quarta-feira, 23 de fevereiro de 2022

SÃO POLICARPO - 23 DE FEVEREIRO DE 2022

 

Policarpo de Esmirna

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Disambig grey.svg Nota: Para outros significados, veja Policarpo (desambiguação).
São Policarpo de Esmirna
Vitral de São Policarpo na Église Saint-Pothin, em LyonFrança.
Bispo de EsmirnaMártirPadre Apostólico
Nascimento 
ca. 69
MorteEsmirna 
ca. 155 (86 anos)
Veneração porToda a Cristandade
Festa litúrgica23 de fevereiro (antigamente, 26 de janeiro)
AtribuiçõesVestindo um pálio, segurando um livro representando a Carta aos Filipenses
PadroeiroContra dor de ouvido e disenteria
Gloriole.svg Portal dos Santos

Policarpo de Esmirna (/pɒlikɑːrp/; grego: Πολύκαρπος, PolýkarposLatimPolycarpus; n. 69 - m. 155) foi um bispo da igreja de Esmirna do século II.[1] De acordo com a obra "Martírio de Policarpo", ele foi apunhalado quando estava amarrado numa estaca para ser queimado-vivo e as chamas milagrosamente não o tocavam.[2] Ele é considerado por isso um mártir e um santo por diversas denominações cristãs.

Policarpo havia sido discípulo do apóstolo João, fato atestado pelo Bispo Ireneu de Lyon,[3] que ouviu-o discursar quando jovem, e por Tertuliano.[4]

A tradição primitiva que foi expandida pelo "Martírio...", ligando Policarpo em contraste com o apóstolo João que, apesar de muitas tentativas de assassinato, não foi martirizado e teria morrido de velhice após ser exilado para a ilha de Patmos, se baseia nos chamados "Fragmentos de Harris", papiros fragmentários em copta datados entre os séculos III e VI.[5] Frederick Weidmann, o editor dos fragmentos, interpreta-os como sendo parte de uma hagiografia esmirniota num contexto de rivalidade entre as igrejas de Esmirna e Éfeso, que "desenvolve a associação de Policarpo a João num nível desconhecido - até onde sabemos - até a época ou depois.".[6] Os fragmentos contudo ecoam o "Martírio..." e também divergem dele.

Com o Papa Clemente de Roma e Bispo Inácio de Antioquia, Policarpo é considerado um dos três principais Padres Apostólicos. A única obra sobrevivente atribuída a ele é a Epístola de Policarpo aos Filipenses, relatada pela primeira vez por Ireneu.

Vida

Há duas fontes principais para informações sobre a vida de Policarpo: o "Martírio de Policarpo", uma carta aos esmirniotas recontando seu martírio, e as passagens na Adversus Haereses de Ireneu de Lyon. Outras fontes são as Epístolas de Inácio, entre elas uma para Policarpo e outra para os esmirniotas, e a própria epístola aos filipenses. A chamada "Vida de Policarpo", os trechos em TertulianoEusébio de Cesareia e em Jerônimo são consideradas não históricas (primeiro caso) ou baseadas em material prévio (demais). Em 1999, alguns fragmentos coptas dos séculos III a VI sobre Policarpo foram publicados sob o nome de "Fragmentos de Harris".[7]

Pápias

De acordo com Ireneu, Policarpo era companheiro de Papias de Hierápolis,[8] outro que "ouviu João", nas palavras de Ireneu ao interpretar o testemunho de Pápias, e um correspondente de Inácio de Antioquia. Este endereçou-lhe uma carta e o menciona em suas próprias correspondências com os efésios e com os magnésios.

Ireneu considerava a memória de Policarpo como sendo uma ligação direta com o passado apostólico. Ele relata quando e como ele se tornara cristão e, em sua epístola a Florinus, afirmou ter visto e ouvido Policarpo pessoalmente na Ásia Menor. Ele relata, principalmente, ter ouvido o relato da discussão de Policarpo com "João, o Presbítero" e com outros que haviam visto Jesus. Ireneu também reporta que Policarpo se convertera pelas mãos dos apóstolos e por eles foi consagrado bispo (segundo Jerônimo, por João[9]). Diversas vezes ele enfatiza a idade avançada de Policarpo.

