quinta-feira, 13 de janeiro de 2022

SANTO HILÁRIO DE POITIERS - 13 DE JANEIRO DE 2022

 

Hilário de Poitiers

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Disambig grey.svg Nota: Para outros santos de mesmo nome, veja Santo Hilário.
Hilário de Poitiers
A ordenação de Santo Hilário.
De um manuscrito do século XIV d.C., o Martelo dos Arianos
Bispo de Poitiers"Atanásio do Ocidente",
Confessor e Doutor da Igreja (Malleus Arianorum)
NascimentoPictávioGália (atual PoitiersFrança
c. 300[1]
MortePictávioGália 
c. 368 (68 anos)[1]
Veneração porIgreja CatólicaIgreja OrtodoxaComunhão AnglicanaIgreja LuteranaIgrejas Orientais
Festa litúrgica13 de janeiro
14 de janeiro em alguns calendários e no Calendário Romano Geral atual
Gloriole.svg Portal dos Santos

Hilário de Poitiers (em latimHilarius Pictaviensis) foi um bispo na cidade romana de Pictávio, atual Poitiers, na Gália, e é um dos Doutores da Igreja. Muitas vezes chamado de "Martelo dos Arianos" (em latimMalleus Arianorum) e o "Atanásio do ocidente", seu nome vem da palavra grega para "feliz" ou "alegre"[2].

Sua festa litúrgica no Calendário católico romano de santos é comemorada em 13 de janeiro. No passado, como esta data era ocupada pela oitava da Epifania, a festa foi movida para 14 de janeiro[3] e ainda é celebrada nesta data por tradicionalistas católicos.

Primeiros anos

Hilário nasceu em Pictávio próximo ao final do século III numa família de pagãos de certa distinção. Recebeu uma boa educação, incluindo o que estava se tornando a cada dia mais raro no ocidente: noções de grego. Estudou posteriormente obras sobre o Antigo e o Novo Testamento, o que acabou resultando em sua conversão do neoplatonismo para o cristianismo, assim como as de sua esposa e filha (esta tradicionalmente conhecida como Santa Abra), e foi batizado por volta de 345, em momento de “intenso desejo, não só de compreender-lo, mas também de conhecê-lo”[2][4].

...Com aqueles livros escritos por Moisés e os Profetas, que transmitiam a religião dos hebreus. Nestes o próprio Deus criador, dando testemunho de si mesmo, assim se expressava: Eu sou o que sou. [...] Isto dirás aos filhos de Israel, envio-me a vós aquele que é. (Êxodo 3:14). Fiquei cheio de admiração por tão perfeita definição de Deus que, de modo apto, dá à inteligência humana o conhecimento da natureza divina.
 
— Tratado sobre a Santíssima Trindade, I 5, Hilário de Poitiers[5].

Tão grande era o respeito que lhe tinham os habitantes de Pictávio que, por volta de 353, ainda um homem casado, Hilário foi aclamado bispo da cidade (o conceito de celibato clerical estava apenas começando a emergir no ocidente). Naquela época, o arianismo ameaçava solapar a Igreja ocidental e refutá-lo foi a grande tarefa de Hilário. Um dos seus primeiros passos como bispo foi assegurar a excomunhão, por todos os que ainda eram ortodoxos na hierarquia galesa, de Saturnino, o bispo ariano de Arelate (atual Arles, na Provença), assim como de Ursácio de Singiduno e Valente de Mursa, dois de seus proeminentes aliados[2].

Na mesma época, ele escreveu ao imperador Constâncio II (r. 337–361) um protesto contra as perseguições que os arianos vinham fomentando para esmagar seus oponentes ("Ad Constantium Augustum liber primus", cuja data mais provável é 355). Seus esforços não tiveram sucesso no começo, pois num sínodo na cidade de Beterras (atual Béziers, no Languedoque), convocada em 356 pelo imperador Constâncio com o objetivo explícito de resolver as disputas em aberto, Hilário foi, por decreto imperial, banido, juntamente com Ródano de Tolosa, para a Frígia, onde ele passou quase quatro anos no exílio[2].

