terça-feira, 1 de novembro de 2022

PÃO-POR-DEUS - 1 DE NOVEMBRO DE 2022

 

Pão-por-Deus

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

pão-por-Deus é um peditório ritual feito por ocasião do Dia de Todos-os-Santos, associado às práticas relacionadas com as refeições cerimoniais do culto dos mortos "Dia dos Finados". Na Galiza o peditório tem o nome de migalho (migallo).[1][2] No Tenerife tem o nome de "Pan por Dios"[3] ou “Los Santitos”[4][5]. Em Florianópolis tem o nome "Finadinho"[6] ou pão por Deus[7].

História

O peditório do pão-por-Deus está associado ao antigo costume que se tinha de oferecer pão, bolos, vinho e outros alimentos aos defuntos. Era costume "durante o ano, nos domingos e dias festivos se oferecerem por devoção picheis, ou frascos de vinho, e certos pães, que eram colocados numa toalha estendida sobre a sepultura do defunto, e uma vela acesa."[8] Também se colocava pão, vinho e dinheiro no caixão do defunto para a viagem.[9] No cânone LXIX do II Concílio de Braga do ano 572, proibia-se que se levassem alimentos à tumba.[10]

Os peditórios para as almas realizam-se ao longo do ano, em Janeiro pelos caretos [11], durante a quaresma canta-se às almas santas [12] e faz-se um peditório (pedir as janeirinhaspedir as maiaspedir os reizinhos[13] são peditórios que tal como os dos caretos se inserem no ciclo dos peditórios rituais que têm lugar ao longo do ano)[14][15][16] como o do de "andador de almas", que pedia esmolas pelas almas.[17]

Nos Açores, acreditava-se que uma alma podia azedar o pão. Para que tal não acontecesse, o pão da primeira fornada, "o pão das almas", era colocado numa cadeira na rua à porta de casa, coberto por um pano, para que a primeira pessoa que passasse o levasse para si ou desse a alguém necessitado.[18]

Peditório

Em Portugal no dia 1 de NovembroDia de Todos-os-Santos as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o Pão-por-Deus (ou o bolinho) de porta em porta. O dia de pão-por-Deus, ou dia de todos os fiéis defuntos, era o dia em que se repartia pão cozido pelos pobres.

Registado no século XV como o dia em que também se pagava um determinado foro:"Pagardes o dito foro em cada um ano em dia de pão por Deus". O dia primeiro ou da festa de Todos-os-Santos era denominado nos documentos jurídicos do século XV "Dia de pão por Deus".[19][20]

Bolinhos e bolinhós
Para mim e para vós,
Para dar aos finados
Que estão mortos e enterrados
À bela, bela cruz
Truz, Truz!
A senhora que está lá dentro
Sentada num banquinho
Faz favor de s'alevantar
Para vir dar um tostãozinho.

Se dão doces:

Esta casa cheira a broa,
Aqui mora gente boa.
Esta casa cheira a vinho,
Aqui mora um santinho.

Se não dão doces:

Esta casa cheira a alho
Aqui mora um espantalho.
Esta casa cheira a unto
Aqui mora algum defunto
[21]

É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o santoro. O santoro é uma espécie de pão bento, um bolo comprido que se dá em dia de Finados ou de Todos-os-Santos e que é do feitio de uma tíbia.[22] Já pedir o "santorinho", que começava nos últimos dias do mês de Outubro, era o nome que se dava à tradição em que crianças sozinhas, ou em grupo, de saco na mão iam de porta em porta para ganhar doces.[23]. Em Trás-os-Montes pede-se o “pão das almas”.[24]

As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e recebem como oferenda: pão, broas, bolos, romãs e frutos secos, nozes, tremoços amêndoas,ou castanhas que colocam dentro dos seus sacos de pano, de retalhos ou de borlas.[25][26]Em algumas povoações da zona centro e Estremadura chama-se a este dia o ‘Dia dos Bolinhos’ ou ‘Dia do Bolinho’. Os bolinhos típicos são especialmente confecionados para este dia, sendo à base de farinha e erva doce com mel (noutros locais leva batata doce e abóbora) e frutos secos como passas e nozes.

