Invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022
Este artigo ou se(c)ção trata de um conflito armado recente ou em curso. |
Invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 | |||
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Guerra Russo-Ucraniana | |||
Mapa do território da Ucrânia | |||
Data | 24 de fevereiro de 2022 – presente | ||
Local | Ucrânia | ||
Situação | Em andamento
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Beligerantes | |||
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Comandantes | |||
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Civis: 352 civis mortos, 1 684 feridos (segundo a Ucrânia)[30] Refugiados: 422 000 ucranianos refugiados e/ou deslocados de suas casas (segundo a ONU)[31] |
Em 24 de fevereiro de 2022, a Rússia lançou uma invasão da Ucrânia. A campanha militar começou após uma longa crise, que culminou no reconhecimento russo das autoproclamadas República Popular de Donetsk e da República Popular de Luhansk nos dias anteriores à invasão, seguido pela entrada das Forças Armadas Russas na região de Donbas, no leste da Ucrânia, em 21 fevereiro de 2022. A Bielorrússia é considerada conivente, por ter facilitado a invasão.[32]
Por volta das 6h, horário de Moscou (UTC+3), o presidente russo Vladimir Putin anunciou uma operação militar com o objetivo de "desmilitarização e desnazificação da Ucrânia"; minutos depois, ataques com mísseis começaram a atingir locais em todo o país, inclusive perto da capital Kiev. Confirmou-se que as forças russas invadiram a Ucrânia perto de Carcóvia, entrando da Rússia, Bielorrússia e Crimeia ocupada pelos russos.[33]
A invasão russa recebeu condenação internacional, com países da União Europeia, além de Estados Unidos, Austrália, Reino Unido e Japão, impondo sanções contra a Rússia. Pelo mundo, protestos foram reportados, com manifestações anti-guerra também acontecendo na própria Rússia.[34][35] Tanto antes como durante a invasão, alguns dos trinta estados membros da OTAN têm fornecido à Ucrânia armas e outros apoios materiais.[36]
Esta invasão tem sido descrita como o maior ataque militar convencional em solo europeu desde a Segunda Guerra Mundial.[37]
Antecedentes
Contexto pós-soviético
Após a dissolução da União Soviética em 1991, a Ucrânia e a Rússia continuaram a manter laços estreitos. Em 1994, a Ucrânia concordou em abandonar seu arsenal nuclear e assinou o Memorando de Budapeste sobre Garantias de Segurança sob a condição de que a Rússia, o Reino Unido e os Estados Unidos emitissem uma garantia contra ameaças ou uso de força contra a integridade territorial ou independência política de Ucrânia. Cinco anos depois, a Rússia foi um dos signatários da Carta para a Segurança Europeia, onde "reafirmou o direito inerente de cada Estado participante de ser livre para escolher ou alterar seus arranjos de segurança, incluindo tratados de aliança, à medida que evoluem".[38]
Apesar de ser um país independente reconhecido desde 1991, como ex-república soviética, a Ucrânia era vista pela elite russa como parte de sua esfera de influência. Em 2008, o presidente russo Vladimir Putin se manifestou contra a adesão da Ucrânia à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).[39][40] Em 2009, o analista romeno Iulian Chifu e seus co-autores opinaram que em relação à Ucrânia, a Rússia buscou uma versão atualizada da Doutrina Brezhnev, que dita que a soberania da Ucrânia não pode ser maior que a dos Estados-membros do Pacto de Varsóvia antes do colapso da esfera de influência soviética durante o final dos anos 1980 e início dos anos 1990.[41] Esta visão baseia-se na premissa de que as ações da Rússia para aplacar o Ocidente no início da década de 1990 deveriam ter sido recebidas com reciprocidade do Ocidente, sem a expansão da OTAN ao longo da fronteira da Rússia.[42]
Revolução Ucraniana de 2014, anexação da Crimeia e Guerra em Donbas
Após semanas de protestos como parte do movimento Euromaidan (2013-2014), o presidente ucraniano pró-russo Viktor Yanukovych e os líderes da oposição parlamentar ucraniana em 21 de fevereiro de 2014 assinaram um acordo que pedia eleições antecipadas. No dia seguinte, Yanukovych fugiu de Kiev antes de uma votação de impeachment que o destituiu de seus poderes como presidente.[43][44][45] Líderes das regiões orientais de língua russa da Ucrânia declararam lealdade contínua a Yanukovych,[46] causando os protestos pró-Rússia de 2014 na Ucrânia.[47] A agitação foi seguida pela anexação da Crimeia pela Rússia em março de 2014 e pela Guerra em Donbas, que começou em abril de 2014 com a criação dos quase-estados apoiados pela Rússia das Repúblicas Populares de Donetsk e Luhansk.[48][49]
Em 14 de setembro de 2020, o presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy aprovou a nova Estratégia de Segurança Nacional da Ucrânia, "que prevê o desenvolvimento de uma parceria distinta com a OTAN com o objetivo de ser membro da OTAN".[50][51][52] Em 24 de março de 2021, Zelenskyy assinou o Decreto nº 117/2021 que aprova a “estratégia de desocupação e reintegração do território temporariamente ocupado da República Autônoma da Crimeia e da cidade de Sebastopol”.[53]
