Páscoa
No cristianismo, a Páscoa ou Domingo da Ressurreição[1][2] é uma festividade religiosa e um feriado que celebra a ressurreição de Jesus ocorrida no terceiro dia após sua crucificação no Calvário, conforme o relato do Novo Testamento.[3][4] É a principal celebração do ano litúrgico cristão e também a mais antiga e importante festa cristã.[5][6]
A data da Páscoa determina todas as demais datas das festas móveis cristãs, exceto as relacionadas ao Advento.[3] O domingo de Páscoa marca o ápice da Paixão de Cristo e é precedido pela Quaresma, um período de quarenta dias de jejum, orações e penitências.
O termo "Páscoa" deriva, através do latim Pascha e do grego bíblico Πάσχα Paskha, do hebraico פֶּסַח (Pesaḥ ou Pesach), a Páscoa judaica.[7][8]
A última semana da Quaresma é chamada de Semana Santa, que contém o chamado Tríduo Pascal, incluindo a Quinta-Feira Santa, que comemora a Última Ceia e a cerimônia do Lava pés que a precedeu[9][10] e também a Sexta-Feira Santa, que relembra a crucificação e morte de Jesus.[11] A Páscoa é seguida por um período de cinquenta dias chamado Tempo Pascal que se estende até ao Domingo de Pentecostes.
A Páscoa é uma festa móvel, o que significa que sua data não é fixa em relação ao calendário civil. O Primeiro Concílio de Niceia (325) estabeleceu a data da Páscoa como sendo o primeiro domingo depois da lua cheia após o início do equinócio vernal (a chamada lua cheia pascal).[12] Do ponto de vista eclesiástico, o equinócio vernal acontece em 21 de março (embora ocorra no dia 20 de março na maioria dos anos do ponto de vista astronômico) e a "lua cheia" não ocorre necessariamente na data correta astronômica. Por isso, a data da Páscoa varia desde 22 de março até 25 de abril. Os cristãos orientais baseiam seus cálculos no calendário juliano, cuja data de 21 de março corresponde, no século XXI, ao dia 3 de abril no calendário gregoriano utilizado no ocidente. Por conseguinte, a Páscoa no oriente varia entre 4 de abril e 8 de maio, inclusive.
Ao contrário do inglês, que tem duas palavras distintas para as duas festas (Easter e Passover respectivamente), em português e em muitas outras línguas as duas são chamadas pelo mesmo nome ou nomes muito similares.[13] Os costumes pascais variam bastante entre os cristãos do mundo inteiro e incluem missas matinais, a troca do cumprimento pascal e de ovos de Páscoa, que eram, originalmente, um símbolo do túmulo vazio.[14][15][16] Muitos outros costumes passaram a ser associados à Páscoa e são observados por cristãos e não cristãos, como os ovos de Páscoa e o coelho da Páscoa.[17][18][19] Há também uma grande quantidade de pratos típicos ligados à Pascoa e que variam de região para região.
A Páscoa cristã está ligada à Páscoa judaica pela data (segundo a Bíblia, a Última Ceia era originalmente um jantar de Páscoa judaica)[20][21] e também por muitos dos seus simbolismos centrais.
Etimologia
A palavra "páscoa" provém do latim pascha,ae, um decalque do grego Πάσχα (transl. paskha), e este (através do aramaico pascha) também decalque do hebraico פֶּסַח (Pesach ou Pesaḥ), termo que designa a Páscoa judaica.[22][23]
O termo em inglês é Easter, cognato com o alemão moderno Ostern, derivado do inglês antigo Ēastre ou Ēostre. A teoria geralmente aceita defende que era originalmente o nome de uma deusa anglo-saxônica, Ēostre, uma forma do termo indo-europeu encontrado em muitos lugares para a deusa do amanhecer.[a]
As raízes hebraicas
A Pesach - a Páscoa judaica -, a celebração da saída dos hebreus do Egito, graças a Moisés, constitui-se de dois ritos: a imolação do cordeiro e o pão ázimo.[5]
A palavra hebraica pesach significa 'passar adiante', 'deixar de fora', e deriva da narrativa da décima praga, segundo a qual Deus ordenou aos hebreus que assinalassem, com o sangue do cordeiro, as portas das casas de Israel, permitindo, ao anjo exterminador, que passasse adiante, atingindo somente as casas dos egípcios e, de modo particular, os primogênitos dos egípcios, inclusive o filho do faraó (Êxodo, 12,21-34).[24] A Pesach indica portanto a libertação do povo de Israel do domínio egípcio e o início do seu percurso em direção à terra prometida.
Com o advento do cristianismo, a Páscoa adquiriu um novo significado, indicando a passagem da morte à vida por Jesus e a passagem a uma vida nova para os cristãos, libertados do pecado, graças ao sacrifício de Jesus.[5] Por isso, a Páscoa cristã é dita Páscoa da ressurreição, enquanto a Páscoa judaica é a Páscoa da libertação.
Já nos primeiros anos da década de 50 do século I, Paulo, escrevendo de Éfeso aos cristãos de Corinto,[25] utilizou o termo para fazer referência a Cristo e é improvável que os efésios e coríntios tenham sido os primeiros a ouvir o Êxodo 12 interpretado como uma referência à morte de Jesus e não a um ritual de passagem judaico.[26] Quase todos os países falantes de línguas não inglesas utilizam nomes derivados de Pascha para a festa.[7][27]
Importância teológica
O Evangelho ensina que a ressurreição de Jesus, celebrada pela Páscoa, é o fundamento da fé cristã.[28] A ressurreição estabeleceu Jesus como sendo Filho de Deus[29] e é citada como prova de que Deus irá julgar o mundo com justiça.[30][31] Deus «regenerou os cristãos para uma viva esperança pela ressurreição de Jesus Cristo dentre os mortos» (I Pedro 1:3). Estes, pela fé na obra de Deus, são espiritualmente ressuscitados com Jesus para que possam seguir para uma nova vida eterna.[31][32]
A Páscoa cristã está ligada à Páscoa judaica e ao Êxodo, relatado no Antigo Testamento, através da Última Ceia e a crucificação que precederam a ressurreição.[27] De acordo com o Novo Testamento, Jesus deu à última ceia, originalmente um jantar da Páscoa judaica, um novo significado, pois ele preparava a si e aos seus discípulos para a morte durante a ceia no cenáculo.[27] Ele identificou o pão (matzah judaico) e o vinho como sendo seu corpo, que logo seria sacrificado, e seu sangue, que seria derramado (veja instituição da Eucaristia). Diz Paulo, "Purificai o velho fermento, para que sejais uma nova massa, assim como sois sem fermento. Pois, na verdade, Cristo, que é nossa Páscoa, foi imolado.",[33] fazendo referências aos requisitos judaicos de que não haja fermento na casa e do sacrifício do cordeiro pascal (korban), alegoricamente identificado como Jesus.[34]
Uma interpretação do Evangelho de João é que Jesus, como cordeiro pascal, foi crucificado, grosso modo, no mesmo horário em que os cordeiros estavam sendo sacrificados no Templo, a tarde de 14 Nisan. As instruções na Bíblia especificam que ele deve ser imolado «a tardinha» (Êxodo 12:6), ou seja, no crepúsculo. No período romano, porém, os sacrifícios eram realizados no meio da tarde.[35]
Esta interpretação, porém, é inconsistente com a cronologia nos evangelhos sinóticos. Ela assume que o texto de João 19:14 ("Era a parasceve e cerca da hora sexta"), literalmente traduzido, é obrigatoriamente uma referência ao 14 de Nisan (o dia de preparação para a Páscoa judaica) e não ao Yom Shishi (a sexta-feira seguinte, dia de preparação para o sabá da semana do festival da Páscoa judaica),[36] e que o desejo dos sacerdotes de estarem puros para «...poderem comer a páscoa» (João 18:28) era uma referência obrigatória à refeição do cordeiro de Páscoa e não às demais feitas durante as oferendas públicas do festival da Páscoa (chamado também de "Festival do Pão sem Fermento"), como comanda Levítico 23:8.