São vários os versos para pedir o pão-por-Deus:assim se diz

Ou então:

Como não é muito aceitável rejeitar o bolinho às crianças, as desculpas eram criativas:

A quem lhes recusa o pão-por-Deus roga-se uma praga em verso ou deixa-se uma ameaça enquanto se foge em grupo e entre risos:

O termo caneca podia ser substituído por tranca ou cavaca (um pedaço de lenha).

Pão, pão por deus à mangarola,
encham-me o saco,
e vou-me embora.

Se não ficarem satisfeitos dizem:

O gorgulho gorgulhote,
lhe dê no pote,
e lhe não deixe,
farelo nem farelote
[28]

Na primeira metade do século XX as crianças quando iam pedir o pão-por-deus , acompanhadas por um adulto, levavam uma Coca iluminada:

Dae pão-por-Deus
Que vos deu Deus
P'ra repartir
C'os fieis de Deus
Pelos defuntos
De vo'meces...
Quando o peditório é infructuoso:
Tranca me dáes
fujo p'rá rua
E seja tudo
P'l'amor de Deus
Versos dos Açores:[29]
"Nesta mesma cidade de Coimbra, onde hoje [ano de 1963] nos encontramos, é costume andarem grupos de crianças pelas ruas, nos dias 31 de Outubro e 1 e 2 de Novembro, ao cair da noite, com uma abóbora oca e com buracos recortados a fazer de olhos, nariz e boca, como se fosse uma caveira, e com um coto de vela aceso por dentro, para lhe dar um ar mais macabro."[30]
"Em Coimbra o peditório menciona «Bolinhos, bolinhós», e o grupo traz uma abóbora esvaziada com dois buracos a figurarem os olhos de um personagem e uma vela acesa dentro[...]" [31]

As crianças e os adultos que participam nos peditórios representam as almas dos mortos que «neste dia erram pelo mundo», quando pedem pão para para partilhar com as almas. O pão por Deus é uma oferenda que se faz às próprias almas.[32][33] Em Barqueiros, concelho de Mesão Frio, à meia-noite do dia 1 para 2 de Novembro arranjava-se uma mesa com castanhas para os parentes já falecidos lá irem comer durante a noite “não devendo depois ninguém tocar nessa comida, porque ela ficava babada dos mortos”.[34][35]

Na freguesia de Vila Nova de MonsarrosAnadia, as crianças faziam os "santórios", recebiam fruta e bolos e cada criança transportava uma abóbora oca com figura de cara, com uma vela dentro.[36]

"Em Roriz não se chama pão por Deus, nem bolinhos, nem santoros a comezaina que se dá aos rapazes no dia de Todos os Santos ou de Finados. O que os rapazes vão pedir por portas, segundo lá dizem, é — os fieis de Deus."[37]

Nos Açores dão-se “caspiadas” às crianças durante o peditório, bolos com o formato do topo de uma caveira, claramente um manjar ritual do culto dos mortos.[38]

Com o passar do tempo, o Pão-por-Deus sofreu algumas alterações, os meninos que batem de porta em porta podem receber dinheiro, rebuçados ou chocolates. Esta atividade é também realizada nos arredores de Lisboa. Antigamente relembrava a algumas pessoas o que aconteceu no dia 1 de Novembro de 1755, aquando do terramoto de Lisboa, em que as pessoas que viram todos os seus bens serem destruídos na catástrofe, tiveram que pedir "pão-por-Deus" nas localidades que não tinham sofrido danos.

