terça-feira, 17 de janeiro de 2023

MIGUEL TORGA - ESCRITOR E MÉDICO - MORREU EM 1995 - 17 DE JANEIRO DE 2023

 

Miguel Torga

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Miguel Torga Camões Prize.png
Pseudónimo(s)Miguel Torga
NascimentoAdolfo Correia da Rocha
12 de agosto de 1907
São Martinho de AntaSabrosa Portugal
Morte17 de janeiro de 1995 (87 anos)
CoimbraPortugal
Nacionalidadeportuguês
CônjugeAndrée Crabbé (1940-1995)
Ocupaçãopoetamédico e escritor
PrémiosPrémio Morgado de Mateus (1980)
Prémio Montaigne (1981)
Camões Prize.png Prémio Camões 1989
Prémio da Crítica da Associação Portuguesa de Críticos Literários (1993)
Magnum opusContos da Montanha

Adolfo Correia da Rocha, conhecido pelo pseudónimo Miguel Torga (São Martinho de AntaSabrosa, 12 de agosto de 1907 — Santo António dos OlivaisCoimbra17 de janeiro de 1995), foi um dos mais influentes poetas e escritores portugueses do século XX.[1]

Torga destacou-se como poeta, contista e memorialista, mas escreveu também romances, peças de teatro e ensaios.[2] Foi laureado com o Prémio Camões de 1989,[3] o mais importante da língua portuguesa.

Biografia

Primeiros anos e educação

Nasceu na localidade de São Martinho de Anta, em Vila Real a 12 de agosto de 1907.[4][5][6] Oriundo de uma família humilde de Sabrosa, era filho de Francisco Correia da Rocha (1870 — 25 de abril de 1956) e Maria da Conceição de Barros (1870 — 31 de maio de 1948), trabalhadores rurais, naturais da freguesia de São Martinho de Anta.[7]

Em 1917, aos dez anos, foi mandado para o Porto, instalando-se numa casa apalaçada, de parentes afastados. Fardado de branco, servia de porteiro, moço de recados, regava o jardim, limpava o pó, polia os metais da escadaria nobre e atendia campainhas. Foi despedido um ano depois, devido à constante insubmissão. Em 1918, foi mandado para o seminário de Lamego, onde viveu um dos anos cruciais da sua vida. Estudou portuguêsgeografia e história, aprendeu latim e ganhou familiaridade com os textos sagrados. Pouco depois, comunicou ao pai que não seria padre.

Emigrou para o Brasil, em 1920,[4] ainda com treze anos, para trabalhar na fazenda do tio, proprietário de uma fazenda de café em Minas Gerais.[8] Ao fim de quatro anos, o tio apercebe-se da sua inteligência e patrocina-lhe os estudos liceais no Ginásio Leopoldinense, em Leopoldina.[4][9] Distingue-se como um aluno dotado. Em 1925, convicto de que ele viria a ser doutor em Coimbra, o tio propôs-se pagar-lhe os estudos como recompensa dos cinco anos de serviço, o que o levou a regressar a Portugal e a concluir os estudos liceais.[2][4]

Carreira profissional e literária

Em 1928, entra para a Faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra e publica o seu primeiro livro de poemas, Ansiedade.[4][8] Em 1929, com vinte e dois anos, deu início à colaboração na revista Presença, folha de arte e crítica, com o poema Altitudes. A revista, fundada em 1927 pelo grupo literário avançado de José RégioGaspar Simões e Branquinho da Fonseca era bandeira literária do grupo modernista e bandeira libertária da revolução modernista. Em 1930, rompe definitivamente com a revista Presença, junto com Edmundo Bettencourt e Branquinho da Fonseca,[4] por «razões de discordância estética e razões de liberdade humana», assumindo uma posição independente.[2] Nesse ano, publica o livro Rampa, lançando, no ano seguinte, Tributo[8] e Pão Ázimo,[8] e, em 1932, Abismo.[4] Em colaboração com Branquinho da Fonseca, funda a revista Sinal, de efémera duração, e, em 1936, lança, junto com Albano Nogueira, o periódico Manifesto.[4] Nesse ano, publica O Outro Livro de Job.[4][6] Também se encontra colaboração da sua autoria na revista Litoral[10] (1944-1945).