Visita a Aniceto

De acordo com Ireneu, durante o papado de seu conterrâneo sírioAniceto, nas décadas de 150 ou 160, Policarpo visitou Roma para discutir as diferenças que existiam entre as práticas asiáticas e romanas "com relação a certas coisas" e especialmente sobre a data da Páscoa. Ireneu afirma que sobre "certas coisas" os dois bispos rapidamente chegaram num acordo, enquanto que sobre a Páscoa, cada um continuou aderindo às suas próprias tradições, sem contudo quebrar com a comunhão entre as igrejas. Policarpo seguia a prática oriental de celebrar a Páscoa no 14 de Nisan, o dia da Pessach judaica, sem se preocupar em qual dia da semana ele caía, enquanto que em Roma a Páscoa era celebrada sempre aos domingos (vide quartodecimanismo). Aniceto - as fontes romanas concedem este ponto como sendo uma honraria especial - permitiu que Policarpo celebrasse a Eucaristia em sua própria igreja.[1]

Ainda estando em Roma, Policarpo conheceu alguns hereges gnósticos valentianos (inclusive Valentim), e encontrou-se com Marcião, a quem Policarpo chamava de "primogênito de Satanás".[9]

Martírio

O "Martírio..." relata que Policarpo, no dia de sua morte, disse "Por oitenta e seis anos, eu O servi", o que poderia indicar que ele teria então esta idade[10] ou que ele teria vivido este tempo após ter se convertido.[2] Ele prossegue dizendo "Como então posso ter blasfemado contra meu Rei e Salvador? Prossigais com tua vontade." Policarpo foi então queimado vivo[9] na estaca por se recusar a acender incenso para o imperador romano.[11] A data da morte é disputada. Eusébio a coloca no reinado de Marco Aurélio (c. 166 - 167), porém, uma adição pós-Eusébio ao "Martírio" coloca a morte num sábado, 23 de fevereiro, durante o proconsulado de Statius Quadratus (ca. 155-156). Estas datas mais antigas casam melhor com a tradição de sua associação com Inácio de Antioquia e com o apóstolo João. Lightfoot defendia a data mais antiga enquanto que Killen discordava ferozmente.

Grande Sabbath

O "Martírio de Policarpo", que é uma carta aos esmirniotas, afirma que Policarpo foi preso "no dia do Sabbath" e morto no dia do "Grande Sabbath", alguns acreditam que isto seria uma evidência de que os fiéis de Esmirna sob Policarpo observavam a guarda do Sabbath de sete dias. Por outro lado, isto é vigorosamente desmentido por testemunhos anteriores, como Inácio de Antioquia, bispo e mártir anterior a Policarpo, o qual condenava com veemência a observação de quaisquer costumes judaizantes, tais como a observância de luas e sábados:

“Aqueles que viviam segundo a ordem antiga das coisas voltaram-se para a nova esperança, não mais observando o Sábado, mas sim o dia do Senhor, no qual a nossa vida foi abençoada, por Ele e por sua morte” (Carta aos Magnésios. 9,1).

William Cave escreveu "...o Sabbath ou 'Sábado' (pois a palavra 'sabbatum é constantemente utilizada nas obras dos padres da Igreja quando citam o Sabbath em sua forma cristã) era guardado por eles em grande estima e, especialmente no oriente, honrado com todas as solenidades religiosas públicas.".[12]. Como já explanado, tal interpretação não procede. De fato, outro testemunho fidedigno e antigo encontra-se na Epístola do Pseudo-Barnabé, (cerca de 74 d.C.) um dos documentos mais antigos da Igreja, anterior ao Apocalipse, o qual diz, sem titubeios:

“Guardamos o oitavo dia (o domingo) com alegria, o dia em que Jesus levantou-se dos mortos” (Barnabé 15:6-8).