O pão-por-Deus é o pão, ou oferenda, que se dá aos mortos, o Molete ou Samagaio (Sabatina, Raiva da criança) o pão, ou oferendas que se dá quando uma criança nasce.[39][40]

Nesta data em Inglaterra pedia-se o "soul cake" (bolo das almas),[41] que, supõe-se, terá dado origem à tradição do trick or treat nos Estados Unidos.[42] Na Bretanha equivale ao rito do "bara ann anaon" ou pão dos mortos.[43]

Depois do peditório-alimentar os mortos

  • "lenha das almas", "lenha das almas" ou "pau das almas"

A lenha é recolhida ou roubada num ritual em que participam os jovens solteiros e depois é leiloada ou vendida em hasta pública no largo das aldeias [44]

  • canhoto dos Santos

O "canhoto" ou "fogueira dos santos" é aceso no adro da igreja e à volta do fogo a população bebe vinho e come castanhas, no tradicional "magusto dos santos" quase em silêncio.[45]

  • O magusto dos santos

Segundo Leite de Vasconcelos na noite de Todos os Santos, em Barqueiros, era tradição preparar, à meia-noite, uma mesa com castanhas para os mortos da família irem comer; ninguém mais tocava nas castanhas porque se dizia que estavam “babada dos defuntos”. É também costume deixar um lugar vago à mesa para o morto ou deixar a mesa cheia de iguarias toda a noite da consoada para as "alminhas".[46] Já na consoada as almas vão comer as iguarias postas num prato fora de casa com uma luz ao lado para as alumiar. Aparecem na forma de borboletas: brancas se estão em bom lugar, pretas se estão em mau lugar.[47]

Património Imaterial português

"A progressiva implantação do Halloween em Portugal constitui um exemplo de ameaça ou risco à continuidade do “Pão-por-Deus” como manifestação do Património Imaterial português, por várias razões.Em primeiro lugar, substitui os versos tradicionais, manifestações da tradição oral da comunidade, por expressões orais originárias do Inglês (“Doçura ou travessura!” / “Trick or treat!”). Em segundo lugar, introduz neste peditório cerimonial infantil o uso de máscaras e fatos muito semelhantes às usadas no Carnaval, mas que tradicionalmente eram totalmente ausentes do “Pão-por-Deus”. Finalmente, e como bem expressam as alterações do nome da tradição, da forma e conteúdo da tradição oral, e também o tipo de máscaras que passaram a ser utilizadas pelas crianças, a introdução do “Halloween” eliminou por completo as conotações religiosas muito presentes na antiga tradição do “Pão-por-Deus”."[48]

No Brasil

Este é um costume de origem portuguesa mas ocorre em ambos os lados do Oceano Atlântico. Tanto em Juncal em Portugal, como na festilha, que resgata as tradições na Ilha de São Francisco do Sul, estado de Santa CatarinaBrasil.

Na festilha, o pão-por-Deus é pedido através de uma figura feita de recorte de papel acetinado, geralmente um coração, de quatro faces que se justapõem quando dobrados, ficando a cor branca por dentro, e por fora a cor azul, vermelha ou amarela. Suas bordas tem uma pequena franja rendilhada. Na face branca, interna, estão escritas uma ou duas quadrinhas nas quais se pede a dádiva, como esta:

Lá vai o meu coração            Pão por Deus
Sozinho sem mais ninguém        Que Deus me deu
Vai pedir o Pão-por-Deus        Uma esmolinha
A quem quero tanto bem          Por alma dos seus

Lista de localidades

Nome da TradiçãoNome do peditórioOferendaAcessórioLocalidadeDataRef.
dia de Pão por Deus
Pão por Deus
Escaldadas (pequenos pães, feitos de farinha de trigo e milho, e enriquecidos com manteiga e açúcar)Açores[49]
dia de Pão por Deus
Pão por Deus
Caspiadas (pães com o formato do topo de um caveira);
moedas;doces, rebuçados,castanhas, laranjas,
saquetas de retalhosAçores[50]
dia do Bolinho
Bolinho
'
Santoro
Santoro (pão bento, um bolo comprido, com o feitio de uma tíbia)
'
Santorio
frutas variadas e bolosCada criança levava uma ou mais abóboras ocas, com orifícios na casca, por vezes representando rostos. No interior das abóboras iam velas acesas.Vila Nova de Monsarros1 de Novembro - peditório era de noite[51]
'
Fieis de DeusBraga1 de Novembro - peditório era de tarde[52]
'
Fieis de DeusRoriz1 e 2 de Novembro[53]
Bolinhos, bolinhósabóbora oca e com buracos recortados a fazer de olhos, nariz e boca, como se fosse uma caveira, e com um coto de vela aceso por dentro. cestinhos ou saquitosCoimbra31 de Outubro e 1 e 2 de Novembro, ao cair da noite[54][55]