A obra de Torga traduz sua rebeldia contra as injustiças e seu inconformismo diante dos abusos de poder. Reflete sua origem aldeã, a experiência médica, em contacto com a gente pobre, e ainda os cinco anos que passou no Brasil (dos treze aos dezoito anos de idade), período que deixou impresso em Traço de União (impressões de viagem, 1955) e num personagem que lhe servia de alter ego em A criação do mundo, obra de ficção em vários volumes, publicada entre 1937 e 1939. As críticas que fez aí ao franquismo resultaram na sua prisão em 1940.[2] Publica os livros A Terceira Voz em 1934, aonde pela primeira vez empregou o seu pseudónimo, Bichos em 1940, Contos da Montanha[8] em 1941, Rua em 1942, O Sr. Ventura e Lamentação em 1943, Novos Contos da Montanha e Libertação em 1944, Vindima em 1945, Sinfonia em 1947, Nihil Sibi em 1948, Cântico do Homem em 1950, Pedras Lavradas em 1951, Poemas Ibéricos em 1952, e Orfeu Rebelde em 1958.[4][6]

Crítico da praxe e das restantes tradições académicas, chama depreciativamente «farda» à capa e batina. Ama a cidade de Leiria, onde exerce a sua profissão de médico, a partir de 1939 e até 1942, onde escreve a maioria dos seus livros. Em 1933, concluiu a licenciatura em medicina pela Universidade de Coimbra.[4] Começou a exercer a profissão nas terras agrestes transmontanas, pano de fundo de grande parte da sua obra. Dividiu seu tempo entre a clínica de otorrinolaringologia e a literatura.

Após a Revolução dos Cravos, que derrubou o Estado Novo, em 1974, Torga surge na política para apoiar a candidatura de Ramalho Eanes à presidência da República (1979). Era, porém, avesso à agitação e à publicidade e manteve-se distante de movimentos políticos e literários.

Autor prolífico, publicou mais de cinquenta livros, ao longo de seis décadas, e foi, várias vezes, indicado para o Prémio Nobel da Literatura.[2]

Casamento e últimos anos

Casou-se em Coimbra, a 27 de julho de 1940, com Andrée Crabbé[7], uma estudante belga que, enquanto aluna de estudos portugueses, com Vitorino Nemésio em Bruxelas, viera a Portugal fazer um curso de verão, na Universidade de Coimbra. O casal teve uma filha, Clara Rocha, nascida a 3 de outubro de 1955, e divorciada de Vasco Graça Moura.

Torga, sofrendo de cancro, publicou o seu último trabalho, em 1993, vindo a morrer a 17 de janeiro de 1995, na freguesia de Santo António dos Olivais, em Coimbra.[7][2][4] A sua campa rasa em São Martinho de Anta tem uma torga plantada a seu lado, em honra ao poeta.

A origem do pseudónimo

Em 1934, aos vinte e sete anos, Adolfo Correia Rocha cria o pseudónimo "Miguel" e "Torga". Miguel, em homenagem a dois grandes vultos da cultura ibérica: Miguel de Cervantes e Miguel de Unamuno. Já Torga é uma planta brava da montanha, que deita raízes fortes sob a aridez da rocha, de flor branca, arroxeada ou cor de vinho, com um caule incrivelmente rectilíneo.

A obra de Torga

A obra de Torga tem um carácter humanista: criado nas serras transmontanas, entre os trabalhadores rurais, assistindo aos ciclos de perpetuação da natureza, Torga aprendeu o valor de cada homem, como criador e propagador da vida e da natureza: sem o homem, não haveria searas, não haveria vinhas, não haveria toda a paisagem duriense, feita de socalcos nas rochas, obra magnífica de muitas gerações de trabalho humano. Ora, estes homens e as suas obras levam Torga a revoltar-se contra a divindade transcendente a favor da imanência: para ele, só a humanidade seria digna de louvores, de cânticos, de admiração: (hinos aos deuses, não/os homens é que merecem/que se lhes cante a virtude/bichos que cavam no chão/atuam como parecem/sem um disfarce que os mude).