Obra teológica

Lucubrationes, 1523

Dali, ele continuou a governar a sua diocese, enquanto encontrava tempo para preparar as suas duas mais importantes contribuições para a teologia dogmática e polêmica: o "De synodis" ou "De fide Orientalium" ("Sobre os Concílios, ou a Fé dos orientais"), uma epístola endereçada em 358 aos bispos semi-arianos na Gália, na Germânia e na Britânia, analisando os pontos de vista dos bispos orientais durante a controvérsia ariana. Ao revisar as profissões de fé dos bispos orientais nos concílios de Concílio de AnciraAntioquia e Sírmio, buscou demonstrar que, por vezes, as diferenças entre algumas doutrinas e as crenças ortodoxas estavam mais nas palavras que nas ideias, o que levou Hilário a aconselhar os bispos ocidentais a serem mais reservados em suas condenações[6]. Ele compôs ainda De trinitate libri XII ("Tratado sobre a Santíssima Trindade"), composta entre 359 e 360, na qual, pela primeira vez, uma tentativa teve sucesso em expressar, em latim, as sutilezas teológicas até então elaboradas apenas nos textos em grego. A primeira não teve uma boa recepção entre os seus partidários, que achavam que ele havia sido leniente com os arianos, ao que ele respondeu em sua "Apologetica ad reprehensores libri de synodis responsa" ("Apologia às repreensões a 'Sobre os Concílios'")[2].

Seus repetidos e urgentes pedidos para uma discussão em público com seus oponentes, especialmente com Ursácio e Valente, se mostraram enfim tão inconvenientes que Hilário acabou mandado de volta à sua diocese, onde provavelmente chegou por volta de 361, muito próximo da data de ascensão do imperador Juliano, o Apóstata[2].

Tratado sobre a Santíssima Trindade

Escrito em latim, o "De Trinitate" ("Tratado sobre a Santíssima Trindade") está subdividido em doze livros organizados em capítulos curtos. Compostos provavelmente durante o seu exílio, foi escrita por causa de sua aversão à política pró-ariana demonstrada pelo Imperador Constâncio II no sínodo de Béziers em 356. Por isso, não se trata somente de um texto teológico, mas de uma crítica à formulação da Trindade professada pelo presbítero Ário e seus aliados, e contra a própria político-religiosa desenvolvida pelo imperador Constâncio II.

Não sabemos o título que o próprio Hilário conferiu a este livro. Segundo o bispo jesuíta Luiz Francisco Ladaria[7], estudioso dos escritos do bispo Hilário, o nome "De Trinitate" é encontrada em Venâncio Fortunato ("Vita Hilarii". I, 14) e Cassiodoro ("Institutiones" I, 16). "Adversus Arianos" é o título que nos transmite Jerônimo ("De Viris Illustribus", cap. 100[8]).

Em estilo de diálogo, "De Trinitate" não é apenas a reprodução escrita de uma hipotética discussão oral entre o bispo Hilário e Ário, e deve ser analisada do ponto de vista literário.

Combate ao arianismo

Ver artigo principal: Controvérsia ariana

Teologia de Hilário

Durante a antiguidade tardia os conceitos do que era ortodoxia e heresia estavam vinculados aos processos de estigmatização imposto pelos grupos de maior poder naquele momento, nicenos e arianos moderados. Logo a vitória de um sobre o outro se relacionava muito mais a uma determinada distribuição de poder no seio da comunidade cristã do que a uma suposta superioridade ontológica do seu argumento ou a uma fidelidade diante da revelação divina[9]. Claudio Moreschini e Enrico Norelli[10] afirmam que o bispo Hilário defendia que a fórmula consubstancial (homoousios) ratificada no Primeiro Concílio de Niceia em 325 e a teoria da “semelhante segundo a natureza” (homoiosios) sancionada no Concílio de Rimini em 359 se corretamente entendidas, não entravam em conflito.

Hilário utilizava como metodologia de análise dos textos bíblicos o método alegórico, defendendo que os escritos religiosos tinham um sentido literal e um outro espiritual[11]. Para Christopher A Hall [12] a análise alegórica provinha do polo exegético de Alexandria (veja Escola de Alexandria), tendo como principal característica de sua metodologia a subordinação da história a um significado mais alto; o referencial histórico ficava em segundo lugar para o ensino espiritual pretendido pelo autor. Em "De Trinitate", Hilário enfatiza um debate discursivo entre as fundamentações bíblicas de sua teoria e a dos arianos[13]. Hall[12] assinala que os arianos contrapunham o método alegórico empregando em sua exegese o método tipológico provindo do polo intelectual de Antioquia (veja Escola de Antioquia), que tinha como característica uma criteriosa análise da linguagem bíblica, compreendendo a história humana, a partir dos escritos bíblicos de forma mais literal.