Referências

  1.  Real Academia Galega
  2.  Don José Cornide y su 'Catálogo de palabras gallegas'.Boletín nº 309-320 -(Martínez-barbeito, Carlos.)
  3.  [1]
  4.  “Los Santitos” y el “Pan por Dios” tracciones a recuperar en Canarias
  5.  Finados prevalece en Canarias con entidad propia
  6.  Bruxas são personagens do folclore de Florianópolis
  7.  Que mané Dia das Bruxas! Em Ponta das Canas, doce é no dia do pão-por-deus
  8.  Elucidario das palavras, termos e frases, que em Portugal antigamente se usaram..., Volume 1. pg 202
  9.  «Cuidar dos Mortos» (PDF). Consultado em 17 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 16 de dezembro de 2011
  10.  La presencia bizantina en Hispania, siglos VI-VII: la documentación arqueológica pg595
  11.  PROJECTO FESTAS DE INVERNO EM TRÁS-OS-MONTES. MAPEAMENTO DE FESTAS. DISTRITO DE BRAGANÇA
  12.  Almas Santas
  13.  Teofilo Braga.O povo Portuguez nos seus costumes
  14.  IELT. Mapeamento de festas.
  15.  MUSEU IBÉRICO DA MÁSCARA E DO TRAJE- INVENTÁRIO DA COLECÇÃO MUSEOLÓGICA.Porto 2010
  16.  Freguesia de Monfortinho. Tradições e Costumes
  17.  As alminhas em Portugal e a devolução da Memória. Estudo, Recuperação e Conservação
  18.  [.http://www.culturacores.azores.gov.pt/ficheiros/pca/2012115122825.PDF o culto dos mortos e o mês das almas]
  19.  Elucidario das palavras, termos e frases, que em Portugal antigamente se usaram..., Volume 1
  20.  Teófilo Braga, O Povo Português nos seus Costumes, Crenças e Tradições - II, p 170-171
    O dia primeiro ou da festa de Todos-os-Santos era denominado nos documentos jurídicos do século XV Dia de pão por Deus: <<Pagardes o dito foro em cada um ano em dia de pão por Deus>>
  21.  A canção ródia da andorinha
  22.  Cândido de Figueiredo, Novo dicionário da língua portuguesa p.1798
  23.  «Halloween substitui Santorinho. Gazeta do Interior». Consultado em 1 de novembro de 2012. Arquivado do original em 4 de maio de 2013
  24.  Alexandre Parafita. Se és alma do outro mundo, diz ao que vens!
  25.  Saca de retalhos, c. 1900 Museu Dr. Joaquim Manso | Nazaré
  26.  Aprenda a fazer uma bolsa de pano a retalhos e guarde lá desde o pão ao feijão
  27.  A tradição ainda é o que era. Gazeta das Caldas
  28.  Teófilo Brága. O povo portuguez nos seus costumes, crenças e tradições, Volume 2. As festas do calendário popular
  29.  Revista dos Açores, Volume 1 Sociedade Auxiladora das Lettras Açorianas
  30.  Manuel de Paiva Boléo, Universidade de Coimbra. Instituto de Estudos Românicos. Revista portuguesa de filologia - Volume 12 - Página 745 - 1963 -