Para Miguel Torga, nenhum deus é digno de louvor: na sua condição omnisciente é-lhe muito fácil ser virtuoso, e enquanto ser sobrenatural não se lhe opõe qualquer dificuldade para fazer a natureza - mas o homem, limitado, finito, condicionado, exposto à doença, à miséria, à desgraça e à morte é também capaz de criar, e é sobretudo capaz de se impor à natureza, como os trabalhadores rurais transmontanos impuseram a sua vontade de semear a terra aos penedos bravios das serras. E é essa capacidade de moldar o meio, de verdadeiramente fazer a natureza, malgrado todas as limitações de bicho, de ser humano mortal que, ao ver de Torga, fazem do homem único ser digno de adoração.

Poesia

  • 1928 - Ansiedade
  • 1930 - Rampa[4]
  • 1931 - Abismo
  • 1936 - O outro livro de Job[4][6]
  • 1943 - Lamentação
  • 1944 - Libertação
  • 1946 - Odes
  • 1948 - Sibi
  • 1950 - Cântico do Homem
  • 1952 - Alguns ibéricos
  • 1954 - Penas do Purgatório
  • 1958 - Orfeu rebelde[4][6]
  • 1962 - Câmara ardente
  • 1965 - Poemas ibéricos
  • 1997 - Poesia Completa, volume I
  • 2000 - Poesia Completa, volume II
  • 2017 - Poesia Completa, volume III

Prosa

  • 2000 - Pão Ázimo[4]
  • 2000 - Criação do Mundo
  • 1934 - A Terceira Voz[4]
  • Farrusco. The Blackbird and other Stories from the Portuguese. Translated with an Introduction by Denis Brass. Illustrations by Gregorio Prieto. George Allen & Unwin Ltd.; London, 1950.
  • 1937 - Os Dois Primeiros Dias
  • 1938 - O Terceiro Dia da Criação do Mundo
  • 1939 - O Quarto Dia da Criação do Mundo
  • 1940 - Bichos[4][6]
  • 1941 - Contos da Montanha[4] "Diário I"
  • 1942 - Rua[4]
  • 1943 - O Senhor Ventura[4] "Diário II"
  • 1944 - Novos Contos da Montanha[4]
  • 1945 - Vindima[4]
  • 1946 - Diário III
  • 1949 - Diário IV
  • 1950 - Portugal
  • 1951 - Pedras Lavradas[4][6] Diário V
  • 1953 - Diário VI
  • 1956 - Diário VII
  • 1959 - Diário VIII
  • 1974 - O Quinto Dia da Criação do Mundo
  • 1976 - Fogo Preso
  • 1981 - O Sexto Dia da Criação do Mundo
  • 1982 - Fábula de Fábulas
  • 1999 - Diário: Volumes IX a XVI (1964-1993), Publicações Dom Quixote e Herdeiros de Miguel Torga, 2.ª edição integral, ISBN 972-20-1647-4
Índice dos volumes
  1. Diário IX (15-1-1960/20-9-1963)
  2. Diário X (5-10-1963/30-7-1968)
  3. Diário XI (2-8-1968/6-4-1973)
  4. Diário XII (17-5-1973/22-6-1977)
  5. Diário XIII (8-7-1977/20-5-1982)
  6. Diário XIV (21-5-1982/11-1-1987)
  7. Diário XV (20-02-1987/31-12-1989)
  8. Diário XVI (11-1-1990/10-12-1993)

O seu Diário (1941 - 1994), em 16 volumes, mistura poesia, contos, memórias, crítica social e reflexões. No último volume, diz: "Chego ao fim perplexo, diante do meu próprio enigma. Despeço-me do mundo a contemplar atónito o triste espetáculo de um pobre Adão paradoxal, expulso da inocência sem culpa sem explicação".[2]

Peças de teatro

  • 1941 - Terra Firme e Mar[4]
  • 1947 - Sinfonia[6][4]
  • 1949 - O Paraíso[4]
  • 1950 - Portugal
  • 1955 - Traço de União

Ensaios e discursos

Ensaios e Discursos, publicações Dom Quixote, Lisboa, 2001, ISBN 972-20-1681-4 , ‘’tomou por base, respetivamente, os textos da 6.ª edição de Portugal, Coimbra, 1993; da 2.ª edição revista de Traço de União, Coimbra, 1969; e da edição de Fogo Preso, Coimbra, 1989”, conforme nota do editor, p. 8.

Traduções

Os seus livros foram traduzidos em diversas línguas, algumas vezes publicados com um prefácio seu: espanhol, francês, inglês, alemão, chinês, japonês, croata, romeno, norueguês, sueco, holandês, búlgaro.