Outros consideram que a expressão "Grande Sabbath" faz referência à Pessach ou a outro feriado anual Se for este o caso, então o martírio deve ter ocorrido entre um ou dois meses após pois a data de 23 de fevereiro, pois o 14 de Nisan (a data que Policarpo considerava como sendo a Páscoa) não pode ocorrer antes do final de março (por sua dependência do equinócio vernal). Outros feriados chamados de "Grande Sabbath" (se a frase de fato faz referência ao que normalmente se considera como sendo um feriado judaico, que eram observados por muitos dos primeiros cristãos) ocorrem na primavera, no final do verão ou no outono. Nunca no inverno (todas as estações se referem ao hemisfério norte).

Entretanto, tal interpretação encontra-se sujeita a fortes questionamentos, pois é sabido que os cristãos já tinham rompido com o Judaísmo desde, pelo menos, por volta de 90 d.C., com o Concílio de Jâmnia, no qual os judeus expulsaram os últimos seguidores de Cristo de origem judaica das sinagogas, tomando-os como hereges. Assim, é muito pouco provável que os cristãos observassem quaisquer costumes judaicos, à exceção daqueles na Ásia Menor, os quais somente guardaram a Páscoa como sendo em 14 de nisã, por consideração e costume oriundo do Apóstolo João. De qualquer forma, já no fim do século II d.C. e início do século III d.C., todos os cristãos observavam a data da Páscoa como sendo o domingo correspondente à primeira lua cheia da Primavera no Hemisfério Norte, não mais em 14 de nisã.

O "Grande Sabbath" pode ter sido aludido em João 7:37 ("No último, no grande dia da festa..."), que seria um feriado anual que se seguia imediatamente à Festa dos Tabernáculos. É duvidoso, porém, se esta referência bíblica alude a uma prática comum ou a um evento específico.

Obras

A única obra sobrevivente atribuída a Policarpo é a Epístola de Policarpo aos Filipenses enviada em 110,[9] um mosaico de referências às Escrituras em grego, preservada no relato de Ireneu sobre a vida do bispo de Esmirna. Ela, um trecho do "Martírio" que tem a forma de uma carta circular da Igreja de Esmirna para as demais igrejas da província do Ponto, é parte de uma coleção de escritos dos Padres Apostólicos. Juntamente com os Atos dos Apóstolos, que contém o relato do martírio de Santo Estevão, o "Martírio de Policarpo" é considerado como sendo uma dos mais antigos[1] relatos genuínos de martírios cristãos e um dos poucos relatos sobreviventes compostos na época das perseguições.

Importância

Policarpo ocupa um lugar importante na história do cristianismo primitivo.[7] Ele é contado entre os primeiros cristãos cuja alguma obra sobreviveu. É provável que ele tenha conhecido o apóstolo João, um dos doze apóstolos.[9] Ele era também o ancião de uma importante congregação que teve importante papel na consolidação da Igreja Cristã. Ele é também de uma época cuja ortodoxia é geralmente aceita pelas igrejas ortodoxascatólicas orientais, por grupos adventistasprotestantes (tradicionais, não reformados) e católicos. De acordo com David Trobisch, Policarpo pode ter sido um dos que compilaram, editaram e publicaram o que seria chamado de "Novo Testamento".[13] Todos estes fatos aumentam muito o interesse sobre sua obra.

Ireneu escreveu o seguinte sobre ele[14]"Um homem que era de estatura muito maior e uma testemunha mais firme da verdade do que ValentimMarcião e o resto dos heréticos [gnósticos]". Policarpo viveu no período seguinte à morte dos apóstolos, quando uma grande variedade de interpretações sobre o que Jesus havia dito e feito estava sendo pregada. Seu papel foi de autenticar o que seria considerado "ortodoxo" através de sua famosa relação com o apóstolo João: "um grande valor era atribuído ao testemunho que Policarpo poderia dar como sendo a genuína tradição da antiga doutrina apostólica", comentou Henry Wace,[2] "seu testemunho condenando como novidades ofensivas a ficção dos professores heréticos".