Expulsão de Milão

Ele se ocupou por dois ou três anos no combate ao arianismo em sua diocese. Porém, em 364, estendendo seus esforços uma vez mais para fora da Gália, ele impediu a nomeação de Auxênciobispo de Mediolano (atual Milão), um homem com conexões no topo da corte imperial, por ser "heterodoxo". Chamado a comparecer perante o imperador Valentiniano I em Mediolano e lá reconfirmar suas acusações, Hilário ficou mortificado ao ver que o suposto herético dar todas as respostas corretas às questões que fez. Sua denúncia de Auxêncio como sendo um hipócrita não o salvou da ignomínia de uma expulsão da corte[2].

Crítica à Constâncio

Após o Concílio de Constantinopla em 360, por volta de 365, Hilário publicou "Contra Arianos vel Auxentium Mediolanensem liber" em conexão com a controvérsia e também - talvez um pouco antes - "Contra Constantium Augustum liber", em que ele afirmava que o imperador recém-falecido teria sido o anticristo, um rebelde contra Deus, "um tirano cujo único objetivo tem sido dar de presente ao demônio o mundo pelo qual Cristo sofreu"[2]. Neste controverso panfleto dirigido ao imperador Constâncio II, ele é acusado de ser o mais cruel e perseguidor entre os imperadores. Hilário polemizava as ações do Imperador nos seguintes termos:

Eu grito em tua face, Constâncio, o que teria declarado a Nero, o que Décio e Maximiano teriam ouvido de minha boca: tu combates contra Deus, tu te desembestas contra a Igreja, tu persegues os santos os pregadores do Cristo, tu esmagas a religião, tirano não mais em matéria profana, mais em matéria religiosa. (...) tu te passa falsamente por cristão, tu que és o novo inimigo de Cristo; precursor do Anticristo. (...) tu inventas fórmulas de fé (...) tu substituis os bons bispos pelos maus. (...) tu superas o diabo e persegues sem martirizar
 
— Contra Constantium Augustum liber, Hilário de Poitiers[14].

Morte

Os anos finais de sua vida se passaram em comparativa paz, devotados em parte à preparação de suas exposições sobre os Salmos ("Tractatus super Psalmos"), pelo qual ele deve muito à Orígenes; de seu "Commentarius in Evangelium Matthaei", uma exegese alegórica do primeiro Evangelho; e da hoje perdida tradução que fez dos comentários de Orígenes sobre o Livro de Jó[8].

No final de seu episcopado e com seu encorajamento, Martinho, o futuro bispo de Tours, fundou um mosteiro em Ligugé, em sua diocese[2].

Ele morreu em 368, embora nenhuma data exata seja confiável[2].

Reputação e veneração

Santo Hilário é considerado o maior entre os escritores latinos antes de Santo Ambrósio. Já tendo sido chamado por Santo Agostinho de ,,"o mais ilustre doutor das igrejas", exerceu uma crescente influência em séculos seguintes. Por obra do Papa Pio IX, foi formalmente reconhecido como universae ecclesiae doctor (ou seja, Doutor da Igreja) no sínodo de Bordeaux em 1851[2].

Estudo

Pesquisas recentes fizeram uma distinção entre o pensamento de Hilário antes do seu exílio na Frígia sob Constâncio e a qualidade de suas grandes obras posteriores.

Por Agostinho ter citado partes do comentário sobre a Epístola aos Romanos como tendo sido de autoria de "Sanctus Hilarius", a obra já foi atribuída por diferentes críticos, em diferentes épocas, à quase todos os Hilários conhecidos[2]. Uma Vita de Hilário foi escrita por Venâncio Fortunato em ca. 550, mas não é considerada confiável, ao contrário das menções em Jerônimo (De Vir, 100), Sulpício Severo (Chron. ii. 39-45) e as próprias obras de Hilário[2].

Ainda que ele tenha seguido de perto dois grandes alexandrinosOrígenes e Atanásio, respectivamente na exegese e na cristologia, sua obra mostra muitos traços de um pensamento vigoroso e independente[2].

Culto

O culto de Santo Hilário se desenvolveu em associação com o de São Martinho de Tours como resultado da obra de Sulpício SeveroVita Sancti Martini, que se espalhou rapidamente pela parte ocidental da Britânia. As vilas de St Hilary, na CornualhaGlamorgan e a de Llanilar, em Ceredigion, tem o nome do santo[2].

Na França, a maior parte das dedicações à Santo Hilário são encontradas no oeste (e norte) do Maciço central, de onde o culto eventualmente se espalhou também para o Canadá. No noroeste da Itália, a igreja de Sant’Ilario em Casale Monferrato foi dedicada já em 380 d.C.