Prémios e Homenagens

Memorial Miguel Torga, vizinho à ponte de Santa Clara, Coimbra
  • 1969 - Prémio do Diário de Notícias.
  • 1976 - Prémio de Poesia da XII Bienal de Internacional de Poesia de Knokke-Heist (Bélgica)
  • 1980 - Prémio Morgado de Mateus, com Carlos Drummond de Andrade
  • 1981 - Prémio Montaigne da Fundação Alemã F.V.S.
  • 1989 - Prémio Camões
  • 1991 - Prémio Personalidade do Ano
  • 1992 - Prémio Vida Literária da Associação Portuguesa de Escritores
  • 1993 - Prémio da Crítica, consagrando a sua obra
  • 1995 - O seu nome foi colocado, em 3 de maio de 1995, numa rua da freguesia de Santa Maria, no concelho de Lagos.[4] - homenagem
  • 2020 - O rosto de Miguel Torga foi esculpido na raiz de três toneladas do Negrilho, árvore que ele imortalizou através da sua escrita no poema "A um Negrilho", em São Martinho de Anta terra onde nasceu, no assinalar do 113º aniversário do nascimento do poeta.[11]
  • 2022 - Casa Miguel Torga, em S. Martinho de Anta, inaugurada no dia 17 janeiro de 2022.

Ver também

Referências

  1.  «Miguel Torga»Dicionários Porto EditoraInfopédia. Consultado em 7 de novembro de 2018
  2. ↑ Ir para:a b c d e f g Livro do Ano 1996 (Eventos de 1955), pg. 399. Encyclopædia Britannica do Brasil Publicações Ltda.
  3.  «Prêmio Camões de Literatura». Brasil: Fundação Biblioteca Nacional. Cópia arquivada em 16 de março de 2016
  4. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t u v w x y z aa ab Ferro, p. 431, 432
  5.  NEVILLE, Williams (1989). «1890-1917». Cronologia Enciclopédica do Mundo Moderno. 4.º volume. Círculo de Leitores. p. 77
  6. ↑ Ir para:a b c d e f g h «Nomes Próprios». Dicionário Enciclopédico Koogan Larousse Seleções. 2.º volume 5.ª ed. Seleções do Reader's Digest. 1981. 1611 páginas
  7. ↑ Ir para:a b c «Livro de registo de batismos da Paróquia de São Martinho de Anta (1904-1911)»digitarq.advrl.arquivos.pt. Arquivo Distrital de Vila Real. p. fls. 103v. e 104, assento 44
  8. ↑ Ir para:a b c d e TORGA, Miguel. Contos da montanha. Rio de Janeiro:Nova Fronteira, 1996. Obras do Autor
  9.  NOGUEIRA, Natania Aparecida da Silva. Leopoldina: instrução, mito político e formação de elites na Zona da Mata Mineira (1895-1930). Leopoldina-MG: Ed. do Autor, 2011, 128 p. ISBN 9788591205707
  10.  Helena Roldão (19 de Junho de 2018). «Ficha histórica:Litoral : revista mensal de cultura (1944-1945)» (pdf)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 25 de Janeiro de 2019
  11.  «Miguel Torga esculpido em raiz de três toneladas». Jornal de Notícias

Bibliografia

  • FERRO, Silvestre Marchão (2007). Vultos na Toponímia de Lagos 2.ª ed. Lagos: Câmara Municipal de Lagos. 358 páginas. ISBN 972-8773-00-5
  • TORGA, Miguel (1996). Contos da MontanhaRio de Janeiro: Nova Fronteira. [S.l.: s.n.] ISBN 85-209-0720-2

Ligações externas

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Precedido por
Prémio Camões
1989
Sucedido por
João Cabral de Melo Neto

SANTO ANTÃO, O GRANDE - 17 DE JANEIRO DE 2023

 

Antão, o Grande

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(Redirecionado de Santo Antão)
Disambig grey.svg Nota: Para outros significados, veja Santo Antão (desambiguação). Para outros santos de mesmo nome, veja Santo Antônio.
Santo Antão
San Antonio Abad, por Francisco de Zurbarán.
Padre do Deserto
NascimentoTebaidaAlto Egito 
251
Morte 
356
Veneração porCristandade
Festa litúrgica17 de janeiro
AtribuiçõesCruz tauporco e sino[1]
PadroeiroIlha de Santo AntãoanimaisCaniço (Santa Cruz)deserto

