com Álvaro Cunhal, Joaquim Gomes, Francisco Miguel, Pedro Soares, Jaime Serra, Guilherme da Costa Carvalho, José Carlos, Rogério de Carvalho e Carlos Costa. Os chamados "Dez de Peniche" protagonizaram um episódio lendário na história da resistência antifascista portuguesa, que reforça o PCP na luta contra o salazarismo.

Na rua, voltou à militância numa tipografia clandestina em Carnide, perto de Lisboa. Em 1961, incorporou-se ao Comité Local do partido em Lisboa, além de membro suplente do Comité Central. Em 1962, fez parte da Comissão Executiva, encarregando-se do trabalho político relativo à margem sul e arredores da capital do país.

Ruptura com o PCP, prisão, torturas e 25 de Abril

Lutador fervoroso contra o fascismo, foi preso pela PIDE cinco vezes, totalizando doze anos de cárcere. Apoiante da extrema-esquerda, após a sua saída da direcção do Partido Comunista Português em 1963, tornou-se inimigo da teoria cunhalista do 'levantamento nacional', e defensor da independência de classe na luta contra a ditadura.

A ruptura com o Partido Comunista Português veio antecedida de discrepâncias com a linha do partido face à guerra colonial, após ter escrito um manifesto, a pedido do Comité Central, que o secretário-geral considerou "muito vermelhusco" e alheio ao "espírito do partido", e por isso censurado. Martins apoiava no documento a insurreição popular armada como via para a oposição à política colonial da ditadura portuguesa, em apoio aos povos africanos que enfrentavam o colonialismo português naqueles anos.

Seguem-se diferenças sobre a política da URSS, que cristalizam numa viagem a Moscovo em que o comité Central do exterior resolve destitui-lo do posto na Comissão Executiva. Francisco Martins é proposto como secretário de Álvaro Cunhal, mas recusa a proposta.

Foi então enviado para Paris, incorporando-se à organização do partido na capital francesa. Faz críticas à posição em assuntos como a guerra colonial, a passagem pacífica ao socialismo ou a revolução democrática e nacional.

Lidera a primeira ruptura do PCP, no contexto do conflito sino-soviético. O seu abandono do partido levá-lo-á a ser o mais importante ideólogo de extrema-esquerda nacional, participando na criação do Comité Marxista-Leninista Português e da Frente de Acção Popular em 1964, em Paris, apoiado pelo médico João Pulido Valente e por Rui D'Espiney. Nesse mesmo ano, visita a China Maoísta e a Albânia de Hoxha. Voltou em 1965 para fazer trabalho político no CMLP. A identificação de um colaborador da polícia política no interior da organização acaba com a execução do infiltrado, acção reivindicada pela FAP. Francisco Martins é preso pela PIDE, sofrendo torturas violentas, juntamente com os dois outros criadores do CMLP e da FAP.

Martins é condenado a 20 anos de prisão, Pulido Valente a 12 e Rui D'Espiney a 15. Só dois dias depois do 25 de Abril de 1974 foi solto, junto com Rui D'Espinay e Filipe Viegas Aleixo.

Fundação da UDP

Capa da primeira edição de Anti-Dimitrov. 1935-1985 meio século de derrotas da revolução

Após a Revolução dos Cravos participou na fundação do PCR (Partido Comunista Reconstruído) e da UDP, organização de massas que atingiu uma importante influência em sectores à esquerda do PCP. Em 1983 abandona ambas organizações, considerando que caíram nos mesmos desvios atribuídos ao PCP.

Nessa altura, Francisco Martins é já considerado um dos maiores teóricos do marxismo português. Caracteriza o 25 de Abril como sendo uma "crise revolucionária" e atribui a derrota final às fraquezas estruturais das organizações revolucionárias junto ao "reformismo" do PCP, plasmado na sua proposta de "unidade dos portugueses honrados" num "levantamento nacional".