  31.  Renato Almeida, Jorge Dias. Estudos e ensaios folclóricos em homenagem a Renato Almeida. Ministério das Relações Exteriores, Seção de Publicações, 1960
  32.  [Ernesto Veiga de Oliveira. Festividades cíclicas em Portugal - Pg 189]
  33.  «Festas e Tradições Portuguesas. Dia dos Fiéis Defuntos. Jorge Barros, Soledade Martinho Costa (Círculo de Leitores)» (PDF). Consultado em 1 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 13 de novembro de 2013
  34.  Dia de Todos os Santos. ASSOPS
  35.  «José Leite de Vasconcelos OPÚSCULOS Volume VII – Etnologia (Parte II) V. Miscelânea etnográfica» (PDF). Consultado em 2 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 14 de julho de 2014
  36.  Freguesia de Vila Nova de Monsarros. Lendas e Costumes
  37.  [Pimentel, Alberto. Espelho de portuguezes - Volume 2 - Página 1191]
  38.  «Intermuseus Dezembro 2006 nº 7Direcção Regional da Cultura» (PDF). Consultado em 3 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 11 de março de 2008
  39.  Vir à luz —práticas e crenças associadas ao nascimento António Amaro das Neves Revista de Guimarães, n.º 104, 1994, pp. 51-81
  40.  [Actas / International Colloquium on Luso-Brazilian Studies - Volume 1 - Página 162]
  41.  The Golden Bough : A Study in Magic and Religion pg383
  42.  Diary Of Ancient Rites, A Guide For the Serious Practitioner pg247
  43.  The Golden Bough: A Study in Magic and Religion pg 380-384
  44.  dia de Todos os Santos
  45.  A Animação das Festas de Inverno do Concelho de Bragança. Os Caretos na escola e reavivar das tradições
  46.  «José Leite de Vasconcelos. OPÚSCULOS. Volume VII – Etnologia (Parte II).Lisboa, Imprensa Nacional, 1938.V. Miscelânea etnográfica» (PDF). Consultado em 2 de novembro de 2012. Arquivado do original (PDF) em 14 de julho de 2014
  47.  «Leite de Vasconcelos, José. Revista Lusitana» (PDF). Consultado em 20 de janeiro de 2013. Arquivado do original (PDF) em 14 de julho de 2014
  48.  PATRIMÓNIO IMATERIAL TRADIÇÕES FESTIVAS Kit Ficha 02 Tradições Festivas
  49.  O culto dos mortos e o mês das almas - A tradição das Escaldadas
  50.  O “Culto dos Mortos”, base das religiões Indo-Europeias
  51.  Lendas e tradições
  52.  Almanach de lembranças Luso-Brazileiro
  53.  Pimentel, Alberto. Espelho de portuguezes - Volume 2 - Página 119
  54.  [Manuel de Paiva Boléo, Universidade de Coimbra. Instituto de Estudos Românicos. Revista portuguesa de filologia - Volume 12 - Página 745 - 1963]
  55.  [Alberto Pimentel - 1901; Espelho de portuguezes - Volume 2 - Página 117 ]
  • Almanach de lembranças luso-brasileiro. Castilho Alexandre, Cordeiro António. Typográfica Franco Portuguesa. 1861.