Vitória de Santo Antão

Gloriole.svg Portal dos Santos

Santo Antão, também conhecido como Santo Antão do EgitoSanto Antão, o GrandeSanto Antão, o EremitaSanto Antão, o Anacoreta, ou ainda O Pai de Todos os Monges, foi um santo cristão do Egito, um líder de destaque entre os Padres do Deserto. Ele é venerado em muitas igrejas nas seguintes datas festivas: 30 de Janeiro, no antigo calendário da Igreja Ortodoxa e da Igreja Ortodoxa Copta; 17 de Janeiro, no novo calendário da Igreja Ortodoxa, da Igreja Ortodoxa Búlgara, da Igreja Católica Romana e da Igreja Católica Copta.

Uma vez que o seu nome latino é Antonius, em traduções displicentes de obras onde o seu nome figura, o nome do santo tem sido vertido para a língua portuguesa como António do Deserto, do Egito, o Grande etc., sendo um nome que, de resto, se mantém nas demais línguas europeias. Isso, porém, tem suscitado confusões pela homonímia com o Santo António. Por se tratar de dois santos distintos, para melhor diferenciá-los é preferível optar pelo nome — já consagrado pela tradição vernácula — de Santo Antão.

Um ícone copta, mostrando no canto inferior esquerdo, Santo Antão com Paulo de Tebas, o primeiro eremita.

A vida de Santo Antão foi relatada por Santo Atanásio de Alexandria, na Vida de Antônio (em latimVita Antonii; cerca de 360). Segundo Atanásio, Santo Antão teria nascido em 251 na Tebaida, no Alto Egito, e falecido em 356, portanto com 105 anos de idade.

Cristão fervoroso, com cerca de vinte anos tomou o Evangelho à letra e distribuiu todos os seus bens aos pobres, partindo de seguida para viver no deserto. Então, segundo o relato de Atanásio, Santo Antão foi tentado pelo Diabo, tal como sucedera com Jesus, mas por muito mais que os quarenta dias que durou a tentação de Jesus, não hesitando os demónios em atacá-lo. Porém, Antão resistiu às tentações e não se deixou seduzir pelas tentadoras visões que se multiplicavam à sua volta.

O seu nome começou a ganhar fama por ser exímio na arte de pastorar. Isso o levou a ser venerado por numerosos visitantes, sendo visitado no deserto por inúmeros peregrinos.

Em 311, viajou até Alexandria para ajudar os cristãos perseguidos por Maximino Daia, regressando em 355 para impugnar a doutrina ariana. Foi considerado santo em vida, por ser capaz de realizar milagres e levou muitos à conversão.

A vida de Santo Antão e as suas tentações inspiraram numerosos artistas, como Hieronymus BoschPieter BrueghelDaliMax ErnstMatthias GrünewaldDiego Velázquez e Gustave Flaubert, por exemplo.

Os religiosos que, tornando-se monges, se adaptaram o modo de vida solitário de Santo Antão, chamaram-se eremitas ou anacoretas, opondo-se aos cenobitas que escolheram viver em comunidades monásticas.

Em 1095, foi fundada uma ordem à qual foi atribuído o seu nome: os Antonianos (Canonici Regulares Sancti Antonii – CRSA).

Os discípulos do Monge Antão formaram um aglomerado populacional que ainda hoje se chama Antões.

Tentação

Relatos de Antão sofrendo tentações sobrenaturais durante sua estada no deserto oriental do Egito inspiraram o assunto muitas vezes repetido da tentação de Santo Antão na arte e na literatura ocidentais.

Dizem que Antão enfrentou uma série de tentações sobrenaturais durante sua peregrinação ao deserto. O primeiro a relatar a tentação foi seu contemporâneo Atanásio de Alexandria. É possível que esses eventos, como as pinturas, estejam cheios de metáforas ricas ou, no caso dos animais do deserto, talvez uma visão ou sonho. A ênfase nessas histórias, no entanto, não começou realmente até a Idade Média, quando a psicologia do indivíduo se tornou de maior interesse.