Ver também

Referências

  1. ↑ Ir para:a b c Este artigo incorpora texto (em inglês) da Encyclopædia Britannica (11.ª edição), publicação em domínio público.
  2. ↑ Ir para:a b c Wikisource-logo.svg Este artigo incorpora texto do verbete Polycarpus, bishop of Smyrna no "Dicionário de Biografias Cristãs e Literatura do final do século VI, com o relato das principais seitas e heresias" (em inglês) por Henry Wace (1911), uma publicação agora em domínio público.
  3.  Ireneu. «3». Adversus Haereses. A refutation of the heretics, from the fact that, in the various Churches, a perpetual succession of bishops was kept up. (em inglês). III. [S.l.: s.n.] - Policarpo não cita o Evangelho de João em sua epístola sobrevivente, o que pode ser uma indicação de qualquer que seja o João que ele conheceu, não era ele o autor deste evangelho ou de que o evangelho não estava ainda finalizado quando Policarpo era discípulo. Weidmann sugere (vide Weidmann, Frederick W. (1999). Polycarp and John: The Harris Fragments and Their Challenge to the Literary Tradition (em inglês). [S.l.]: University of Notre Dame Press. p. 132) que os "Fragmentos de Harris" podem refletir tradições muito antigas: "o material bruto para uma narrativa sobre João e Policarpo pode ter sido composto antes de Ireneu; a codificação do significado de uma linha sucessória direta do apóstolo João através de Policarpo pode, discutivelmente, ser ligado diretamente a Ireneu".
  4.  Tertuliano. «32.2». Prescrição contra heréticos. None of the Heretics Claim Succession from the Apostles. New Churches Still Apostolic, Because Their Faith is that Which the Apostles Taught and Handed Down. The Heretics Challenged to Show Any Apostolic Credentials. (em inglês). I. [S.l.: s.n.]
  5.  Datação de acordo com Weidmann, Frederick W. (1999). Polycarp and John: The Harris Fragments and Their Challenge to the Literary Tradition (em inglês). [S.l.]: University of Notre Dame Press.
  6.  Weidmann, Frederick W. (1999). Polycarp and John: The Harris Fragments and Their Challenge to the Literary Tradition (em inglês). [S.l.]: University of Notre Dame Press. p. 133
  7. ↑ Ir para:a b Hartog, Paul (2002). Polycarp and the New Testament. [S.l.: s.n.] p. 17. ISBN 978-3-16-147419-4
  8.  Ireneu. «33.4». Adversus Haereses. The blessing pronounced by Jacob had pointed out this already, as Papias and the elders have interpreted it (em inglês). V. [S.l.: s.n.]
  9. ↑ Ir para:a b c d e Wikisource-logo.svg "De Viris Illustribus - Polycarp the bishop", em inglês.
  10.  Staniforth, Maxwell (1987). Early Christian Writings (em inglês). London: Penguin Books. p. 115
  11.  «Polycarp» (em inglês). Polycarp.net. Consultado em 25 de novembro de 2012
  12.  Cave, William (1840). H. Cary, ed. Primitive Christianity: or the Religion of the Ancient Christians in the First Ages of the Gospel (em inglês). London: Oxford. pp. 84–85
  13.  David Trobisch (2007–2008). «Who Published the New Testament?» (PDF)Free Inquiry (em inglês). 1 (28): 30-33. Consultado em 25 de novembro de 2012
  14.  Ireneu. «3.4». Adversus Haereses. A refutation of the heretics, from the fact that, in the various Churches, a perpetual succession of bishops was kept up. (em inglês). III. [S.l.: s.n.]

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terça-feira, 22 de fevereiro de 2022

ROBERT BADEN-POWELL fundador do Escutismo nasceu em 1899 - 22 de FEVEREIRO DE 2022

 

Robert Baden-Powell

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Disambig grey.svg Nota: ""Baden Powell"" redireciona para este artigo. Para outros significados, veja Baden Powell (desambiguação).