Quanto às organizações à esquerda do PCP, Martins considera que elas não fizeram a necessária ruptura com uma União Soviética que, para ele, não representava um projeto socialista. Daí para a frente, os escritos de Francisco Martins vincarão essa necessidade, marcando a orientação interclassista proposta por Georgi Dimitrov em 1935 como ponto de ruptura com a tradição bolchevique da independência da classe em relação à pequena burguesia. A sua obra Anti-Dimitrov. 1935-1985 meio século de derrotas da revolução recolhe o seu pensamento em relação ao que considera uma deriva reformista no conjunto dos partidos comunistas a partir da década de trinta.

Revista comunista Politica Operária

Em 1984 tornou-se o fundador da Organização Comunista Política Operária e director da revista do mesmo nome, que continua a publicar-se na actualidade.

Na última década da sua longa vida de luta revolucionária, estreitou laços de solidariedade com o movimento independentista galego, participando habitualmente nas manifestações do Dia da Pátria Galega (25 de Julho), nas Jornadas Independentistas Galegas organizadas pela organização comunista galega Primeira Linha e noutros eventos em apoio da autodeterminação da Galiza e das outras nações sem Estado da Península Ibérica (País Basco e Catalunha).

Faleceu em 2008, aos 81 anos, após uma grave doença. Foi cremado no Cemitério do Alto de São João, em Lisboa, a 23 de Abril. Publicado postumamente, o seu livro Os anos do silêncio contém notas autobiográficas, uma descrição das práticas de tortura do sono a que foi submetido e a sua defesa num julgamento de 1970.

Obras

  • 1985 - Anti-Dimitrov. 1935-1985, meio século de derrotas da revolução. Obra teórica que analisa a evolução do movimento comunista internacional durante o século XX, a partir do 7º Congresso da Internacional Comunista em que Georgi Dimitrov propôs a incorporação dos partidos comunistas a plataformas conjuntas com a social-democracia. Para o autor, essa orientação rompe com o princípio leninista da independência de classe e marca o inevitável declínio do movimento revolucionário, pois, como afirma a sentença marxista, "se a classe operária não puder contar consigo própria, não poderá contar com mais ninguém".
  • 1988 - A revolução cultural e o fim do maoísmo. Artigo publicado no número correspondente a Janeiro/Fevereiro da revista comunista Política Operária, e reeditado como caderno separado de 40 páginas em 2005. Nele, Francisco Martins analisa a divisão sino-soviética e a influência no movimento comunista internacional, bem como o alcance histórico do maoísmo e do modelo chinês, com uma exposição dos factos e significado da que ficou conhecida como Grande Revolução Cultural Proletária chinesa.
  • 1994 - O futuro era agora. O movimento popular do 25 de Abril. Nesta obra, Francisco Martins recolhe meia centena de testemunhos de um outro 25 de Abril, "vivo, audacioso, criador, que não tem nada a ver com a caricatura que nos é servida em versão oficial e que a jovem geração com razão rejeita, porque lhe tresanda a hipocrisia paternalista".
  • 1999 - Abril traído. Recolha de artigos previamente publicados em revistas de menor circulação, tem como objectivo declarado ir "contra a mistificação, hoje quase obrigatória, de que existiria um grande consenso nacional em torno do 25 de Abril". Como exemplo da falsidade de tal argumento, refere as importantes diferenças existentes quanto ao significado do movimento popular de 1974-75, em função das posições políticas de quem faz a análise.
  • 2004 - O comunismo que aí vem. Conjunto de artigos publicados em revistas como a portuguesa Política Operária e a galega Abrente, entre os anos 1985 e 2004. Incorpora uma entrevista inédita realizada por Carlos Morais.
  • 2008 - Os anos do silêncio (edição póstuma). Testemunho em primeira pessoa dos anos da ditadura e da repressão salazarista, junto a textos históricos recuperados. Martins narra a tortura do sono que lhe foi aplicada pela polícia política.
  • 2008 - Anti-Dimitrov. 1935-1985, meio século de derrotas da revolução (edição póstuma). Reedição da obra de 1985, que incorpora às suas 'Notas sobre Staline', escritas posteriormente à publicação da primeira edição.
  • 2009 - História de uma vida (edição póstuma). Autobiografia construída a partir de textos fragmentários previamente publicados ou ainda inéditos do próprio Francisco Martins.