Em julho de 2021, Putin publicou um ensaio intitulado Sobre a unidade histórica de russos e ucranianos, no qual reafirmou sua visão de que russos e ucranianos eram “um só povo”.[54] O historiador estadunidense Timothy Snyder descreveu as ideias de Putin como "imperialismo".[55] O jornalista britânico Edward Lucas descreveu-o como "revisionismo histórico".[56] Outros observadores notaram que a liderança russa tem uma visão distorcida da Ucrânia moderna e sua história.[57][58][59]
A Rússia afirmou que uma possível adesão da Ucrânia à OTAN e a ampliação da OTAN em geral ameaçam sua segurança nacional.[60][61][62] Por sua vez, a Ucrânia e outros países europeus vizinhos da Rússia acusaram Putin de tentar restaurar o Império Russo/União Soviética e de perseguir políticas militaristas agressivas.[63][64][65][66][67]
Prelúdio da invasão
O conflito começou com uma grande movimentação militar de tropas russas na fronteira Rússia-Ucrânia, inicialmente de março a abril de 2021 e depois de outubro de 2021 a fevereiro de 2022. Durante a segunda escalada militar, a Rússia emitiu exigências aos Estados Unidos e à OTAN, avançando dois projetos de tratados que continham solicitações para o que chamou de "garantias de segurança", incluindo uma promessa juridicamente vinculativa de que a Ucrânia não ingressaria na OTAN, bem como uma redução em tropas da OTAN e equipamentos militares estacionados na Europa Oriental[68] e ameaçou uma resposta militar não especificada se a OTAN continuasse a seguir uma "linha agressiva".[69]
Acusações russas
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Guerra Russo-Ucraniana |
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Acusações de genocídio
Em 9 de dezembro de 2021, o presidente russo, Vladimir Putin, falou de discriminação contra falantes de russo fora da Rússia, dizendo: "Devo dizer que a russofobia é um primeiro passo para o genocídio. Você e eu sabemos o que está acontecendo em Donbass. Certamente parece muito com genocídio".[70][71] Em 15 de fevereiro de 2022, Putin repetiu à imprensa: "O que está acontecendo no Donbass é exatamente genocídio".[72] Os meios de comunicação observaram que, apesar désta acusação, o próprio presidente ucraniano Volodymyr Zelenskyy é um falante nativo de russo.[73]
Várias organizações internacionais, incluindo o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, a Missão Especial de Monitoramento da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE) para a Ucrânia e o Conselho da Europa, não encontraram evidências que apoiassem as alegações russas de "genocídio",[74][75][76][77] que também foram rejeitadas pela Comissão Europeia como desinformação russa.[78]
A embaixada dos EUA na Ucrânia descreveu a alegação de genocídio russo como "falsidade repreensível",[79] enquanto o porta-voz do Departamento de Estado dos EUA, Ned Price, disse que Moscou estava fazendo tais alegações como uma desculpa para invadir a Ucrânia.[72] Em 18 de fevereiro, o embaixador russo nos Estados Unidos, Anatoly Antonov, respondeu a uma pergunta sobre funcionários dos EUA, que duvidavam do fato do genocídio de russos em Donbass, postando uma declaração na página da embaixada no Facebook que dizia: "Os americanos preferem não apenas ignorar as tentativas de assimilação forçada dos russos na Ucrânia, mas também os apoia politicamente e militarmente".[80]
Acusação de nazismo
Uma das várias justificações apresentadas por Vladimir Putin para a invasão da Ucrânia foi "acabar com o nazismo no vizinho", apesar do país ter um governo democrático e um governante judeu, filho de sobreviventes do Holocausto.[81][82]
Ultranacionalistas e neonazistas entraram nos combates formando tropas paramilitares, que as vezes atuam com as Forças Armadas do país.[81] Estimulados por alguns governos, como o de Petro Poroshenko (2014-2019), com o ministro Arsen Avakov controlando as milícias, a polícia e a Guarda Nacional. Era ligado ao líder de um dos principais grupos da direita radical, o Azov.[81]
Supostos confrontos
Os combates em Donbas aumentaram significativamente em 17 de fevereiro de 2022. Enquanto o número diário de ataques nas primeiras seis semanas de 2022 variou de dois a cinco,[83] os militares ucranianos relataram 60 ataques em 17 de fevereiro, mas a mídia estatal russa relatou mais de 20 ataques de artilharia contra posições separatistas no mesmo dia.[83] Por exemplo, o governo ucraniano acusou separatistas russos de bombardear um jardim de infância em Stanytsia Luhanska usando artilharia e ferindo três civis. A República Popular de Luhansk disse que suas forças foram atacadas pelo governo ucraniano com morteiros, lançadores de granadas e metralhadoras.[84][85]
No dia seguinte, a República Popular de Donetsk e a República Popular de Luhansk ordenaram a evacuação obrigatória de civis de suas respectivas capitais, embora tenha sido observado que as evacuações completas levariam meses para serem realizadas.[86][87][88][89] A mídia ucraniana relatou um aumento acentuado no bombardeio de artilharia dos militantes liderados pela Rússia em Donbass como tentativas de provocar o exército ucraniano.[90][91]