Cristianismo primitivo
Os primeiros cristãos, judeus cristãos e gentios certamente conheciam o calendário hebraico[37] e não existem evidências diretas de que eles celebrassem nenhum tipo específico de festival anual cristão.[38] A Páscoa era provavelmente um aspecto da Páscoa judaica na qual os judeo-cristãos, os primeiros a comemorarem-na, celebravam a ressurreição de Jesus.[22]
Evidências diretas começaram a aparecer na metade do século II. Talvez a mais antiga fonte primária sobrevivente a fazer referência à Páscoa seja uma homilia pascal do meio do século II atribuída a Melito de Sardis, que apresenta o evento como uma festa já consolidada (e não uma "novidade").[38] Evidências de um outro tipo de festival anual cristão, a comemoração dos mártires, começam a aparecer mais ou menos na mesma época.[39]
Enquanto os dias reservados aos mártires (em geral as datas de seus respectivos martírios) eram celebrados em datas fixas utilizando o calendário solar local, a data da Páscoa era determinada através do calendário lunissolar judaico, o que é consistente com o fato de a festa da Páscoa ter sido incorporada ao cristianismo durante seus primeiros anos, o chamado período judaico, mas mesmo assim a questão não está livre de controvérsias.[40]
O historiador eclesiástico Sócrates Escolástico atribui a observância da Páscoa pela igreja à perpetuação de seu costume, "da mesma forma que outros costumes foram criados", afirmando que nem Jesus e nem seus apóstolos desejavam manter este ou qualquer outro festival. Embora ele descreva em detalhes a celebração da Páscoa como sendo derivada de costumes locais, ele insiste, por outro lado, que a festa era de fato universalmente observada.[41]
Data
ANO | DATA[42] |
---|---|
2023 | 9 de abril |
2024 | 31 de março |
2025 | 20 de abril |
2026 | 5 de abril |
2027 | 28 de março |
2028 | 16 de abril |
Posição no ano litúrgico
Cristianismo ocidental
No rito latino, a Páscoa é precedida pela Quaresma, um período preparatório de jejuns e penitências que começa na Quarta-Feira de Cinzas e dura quarenta dias (sem contar os domingos). A semana antes da Páscoa, conhecida como Semana Santa, é muito especial na tradição cristã. O domingo anterior é o Domingo de Ramos. Os três dias antes da Páscoa, conhecidos como Tríduo Pascal, são a Quinta e a Sexta-Feira Santa mais o Sábado de Aleluia.
Muitas igrejas começam a celebrar a Páscoa no fim da noite do Sábado de Aleluia na chamada Vigília Pascal. Em alguns países, a Páscoa dura dois dias, com a adição da chamada "Segunda-Feira de Páscoa".
A semana começando com o Domingo de Páscoa é chamada de Semana de Páscoa (ou Oitava da Páscoa) e cada dia é sucedido pelo sufixo "pascal" (ou "da Páscoa"). O Sábado de Páscoa é, portanto, o sábado depois do Domingo de Páscoa (e não o Sábado de Aleluia, antes dele). O Tempo Pascal começa no domingo e vai até ao Domingo de Pentecostes, sete semanas depois.
Cristianismo oriental
No rito bizantino, a preparação espiritual para a Páscoa começa com a Grande Quaresma, que começa na Segunda-Feira Limpa e dura quarenta dias seguidos (inclusive os domingos). A última semana da Grande Quaresma (depois do quinto domingo da Grande Quaresma) é chamada Semana de Ramos e termina com o Sábado de Lázaro. As vésperas deste dia encerram oficialmente a Grande Quaresma, embora o jejum continue ainda na semana seguinte. Depois vêm o Domingo de Ramos, a Semana Santa e, finalmente, a Páscoa. O período de jejuns se encerra imediatamente depois da Divina Liturgia da Páscoa.
A Vigília Pascal começa com o Serviço da Meia-Noite, que é o último do Triódion da Quaresma e é sincronizado para acabar pouco antes da meia-noite do Sábado de Aleluia. Quando o relógio marca a meia-noite, a celebração da Páscoa começa, que abrange as matinas pascais, as horas pascais e a Divina Liturgia Pascal.[43] Este sincronismo garante que a liturgia da Páscoa ocorrerá mais cedo que qualquer outra liturgia matinal no ano litúrgico, garantindo assim sua preeminência entre as Festas das Festas.
A época litúrgica que vai da Páscoa até ao domingo de Todos os Santos (o domingo depois do Pentecostes) é conhecido como Pentecostarion (os "cinquenta dias"). A semana que começa no Domingo de Páscoa é chamada Semana Brilhante, durante a qual não se jejua (mesmo às quartas e sextas-feiras).
Observância
Cristianismo ocidental
O festival da Páscoa é observado de diferentes formas entre os cristãos ocidentais. A observância litúrgica tradicional, praticada por católicos, luteranos e alguns anglicanos, começa na noite do Sábado de Aleluia com a Vigília Pascal. Esta, considerada a mais importante liturgia do ano, começa numa escuridão total com o fogo pascal e o acendimento do Círio Pascal (símbolo do Cristo ressuscitado) e o canto do Exultet, uma proclamação de Páscoa atribuída a Santo Ambrósio.
Depois deste serviço de luz, seguem-se diversas leituras do Antigo Testamento. Elas contam as histórias da criação, o sacrifício de Isaque, a travessia do Mar Vermelho e a profecia da vinda do Messias. Esta parte do serviço litúrgico, culmina com o canto do Gloria, do Aleluia e finalmente com a proclamação da "boa nova" (euangelion) da ressurreição. Neste ponto, as luzes são novamente acesas e os sinos bradam (de acordo com os costumes locais).
O foco, então, se volta do púlpito para a pia batismal. Nos tempos antigos, a Páscoa era considerada o período ideal para que os convertidos recebessem o batismo e esta prática continua entre os católicos romanos e na Comunhão Anglicana. Havendo ou não batismos neste momento, é tradicional que a congregação renove seus votos batismais, um ato que é geralmente selado com a aspersão da água benta da fonte. O sacramento da Confirmação é também celebrado durante a Vigília.