Obras disponíveis on line

Ver também

Ligações externas

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SANTA SENHORINHA DE BASTO - 22 DE ABRIL DE 2023

 

Santa Senhorinha de Basto

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(Redirecionado de Santa Senhorinha)
Santa Senhorinha de Basto
Santa Senhorinha, ilustração da obra "Caractéristiques des saints dans l'art populaire" de Charles Cahier'
Abadessa das Terras de Basto
NascimentoVieira do Minho 
925
MorteCabeceiras de Basto 
22 de abril de 982 (58 anos)
Nome nascimentoDomitilla Ufes
Nome religiosoSenhorinha
ProgenitoresMãe: D. Teresa Soares
Pai: D. Ufo Ufes
Canonização1130
por D. Paio Mendes, arcebispo de Braga
Festa litúrgica22 de abril
Gloriole.svg Portal dos Santos

Santa Senhorinha de Basto (Vieira do Minho, c. 925 - BastoCabeceiras de Basto22 de Abril de 982) foi uma abadessa beneditina portuguesa, canonizada santa pela Igreja Católica em 1130.[1]

Biografia

Nascida no ano de 925, em Vieira do Minho, no Condado Portucalense, sob o nome de Domitilla Ufes ou ainda Genoveva Ufes, segundo algumas fontes históricas, Senhorinha de Basto era filha da condessa D. Teresa Soares e do conde D. Ufo Ufesrico-homemcavaleiro medievalcapitão-general do concelho de Vieira do Minho e governador de Viseu, sendo neta de D. Hugo Soares Belfaguer, senhor feudal da Casa de Sousa, de origem visigótica.[2][3] Era a segunda filha do casal, irmã de D. Vizoi Vizois e de D. Ufa Ufes, que se casou com D. Arnaldo Eris de Baião, senhor de Baião, e prima do bispo de DumeSão Rosendo de Celanova. Em outros documentos, é apontada também como irmã de São Gervásio de Basto.[4] Após a morte prematura da sua mãe, D. Ufo Ufes passou a chamá-la de Senhorinha, "pequena senhora".[5]

Com 15 anos de idade recusou casar com um nobre pretendente, ingressando pouco depois na vida monástica sob a guarda de D. Godinha, sua tia materna e abadessa no Mosteiro de São João de Vieira do Minho, da Ordem de São Bento. Professando o seu noviciado, fez os votos ou conselhos evangélicos e adoptou o nome de Irmã Senhorinha.[6]

Anos mais tarde, aos 36 anos, após a morte da sua tia, que se tornou também santa, Senhorinha tornou-se abadessa do Mosteiro de São João de Vieira do Minho, transferindo-se pouco depois, com as suas religiosas, para um mosteiro em São Jorge de Basto, no município de Cabeceiras de Basto, passando a localidade a figurar no nome da santa portuguesa.[7][8]

A 22 de abril de 982, Santa Senhorinha de Basto faleceu, com 58 anos de idade, sendo sepultada em campa rasa, junto do altar-mor, na igreja do mosteiro, entre os túmulos de Santa Godinha e de São Gervásio de Basto.[9]