Em 21 de fevereiro, o Serviço Federal de Segurança da Rússia anunciou que o bombardeio ucraniano havia destruído uma instalação de fronteira do FSB a 150 metros da fronteira Rússia-Ucrânia em Rostov Oblast.[92] Separadamente, o serviço de imprensa do Distrito Militar do Sul da Rússia anunciou que as forças russas mataram na manhã daquele dia um grupo de cinco sabotadores perto da vila de Mityakinskaya, no oblast de Rostov, que havia penetrado na fronteira da Ucrânia em dois veículos de combate de infantaria, que foram destruídos.[93] A Ucrânia negou estar envolvida em ambos os incidentes e os chamou de operação de bandeira falsa.[94] Além disso, dois soldados ucranianos e um civil foram mortos por bombardeios na vila de Zaitseve, 30 km ao norte de Donetsk.[95]
Vários analistas, incluindo o site investigativo Bellingcat, publicaram evidências de que muitos dos alegados ataques, explosões e evacuações em Donbass foram encenados pela Rússia.[96][97][98]
Em 21 de fevereiro, a Usina Termelétrica de Luhansk, na República Popular de Luhansk, foi bombardeada por forças desconhecidas.[99]
Intervenção em Donbass
21 de fevereiro
Em 21 de fevereiro de 2022, após o reconhecimento das repúblicas de Donetsk e Luhansk, o presidente Putin ordenou que tropas russas (incluindo tanques) fossem enviadas para Donbas, no que a Rússia chamou de "missão de paz".[100][101] Mais tarde naquele dia, vários meios de comunicação independentes confirmaram que as forças russas estavam entrando em Donbass.[102][103][104][105]
22 de fevereiro
Em 22 de fevereiro de 2022, o presidente estadunidense Joe Biden afirmou que "o início de uma invasão russa da Ucrânia" havia ocorrido. O secretário-geral da Otan, Jens Stoltenberg, e o primeiro-ministro canadense, Justin Trudeau, disseram que "nova invasão" ocorreu. O ministro das Relações Exteriores da Ucrânia, Dmytro Kuleba, afirmou: "Não existe invasão menor, média ou grande. Invasão é invasão." O chefe de política externa da União Europeia, Josep Borrell, afirmou que "as tropas russas [chegaram] em solo ucraniano" no que era "[não] uma invasão de pleno direito".[106]
No mesmo dia, o Conselho da Federação autorizou por unanimidade Putin a usar força militar fora da Rússia. Por sua vez, o presidente Zelenskyy ordenou o recrutamento dos reservistas da Ucrânia, embora ainda não tenha se comprometido com a mobilização geral.[107]
Em 23 de fevereiro, a Ucrânia anunciou um estado de emergência nacional, excluindo os territórios ocupados em Donbas, que entrou em vigor à meia-noite.[108][109] No mesmo dia, a Rússia começou a evacuar sua embaixada em Kiev e também baixou a bandeira russa do topo do prédio.[110] Ainda em 23 de fevereiro, os sites do parlamento e do governo ucraniano, juntamente com sites bancários, foram atingidos por ataques DDoS.[111]
Conselho de Segurança das Nações Unidas
A intervenção de 21 de fevereiro no Donbass foi amplamente condenada pelo Conselho de Segurança da ONU e não recebeu nenhum apoio.[112] O embaixador do Quênia, Martin Kimani, comparou o movimento de Putin ao colonialismo e disse: "Devemos completar nossa recuperação das brasas dos impérios mortos de uma forma que não nos leve de volta a novas formas de dominação e opressão".[113]
Outra reunião do Conselho de Segurança da ONU foi convocada de 23 a 24 de fevereiro de 2022. A Rússia invadiu a Ucrânia durante uma reunião de emergência do Conselho de Segurança da ONU com o objetivo de neutralizar a crise. O secretário-geral Antonio Guterres havia declarado "Dê uma chance à paz".[114] A Rússia ocupava a presidência do Conselho de Segurança da ONU em fevereiro de 2022 e tem poder de veto como um dos cinco membros permanentes.[114][115]
Invasão
24 de fevereiro
Pouco antes das 6h, horário de Moscou (UTC+3), em 24 de fevereiro, Putin anunciou que havia tomado a decisão de lançar uma operação militar no leste da Ucrânia.[116] Em seu discurso, Putin disse que não há planos para ocupar o território da Ucrânia e afirmou que apoia o direito dos povos que residem no território da Ucrânia à autodeterminação.[117][118] Putin também afirmou que a Rússia estava buscando a "desmilitarização" e a "desnazificação" da Ucrânia e pediu aos soldados ucranianos que deponham suas armas.[119][120]
Minutos após o anúncio de Putin, explosões foram relatadas em Kiev, Kharkiv, Odessa e Donbass.[121] Autoridades ucranianas disseram que a Rússia desembarcou tropas em Odessa e Mariupol e lançou mísseis balísticos e de cruzeiro em aeródromos, quartéis-generais militares e depósitos militares em Kiev, Kharkiv e Dnipro.[122][123][124] Mais tarde, os militares ucranianos negaram informações sobre o desembarque do exército russo em Odessa.[125] O espaço aéreo sobre o leste da Ucrânia tem restrições ao tráfego aéreo civil como resultado desses desenvolvimentos, com toda a área sendo considerada uma zona de conflito ativa pela Agência de Segurança da Aviação da União Europeia.[126]
De acordo com o Ministro de Estado ucraniano, Anton Herashchenko, pouco depois das 6h30 (UTC+2), as forças russas estavam invadindo por terra perto da cidade de Kharkiv e desembarques anfíbios em grande escala foram relatados nas cidades de Mariupol e Odessa;[127] Heraschenko confirmou os desembarques perto de Odessa.[128][129][130] Pouco antes das 7h (UTC+2), o presidente Zelenskyy anunciou a introdução da lei marcial na Ucrânia.[131] Às 7h40, a BBC citou outras fontes ao dizer que as tropas também estavam entrando no país a partir da Bielorrússia.[132] A Força de Fronteira Ucraniana relatou ataques a locais em Luhansk, Sumy, Kharkiv, Chernihiv e Zhytomyr, bem como na Crimeia.[133] Em Henichesk, no sul de Kherson, numa ponte chave que permitia o acesso entre a Crimeia ocupada e a Ucrânia continental, uma coluna de tanques russos foi impedida de progredir quando o soldado engenheiro ucraniano Vitaly Skakun Volodymyrovych a armadilhou e fez explodir. Skakun não conseguiu sair do local a tempo após armadilhar a ponte, tendo avisado os companheiros que explodiria junto com a estrutura. A operação obrigou a coluna a tomar outra rota, atrasando-a consideravelmente, ao mesmo tempo que permitiu que as forças ucranianas reagrupassem.[134]
