A estupidez no futebol não tem código postal
Aconteceu ontem em Portugal. Também aconteceu hoje no Brasil. Vai acontecer seguramente amanhã. Acontece frequentemente em vários cantos do mundo e nos mais variados estádios. São décadas de pura ignorância.
O mero ato de torcer se tornou crime inafiançável, cuja punição é paga ainda nas arquibancadas. Não basta sermos neandertais uns contra os outros, agora nem sequer crianças com menos de dez anos estão salvas da estupidez alheia.
Um pequeno português não pode vestir as cores do Benfica em paz. Outro pequeno brasileiro está proibido de soltar o grito de gol anotado pelo Corinthians em segurança. A pureza infantil é goleada dia após dia pela crueldade adulta.
Não, não é apenas reflexo da nossa sociedade. É, acima de tudo, cada vez mais reflexo do nosso futebol. Um meio recheado de ódio e frustração, onde muitos acreditam que estão - e muitas vezes são - livres para ser quem, de fato, são. Não há mais vergonha em passar vergonha.
Criticar é fácil. Buscar medidas (individuais e coletivas) é fundamental. Mas, antes de qualquer coisa, precisamos todos refletir. Fazer rapidamente mea-culpa. Corrigir. Melhorar. Dirigentes, treinadores, jogadores, jornalistas, comentaristas, empresários e tantos outros intervenientes da bola.
Direta ou indiretamente, temos a nossa significativa parcela de culpa pela morte da essência do futebol. Perseguimos e humilhamos ao invés de criticarmos. Desrespeitamos ao invés de analisarmos. Ignoramos a esportividade em detrimento da rivalidade. Somos trogloditas contemporâneos e não percebemos.