Legado e Canonização

Igreja de Santa Senhorinha de Basto, Basto, Cabeceiras de Basto

Tendo-lhe sido atribuídos numerosos milagres durante a sua vida, como transformar água em vinho ou outros actos de intervenção divina durante eventos naturais ou com animais, tendo interrompido uma tempestade para se realizar a colheita do trigo ou silenciado rãs numa lagoa para se realizar o ofício litúrgico, após a sua morte, o arcebispo de BragaD. Paio Mendes, foi visitar o sepulcro, decidido a exumar o seu corpo para averiguar os rumores de que este se mantinha bem preservado, como se a abadessa estivesse apenas a dormir.[10] Criando-se um enorme alvoroço na população que acudiu à igreja para impedir o acto e tendo o arcebispo testemunhado um milagre, onde um cego ganhou visão, a abadessa foi canonizada santa em 1130.[11][12]

Devido à enorme devoção que Santa Senhorinha de Basto inspirou, durante a Baixa Idade Média, o seu túmulo tornou-se num grande centro de peregrinações, contando-se entre os grandes devotos os reis D. Sancho I e D. Pedro I. Por esse facto, a localidade de São Jorge de Basto passou a denominar-se Santa Senhorinha de Basto, sendo a freguesia actualmente apenas referida como Basto.[13][14]

Durante o século XVIII, a festa de Santa Senhorinha foi introduzida no Breviário Bracarense de D. Rodrigo de Moura Teles, sendo celebrada em todo o país a 22 de abril até ao fim do século XIX.[15]

Em 1982, celebrou-se com solenidade o milenário da morte da santa em Basto.

igreja de São Victor, em Braga, encerra um notável conjunto de azulejos alusivos à sua vida.

Referências

  1.  The Benedictine Monks of St. Augustine's Abbey, Ramsgate (1947). The Book of Saints: A Dictionary of Servants of God Canonized by the Catholic Church: Extracted from the Roman & Other Martyrologies (em inglês). [S.l.]: Macmillan Company
  2.  Leão, Duarte Nunes do (1610). Descripcao do reino de Portugal. Per Duarte Nunez do Leao, desembragador da casa da supplicao. Dirigida ao illustissimo & muito excellente snor Dom Diogo da Sylva .. [S.l.]: impresso com licenca, por Iorge Rodriguez
  3.  Soares d'Azevedo Barbosa de Pinho Leal, Augusto (1873). Portugal Antigo e Moderno Diccionario. [S.l.: s.n.]
  4.  Fernandes, A. de Almeida (2001). Portugal primitivo medievo. [S.l.]: Associação da Defesa do Património Arouquense
  5.  Lima, Baptista de (1932). Terras portuguesas: arquivo histórico-corográfico ou corografia histórica portuguesa. [S.l.]: Camoes
  6.  Herculano, Alexandre (1856). Portugaliae monumenta historica a saeculo octavo post Christum usque ad quintumdecimum iussu Academiae Scientiarum Olisiponensis edita: Scriptores. [S.l.]: Typis Academicis
  7.  Barroca, Mário Jorge (2000). Epigrafia medieval Portuguesa (862-1422): Corpus epigráfico medieval Português (2 pts.). [S.l.]: Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Ministério da Ciência e da Tecnologia
  8.  d'Azevedo, Torquato Peixoto (1845). Memorias resuscitadas da antiga Guimataes. [S.l.]: Typogr. da Revista.
  9.  Dunbar, Agnes Baillie Cunninghame (1905). A Dictionary of Saintly Women (em inglês). [S.l.]: Bell
  10.  Martins, Mário (1957). Peregrinações e livros de milagres na nossa idade média. [S.l.]: Edićões Brotéria
  11.  Laporte, Claude (2008). Tous les saints de l'orthodoxie (em francês). [S.l.]: Xenia
  12.  Revue d'histoire ecclésiastique (em francês). [S.l.]: Université catholique de Louvain. 2005
  13.  Castro, João Baptista de (1870). Mappa de Portugal antigo e moderno. [S.l.]: Typ. do Panorama
  14.  Vieira, José Augusto (1886). O Minho pittoresco. [S.l.]: Livraria de Antonio Maria Pereira
  15.  Ramos de Andrade, António Alberto (1981). Dicionário de história da Igreja em Portugal. [S.l.]: Editorial Resistência

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