Robert Stephenson Smyth Baden-Powell (Londres22 de Fevereiro de 1857 — Nieri8 de Janeiro de 1941) foi um tenente-general do Exército Britânico, fundador do escutismo.[3]


O Muito Honorável Barão de Giwell
Robert Baden-Powell
Nome completoRobert Stephenson Smyth Baden-Powell
Outros nomesB-P
Conhecido(a) porFundador e patrono do escotismo.
Nascimento22 de fevereiro de 1857
Londres Reino Unido
Morte8 de janeiro de 1941 (83 anos)
Nieri Quênia
NacionalidadeBritânico
ProgenitoresMãe: Henrietta Grace Smyth
Pai: Baden Powell
ParentescoAgnes Baden-Powell
CônjugeOlave Baden-Powell
Filho(a)(s)Olave Clair Soames
Betty St. Clair Baden-Powell
Heather Grace Baden-Powell
EducaçãoEscola Charterhouse
Ocupaçãomilitarescoteiroescritornobre
Serviço militar
PaísRoyal Navy
Anos de serviço1876–1910
PatenteMajor-General
ComandoInspetor Geral de Cavalaria (1903)
Quinta Guarnição de Dragoons (1897)
ConflitosGuerras Anglo-Ashanti
Segunda Guerra de Matabele
Cerco de Mafeking
Segunda Guerra dos Bôeres
Condecorações
Coat of Arms of Baron Baden-Powell.svg

Brasão do Barão Baden-Powell e Giwell

O seu pai era o reverendo Baden Powell, professor catedrático em Oxford. A sua mãe era filha do almirante inglês W. T. Smyth. Seu bisavô, Joseph Brewer Smyth, tinha ido como colonizador para Nova Jersey (Estados Unidos) mas voltou para o Reino Unido e naufragou na viagem de regresso.

Seu pai morreu quando Robert Baden-Powell tinha apenas 3 anos, deixando a sua mãe com sete filhos.

Ele também foi responsável por fundar o Movimento Bandeirante o qual é especifico para meninas juntamente com sua irmã Agnes Baden-Powell e sua esposa Olave Baden-Powell no ano de 1909.

Início da carreira militar

Aos 19 anos, Baden-Powell terminou os estudos na Escola Charterhouse.

Além de uma carreira excelente no serviço militar (chegou a capitão aos vinte e seis anos), ganhou o troféu desportivo mais desejado de toda a Índia, o troféu de "sangrar o porco", caça ao javali selvagem, a cavalo, tendo como única arma uma lança curta. Vocês compreenderão como este desporto é perigoso ao saber que o javali selvagem é habitualmente citado como "o único animal que se atreve a beber água no mesmo bebedouro com um tigre".

Em 1887, B-P participou da campanha contra os Zulus na África. Foi ascendido a Major em 1889, e em Abril de 1896 dirigiu uma expedicão contra os matabele em Rodésia.[1]

Dias depois de uma revolta de negros que massacraram 300 colonos britânicos, o coronel cercou o chefe dos guerreiros chamado Uwini com mais de 350 soldados.

Os ingleses prometeram poupar a vida aos guerreiros em troca da rendição. As autoridades civis pediram que ele fosse entregue para ser preso, porém Baden, recusou e mandou-o executar com o argumento de que ameaçava os britânicos. Em 2009, Robin Clay, neto de Baden-Powell, desculpou-o no Times: "Todos cometemos erros. Na guerra as emoções estão ao rubro. Faz-se o que se pensa estar certo".[2]

Esta era um época formativa para B-P não só porque ele tinha a época da vida dirigindo missões como chefe do reconhecimento no território inimigo na Rodésia, mas também porque muitas das suas ideias mais recentes do escotismo se enraizaram aqui.[3] Foi nesta guerra que ele começou uma amizade com o celebre escoteiro americano Frederick Russell Burnham, que o introduziu ao ponto de ebulição a maneira do Oeste americano e do woodcraft (escotismo), e aqui que ele usou seu chapéu Stetson pela primeira vez.[4] Mais tarde B-P participou na campanha contra a tribo dos Ashantís. Os nativos temiam-no tanto que lhe davam o nome de "Impisa", o "lobo-que-nunca-dorme", devido à sua coragem, à sua perícia como explorador e à sua impressionante habilidade em seguir pistas.

As promoções de B-P na carreira militar eram quase automáticas tal a regularidade com que ocorriam até que, subitamente se tornou famoso.

