A mulher que usou a braçadeira arco-íris no Catar e a mulher que aplaudiu o silêncio no hino iraniano
Uma delas sabemos quem é: chama-se Alex Scott, ex-internacional inglesa que agora comenta jogos de futebol para a BBC. A outra não: apenas sabemos que é iraniana, e que chorou e aplaudiu os jogadores da sua seleção, quando estes se calaram perante o hino do seu país.
Uma usou uma braçadeira arco-íris, a tal braçadeira que a FIFA proibiu os capitães das seleções de Inglaterra, País de Gales, Bélgica, Dinamarca, Alemanha, Países Baixos e Suíça (onde estás tu, Portugal?) de usarem durante o Mundial no Catar, ameaçando-os com cartões. A outra usou um lenço a tapar o cabelo, o tal cabelo que tanto tem incomodado o regime iraniano desde que há um país revoltado com a morte de Mahsa Amini.
Uma tinha uma mensagem para o Catar: "One Love", este sim um verdadeiro gesto pela inclusão, quando ainda ontem nos tentaram falar tanto dela. A outra nem precisou de falar, porque há gestos que dizem tudo.
Uma já jogou em muitos estádios, foi estrela do Arsenal e da seleção feminina inglesa, e hoje recebeu a braçadeira que Kane tanto queria ter usado e mostrou-a na televisão, a BBC, que tem tratado o Mundial do Catar de forma especial (no domingo, por exemplo, não transmitiu a cerimónia de abertura). A outra não pode entrar em estádios no Irão, pelo que viu no Catar a liberdade que lhe resta para assistir a um simples jogo de futebol, enquanto era apanhada pelas câmaras da televisão um pouco por todo o mundo.
Alex Scott e a adepta iraniana, duas mulheres que marcaram este dia de Mundial, não foram as únicas. Se os jogadores iranianos aproveitaram o momento simbólico do hino para se calarem - e, assim, mais uma vez, demonstrarem a sua solidariedade com os manifestantes que continuam a ser mortos no seu país -, os ingleses colocaram um joelho no chão - foi a única forma que encontraram de poder protestar de alguma forma.
Harry Kane não desistiu completamente e apresentou-se no relvado com uma braçadeira com as palavras "Não à discriminação". Foi o protesto possível, lá está, e até inspirou Van Dijk a fazer o mesmo no jogo seguinte.
Fora dos estádios também nem tudo está a decorrer assim tanto quanto a FIFA desejaria. Esta segunda-feira, por exemplo, a equipa de reportagem da CNN Portugal captou em exclusivo o momento em que um adepto iraniano estava a ser levado pela polícia catari e impedido de entrar no estádio. Ao que parece, o problema estava na bandeira que levava, a antiga bandeira persa, considerada "política" pelas autoridades.
Política, é isso. É isso que ingleses, iranianos, inglesas e iranianas fizeram hoje. O futebol também não foi nada mau, já agora.