A Vigília de Páscoa termina com a Eucaristia (do grego "ações de graças", conhecida também como "Comunhão" em algumas tradições).
Algumas igrejas preferem realizar a vigília bem cedo no domingo em vez de na noite de sábado para refletir o relato evangélico das mulheres chegando ao túmulo na manhã do primeiro dia da semana (o domingo). Estes serviços, conhecidos como "Serviços do Amanhecer", geralmente ocorrem ao ar livre (o cemitério, jardim ou estacionamento da igreja em geral). O primeiro deles ocorreu em 1732 entre os irmãos singulares da Igreja Morávia em Herrnhut, Saxônia. O costume foi depois exportado por missionários para diversas cidades no mundo.
A Páscoa é celebrada com um serviço especial por todas as denominações evangélicas. [45][46][47]
Outras celebrações ocorrem também no próprio Domingo de Páscoa. Tipicamente, estes serviços seguem a ordem de um domingo normal de cada congregação, incorporando elementos mais festivos. A música, em particular, geralmente é mais alegre; a incorporação dos metais na orquestra para incrementar os instrumentos habituais dos músicos da congregação é bastante comum. Além disso, é bastante corrente que toda a igreja seja decorada com faixas e flores.
Cristianismo oriental
Para os cristãos orientais, todas as demais festas do calendário são secundárias em relação à Páscoa, inclusive o Natal, o que se reflete na gama de costumes pascais na cultura de países tradicionalmente de maioria ortodoxa. Os católicos orientais também enfatizam a Páscoa em seu calendário e têm costumes muitos similares.
Isto não quer dizer que os demais elementos do ano litúrgico cristão sejam ignorados, mas que, em vez disso, eles são vistos não apenas como sendo preliminares mas também como sendo iluminados pelo clímax da ressurreição, um evento que realiza e frutifica tudo o que veio antes. A Páscoa é o ato primário que completa o objetivo do ministério de Jesus na Terra - derrotar a Morte com sua morte e exaltar e purificar a humanidade assumindo voluntariamente suas fragilidades e depois superando-as. Este credo é resumido pelo Tropário Pascal, cantado repetidamente durante a Páscoa até a Apodósis da Páscoa, que é a véspera do dia da Ascensão.
A preparação para a Páscoa começa com a Grande Quaresma. Além dos jejuns, da distribuição de esmolas e da oração, os cristãos ortodoxos se privam de toda forma de entretenimento e atividades mundanas não essenciais, gradualmente eliminando-as até à Grande e Santa Sexta-Feira, o mais austero dia do ano. Tradicionalmente, na noite do Grande e Santo Sábado celebra-se o o Ofício da Meia-Noite (vide Vigília Pascal).
Quando ele termina, todas as luzes da igreja são apagadas e todos esperam no escuro e em silêncio a chegada da meia-noite. Então, uma nova chama é acesa no altar (ou o sacerdote acende sua vela a partir da lâmpada perpétua que fica acesa lá) e acende as velas acesas pelos diáconos e outros assistentes, que então acendem as velas trazidas pelos fiéis (uma prática que se originou no antigo ritual do recebimento do Fogo Sagrado na Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém). Então, o padre e a congregação seguem em procissão com a cruz circundando (por fora) a igreja, segurando as velas e cantando. Ela tem por objetivo simbolizar o trajeto das Portadoras de mirra ao túmulo de Jesus «muito cedo» (Lucas 24:1). Depois de rodear o templo de uma a três vezes, a procissão para em frente às portas fechadas. Na tradição grega, o padre faz uma leitura dos evangelhos (Marcos 16:1–8). Nas demais tradições e depois da leitura na grega, ele faz o sinal da cruz com o turíbulo ali (as portas fechadas simbolizam o túmulo ainda fechado).
Ele e os fiéis cantam o Tropário Pascal e todos os sinos e semantra tocam. Todos entram no edifício e as matinas pascais começam imediatamente, seguidas pelas horas pascais, culminando depois na Divina Liturgia de Páscoa. O ponto alto da liturgia é a homilia pascal de São João Crisóstomo, que a congregação escuta de pé.
Logo depois da dispensa, o padre geralmente abençoa cestos e ovos de Páscoa trazidos pelos fiéis e que geralmente contêm alimentos que não podiam comer durante o jejum da Grande Quaresma. Logo depois da liturgia, é tradicional em algumas regiões que a congregação faça uma refeição coletiva, essencialmente uma forma de Ágape, apesar de ocorrer às duas da manhã ou ainda mais tarde.
Na manhã seguinte, o Domingo de Páscoa, não há Divina Liturgia, uma vez que já foi celebrada durante a madrugada. Em vez disso, à tarde, é geralmente o costume celebrar-se um "Ágape Vespertino". Neste serviço, vem tornando-se tradicional nos últimos séculos que o padre e alguns membros da congregação leiam uma parte do Evangelho de João (João 20:19–25 e, em alguns lugares, também João 20:26–31) no maior número de línguas que os fiéis conseguirem, um símbolo da universalidade da ressurreição.
Durante o resto da semana, conhecida como "Semana Brilhante", é proibido jejuar e o habitual cumprimento pascal é "Cristo ressuscitou!", para o qual a resposta é "Verdadeiramente Ele ressuscitou!". Os serviços litúrgicos nesta semana são idênticos aos da Páscoa, exceto que ocorrem nos horários normais e não à meia-noite. As procissões ocorrem ou depois das matinas ou depois da Divina Liturgia.
Grupos não observantes
Juntamente com as comemorações do Natal e do Advento, muitas tradições pascais foram alteradas ou até mesmo abandonadas completamente pelas diversas denominações surgidas no decorrer da Reforma Protestante, geralmente sob o argumento de serem "pagãs" ou "papistas" (e, portanto, maculadas) por muitos movimentos puritanos.[48] Porém, algumas das igrejas e movimentos da Reforma (luteranos, metodistas e anglicanos, por exemplo) preferiram manter grande parte das observâncias do já estabelecido ano litúrgico juntamente com diversas tradições associadas. Nas igrejas luteranas, por exemplo, não apenas as datas da Semana Santa são observadas, mas também o Natal, a Páscoa e o Pentecostes são comemorados com festivais de três dias (o próprio e os dois seguintes).
Entre muitas outras tradições reformistas e contrarreformistas, porém, a situação foi bastante diferente, resultando que quacres e puritanos congregacionistas e presbiterianos rejeitaram certas tradições pascais.[49] A rejeição puritana das tradições pascais está fundamentada parcialmente na interpretação de II Coríntios 6:14–16 e parcialmente na crença de que se uma prática ou festa religiosa não está diretamente na Bíblia, então ela deve ser um desenvolvimento posterior e não deve ser considerada parte da prática cristã autêntica, sendo desnecessária no mínimo e pecadora no limite.