"Baden-Powell é um scout maravilhosamente capaz e rápido em esboços. Não conheço outro que poderia ter feito o trabalho em Mafeking se as mesmas circunstâncias fossem impostas. Todos os bocados do conhecimento que recolheu estudiosamente foram utilizadas na protecção da comunidade".
Extrato O sitio de Mafeking abandonado pelos BoeresFrederick Russell Burnham entrevistado por o jornal Times of London, 19 Maio 1900).

Corria o ano de 1899 e Baden-Powell tinha sido promovido a Coronel. Na África do Sul começava uma agitação e as relações entre a Inglaterra e o governo da República de Transval tinham chegado ao ponto do rompimento. B-P recebeu ordens de organizar dois batalhões de carabineiros montados e marchar para Mafeking,[4] uma cidade no coração da África do Sul. "Quem tem Mafeking tem as rédeas da África do Sul", era um dito corrente entre os nativos, que se verificou ser verdadeiro.

Veio a guerra dos Boers, e durante 217 dias (a partir de 13 de Outubro de 1899) B-P defendeu Mafeking cercada por forças esmagadoramente superiores do inimigo, até que tropas de socorro conseguiram finalmente abrir caminho lutando para auxiliá-lo, no dia 18 de maio de 1900.

B-P, promovido agora ao posto de major-general, tornou-se um herói aos olhos de seus compatriotas. Foi como um herói dos adultos e das crianças que em 1901 ele regressou da África do Sul para a Inglaterra e descobriu, surpreso, que a sua popularidade pessoal dera popularidade ao livro que escrevera para militares: Aids to Scouting (Ajudas à Exploração Militar). O livro estava sendo usado como um compêndio nas escolas masculinas. B-P viu nisto um desafio. Compreendeu que estava aí a oportunidade de ajudar a juventude.

Escotismo

Burnham, Chefe dos Escoteiros, desenhado por Baden-Powell, Matabeleland, 1896.

Em 1887, Baden-Powell participou da campanha contra os Zulus na África. Logo após foi promovido a Major em 1889, e em Abril de 1896 dirigiu uma expedição contra os Matabele em Rodésia. Esta era uma época formativa para Baden-Powell, pois muitas das idéias fundamentais do escotismo têm sua origem aqui. Nesta guerra Baden-Powell iniciou uma amizade com o escoteiro americano Frederick Russell Burnham, conhecido pelos serviços prestados no exército colonial britânico, que mostrou a ele a maneira do Oeste americana do woodcraft (escotismo), e foi aqui que ele usou seu chapéu Stetson como Burnham (chapéu comumente usado pro Baden-Powell) pela primeira vez.[5] a Baden-Powell, sendo esta uma das influências mais notáveis do fundador do escotismo. A amizade entre os dois resultou anos depois na formulação didática do escotismo.[6]

Pôs-se então a trabalhar, aproveitando e adaptando sua experiência na Índia e na África entre os Zulus e outras tribos do sul da África. Reuniu uma biblioteca especial e estudou nestes livros os métodos usados em todas as épocas para a educação e o adestramento dos rapazes, desde jovens espartanos, os antigos bretões, os peles-vermelhas, até os nossos dias. Lenta e cuidadosamente, B-P foi desenvolvendo a ideia do escotismo. Queria estar certo de que a ideia podia ser posta em prática, e por isso, no verão de 1907 foi com um grupo de 20 rapazes separados por 4 patrulhas (Maçarico, Corvo, Lobo, Touro) para a Ilha de Brownsea, no Canal da Mancha, para realizar o primeiro acampamento escoteiro que o mundo presenciou. O acampamento teve um completo êxito.

Nos primeiros meses de 1908, lançou em seis fascículos quinzenais o seu manual de adestramento, o "Escutismo para Rapazes" sem sequer sonhar que este livro iria por em acção um movimento que afectaria a juventude do mundo inteiro.

Mal tinha começado a aparecer nas livrarias e nas bancas de jornais e já surgiram patrulhas e escotistas não apenas na Inglaterra, mas em muitos outros países. O movimento cresceu tanto que em 1910,B-P compreendeu que o Escotismo seria a obra a que dedicaria a sua vida. Teve a visão e a fé de reconhecer que podia fazer -mais pelo seu país adestrando a nova geração para a boa cidadania do que preparando meia-dúzia de homens para uma possível futura guerra.