Por volta das 18h20 (UTC+2), a Usina Nuclear de Chernobil foi invadida por forças russas após uma curta batalha contra tropas da Ucrânia.[135][136][137][138] Segundo Oksana Markarova, embaixadora ucraniana em Washington, 92 pessoas foram feitas reféns em Chernobil pelas forças russas, que não estarão a cumprir os regulamentos em vigor.[139] Segundo o presidente Volodymyr Zelensky, pelo menos 137 ucranianos morreram no primeiro dia de combate,[28] 13 dos quais na pequena ilha de Fidonisi, no mar Negro.[140]
25 de fevereiro
Na madrugada do dia 25 de fevereiro, o presidente Zelenskyy ordenou a mobilização completa das forças armadas ucranianas por 90 dias.[141] Antes do sol raiar, a capital Kiev foi abalada por pelo menos duas explosões que, segundo o ministro do interior ucraniano, Anton Herashchenko, foram causadas por mísseis balísticos ou de cruzeiro.[142] O governo ucraniano afirmou então que abateu uma aeronave inimiga sobre Kiev, que colidiu com um prédio residencial, incendiando-o.[143]
Analistas militares independentes observaram que as forças russas no norte da Ucrânia pareciam estar lutando fortemente contra tropas ucranianas ao longo de toda a linha de frente. O segundo dia da invasão, os militares da Rússia decidiram focar sua atenção em cercar a capital Kiev e manter o avanço sobre Kharkiv, mas estavam enfrentando feroz resistência, com as perdas em ambos os lados sendo altas. Baseado em posts em redes sociais mostrando imagens de veículos destruídos, parecia que as colunas blindadas russas eram vulneráveis a emboscadas. Em contraste, as operações russas no leste e no sul eram mais bem-sucedidas. As forças russas eram melhor treinadas e tinham equipamento superior, permitindo se prosivionar por Donbas, se preparando para avançar sobre as posições ucranianas. Enquanto isso, o avanço militar russo que vinha da Crimeia era dividido em suas colunas, com analistas sugerindo que eles poderiam estar tentando cercar e capturar os defensores inimigos em Donbas, forçando os ucranianos a abandonar suas defesas preparadas e lutar em campo aberto.[144]
Na manhã de 25 de fevereiro, Zelenskyy acusou a Rússia de atacar alvos civis durante seus bombardeios.[145] O porta-voz do governo ucraniano Vadym Denysenko afirmou que 33 áreas de civis foram bombardeadas nas primeiras 24 horas da guerra.[146] O Ministério da Defesa ucraniano afirmou que forças russas haviam penetrado no distrito de Obolon, no norte de Kiev, e estavam aproximadamente a 9 km do Parlamento Ucraniano.[147] Por toda a manhã e começo da tarde do dia 25 de fevereiro, combates intensos foram reportados na zona governamental da capital ucraniana. O Ministério da Defesa então anunciou que todos os civis ucranianos eram elegíveis para se voluntariar para o serviço militar, independentemente da idade.[148]
As autoridades ucranianas relataram que um aumento não crítico na radiação excedendo os níveis de controle foi detectado na Usina Nuclear de Chernobil depois que as tropas russas ocuparam a área, dizendo que isso se deveu ao movimento de veículos militares pesados levantando poeira radioativa no ar.[149][150] A Rússia alegou que estava defendendo a usina de grupos nacionalistas e terroristas, e que a equipe estava monitorando os níveis de radiação no local.[147]
Zelenskyy indicou que o governo ucraniano "não tinha medo de falar sobre o status de neutralidade."[151] No mesmo dia, Putin disse ao presidente chinês, Xi Jinping, que "a Rússia está disposta a conduzir negociações de alto nível com a Ucrânia."[152]
O edifício dos Serviços de Segurança ucranianos em Chernihiv incendiou-se, após ter sido atingido por mísseis russos.[139] Segundo Ragip Soylu, correspondente da CNN em Kiev, o presidente da câmara Wladimir Klitschko, anunciou que a central termoelétrica que abastece Kiev foi destruída por forças russas ao início da noite.[153][154] O centro de oncologia de um hospital de Melitopol foi destruído por explosivos russos.[139]
No final do dia 25, O Pentágono informou que a Rússia foi incapaz de estabelecer supremacia aérea sobre o espaço aéreo ucraniano, que analistas dos Estados Unidos previram que aconteceria rapidamente após o início das hostilidades. As capacidades de defesa antiaérea ucranianas foram severamente reduzidas pelos ataques iniciais russos, mas o país ainda tinha habilidade de defender seus céus até certo ponto. Nos primeiros três dias de guerra, aeronaves de ambas as nações continuavam a voar e realizar missões.[155] Analistas militares dos Estados Unidos também afirmaram que o avanço russo na Ucrânia não estava acontecendo tão rápido quanto Moscou havia antecipado, com a Rússia não sendo capaz, nas primeiras 24 horas, de tomar qualquer grande centro urbano, e com os seus centros de comando e controle ainda relativamente intactos. O Pentágono avisou, contudo, que a Rússia havia comprometido apenas um pouco mais de 30% dos 150 000 a 190 000 militares que haviam mobilizado na fronteira.[156]