Alguns grupos cristãos rejeitam a celebração da Páscoa por causa de suas alegadas raízes pagãs (reais ou percebidas) e ligações históricas com as práticas e autorizações derivadas da Igreja Católica "Romana".[50] Finalmente, vários grupos cristãos não conformistas que ainda celebram o evento preferem chamá-lo de "Dia da Ressurreição" (ou "Domingo da Ressurreição") pelos mesmos motivos e também como uma forma de rejeitar os aspectos seculares e comerciais que o feriado adquiriu nos séculos XX e XXI.[44]
As Testemunhas de Jeová defendem um ponto de vista similar, realizando um serviço anual comemorando a Última Ceia e a subsequente execução de Cristo na noite do 14 de Nissã (veja Quartodecimanismo).[51] As Testemunhas de Jeová acreditam que versículos como Lucas 22:19–20 e I Coríntios 11:26 são mandamentos para que se relembre a morte de Cristo e não a sua ressurreição,[51] o que eles fazem anualmente.
Os quacres, como parte de seu histórico "testemunho contra o tempo e as épocas", não celebram a Páscoa e nem nenhum outro feriado cristão, acreditando em vez disso que "todos os dias são dias do Senhor".[52] Mais do que isso, eles acreditam que a elevação de um dia acima dos outros sugere que atitudes não cristãs sejam aceitáveis nos demais dias.[53] Nos século XVII e XVIII, ele foram perseguidos justamente por isso.[54]
Alguns grupos cristãos acreditam que a Páscoa seja um evento a ser comemorado com grande alegria, mas dando menos ênfase ao dia propriamente dito, e mais à lembrança da alegria no evento que ela comemora. Neste contexto, estes movimentos ensinam que todos os dias e todos os sabás devem ser santificados de acordo com os ensinamentos de Jesus. Judeus cristãos, membros do Nome Sagrado e armstrongistas (como a Igreja Viva de Deus) geralmente rejeitam a Páscoa em prol da observância do 14 de Nisan e a celebração da chamada Pessach cristã. Isto é especialmente verdadeiro para grupos que celebram a lua nova ou os altos sabás anuais além do Sabá no sétimo dia. Eles defendem estes costumes textualmente fazendo uma referência ao trecho «Ninguém, portanto, vos julgue pelo comer, nem pelo beber, nem a respeito de um dia de festa, ou de lua nova ou de sábado, as quais coisas são sombras das cousas vindouras, mas o corpo é de Cristo.» (Colossenses 2:16–17) de Colossenses.
Celebrações pelo mundo
Em países onde o cristianismo é uma religião estatal ou onde há uma grande população cristã, a Páscoa é geralmente um feriado nacional. Como ela cai sempre num domingo, muitos países também fazem da segunda-feira seguinte um feriado também. Algumas lojas, shopping centers e restaurantes também fecham neste dia. A Sexta-Feira Santa, que ocorre dois dias antes do Domingo de Páscoa, é também um feriado em muitos países. É também feriado em doze estados norte-americanos e, naqueles onde não é, muitas instituições financeiras, as bolsas de valores e as escolas públicas fecham. Os poucos bancos nos Estados Unidos que normalmente abrem aos domingos não funcionam na Páscoa. A data é comemorada em muitos lugares com paradas e procissões, sendo a Parada de Nova Iorque a mais conhecida.[55]
Na Escandinávia, a Sexta-Feira Santa, o Domingo e a Segunda de Páscoa são feriados,[56] e os dois primeiros são também feriados bancários.[57] Para a maior parte do comércio, são dias de folga também, exceção feita apenas aos shopping centers, que geralmente abrem por meio período. Muitos empresários dão aos funcionários quase uma semana de folga, a chamada "Folga de Páscoa".[58]
Nos países da Comunidade das Nações, a Páscoa raramente é considerada um feriado, assim como todas as demais celebrações que caem num domingo. No Reino Unido, tanto a sexta quanto a segunda-feira são feriados bancários.[59] Contudo, no Canadá, o Domingo de Páscoa é feriado, assim como a segunda-feira seguinte. Na província de Quebec, tanto a sexta quanto a segunda-feira são feriados facultativos, mas a maior parte das empresas concede os dois dias aos funcionários.
Ovos de Páscoa
Ovos de Páscoa são ovos especialmente decorados e trocados como presentes para celebrar o feriado da Páscoa. A tradição mais antiga consiste em utilizar ovos de galinha tingidos e depois pintados, mas o costume moderno consiste em trocar ovos de chocolate.
O coelho da Páscoa é um popular personagem lendário de características antropomórficas que distribui presentes, análogo ao Papai Noel em muitas culturas. Nos Estados Unidos, o presidente realiza uma caça aos ovos anual nos jardins da Casa Branca para crianças pequenas.[60]
Notas
- [a] ^ Veja por exemplo o termo Eastre do inglês antigo, o nome da deusa do amanhecer e correspondente à deusa romana Aurora e grega Eōs.[61] "O exemplo mais simples da deusa do amanhecer acabando ligada a um único festival, o da primavera, é da deusa Eostre anglo-saxônica e sua suposta contraparte germânica Ôstara, que deram-nos [os anglófonos] "Easter" e "Ostertage". Nossa fontes não ligam Eostre com o amanhecer, mas é sem dúvida este o significado de seu nome".[62] Finalmente, material comparativo, como o inglês antigo Eostre "nos permitem propor um termo PIE para a ... 'deusa do amanhecer', caracterizada como a que traz a luz de forma 'relutante', um ato pelo qual ela é punida. Em três grupos [linguísticos] indo-europeus, báltico, grego e indo-iraniano, a existência de um termo PIE para 'deusa do amanhecer' tem ainda mais apoio linguístico por neles ela ser designada como 'filha do céu'. Todos [os termos correspondentes em lituano, grego e hindu antigo] derivados de um termo PIE ...'filha do céu'. O correspondente 'filho do céu' é impossível de ser reconstruído lexicamente, mas é, semântica e mitologicamente, associado com os 'Gêmeos Divinos'".[63]
Referências
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É importante notar que as igrejas ortodoxas, católicas orientais e reformadas no Oriente Médio celebram a Páscoa utilizando um calendário diferente e chamam a data de "Domingo da Ressurreição" e não Páscoa.