Robert Baden-Powell e o Comandante da tropa em Mafeking.

Pediu então demissão do Exército onde havia chegado a tenente-general e ingressou na sua "segunda vida", como costumava chamá-la, sua vida de serviço ao mundo por meio do Escotismo.

Em 1912, fez uma viagem à volta do mundo para contactar os escoteiros de muitos outros países. Foi este o primeiro passo para fazer do Escotismo uma fraternidade mundial.

Primeira Guerra Mundial momentaneamente interrompeu este trabalho, a 27 de Junho de 1919 foi feito Comendador da Ordem Militar de Cristo,[7] mas com o fim das hostilidades foi recomeçado, e em 1920 escoteiros de todas as partes do mundo reuniram-se em Londres para a primeira concentração internacional de escoteiros: o Primeiro Jamboree Mundial. Na última noite deste Jamboree, a 6 de Agosto, Baden Powell foi proclamado "Escoteiro-Chefe-Mundial" sob os aplausos da multidão de rapazes.

Movimento Escoteiro continuou a crescer. No dia em que atingiu a "maioridade" completando 21 anos contava com mais de 2 milhões de membros em praticamente todos os países do mundo. Nesta ocasião, Baden Powell recebeu do rei Jorge V a honra de ser elevado a barão, recebendo o estilo de Lorde Baden-Powell of Gilwell.

Quando suas forças afinal começaram a declinar, depois de completar oitenta anos de idade, regressou à sua amada África com a sua esposa, Olave Baden-Powell, que fora uma entusiástica colaboradora em todos os seus esforços, e que era a Chefe-Mundial das Bandeirantes, movimento também iniciado por Baden-Powell.

Olave St. Clair Soames nasceu no dia 22 de fevereiro de 1899 na Inglaterra. Seus pais, Harold Soames e Katharine Hill, tinham já um casal de filhos. Olave gostava muito de animais, de caminhar ao ar livre, de musica e esportes. Mas foi a bordo de um navio pelo atlântico que a vida da jovem Olave Soames mudou radicalmente e entrou para a História bandeirante. Em janeiro de 1912, Olave e seu pai embarcaram no navio “Arcadian”, para um cruzeiro turístico, no qual também estava a bordo, o famoso herói de guerra e fundador do Escotismo chamado Robert Baden-Powell. Ali conheceu Baden e também a Chefa americana Juliette Low, velha amiga dele, que fundara a Associação de Girl Scouts nos Estados Unidos da America. O namoro entre os dois iniciou-se naquele cruzeiro de 20 dias e no qual eles puderam se conhecer, descobrir muitas coisas em comum, inclusive que, seus aniversario caiam no mesmo dia, 22 de fevereiro. Na época Powell tinha 55 anos e Olave, 23 anos. Em outubro daquele mesmo ano, Powell e Olave casam em uma cerimônia simples na igreja de São Pedro, em Londres. Desde então Olave passou a ser reconhecida pelo nome de Olave Baden-Powell.

Últimos dias

Estátua de Robert Baden-Powell na cidade do Rio de Janeiro.

Fixaram residência no Quênia, num lugar tranquilo e com um panorama maravilhoso: florestas de quilômetros de extensão tendo ao fundo montanhas de picos cobertos de neve. Onde morreu Baden-Powell, em 8 de Janeiro de 1941, faltando um pouco mais de um mês para completar 84 anos de idade. Encontra-se sepultado na Saint Peter's ChurchyardNyeri, no Quénia.[8]

Carta aos guias de patrulha (monitores)