Enquanto isso, com tropas russas perto de Kiev, o presidente Zelenskyy pediu à população que preparasse coqueteis molotov para atacar o inimigo. Vladimir Putin, por seu lado, pediu aos militares ucranianos que derrubassem o governo.[157][158] O exército ucraniano distribuiu 18 000 armas entre a população de Kiev, com a reserva das forças armadas sendo mobilizada para resistir.[159] No final do dia 25 de fevereiro, algumas informações davam conta de tropas russas já haverem penetrado a região norte de Kiev, tendo dificuldade em avançar com os ucranianos oferendo feroz resistência.[160] Já a importante cidade de Mariupol também estava sob pesado ataque, com os russos desembarcando uma força de infantaria naval na região.[161]
26 de fevereiro
Na madrugada do dia 26, violentos combates ocorreram próximo da cidade de Vasylkiv, a sul de Kiev, onde um importante campo aéreo está localizado.[162] O Estado-maior das forças armadas ucranianas afirmou que um caça Su-27 do país havia abatido uma aeronave de transporte Il-76 cheia de paraquedistas, com um segundo transportador deste tipo sendo derrubado próximo de Bila Tserkva.[163] A prefeita de Vasylkiv, Natalia Balasinovich, afirmou que sua cidade foi defendida com sucesso pelas forças ucranianas e que a luta estava terminando, informação que não pôde ser verificado de forma independente.[164]
Por volta das 03h00, mais de 48 explosões foram ouvidas em Kiev em um período de 30 minutos, com combates irrompendo perto da estação de energia elétrica CHP-6 no bairro de Troieshchyna, ao norte.[165] A BBC afirmou que os russos estavam tentando cortar o envio de eletricidade à capital. Combates pesados foram reportados próximo ao zoológico de Kiev e no bairro de Shuliavka. Ao amanhecer, os militares ucranianos afirmaram ter repelido um ataque russo a uma base do exército localizada na Avenida Peremohy, uma das principais avenidas de Kiev;[166] sendo também afirmado, embora não confirmado, que uma investida russa contra a cidade de Mykolaiv, no Mar Negro, havia sido detida pelos ucranianos.[167]
No período da tarde, o prefeito de Kiev, Vitali Klitschko, impôs um toque de recolher das 17h de sábado às 8h de segunda-feira, alertando que qualquer pessoa que estiver fora de casa durante esse período será considerada como inimigo ou sabotador.[168] A Reuters informou que as conexões de internet foram interrompidas em partes da Ucrânia, particularmente no sul e no leste.[169]
A noite do terceiro dia de combates foi violenta em Kiev, com centenas de pessoas mortas ou feridas na luta pela capital, segundo a Associated Press, que afirmou que os bombardeios acertaram um complexo de apartamentos, pontes e escolas.[18] Nesse meio tempo, o Ministério da Defesa da Federação Russa disse que havia conquistado a cidade de Melitopol, próximo do Mar de Azov,[170] informação desmentida pelo Ministro das Forças Armadas britânico James Heappey.[171] Pela manhã, o alto-comando ucraniano reportou que sua força aérea tinha conduzido trinta e quatro surtidas aéreas em um espaço de 24 horas, indicando que a Rússia continuava a, inesperadamente, não conquistar a superioridade aérea.[172]
O chefe da República da Chechênia, Ramzan Kadyrov, confirmou que tropas da região foram enviadas para a Ucrânia para lutar pela Rússia.[173]
Ao fim do terceiro dia de combates, as forças russas pareciam ter falhado na sua tentativa de cercar e isolar Kiev, apesar dos ataques feitos por suas tropas mecanizadas e paraquedistas.[174] O Estado-Maior das forças armadas ucranianas informou que a Rússia havia comprometido sua reserva operacional do norte de dezessete grupos de batalhões táticos após o exército ucraniano ter detido o avanço russo no norte de Kiev, o que indicaria que forçar o governo ucraniano a capitular permaneceu o objetivo principal da invasão.[172] As forças russas perto da capital teriam mudado de tática para avanços diretos contra Kiev, tanto ao longo da margem oeste do rio Dniepre quanto em uma ampla frente a nordeste. A Rússia abandonou as tentativas de tomar Chernihiv e Kharkiv depois que ataques mal executados foram repelidos por uma resistência ucraniana mais determinada do que o esperado. As forças russas contornaram essas cidades para continuar em direção a Kiev. Os militares russos no leste pareciam focados em prender a grande força ucraniana no lugar para que não pudessem interferir tanto na defesa de outras partes do país quanto em seu próprio cerco.[174] O Institute for the Study of War (ISW), um think tank militar, observou que a Ucrânia poderia, em breve, ser forçada a decidir retirar essas forças e ceder a parte oriental do país ou permitir que tais forças fossem destruídas.[172] Ao sul, as tropas russas tomaram a cidade de Berdiansk e continuaram a ameçar o cerco a cidade de Mariupol. A falha de planejamento e execução da Rússia ao longo da fronteira norte da Ucrânia estava levando a crescentes problemas de moral e logística.[174] Uma autoridade de defesa dos Estados Unidos informou que as tropas russas começaram a sofrer com problemas logísticos, particularmente a escassez de gasolina e diesel, levando à paralisação de diversos veículos blindados. Vídeos divulgados na internet mostravam tanques e veículos blindados de transporte russos encalhados na beira das estradas.[175]