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Ligações externas
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Ressurreição de Jesus
A Ressurreição de Jesus é a fé cristã de que Jesus Cristo retornou à vida no domingo seguinte à sexta-feira na qual ele foi crucificado. É uma doutrina central da fé e da teologia cristã e parte do Credo Niceno: "Ressuscitou dos mortos ao terceiro dia, conforme as Escrituras".[1][2]
No Novo Testamento, depois de ser crucificado pelos romanos, Jesus é ungido e sepultado num túmulo novo por José de Arimateia, ressuscita dos mortos[3] e aparece para muitas pessoas durante um período de quarenta dias, quando então ascende ao céu para se sentar à direita do Pai. Os cristãos celebram a ressurreição no Domingo de Páscoa, o terceiro dia depois da Sexta-Feira Santa, o dia da crucificação. A data da Páscoa correspondeu, a grosso modo, com a Páscoa judaica, o dia de observância dos judeus associado com o Êxodo, que é calculado como sendo a noite da primeira lua cheia depois do equinócio.[4]
A história da ressurreição aparece em mais de cinco diferentes locais na Bíblia. Em diversos episódios nos evangelhos canônicos, Jesus profetiza sua morte e posterior ressurreição, que ele afirma ser o plano de Deus Pai.[5] Os cristãos veem a ressurreição de Jesus como parte do plano de salvação e redenção através da expiação pelos pecados do homem.[6]
Estudiosos céticos questionaram a historicidade da ressurreição por séculos; por exemplo, "...o consenso acadêmico do século XIX e início do século XX descarta as narrativas sobre a ressurreição como sendo relatos tardios e lendários".[7] Diversos estudiosos modernos expressaram suas dúvidas sobre a historicidade dos relatos sobre a ressurreição e continuam debatendo suas origens,[8] enquanto que outros consideram os relatos bíblicos sobre o episódio como sendo derivados das experiências dos seguidores de Jesus e, particularmente, do apóstolo Paulo.[9][10]
Narrativa bíblica
Epístolas paulinas
Os mais antigos registros escritos da morte e ressurreição de Jesus são as cartas de Paulo, que foram escritas por volta de duas décadas após a morte de Jesus[11][12] e mostram que, neste período, os cristãos acreditavam firmemente no evento. Alguns estudiosos acreditam que elas tenham incorporado credos e hinos primitivos, escritos apenas uns poucos anos após a morte de Jesus e originados na comunidade cristã de Jerusalém.[13] Estes credos, mesmo inseridos nos textos do Novo Testamento, são uma fonte importante sobre este período do cristianismo primitivo (vide abaixo):
- «acerca de seu Filho (que veio da descendência de Davi quanto à carne, e que foi com poder declarado Filho de Deus quanto ao espírito de santidade, pela ressurreição dos mortos), Jesus Cristo nosso Senhor» (Romanos 1:3–4).[14]
- «Lembra-te de Jesus Cristo, ressuscitado dentre os mortos, descendente de Davi, segundo o meu Evangelho» (II Timóteo 2:8).[15]
- «Pois eu vos entreguei primeiramente o que também recebi: que Cristo morreu por nossos pecados segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que foi ressuscitado ao terceiro dia segundo as Escrituras e que apareceu a Cefas e então aos doze. Depois apareceu a mais de quinhentos irmãos de uma vez, dos quais a maior parte permanece até agora, mas alguns já dormiram; depois apareceu a Tiago, então a todos os apóstolos;» (I Coríntios 15:3–7).
Estas aparições neste último credo incluem aquelas aos membros mais proeminentes entre os seguidores de Jesus e, posteriormente, da igreja de Jerusalém, incluindo Tiago, irmão de Jesus, e os apóstolos, nomeando apenas Pedro (Cefas). O credo também faz referências a aparições para pessoas cujo nome não é citado. Hans Von Campenhausen e A. M. Hunter afirmaram, separadamente, que o texto deste credo cumpre os rigorosos critérios de historicidade e confiabilidade de origem.[16][17]
Evangelhos
Marcos
Logo após o nascer do sol no dia seguinte ao sabbath, três mulheres, Maria Madalena, Maria, mãe de Tiago e Salomé, foram ungir o corpo de Jesus imaginando como é que conseguiriam rolar a pesada pedra que fechava o túmulo. Porém, elas a encontraram já rolada e viram um jovem sentado no túmulo que lhes contou que Jesus havia ressuscitado e que elas deveriam contar para Pedro e os apóstolos que Ele iria se encontrar com eles na Galileia, "como havia prometido". As mulheres correram e não contaram para ninguém (Marcos 16).
Mateus
Logo após o nascer do sol no dia seguinte ao sabbath, Maria Madalena e "a outra Maria" foram espiar o túmulo. Acompanhado de um terremoto, um anjo desceu dos céus e rolou a pedra na entrada. Ele diz para elas não terem medo e pede que elas contem aos discípulos que Jesus ressuscitou e que irá encontrá-los na Galileia. As mulheres se regojizaram e correram para contar as novidades aos discípulos, mas Jesus apareceu e repetiu o que foi dito pelo anjo. Os discípulos então foram para a Galileia e lá viram Jesus. Os soldados que guardavam o túmulo ficaram aterrorizados com o anjo e informaram aos sumo-sacerdotes. Furiosos, eles pagaram para que eles espalhassem a informação mentirosa de que os discípulos de Jesus haviam roubado o corpo "e esta notícia se há divulgado entre os judeus até o dia de hoje" (Mateus 28).
Lucas
Logo após o nascer do sol no dia seguinte ao sabbath algumas mulheres (Maria Madalena, Joana e Maria, mãe de Tiago) foram ungir o corpo de Jesus. Elas encontraram a pedra já rolada e o túmulo vazio. Repentinamente, dois homens apareceram atrás delas e disseram que Jesus havia ressuscitado. As mulheres contaram aos discípulos, que não acreditaram nelas, com exceção de Pedro, que correu até a tumba. Ele descobriu a mortalha no túmulo e foi embora imaginando o que poderia ter acontecido.
No mesmo dia, Jesus apareceu para dois seguidores na estrada para Emaús. Eles só o reconheceram quando ele partiu o pão e deu graças, desaparecendo em seguida. Os dois imediatamente seguiram para Jerusalém, onde encontraram os discípulos excitados com a aparição de Jesus a Pedro. Quando eles começaram a contar a história, Jesus apareceu para todos eles, que ficam assustados, mas ele os convidou a tocarem no seu corpo, comerem com ele e explicou que nele as profecias se realizaram (Lucas 24).
João
Bem cedo no dia após o sabbath, antes do nascer do sol, Maria Madalena visitou o túmulo de Jesus e encontrou a pedra já rolada. Ela contou a Pedro e ao "discípulo amado", que correram para lá, encontraram apenas a mortalha e foram para casa. Maria viu dois anjos e Jesus, que ela não reconheceu de imediato. Ele pediu a ela que contasse aos discípulos que Jesus irá ascender ao Pai, o que ela se apressou para fazer.
Naquela tarde, Jesus apareceu entre eles, mesmo as portas estando trancadas, e lhes conferiu o poder sobre o pecado e o de perdoar. Uma semana depois, ele apareceu para Tomé, que não tinha acreditado até então. Quando ele tocou as chagas de Jesus, disse "Meu senhor, meu Deus", ao que Jesus respondeu "Creste, porque me viste? Bem-aventurados os que não viram e creram" (João 20).
Atos dos Apóstolos
Na continuação do relato de Lucas, Jesus apareceu para diversas pessoas por quarenta dias, dando muitas provas de sua ressurreição e instruindo os apóstolos a não deixarem Jerusalém antes de serem batizados pelo Espírito Santo (Atos 1).
Principais temas
No Novo Testamento há três grupos de eventos relacionados à morte e ressurreição de Jesus: crucificação e sepultamento, no qual Jesus é colocado num novo túmulo após a sua morte, descoberta do túmulo vazio e as aparições após a ressurreição.