Ligações externas

SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS - 1 DE NOVEMBRO DE 2022

 

Dia de Todos os Santos

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Dia de Todos os Santos
Todos os Santos, de Fra Angelico.
Nome oficialFestum omnium sanctorum
Celebrado porCatólicosortodoxosanglicanos
TipoCristão
Cor litúrgica
  • Branco (Ocidente)
  • Verde (Oriente)
Data
Relacionado(s)Dia dos Fiéis DefuntosDia dos MortosVéspera de Todos os SantosDia das Bruxas

Dia de Todos os Santos é uma festa celebrada em honra de todos os santos e mártires, conhecidos ou não. Esta festa é celebrada pelos crentes de muitas das igrejas da religião cristã, por ser herdada a partir da tradição apostólica.

Igreja Católica celebra a Festum Omnium Sanctorum (Festa de Todos os Santos) a 1 de novembro que é seguido pelo dia dos fiéis defuntos a 2 de novembro, (a data pode as vezes ser transferida para o domingo seguinte). A Igreja Ortodoxa celebra esta festividade no primeiro domingo depois do Pentecostes, fechando a época litúrgica da Páscoa, tal como a Igreja Católica Oriental. A Igreja Anglicana também celebra o dia de Todos os Santos com o mesmo significado que nas Igrejas Católica e Ortodoxa. Na Igreja Luterana, o dia é celebrado principalmente para lembrar que todas as pessoas batizadas são santas e também aquelas pessoas que faleceram no ano que passou, pelo que o significado da celebração também é quase idêntico ao de outras igrejas cristãs.

Na prática cristã ocidental, a celebração litúrgica começa na véspera na noite de 31 de outubro (Véspera de Todos os Santos), e termina no final de 1 º de novembro. É assim um dia antes do Dia dos Fiéis Defuntos, que comemora a partida dos fiéis.

História

Enciclopédia Católica define o Dia de Todos os Santos como uma festa em "honra a todos os santos, conhecidos e desconhecidos". No fim do segundo século, professos cristãos começaram a honrar os que haviam sido martirizados por causa da sua fé e, certos de que eles já estavam com Cristo no céu, oravam a eles para que intercedessem a seu favor. A comemoração regular começou quando, em 13 de maio de 609 ou 610, o Papa Bonifácio IV dedicou o Panteão (o templo romano em honra a todos os deuses) a Maria e a todos os mártiresMarkale comenta: "Os deuses romanos cederam seu lugar aos santos da religião vitoriosa."

A data foi mudada para novembro quando o Papa Gregório III (731-741) dedicou uma capela em Roma a Todos os Santos e ordenou que eles fossem homenageados em 1.° de novembro. Não se sabe ao certo por que ele fez isso, mas pode ter sido porque já se comemorava um feriado parecido, na mesma data, na Inglaterra. A Enciclopédia da Religião afirma: "O Samhain continuou a ser uma festa popular entre os povos celtas durante todo o tempo da cristianização da Grã-Bretanha. A Igreja britânica tentou desviar esse interesse em costumes pagãos acrescentando uma comemoração cristã ao calendário, na mesma data do Samhain. É possível que a comemoração britânica medieval do Dia de Todos os Santos tenha sido o ponto de partida para a popularização dessa festividade em toda a Igreja cristã."

Markale menciona a crescente influência dos monges irlandeses em toda a Europa naquela época. De modo similar, a Nova Enciclopédia Católica afirma: "Os irlandeses costumavam reservar o primeiro dia do mês para as festividades importantes e, visto que 1.° de novembro era também o início do inverno para os celtas, seria uma data propícia para uma festa em homenagem a todos os santos." Finalmente, em 835, o Papa Gregório IV declarou-a uma festa universal.

Relação com o Dia dos Mortos

O feriado do Dia de Finados, no qual as pessoas rezam a fim de ajudar as almas no purgatório a obter a bem-aventurança celestial, teve sua data fixada em 2 de novembro durante o século 11 pelos monges de Cluny, na França. Embora se afirmasse que o Dia de Finados era um dia santo católico, é óbvio que, na mente do povo, ainda havia muita confusão. A Nova Enciclopédia Católica afirma que "durante toda a Idade Média era popular a crença de que, nesse dia, as almas no purgatório podiam aparecer em forma de fogo-fátuobruxa, sapo etc."

Incapaz de desarraigar as crenças pagãs do coração do seu rebanho, a Igreja simplesmente as escondeu por trás de uma máscara "cristã". Destacando esse fato, a Enciclopédia da Religião diz: "A festividade cristã, o Dia de Todos os Santos, é uma homenagem aos santos conhecidos e desconhecidos da religião cristã, assim como o Samhain lembrava as deidades celtas e lhes pagava tributo..." Todavia, mais que uma semelhança a festa de Todos os Santos celebra-se os santos conhecidos ou não que fizeram de sua vida uma oração, testemunho e fé na paixão, morte e ressurreição de Jesus Cristo. São, como revela o livro do Apocalipse, a multidão de pessoas de várias nações que alvejaram as suas vestes brancas no sangue do Cordeiro e diante do trono de Deus proclamam hinos e cânticos de louvor e agradecimento dizendo que a salvação procede do Cordeiro (Ap 7, 2-14).