27 de fevereiro
Durante a madrugada as forças russas conseguiram penetrar em Kharkiv, antiga capital e maior cidade da Ucrânia, ocorrendo grandes combates na rua pelo controlo da cidade.[176] Ao início da manhã Oleh Sinegubov, governador regional, afirmou que as forças ucranianas controlavam a cidade, estando a eliminar as forças russas que ainda aí existissem.[177] Durante a manhã, o ambiente em Lviv era de tranquilidade, constituindo-se como uma das cidades mais calmas atualmente na Ucrânia.[178]
Valery Zaluzhny, chefe das Forças Armadas Ucranianas, declarou ter abatido um míssil de cruzeiro lançado a partir de um sistema estratégico russo Tu-22 contra Kiev, a partir da Bielorrússia.[179]
Durante uma reunião com o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, e o Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas da Rússia, Valery Gerasimov, Vladimir Putin ordenou ao comando militar que colocasse as "forças de dissuasão nuclear" em alerta máximo, justificando a decisão com a afirmação de que “oficiais de alto escalão dos principais países da OTAN fazem declarações agressivas sobre o nosso país."[180]
28 de fevereiro
No início da madrugada, imagens de satélite libertadas pela empresa de tecnologia espacial Maxar Technologies, mostravam uma coluna de tropas e tanques russos movendo-se em direção a Kiev, a cerca de 64 quilómetros da capital, a norte da cidade de Ivankiv. O contingente militar consiste em centenas de veículos militares, contendo combustível, logística, e veículos blindados, incluindo tanques, assim como veículos de combate de infantaria e artilharia autopropulsionada, estendendo-se ao longo de cerca de cinco quilómetros.[181]
Reações internacionais
Nações Unidas
O secretário-geral da ONU, António Guterres, instou a Rússia a encerrar imediatamente a agressão na Ucrânia, enquanto os embaixadores da França e dos Estados Unidos anunciaram que apresentariam uma resolução ao Conselho de Segurança da ONU em 25 de fevereiro de 2022.[182][183] O Reino Unido,[184] os Estados Unidos,[185] o Canadá[186] e a União Europeia rotularam o ataque como não provocado e injustificado[187] e prometeram duras sanções a indivíduos, empresas e ativos russos.[188]
Em 25 de fevereiro, a Rússia vetou um projeto de resolução do Conselho de Segurança que "deplorava, nos termos mais fortes, a agressão da Federação Russa", como esperado. Onze países votaram a favor e três se abstiveram, entre eles China, Índia e Emirados Árabes Unidos.[189] 27 de fevereiro é a data marcada para o Conselho de Segurança da ONU votar sobre a realização de uma sessão especial de emergência da Assembleia Geral da ONU para votar uma resolução semelhante. Se a votação for aprovada, espera-se que a sessão da Assembleia Geral seja realizada em 28 de fevereiro.[190]
OTAN
Polônia, Romênia, Lituânia, Letônia e Estônia desencadearam consultas de segurança da OTAN sob o Artigo 4 do Tratado do Atlântico Norte. O governo estoniano emitiu uma declaração do primeiro-ministro Kaja Kallas que diz: "A agressão generalizada da Rússia é uma ameaça para o mundo inteiro e para todos os países da OTAN e as consultas da OTAN sobre o fortalecimento da segurança dos seus Aliados devem ser iniciadas para implementar medidas adicionais para garantir a defesa. A resposta mais eficaz à agressão da Rússia é a unidade."[191] Em 24 de fevereiro, o secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, anunciou novos planos que "nos permitirão enviar capacidades e forças, incluindo uma Força de Resposta da OTAN, para onde forem necessárias".[192] Após a invasão, a OTAN anunciou planos para aumentar sua presença militar nos países bálticos, na Romênia e na Polônia.[193][194]
Após a reunião do Conselho de Segurança da ONU de 25 de fevereiro, Stoltenberg anunciou que partes da Força de Resposta da OTAN seriam enviadas, pela primeira vez, para membros da OTAN ao longo da fronteira oriental do blobo. Ele afirmou que as forças incluiriam elementos da Força-Tarefa Conjunta de Alta Prontidão (VJTF), atualmente liderada pela França.[195] Stoltenberg afirmou ainda que alguns membros da OTAN estão fornecendo armas para a Ucrânia, incluindo as de defesa aérea. Os Estados Unidos anunciaram em 24 de fevereiro que enviariam 7 mil soldados para se juntar aos 5 mil soldados estadunidenses que já estão na Europa.[195] As forças da OTAN incluem o USS Harry S. Truman, que entrou no Mar Mediterrâneo na semana anterior como parte de um exercício planejado. O grupo de ataque do porta-aviões foi colocado sob o comando da OTAN, a primeira vez que isso ocorreu desde o fim da Guerra Fria.[196]
Um porta-voz do Ministério das Relações Exteriores da Rússia ameaçou a Finlândia e Suécia com "consequências militares e políticas prejudiciais" se tentassem ingressar na OTAN, o que nenhum dos dois estavam buscando ativamente. Ambos os países participaram da cúpula extraordinária como membros da Parceria para a Paz da organização e ambos condenaram a invasão e prestaram assistência à Ucrânia.[197] No dia anterior, a primeira-ministra finlandesa, Sanna Marin, comentou sobre a potencial adesão do país após a invasão, afirmando: "Agora também está claro que o debate sobre a adesão à OTAN na Finlândia vai mudar", observando que uma candidatura finlandesa à OTAN exigiria amplo apoio político e público.[198] Pouco depois da ameaça, um avião que transportava o até então parlamentar russo, Vyacheslav Volodin, teve a permissão negada para cruzar o espaço aéreo sueco e finlandês.[199] A primeira-ministra sueca, Magdalena Andersson, afirmou que a Suécia não planeja entrar para a organização, no entanto, reiterou que "[...] a Suécia, sozinha e de forma independente, decide sua linha de segurança."[200][201]