Sepultamento
Todos os quatro evangelhos afirmam que, no final da tarde do dia da crucificação, José de Arimateia pediu a Pilatos permissão para levar o corpo de Jesus e que, após ter sido atendido, José retirou o corpo da cruz, envolveu-o numa mortalha de linho e o colocou no túmulo.[18] Este ritual estava de acordo com a Lei Mosaica (Deuteronômio 21:22–23), que afirmava que uma pessoa enforcada numa árvore não deve ficar lá à noite e deve ser enterrada antes do pôr-do-sol.[19]
Em Mateus, José de Arimateia foi identificado como sendo «...também discípulo de Jesus» (Mateus 27:57); Marcos acrescenta que ele era um «...ilustre membro do sinédrio, que também esperava o reino de Deus» (Marcos 15:43). Lucas diz que ele era «...membro do sinédrio, homem bom e justo (que não anuíra ao propósito e ato dos outros), de Arimateia, cidade dos judeus, o qual esperava o reino de Deus.» (Lucas 23:50–51). Finalmente, João apenas identifica-o como «discípulo de Jesus» (João 19:38).
O Evangelho de Marcos afirma que, quando José pediu o corpo de Jesus, Pilatos ficou espantado por Jesus já estar morto e enviou um centurião para confirmar a morte antes de entregar a José o corpo. João relata que José teve o auxílio de Nicodemos, que trouxe uma mistura de mirra e aloés, misturando os perfumes na mortalha, como era o costume dos judeus.
Morte de Jesus durante os três dias
Os trechos em itálico abaixo, do Novo Testamento, comentam sobre a morte e ressurreição de Jesus e o período no qual ele esteve no túmulo:
O apóstolo Pedro dá um sermão cinquenta dias após a ressurreição no qual ele afirma: «Irmãos, é-me permitido dizer-vos ousadamente acerca do patriarca David, que ele morreu e foi sepultado, e o seu túmulo está entre nós até hoje. Sendo, pois, profeta, e sabendo que Deus lhe havia jurado que um dos seus descendentes seria colocado sobre o seu trono; prevendo isto, Davi falou da ressurreição de Cristo, que nem foi deixado no Hades, nem o seu corpo viu a corrupção.» (Atos 2:29–31)
Pedro, agora em sua primeira epístola, diz: «Assim também Cristo morreu uma só vez pelos pecados, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus, sendo, na verdade, morto na carne, mas vivificado no Espírito, no qual também foi pregar aos espíritos em prisão.» (I Pedro 3:18–20)
Estas passagens formam a base teológica que sustenta a frase "Ele desceu ao inferno" que consta no Credo dos Apóstolos e deu origem a tradição da Descida de Cristo ao Inferno.
Descoberta do túmulo vazio
Embora nenhum evangelho apresente um relato que inclua todos os episódios sobre a ressurreição e as aparições, eles concordam em quatro pontos[20]:
- A atenção dada à pedra que fechava a entrada do túmulo.
- A ligação da tradição do túmulo vazio com a visita das mulheres "no primeiro dia da semana".
- Que Jesus ressuscitado escolheu aparecer pela primeira vez para mulheres (ou mulher) e pedir-lhes (ou lhe) que proclamassem este importante fato para os discípulos, incluindo Pedro e os demais apóstolos;
- A proeminência de Maria Madalena;[21][22][23]
Já as diferenças aparecem em torno da hora precisa da visita ao túmulo, o número e identidade das mulheres; o propósito da visita; a aparição de outros mensageiros - angélicos ou humanos, a mensagem deles para as mulheres e a resposta delas.[21]
Os quatro evangelhos relatam que as mulheres foram as primeiras a encontrar o túmulo vazio, embora o número varie de uma (Maria Madalena) até um número não especificado. De acordo com Marcos e Lucas, o "anúncio" da ressurreição de Jesus foi feito primeiro às mulheres, enquanto que em Mateus e João, Jesus de fato "apareceu" primeiro para elas.[21] Especialmente nos evangelhos sinóticos, as mulheres tiveram um papel central como testemunhas da morte, sepultamento e na descoberta do túmulo vazio.[24]
Aparições após a ressurreição
Após a descoberta do túmulo vazio, os evangelhos relatam que Jesus apareceu diversas vezes para os discípulos. Entre elas estão a aparição para os discípulos no cenáculo, onde Tomé não acreditou até ser convidado a por seus dedos nas chagas de Jesus, a aparição na estrada para Emaús e no Mar da Galileia para encorajar Pedro a servir seus seguidores. Sua aparição final ocorreu quarenta dias após a ressurreição, quando Jesus ascendeu ao céu, onde ele está com o Pai e o Espírito Santo até o dia do seu retorno.
Logo depois, na estrada para Damasco, Saulo de Tarso se converteu ao cristianismo (e trocou seu nome para Paulo) com base numa visão que teve de Jesus e se tornou um dos mais importantes missionários e teólogos da religião nascente.
Historicidade e origem da narrativa
Géza Vermes, que considera a ressurreição como um dos conceitos fundamentais da fé cristã, apresentou oito possíveis teorias para explicá-la. Estas teorias abrangem todo um espectro que vai da negação completa do evento até a fé absoluta nele. As seis outras variantes incluem o roubo do corpo, a recuperação de um estado de coma e uma ressurreição espiritual, não corporal[25][26] Vermes descarta as duas extremas, afirmando que elas "não são suscetíveis ao julgamento racional".[26]
Diversos argumentos contra a historicidade da ressurreição também foram apresentados, como, por exemplo, o número de outras figuras históricas ou deuses sobre os quais existem relatos de morte e ressurreição semelhantes[27][b]. De acordo com Peter Kirby, "muitos estudiosos duvidam da historicidade do túmulo vazio"[28][a]. Porém, de acordo com uma pesquisa realizada por Gary Habermas, 75% de todos os estudiosos do Novo Testamento, conservadores ou não, aceitam argumentos a favor do evento.[29] Robert M. Price alega que se a ressurreição pudesse, de fato, ser comprovada por evidências científicas ou históricas, o evento perderia suas qualidades milagrosas.[27] Helmut Koester escreveu que as teorias sobre a ressurreição foram originalmente epifanias e que os relatos mais detalhados do evento são de fontes secundárias e não se baseiam em registros históricos.[30]
De acordo com Richard. A. Burridge, o consenso majoritário entre os acadêmicos bíblicos é que o gênero literário dos evangelhos é uma forma de biografia antiga e não uma narrativa mitológica.[31] E.P. Sanders argumenta que uma conspiração para fomentar a crença na ressurreição provavelmente resultaria numa história mais consistente e que algumas das pessoas envolvidas nos eventos deram suas vidas para defender essa crença.[32] James D.G. Dunn afirmou que, ainda que a experiência de Paulo com a ressurreição foi "de caráter visionário" e "não física e não material", os relatos nos evangelhos são de outra natureza..[33]
Importância teológica
