Do silêncio de Bolsonaro aos protestos de camionistas
Lula da Silva é o novo Presidente do Brasil. Na 24 horas que passaram, ainda não recebeu a chamada de felicitações do seu adversário. O ambiente é de expectativa perante o silêncio de Jair Bolsonaro.
Passaram mais de 24 horas desde que Lula da Silva foi declarado vencedor das eleições do Brasil. Pela primeira vez na história da política brasileira, um candidato derrotado não se pronunciou sobre o resultado. Jair Bolsonaro está a fazer história por dois motivos: pelo silêncio e por ser o primeiro Presidente a não conseguir a reeleição.
Lula da Silva venceu Jair Bolsonaro com 50,9% dos votos. A vitória foi confirmada pelo Tribunal Superior Eleitoral perto das 20:00 (hora de Brasília, 23:00 em Lisboa). O atual Presidente do Brasil não fez o tradicional discurso, nem se manifestou publicamente sobre a derrota. Pelas 21:30, Bolsonaro apagou as luzes de sua casa.
Durante esta segunda-feira houve informações de que Bolsonaro poderia vir a falar, mas – até ao momento da publicação deste artigo – tal não se verificou. A Folha de São Paulo avança que os aliados do Presidente terão sugerido um discurso onde Bolsonaro reconhecia a vitória de Lula da Silva, não contestava o resultado eleitoral e identificava “injustiças” durante o mandato e a campanha.
A primeira-dama foi a primeira a manifestar-se depois da derrota de Bolsonaro. No Instagram, Michelle partilhou uma citação da bíblia e afirmou que ambos seguem “firmes, unidos, crendo em Deus e crendo no melhor para o Brasil”. Flávio Bolsonaro, filho do Presidente, agradeceu o apoio no Twitter e deixou uma mensagem para os apoiantes: “Vamos erguer a cabeça e não vamos desistir do nosso Brasil”.
Coordenador de comunicação de Lula fala com ministro da Casa Civil de Bolsonaro
Edinho Silva, coordenador da campanha de Lula da Silva, falou esta segunda-feira com Cirro Nogueira, ministro da Casa Civil. O objetivo da conversa foi discutir a transição do Governo, avança a Globo.
"Mantive contacto na tarde desta segunda-feira com o Ministro da Casa Civil Ciro Nogueira, a pedido do próprio, que de imediato se dispôs a conduzir o processo de transição representando o atual governo Bolsonaro", avança o coordenador de comunicação, sublinhando que a postura do ministro foi “republicana e democrática.
A informação foi passada para a equipa de Lula da Silva de forma a que “os encaminhamentos necessários fossem combinados”.
Primeiro dia marcado por manifestação de camionistas
Camionistas de várias partes do Brasil bloqueiam mais de 230 estradas do país desde a noite de domingo, em protesto pela derrota do Presidente demissionário, Jair Bolsonaro, nas eleições brasileiras vencidas por Lula da Silva.
Bloqueios e interdições de estradas em pelo menos 20 dos 27 estados do país, que não eram mais de uma dúzia na noite de domingo após a declaração da eleição de Lula da Silva, tinham subido para cerca de 70 ao meio-dia de segunda-feira e mais do triplo até ao final do dia, de acordo com estatísticas da Polícia Rodoviária Federal
Em vários vídeos que circulam nas redes sociais, os camionistas são vistos a bloquear as vias com os seus veículos ou com pneus queimados.
Em alguns casos, os manifestantes contestaram a vitória eleitoral do líder progressista Luiz Inácio Lula da Silva e alguns pediram uma “intervenção” das Forças Armadas em favor de Bolsonaro.
Devido às manifestações, a Polícia Militar decidiu encerrar a Esplanada dos Ministérios em Brasília – espaço onde se concentram as sedes dos três poderes. O objetivo da operação militar é impedir a invasão dos camionistas apoiantes de Bolsonaro que durante o dia se manifestaram.
“A Esplanada foi isolada preventivamente para evitar que caminhões invadam a região. A ideia é proteger os órgãos públicos e manter a ordem", pode ler-se numa nota divulgada pela CNN Brasil.
PT quer nomear equipa de transição dentro de 48 horas
O Partido dos Trabalhadores (PT) do presidente eleito, Lula da Silva, espera iniciar o processo de transição dentro de 48 horas, como exigido por lei, embora o Chefe de Estado brasileiro ainda não tenha reconhecido a derrota nas eleições.
A presidente do PT, Gleissi Hoffmann, explicou que o partido liderou este segunda-feira uma primeira reunião interna e deve definir no prazo de 48 horas o nome do coordenador e da equipa de transição, que será composta por 50 pessoas.
"Por lei, temos 48 horas para começar isto, para nos organizarmos e depois falarmos com o Governo", disse.
Hoffmann excluiu que o partido iria "judicializar" o processo de transição por agora e expressou a sua confiança de que seria um "processo mais calmo" e mais "razoável" para o "bem do Brasil".