União Europeia
A 27 de fevereiro, por proposta do Alto Representante para a Política Externa e de Segurança da União Europeia (UE), Josep Borrell, os ministros dos Negócios Estrangeiros da UE reuniram por videoconferência, aprovando por unanimidade o uso dos 450 milhões de euros do Mecanismo Europeu de Apoio à Paz para reembolsar os Estados-membros pela compra de material de guerra para entregar à Ucrânia. Esta é a primeira vez na história da UE em que a organização financia a compra de armas e outros equipamentos de guerra letais. O destino do armamento são as forças de combate ucranianas, com vista a ajudar à resistência à invasão da Rússia. Borrell justificou a decisão com a gravidade do mais recente desafio de Vladimir Putin, que colocou o dispositivo nuclear russo em alerta máximo.[202] Ursula von der Leyen anunciou ainda o encerramento do espaço aéreo da UE a todas as aeronaves russas, incluindo jatos privados, e o banimento do espaço europeu dos canais por cabo estatais russos RT e Sputnik, em resposta à desinformação e propagação de notícias falsas durante a sua cobertura do conflito na Ucrânia.[203][204] Posteriormente, Von der Leyen declarou que a Ucrânia é "um dos nossos", e que é desejada enquanto membro da UE.[205]
A Alemanha anunciou uma reversão histórica da sua política de não enviar armas para zonas de conflito, confirmando o envio de mil armas antitanque e 500 sistemas antiaéreos Stinger para a Ucrânia. De acordo com João Gomes Cravinho, ministro da defesa português, Portugal enviará equipamento militar como coletes, capacetes, óculos de visão noturna, granadas e munições de diferentes calibres, rádios portáteis completos, repetidores analógicos e espingardas automáticas G3.[202] O chanceler alemão Olaf Scholz anunciou 100 bilhões de euros (113 bilhões de dólares) em novos gastos militares,[206] afirmando: "Estamos em uma nova era". Os gastos com defesa aumentarão para pelo menos a meta de 2% do PIB esperada para os membros da OTAN até 2024.[207]
Na tarde do mesmo dia, Volodymyr Zelensky ligou ao presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa tendo reiterado “a condenação veemente de Portugal e o apoio solidário à corajosa resistência ucraniana”, assim como “o papel da excecional comunidade ucraniana em Portugal”, sendo também referida a parceria no âmbito da política europeia de vizinhança da qual a Ucrânia é parte. A conversa foi igualmente twettada por Zelensky, que confirmou o envio de armas e equipamentos de proteção individual por Portugal à Ucrânia: “Falei com o presidente Marcelo Rebelo de Sousa. Agradeci-lhe pelo encerramento do espaço aérea aos aviões russos, pelo apoio à retirada da Rússia do SWIFT e pelo apoio concreto a nível da Defesa. Portugal forneceu armas, equipamentos de proteção individual, entre outros, à Ucrânia. Juntos somos mais fortes”.[208]
Outros países e organizações
Em resposta ao reconhecimento das duas repúblicas separatistas, os países ocidentais começaram a aplicar sanções contra a Rússia, enquanto a Venezuela, Nicarágua, Bielorrússia e a Síria apoiaram a decisão russa.[209][210][211] Em 22 de fevereiro, o primeiro-ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou sanções a cinco bancos russos e três associados bilionários de Putin.[212][213] O chanceler alemão Scholz anunciou a suspensão do processo de certificação do gasoduto Nord Stream 2.[214] Os ministros das Relações Exteriores da UE colocaram na lista negra todos os membros da Duma que votaram a favor do reconhecimento das regiões separatistas, proibiram os investidores da UE de negociar títulos estatais russos e direcionaram importações e exportações com entidades separatistas.[215] O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou sanções a três bancos russos e sanções abrangentes sobre a dívida soberana da Rússia.[216]
Em 24 de fevereiro, o primeiro-ministro australiano Scott Morrison anunciou proibições de viagens direcionadas e sanções financeiras contra oito membros do conselho de segurança nacional da Rússia.[217] O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, exortou a Rússia a acabar com a agressão na Ucrânia, enquanto os embaixadores da França e dos Estados Unidos anunciaram que apresentariam uma resolução ao Conselho de Segurança da ONU em 25 de fevereiro de 2022.[218][219] Apesar da visita diplomática de Jair Bolsonaro à Rússia em fevereiro de 2022,[220] o presidente não se posicionou a respeito do conflito, afirmando defender "a soberania e a integridade dos países e que seu governo está focado em contribuir para uma 'resolução pacífica do conflito' entre Rússia e Ucrânia."[221] O Reino Unido condenou o "ataque não provocado" e prometeu que a Grã-Bretanha e seus aliados responderiam decisivamente.[222] Chamando o ataque de "não provocado e injustificado", Biden observou que seu governo estaria considerando outras ações possíveis.[223]