Na teologia cristã, a ressurreição de Jesus é o fundamento da fé cristã. Os cristãos, «pela fé no poder de Deus» (Colossenses 2:12), serão corporalmente ressuscitados com Jesus na sua segunda vinda (Parúsia) porque «Jesus morreu e ressuscitou e assim acontecerá com os que são dele» (1 Tessalonicenses 4:14), do mesmo modo, os cristãos são redimidos para que «vivam uma nova vida» (Romanos 6:4). Como Paulo afirmou: «Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e também é vã a vossa fé.» (I Coríntios 15:4).[34]
Diversos estudiosos já apontaram que, na discussão sobre a ressurreição, Paulo ecoa um estilo de transmissão de conhecimento rabínica parte de uma tradição autoritativa antiga que ele recebeu e passou adiante para a igreja de Corinto. Por esta e por outras razões, é amplamente aceito que esta crença na ressurreição é de origem pré-paulina.[35][36] Geza Vermes afirma que esta crença é "uma tradição que Paulo herdou dos que eram maiores que ele na fé na morte, sepultamento e ressurreição de Jesus" (vide acima)[37] e sua origem foi a comunidade apostólica de Jerusalém, onde ela foi formalizada e passada adiante apenas alguns poucos anos depois da ressurreição.[38] Paul Barret escreve que este tipo de credo é uma variante de "uma tradição primitiva básica que Paulo 'recebeu' em Damasco de Anananias por volta de 34 d.C." após a sua conversão.[39]
A visão de Paulo era contrária aos ensinamentos dos filósofos gregos, para quem a ressurreição dos mortos significava uma nova prisão num corpo, que era o que eles queriam evitar, uma vez que para eles o corpóreo e o material aprisionavam o espírito.[40] Ao mesmo tempo, Paulo acreditava que o corpo recém-ressuscitado seria também um corpo celestial, imortal, glorificado, poderoso e pneumático, bem diferente do corpo terreno, que é mortal, desonrado, fraco e psíquico (em grego: psyche).[41] De acordo com o teólogo Peter Carnley, a ressurreição de Jesus é bem diferente da ressurreição de Lázaro pois "no caso de Lázaro, a pedra foi rolada para que ele pudesse sair... o Cristo ressuscitado não precisou que lhe rolassem a pedra, pois ele foi transformado e pode parecer onde quiser, quando quiser".[42]
Terry Miethe, um filósofo cristão da Universidade de Oxford, afirmou: "'Jesus ressuscitou dos mortos?' é a pergunta mais importante sobre os que alegam professar a fé cristã".[43]
Alguns acadêmicos modernos se utilizam da crença dos seguidores de Jesus na ressurreição como um ponto de partida para estabelecer a continuidade entre o Jesus histórico e a proclamação (kerigma) da Igreja antiga.[44]
Tradição cristã
A ressurreição de Jesus é de importância central para a fé cristã e aparece em diversos elementos da tradição, como festas, representações artísticas e relíquias religiosas. Na doutrina cristã, os sacramentos derivam seu poder salvador da Paixão e ressurreição de Cristo, da qual a salvação do mundo inteiro depende.[45]
Um exemplo da interconexão entre ensinamentos sobre a ressurreição e as relíquias é a aplicação do conceito da "formação milagrosa da imagem" no momento da ressurreição no Sudário de Turim. Autores cristãos afirmam sua crença de que o corpo que estava embrulhado pelo sudário não era simplesmente humano, mas divino, e que a imagem no sudário foi produzida milagrosamente no momento da ressurreição.[46][47] Citando o papa Paulo VI, de que o sudário é "um documento maravilhoso sobre Sua Paixão, Morte e Ressurreição, escrito para nós em letras de sangue", o autor Antonio Cassanelli argumenta que o sudário é um registro divino deliberado dos cinco estágios da Paixão, criado no momento da ressurreição.[48]
Páscoa
A Páscoa é a mais importante e também a mais antiga festa cristã e celebra a ressurreição de Jesus.[49] Desde a era apostólica, seu objetivo tem sido o foco no ato de redenção de Deus na morte e ressurreição de Cristo.[50]
Sua origem está ligada à Páscoa judaica (Pessach) e ao Êxodo narrado no Antigo Testamento, principalmente através da Última Ceia e à crucificação, eventos que precederam a ressurreição. De acordo com o Novo Testamento, Jesus deu novo significado à ceia de Páscoa (judaica) quando ele preparou seus discípulos para sua morte no cenáculo durante a Última Ceia. Ao instituir a Eucaristia, Jesus ligou o significado do pedaço de pão e da taça de vinho com seu corpo, que seria sacrificado, e com seu sangue, que seria derramado. Paulo pede em I Coríntios: «Purificai [Livra-te do] o velho fermento, para que sejais uma nova massa, assim como sois sem fermento. Pois, na verdade, Cristo, que é nossa páscoa, foi imolado» (I Coríntios 5:7). Assim, ele relaciona alegoricamente o cordeiro de Páscoa judaico (Korban Pesach), que é sacrificado neste dia, com Jesus, que se tornou o Cordeiro de Deus. Além disso, Paulo faz referência ao requisito judaico de se comer o pão ázimo (sem fermento) neste dia.[51]
Ressurreição e redenção
Durante a era apostólica, a ressurreição era vista como a inauguração de um novo tempo. A tarefa de formar uma teologia da ressurreição coube a Paulo de Tarso, para quem não era suficiente repetir de forma simplória doutrinas elementares, mas sim continuar, como ele mesmo afirma em Hebreus, «deixando a doutrina dos princípios elementares de Cristo, passemos à perfeição.» (Hebreus 6:1) Assim, a conexão entre a ressurreição de Cristo e a redenção é fundamental na teologia de Paulo,[52] pois ele entendia a primeira como a causa e a base da esperança de todos os cristãos de experimentar algo similar:
“ | «Mas agora Cristo foi ressuscitado dentre os mortos, sendo ele as primícias dos que dormem [o primeiro a ser ressuscitado]. Pois desde que a morte veio por um homem, também por um homem veio a ressurreição dos mortos. Pois assim como em Adão todos morrem, assim também em Cristo todos serão vivificados.» (I Coríntios 15:20–22) | ” |
Os ensinamentos de Paulo se tornaram um elemento chave da tradição e da teologia cristãs. Ele ensinava que assim como os cristãos compartilham da morte de Jesus no batismo, eles também compartilharão de sua ressurreição.[53]
Os Padres Apostólicos discutiram a morte e a ressurreição de Jesus, incluindo Inácio de Antioquia (50-115),[54] Policarpo de Esmirna (69-155) e Justino Mártir (100-165). Depois da conversão de Constantino e do Édito de Milão (313), os primeiros concílios ecumênicos até o século VI, que se focaram na cristologia, ajudaram a formatar o entendimento cristão sobre a natureza redentora da ressurreição, influenciando tanto a liturgia quanto a iconografia.[55]
A crença na ressurreição dos corpos foi uma constante na Igreja antiga e em nenhum outro lugar ela foi defendida mais fortemente do que no norte da África. Agostinho de Hipona acreditava nisso quando se converteu em 386.[56] Ele defendia a ressurreição e argumentava que como Cristo havia ressuscitado, haveria uma ressurreição dos mortos.[57][58] Além disso, ele defendia que a morte e a ressurreição de Jesus era para a salvação do homem ao afirmar que "para conseguir a ressurreição de cada um de nós, o Salvador pagou com sua única vida, e ele decretou previamente e apresentou sua única e singular vida na forma de sacramento e modelo".[59]