Algumas das histórias incluídas na biografia de Santo Antão são perpetuadas agora principalmente em pinturas, onde oferecem aos artistas a oportunidade de retratar suas interpretações mais escandalosas ou bizarras. Muitos artistas, incluindo Martin SchongauerHieronymus BoschDorothea TanningMax ErnstLeonora Carrington e Salvador Dalí, retrataram esses incidentes da vida de Antão; em prosa, o conto foi recontado e embelezado por Gustave Flaubert em A tentação de Santo Antônio.[2]

O sátiro e o centauro

O tormento de Santo Antão. Óleo e têmpera no painel. Uma das muitas representações artísticas das tentações de Santo Antônio no deserto.

Santo Antão estava em uma viagem no deserto para encontrar São Paulo de Tebas, que segundo seu sonho era um eremita melhor do que ele. Santo Antônio teve a impressão de que ele foi a primeira pessoa a morar no deserto; no entanto, devido ao sonho, Santo Antônio foi chamado ao deserto para encontrar seu "melhor", São Paulo. No caminho para lá, ele encontrou duas criaturas na forma de um centauro e um sátiro. Embora os cronistas às vezes postulassem que eles poderiam ser seres vivos, a teologia ocidental considera ter sido demônios.

Ao viajar pelo deserto, Santo Antônio encontrou pela primeira vez o centauro, "uma criatura de forma mesclada, meio cavalo e meio homem", a quem perguntou sobre as direções. A criatura tentou falar em um idioma ininteligível, mas finalmente apontou com a mão o caminho desejado e depois fugiu e desapareceu de vista. Foi interpretado como um demônio tentando aterrorizá-lo, ou alternadamente uma criatura engendrada pelo deserto.[3]

Santo Antônio encontrou em seguida o sátiro, "um anão com focinho de gancho, testa com chifres e extremidades como pés de cabra". Esta criatura estava em paz e ofereceu-lhe frutos, e quando Santo Antônio perguntou quem ele era, o sátiro respondeu: "Eu sou um ser mortal e um daqueles habitantes do deserto a quem os gentios iludiam por várias formas de adoração por erro sob os nomes". FaunosSátiros e Incubi. Fui enviado para representar minha tribo. Oramos em nosso favor para pedir o favor de seu Senhor e de nós, que, como aprendemos, vieram uma vez para salvar o mundo e 'cujo som foi espalhado por toda a terra.'"Ao ouvir isso, Santo Antônio ficou muito feliz e se alegrou com a glória de Cristo. Ele condenou a cidade de Alexandria por adorar monstros em vez de Deus, enquanto animais como o sátiro falavam sobre Cristo.

Demônios na caverna

Certa vez, Santo Antão tentou se esconder em uma caverna para escapar dos demônios que o atormentavam. Havia tantos pequenos demônios na caverna que o servo de Santo Antônio teve que carregá-lo porque o espancaram até à morte. Quando os eremitas foram reunidos no cadáver de Santo Antônio para lamentar sua morte, Santo Antônio foi revivido. Ele exigiu que seus servos o levassem de volta para a caverna onde os demônios o espancaram. Quando ele chegou lá, chamou os demônios, e eles voltaram como bestas selvagens para rasgá-lo em pedaços. De repente, uma luz brilhou e os demônios fugiram. Santo Antônio sabia que a luz devia ter vindo de Deus, e ele perguntou a Deus onde ele estava antes quando os demônios o atacaram. Deus respondeu: "Eu estava aqui, mas gostaria de ver e permanecer para ver a tua batalha, e porque tu principalmente lutaste e mantiveste bem a tua batalha, farei com o que o teu nome seja espalhado por todo o mundo."[4]

Ver também

Referências

  1.  «Santo Antão»Cada Mio Santo. Consultado em 12 de dezembro de 2015. Arquivado do original em 5 de março de 2016
  2.  «Gustave Flaubert - études critiques - Le saint-poème selon Flaubert : le délire des sens dans La Tentation de saint Antoine»flaubert.univ-rouen.fr. Consultado em 31 de agosto de 2019
  3.  «CATHOLIC ENCYCLOPEDIA: Saint Paul the Hermit»www.newadvent.org. Consultado em 31 de agosto de 2019
  4.  «The Golden Legend: The Life of Anthony of Egypt»web.archive.org. 23 de janeiro de 2013. Consultado em 31 de agosto de 2019

Ligações externas

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