Na Igreja Católica, o dia de "Todos os Santos" é celebrado no dia 1 de novembro e o de "Finados" no dia 2 de novembro. Esta tradição de recordar (fazer memória) os santos está na origem da composição do calendário litúrgico, em que constavam, inicialmente, as datas de aniversário da morte dos cristãos martirizados como testemunho pela sua fé, realizando-se, nelas, oraçõesmissas e vigílias, habitualmente no mesmo local ou nas imediações de onde foram mortos, como acontecia em redor do Coliseu de Roma. Posteriormente tornou-se habitual erigirem-se igrejas e basílicas dedicadas a sua memória nesses mesmos locais.

O desenvolvimento da celebração conjunta de vários mártires, no mesmo dia e lugar, deveu-se ao facto frequente do martírio de grupos inteiros de cristãos e também devido ao intercâmbio e partilha das festividades entre as dioceses/paróquias por onde tinham passado e se tornaram conhecidos. A partir da perseguição de Diocleciano o número de mártires era tão grande que se tornou impossível designar um dia do ano separado para cada um. O primeiro registo (Século IV) de um dia comum para a celebração de todos eles aconteceu em Antioquia, no domingo seguinte ao de Pentecostes, tradição que se mantém nas igrejas orientais.

Com o avançar do tempo, mais homens e mulheres se sucederam como exemplos de santidade e foram com estas honras reconhecidos e divulgados por todo o mundo. Inicialmente apenas mártires (com a inclusão de são João Batista), depressa se deu grande relevo a cristãos considerados heroicos nas suas virtudes, apesar de não terem sido mortos. O sentido do martírio que os cristãos respeitam alarga-se ao da entrega de toda a vida a Deus e, assim, a designação "todos os santos" visa a celebrar conjuntamente todos os cristãos que se encontram na glória de Deus, tenham ou não sido canonizados (processo regularizado, iniciado no Século V, para o apuramento da heroicidade de vida cristã de alguém aclamado pelo povo e através do qual se pode ser chamado universalmente de beato ou santo, e pelo qual se institui um dia e o tipo e lugar para as celebrações, normalmente com referência especial na missa).

Intenção catequética da festividade

Comemoração de Todos os Santos, Cimento da Santa Cruz, GnieznoPolonia

Segundo o ensinamento da Igreja, a intenção catequética desta celebração que tem lugar em todo o mundo, ressalta o chamamento de Cristo a cada pessoa para o seguir e ser santo, à imagem de Deus, a imagem em que foi originalmente criada e para a qual deve continuar a caminhar em amor. Isto não só faz ver que existem santos vivos (não apenas os do passado) e que cada pessoa o pode ser, mas sobretudo faz entender que são inúmeros os potenciais santos que não são conhecidos, mas que da mesma forma que os canonizados igualmente veem Deus face a face, têm plena felicidade e intercedem por nós. O Papa João Paulo II foi um grande impulsionador da "vocação universal à santidade", tema renovado com grande ênfase no Segundo Concílio do Vaticano.

Nesta celebração, o povo católico é conduzido à contemplação do que, por exemplo, dizia o Cardeal São John Henry Newman: não somos simplesmente pessoas imperfeitas em necessidade de melhoramentos, mas sim rebeldes pecadores que devem render-se, aceitando a vida com Deus, e realizar isso é a santidade aos olhos de Deus.