A teologia do século V de Teodoro de Mopsuéstia nos dá uma pista sobre o desenvolvimento do entendimento dos cristãos sobre a natureza redentora da ressurreição. O papel crucial dos sacramentos na mediação da salvação era bem aceito na época. Na representação da Eucaristia da época - e no entendimento de Teodoro - os elementos sacrificiais e salvíficos eram combinados "N'Aquele que nos salvou e nos libertou através de Seu sacrifício". Porém, ele se concentra muito mais em seu triunfo sobre o poder da morte (salvação) na ressurreição do que na redenção (sacrifício).[60]
Esta ênfase na natureza salvadora da ressurreição continuou na teologia cristã dos séculos seguintes. No século VIII, João Damasceno escreveu que: "... quando ele libertou aqueles que estavam presos desde o princípio dos tempos, Cristo retornou novamente dos mortos, abrindo para nós o caminho para a ressurreição" (vide Descida de Cristo ao inferno) e iconografia cristã nos anos seguintes é um retrato desta ênfase.[61]
Representações artísticas da ressurreição
Nas catacumbas de Roma, os primeiros artistas cristãos apenas insinuavam a ressurreição utilizando imagens do Antigo Testamento, como a caldeira fumegante ou Daniel na cova dos leões. Representações anteriores ao século VII geralmente se valem de eventos secundários, como as Três Marias no túmulo para transmitir o conceito da ressurreição. Um dos primeiros símbolos da ressurreição foi o Chi Ro cingido, cuja origem remonta à vitória de Constantino I na Batalha da Ponte Mílvia (312), que ele atribuiu ao uso da cruz no escudo dos seus soldados. Constantino utilizava o Chi Ro como seu estandarte e suas moedas mostravam um lábaro com o Chi Ro matando uma serpente.[62]
O uso da grinalda à volta do Chi Ro simboliza a vitória da ressurreição sobre a morte e é uma representação primitiva da conexão entre a crucificação de Jesus e a sua triunfal ressurreição, como pode ser vista no sarcófago de Domitila (século IV) em Roma. Nele, num Chi Ro envolto em uma grinalda (cingido), a morte e a ressurreição de Cristo são representados como inseparáveis e esta não é vista apenas como meramente um "final feliz" ao final da vida de Jesus na terra. Dado o uso de símbolos similares no estandarte romano, esta representação também transmitia outra vitória, a da fé cristã: os soldados romanos, que um dia prenderam Jesus e o levaram até Calvário, agora marchavam sob o estandarte do Cristo ressuscitado.[63]
O significado cósmico da ressurreição na teologia ocidental remonta a Ambrósio de Milão, que, no século IV, afirmou que "Em Cristo, o mundo ascendeu, o céu ascendeu, a terra ascendeu". Porém, este tema só se desenvolveu posteriormente na teologia e na arte ocidentais. Entretanto, algo completamente se deu no oriente, onde a ressurreição estava ligada à redenção, à renovação e ao renascimento do mundo todo desde muito antes. Na arte, este fato foi demonstrado pela combinação das representações da ressurreição com as da Descida de Cristo ao inferno nos ícones e nas pinturas. Um bom exemplo aparece na Igreja de Chora em Istambul, na qual João Batista, Salomão e outras figuras estão presentes, mostrando que Cristo não ressuscitou sozinho.[64]
Visões não cristãs
Gnósticos
Gnósticos não acreditam na ressurreição no sentido literal, físico: "Para o gnóstico, qualquer ressurreição dos mortos foi descartada desde o início; a carne ou a substância está destinada a perecer. 'Não há ressurreição da carne, somente da alma', afirmam os Arcônticos, um grupo gnóstico tardio da Palestina".[65]
Judaísmo
Jesus era Judeu, mas o cristianismo teve berço no judaísmo do século I e as duas ideologias se diferenciaram em suas teologias desde então. De acordo com o Toledot Yeshu, o corpo de Jesus foi removido na mesma noite por um jardineiro de Juda quando ele soube que os discípulos planejavam roubá-lo.[66][67] Contudo, o Toledot Yeshu não é considerada uma obra canônica ou normativa na literatura rabínica.[68] Van Voorst afirma que a obra é um documento medieval organizado sem uma forma fixa e que é "muito improvável" que contenha qualquer informação confiável sobre Jesus.[69] A obra "The Blackwell Companion to Jesus" afirma que Toledot Yeshu não apresenta seus fatos como históricos e que o texto foi criado como uma ferramenta para tentar impedir a conversão de judeus ao cristianismo.[70]
No século I a.C., controvérsias dividiam os diversos grupos judaicos. Os fariseus acreditavam na ressurreição dos mortos enquanto que os saduceus, não. Estes não acreditavam na vida após a morte, enquanto que os fariseus defendiam uma ressurreição literal dos corpos.[71] Os saduceus, líderes religiosos poderosos, rejeitavam também anjos, demônios e a lei oral dos fariseus. Contudo, os fariseus, cujas crenças evoluíram para o judaísmo rabínico, eventualmente venceram a disputa (ou, ao menos, foram os sobreviventes). A promessa de uma ressurreição futura aparece na Torá e também em certas obras judaicas, como a Vida de Adão e Eva (c. 100 a.C.) e no livro farisaico II Macabeus (c. 124 a.C.).[72]
Islã
Os muçulmanos acreditam que ʿĪsā (Jesus), filho de Mariam (Maria), era um profeta sagrado que proclamava uma mensagem divina. A perspectiva islâmica é a de que Jesus não foi crucificado e irá retornar no fim dos tempos: "Outrossim, Deus fê-lo ascender até Ele, porque é Poderoso, Prudentíssimo.".[73] O Corão afirma, em Sura 4:157: "E por dizerem: Matamos o Messias, Jesus, filho de Maria, o Mensageiro de Deus, embora não sendo, na realidade, certo que o mataram, nem o crucificaram, senão que isso lhes foi simulado. E aqueles que discordam, quanto a isso, estão na dúvida, porque não possuem conhecimento algum, abstraindo-se tão-somente em conjecturas; porém, o fato é que não o mataram.".[74]
Notas
- [a] ^ Numa nota, Kirby escreve: "Uma lista muito abreviada de escritores sobre o Novo Testamento do século XX que não acreditam que o túmulo vazio é historicamente confiável: Marcus Borg, Günther Bornkamm, Gerald Boldock Bostock, Rudolf Bultmann, Peter Carnley, John Dominic Crossan, Stevan Davies, Maurice Goguel, Michael Goulder, Hans Grass, Charles Guignebert, Uta Ranke-Heinemann, Randel Helms, Herman Hendrikx, Roy Hoover, Helmut Koester, Hans Küng, Alfred Loisy, Burton L. Mack, Willi Marxsen, Gerd Lüdemann, Norman Perrin, Robert M. Price, Marianne Sawicki, John Shelby Spong, Howard M. Teeple e T. Theodore.".[75]
- [b] ^ Robert M. Price indica os relatos de Adônis, Apolônio de Tiana, Asclépio, Átis, Empédocles, Hércules, Osíris, Édipo, Rômulo, Tamuz e outros.[76]
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