"Quero que vocês, guias de patrulha, entrem em ação e adestrem as vossas Patrulhas inteiramente sozinhos e ao vosso jeito porque, para vocês, é perfeitamente possível pegar em cada rapaz da Patrulha e fazer dele um bom camarada, um verdadeiro Homem. De nada vale ter um ou dois rapazes admiráveis e o resto não prestar para nada. Vocês devem fazer deles inteiramente bons.
Para conseguir isso, a coisa mais importante é o próprio exemplo, porque, o que vocês fizerem, os vossos Escoteiros farão. Mostrem a todos eles que vocês sabem obedecer às ordens dadas, sejam elas ordens verbais, ou sejam regras que estejam escritas ou impressas; e que vocês cumprem as ordens, esteja ou não o Chefe escoteiro presente. Mostrem que conseguem conquistar distintivos de Especialidades e, com um pouco de persuasão, os vossos rapazes seguirão o vosso exemplo. Mas, lembrem-se que vocês devem guiá-los, e não empurrá-los."

Carta de despedida

"Escoteiros: Se vocês tiverem visto a peça "Peter Pan", deverão estar lembrados de que o chefe-pirata estava sempre fazendo o seu "discurso de moribundo", porque receava que, possivelmente, quando chegasse a hora de ele morrer, não tivesse mais tempo para dizer tais coisas.
Acontece quase a mesma coisa comigo e, assim, e embora neste momento eu não esteja morrendo - qualquer dia destes eu morrerei - , quero enviar a vocês uma palavra de despedida. Lembrem-se de que será a última vez que vocês ouvirão minhas palavras. Portanto, pensem bem nelas. Eu tenho tido uma vida muito feliz e quero que cada um de vocês também tenha uma vida feliz. Acredito que Deus nos colocou neste mundo alegre para que sejamos felizes e para aproveitarmos a vida. A felicidade não provém do fato de ser rico, nem meramente de ter sido bem sucedido na carreira; e, tampouco, de sermos indulgentes para com nós mesmos. Um passo na direção da felicidade é o de tornar-se saudável e forte enquanto se ainda é jovem, de sorte que possa vir a ser útil e aproveitar a vida quando for homem.
O estudo da natureza mostrará a vocês quão repleto de coisas belas e maravilhosas Deus fez o mundo para vocês aproveitarem. Alegrem-se com o que receberam e façam bom proveito disso. Olhem para o lado bom das coisas, ao invés do lado ruim delas. Contudo, a melhor maneira de obter felicidade é proporcionar felicidade a outras pessoas. Tentem deixar este mundo um pouco melhor do que o encontraram e, quando chegar a vez de morrerem, possam morrer felizes com o sentimento de que, pelo menos, não desperdiçaram o tempo, mas fizeram o melhor que puderam. Estejam preparados, desta maneira, para viverem e morrerem felizes, sempre fiéis à Promessa Escotista, até mesmo depois que deixarem de ser jovens - e que Deus os ajude a cumpri-la. Vosso amigo, Baden-Powell."

Livros

  • Aids to Scouting
  • Escotismo para rapazes (1908)
  • Rovering to success (A Caminho do Triunfo em Portugal e tem o nome de "Caminhos para o Sucesso" no Brasil)
  • Educação pelo amor em substituição à educação pelo medo
  • A Escola da vida (Autobiografia de Baden-Powell)

Notas

Referências

  1.  S.T. Ferrán, Baden Powell: Héroe del Imperio Inglés consultado el 1 de marzo de 2007.
  2.  [1]
  3.  Proctor, Tammy M. (julho de 2000). «A Separate Path: Scouting and Guiding in Interwar South Africa». Compartive Studies in Society and History42 (3). ISSN 3548-1356 Verifique |issn= (ajuda)
  4.  Jeal, Tim (1990). The boy-man : the life of Lord Baden-Powell. New York: Morrow. ISBN 0688048994
  5.  Robert Baden-Powell (1908). Scouting for Boys: A Handbook for Instruction in Good Citizenship. London: H. Cox. pp. xxiv. ISBN 0-486457-19-2
  6.  Fagundes, Ernani, Mestres em sobrevivencia: treinados para sobreviver em pleno territorio inimigo, os scouts eram peritos em rastrear indios e sair de 'roubadas' em diversas situacoes., Aventuras na História (2010): 76+. 9 Mar. 2011
  7.  [2]
  8.  Robert Baden-Powell (em inglês) no Find a Grave

Ver também

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