Citações do Catecismo da Igreja Católica

Pão-por-Deus

Em Portugal tradicionalmente é dia feriado. Em 2013, 14 e 15 o feriado foi retirado, regressando em 2016.[1]

Em algumas zonas de Portugal, no dia de Todos os Santos, as crianças saem à rua e juntam-se em pequenos bandos para pedir o pão-por-deus de porta em porta. As crianças quando pedem o pão-por-deus recitam versos e recebem como oferenda: pãobroasbolosromãs e frutos secosnozesamêndoas ou castanhas, que colocam dentro dos seus sacos de pano. É também costume em algumas regiões os padrinhos oferecerem um bolo, o Santoro. Em algumas povoações, chama-se, a este dia, o "Dia dos Bolinhos" ou "Dia do Bolinho".

Esta tradição já era registada no século XV. Tem origem no ritual pagão do culto dos mortos, com raízes milenares. Em 1756, também se cumpriu, 1 ano após o terremoto que destruiu Lisboa em 1º de Novembro de 1755, em que morreram milhares de pessoas e em que a população da cidade - na sua maioria pobre - ainda mais pobre ficou.

Como a data do terramoto coincidiu com uma data com significado religioso (1 de Novembro), de forma espontânea, no dia em que se cumpria o primeiro aniversário do terramoto, a população aproveitou a tradição para desencadear, por toda a cidade, um peditório, com a intenção de manter uma tradição que lembrava os seus mortos.

As pessoas, percorriam a cidade, batiam às portas e pediam que lhes fosse dada qualquer esmola, mesmo que fosse pão, dado grassar a fome pela cidade. E as pessoas pediam: "Pão por Deus".

Noutras zonas do país, foram surgindo variações na forma e no nome da comemoração.

Nas décadas de 1960 e 1970, a data passou a ser comemorada mais de forma lúdica do que pelas razões que criaram a tradição. Havia regras básicas, que eram escrupulosamente cumpridas:

  • Só podiam pedir o "Pão-por-Deus" crianças até os 10 anos de idade (com idades superiores, as pessoas recusavam-se a dar).
  • As crianças só podiam andar na rua a pedir o "Pão-por-Deus" até ao meio-dia (depois do meio-dia, se alguma criança batesse a uma porta, levava um "raspanete" do adulto que abrisse a porta).

A partir dos anos 1980, a tradição foi gradualmente desaparecendo e, atualmente, raras são localidades onde se pratica esta tradição. Em Fátima, por exemplo, esta tradição continua bem viva.

Embora não advoguem a crença no purgatório, há igrejas protestantes que também guardam o Dia de Finados. Com efeito, é o terceiro dentre três dias consecutivos que a cristandade considera como tendo relação especial com os mortos. O dia antes, 1° de novembro, é o Dia de Todos os Santos, em honra às almas dos "santos", que se pensa já terem chegado ao céu. E o dia anterior, 31 de outubro, é chamado Halloween (em inglês) ou Véspera de Todos os Santos, e seu nome em inglês deriva de ser a véspera do "Dia de Todos os Hallows [Santos]".

Halloween também tem relação com os mortos. No calendário dos antigos celtas, 31 de outubro era a Véspera do Ano-Novo. Os celtas, junto com seus sacerdotes, os druidas, criam que, na véspera do ano-novo, as almas dos mortos perambulavam pela terra. Sustentava-se que alimentos, bebidas e sacrifícios podiam apaziguar tais almas perambulantes. O halloween também incluía fogueiras para expulsar os maus espíritos.

A respeito das fogueiras nessa época do ano, lemos em "Curiosidades dos Costumes Populares":

Ver também

Commons
Commons possui imagens e outros ficheiros sobre Dia de Todos os Santos

Notas

  1.  II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 50: AAS 57 (1965) 56.
  2.  II Concílio do Vaticano, Const. Sacrosanctum Concilium, 104: AAS 56 (1964) 126; cf. Ibid., 108: AAS 56 (1964) 126 e Ibid., 111: AAS 56 (1964) 127.
  3.  II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 40: AAS 57 (1965) 45.
  4.  II Concílio do Vaticano, Const. dogm. Lumen Gentium, 40: AAS 57 (1965) 45.

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