O Conselho da Europa suspendeu os direitos de representação da Rússia na instituição.[224] Pela primeira vez desde a sua fundação, a OTAN ativou a força de resposta, permitindo aos seus membros recorreram mais rapidamente ao apoio da organização militar.[225] A OCDE cancelou definitivamente o processo de adesão da Rússia, suspenso desde 2014, e encerrou a representação em Moscovo.[226]
O Festival Eurovisão da Canção excluiu a Rússia da edição de 2022.[227]
Espaço aéreo
A 27 de fevereiro, pelo menos 11 países da União Europeia (EU) haviam fechado o seu espaço aéreo à aviação russa: Alemanha, Bulgária, Polónia, República Checa, Estónia, Letónia, Lituânia, Eslovénia, Finlândia, Dinamarca, Bélgica, Itália e França. Em resposta, a Rússia encerrou o espaço aéreo a todos os voos operados por transportadoras de países bálticos que pertencem à União Europeia.[228] Portugal anunciou igualmente o encerramento do seu espaço aéreo à Rússia.[229] Durante a tarde, o Alto Representante para a Política Externa e de Segurança da EU, Josep Borrell, anunciou o encerramento de todo o espaço aéreo europeu à aviação civil e militar russa, incluindo jatos privados.[202]
Esportes
No dia 25 de fevereiro de 2022, a Fórmula 1 anunciou o cancelamento do Grande Prêmio da Rússia, que seria realizado em Sochi em 25 de setembro.[230] Posteriormente, o CEO da F1, Stefano Domenicali iniciou a procura de outro país para substituir a Rússia no calendário de Grandes Prêmios da temporada 2022 da Fórmula 1.[231]
O Grand Slam de Judô Kazan 2022, que ocorreria em maio de 2022, foi cancelado.[232] O Comité Olímpico Internacional pediu que federações cancelem ou mudem sede de competições na Rússia e Bielorússia.[233][234][235] O comitê fez críticas ao Governo Russo e de Belarus por ter quebrado a trégua olímpica, que começou sete dias antes das Olimpíadas e termina sete dias depois das Paralimpíadas;[233][234] e ainda pediu para que as bandeiras da Rússia e da Bielorrússia não sejam exibidas ou os respectivos hinos tocados em nenhum evento esportivo que já não englobasse o veto da Agência Mundial Anti-Doping à bandeira russa por conta do esquema de doping do país.[233][234] A FIDE retirou a Olimpíada de xadrez de 2022 da Rússia e cancelou contratos de patrocínio com empresas da Rússia e Bielorússia, além de proibir a realização de eventos oficiais nos dois países e a exibição de suas bandeiras neles.[236][237]
Por conta da invasão da Ucrânia pela Rússia, a UEFA também alterou a sede da final da Liga dos Campeões da UEFA de 2021–22, movendo a partida do Estádio Krestovsky, em São Petersburgo, na Rússia; para o Stade de France, na região de Paris, França.[238] As seleções de futebol da Polônia, Suécia e da República Tcheca se recusaram a jogar em território russo os playoffs das eliminatórias europeias da Copa do Mundo FIFA de 2022.[234][239] Posteriormente, as federações de futebol dos três países declararam que se recusarão a jogar contra a seleção russa.[240][241] A FIFA condenou o uso da força pela Rússia na Ucrânia e qualquer tipo de violência para resolver conflitos, e declarou que continuará monitorando a situação, comunicando oportunamente as atualizações em relação às eliminatórias da Copa do Mundo.[242] Posteriormente, a FIFA decidiu não banir a Rússia de suas competições, determinando que a equipe terá de jogar sob a bandeira da União de Futebol da Rússia, sem utilizar seu hino e mandando seus jogos com portões fechados e em campo neutro, enquanto a Associação Polonesa de Futebol manteve sua posição de não enfrentar a equipe russa em qualquer hipótese, independentemente do nome a ser utilizado por ela.[243]
A 27 de fevereiro, Roman Yaremchuk, jogador ucraniano que joga no Benfica, e a Ucrânia, foram homenageados pelo clube e os adeptos que assistiam ao jogo com o Vitória de Guimarães, sendo recebido com uma enorme ovação e com muitas bandeiras e cartolinas com homenagens à Ucrânia, ao entrar em jogo como capitão da equipa, aos 61 minutos.[244]
Mercado financeiro
A Bolsa de Moscou suspendeu temporariamente todas as negociações em seus mercados em 24 de fevereiro às 8h05, horário de Moscou,[245][246] antes de retornar às 10h.[247][248] A Bolsa de São Petersburgo também suspendeu as negociações até novo aviso.[249] Como resultado da invasão, os preços do petróleo Brent subiram acima de cem dólares o barril pela primeira vez desde 2014[250] enquanto os mercados da Ásia caíram.[251][252] Da mesma forma, os mercados da Oceania despencaram, com a Australian Securities Exchange e a New Zealand Exchange (NZX)[nota 1] ambas fechando mais de 3%.[253][254]
Em 26 de fevereiro, a liderança da União Europeia e o governo dos Estados Unidos afirmaram que removeriam sete instituições bancárias russas do sistema financeiro global SWIFT, a mais forte retaliação financeira imposta contra a Rússia desde o começo do conflito.[255][256]
A 27 de fevereiro, a BP, um dos maiores investidores estrangeiros em solo russo, anunciou a sua saída da maior petrolífera russa, a Rosneft.[257]
Ver também
- Segunda Guerra Fria
- Conflitos pós-soviéticos
- Conflito Nagorno-Karabakh
- Guerra Russo-Georgiana
- Guerra Russo-Ucraniana
Notas e referências
Notas
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Referências
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