Referências

  1. ↑ Ir para:a b Michael Walsh, ed. (1991). Butler's Lives of the Saints. (em inglês). Nova Iorque: HarperCollins Publishers. 12 páginas
  2. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j k l m n o Wikisource-logo.svg Vários autores (1911). «Hilarius, St (Poitiers)». In: Chisholm, Hugh. Encyclopædia Britannica. A Dictionary of Arts, Sciences, Literature, and General information (em inglês) 11.ª ed. Encyclopædia Britannica, Inc. (atualmente em domínio público)
  3.  "Calendarium Romanum" (Libreria Editrice Vaticana 1969), p. 85
  4.  «4». Tratado sobre a Santíssima Trindade (em inglês). I. [S.l.: s.n.] |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  5.  «5». Tratado sobre a Santíssima Trindade (em inglês). I. [S.l.: s.n.] |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  6.  Clugnet, Léon. "St. Hilary of Poitiers." The Catholic Encyclopedia. Vol. 7. New York: Robert Appleton Company, 1910. 14 Aug. 2014
  7.  apud. 1986, p. 10
  8. ↑ Ir para:a b Wikisource-logo.svg "De Viris Illustribus - Hilary the bishop", em inglês.
  9.  SILVA 2001, p. 100
  10.  MORESCHINI 2000, p. 327
  11.  Ladaria 2006, p. 37
  12. ↑ Ir para:a b Hall 2000, p. 149
  13.  «27». Tratado sobre a Santíssima Trindade (em inglês). I. [S.l.: s.n.] |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  14.  Silva 2003, p. 230

Bibliografia

  • Hilario de Poitiers (1986). L.F. Ladario, ed. La Trinidad. Ed. Bilíngue (em espanhol). Madrid: BAC 481
  • Hilário de Poitiers (2005). Cristina Perna de Andrade, ed. Tratado sobre a Santíssima Trindade. Tradução. São Paulo: Paulo
  • DI BERARDINO, Ângelo (org). Dicionário Patrística e de Antiguidades Cristãs. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes/ Paullus, 2002.
  • LADARIO, Luis F. (2006). Dicionário de Santo Hilário de Poitiers (monografia). Monte Carmeli: Burgos line feed character character in |ref= at position 470 (ajuda)

Ligações externas

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quarta-feira, 12 de janeiro de 2022

FREDERICO DE FREITAS - COMPOSITOR - MORREU EM 1980 - 12 DE JANEIRO DE 2022

 

Frederico de Freitas

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Frederico de Freitas
Nascimento15 de novembro de 1902
Lisboa
Morte12 de janeiro de 1980 (77 anos)
Lisboa
CidadaniaPortugal
Ocupaçãomaestro, compositor, musicólogo,
Prêmios
  • Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada

Frederico Guedes de Freitas (Lisboa15 de novembro de 1902 — Lisboa, 12 de janeiro de 1980) foi um compositor, chefe de orquestra, musicólogo e pedagogo português.

Biografia

Iniciou os primeiros estudos musicais com sua mãe Elvira Cândida de Freitas, distinta pianista, discípula de Francisco Baía e de Francisco de Lacerda.

Aos 13 anos de idade entrou para o Conservatório Nacional de Lisboa, instituição onde estudou piano com Carlos Reis, violino com Alexandre de Bettencourt, ciências musicais com Luís de Freitas Branco, harmonia com José Henrique dos Santos e contraponto, fuga e alta composição com António Eduardo da Costa Ferreira. Três anos depois, em 1918, surgiram as suas primeiras obras Duas Ave Marias em homenagem a Nossa Senhora.

Paralelamente ao estudo da composição, Frederico de Freitas desenvolveu também o gosto pela direção de orquestra, o que o levou a estudar com os maestros Vittorio Gui e Willem Mengelberg.

Depois de concluir com distinção no Conservatório Nacional de Lisboa os Cursos Superiores de Composição Musical, Piano, Violino, Contraponto e Fuga, e Ciências Musicais, iniciou em Lisboa uma carreira como compositor e chefe de orquestra que incluiu praticamente todos os géneros musicais, da música religiosa e da ópera, ao teatro ligeiro, à música para filmes, à música de câmara concertante e à canção para canto e piano.[1] É autor da partitura para o filme A Severa, de Leitão de Barros, um dos mais populares de sempre do cinema português.

Foi um compositor prolífico e eclético, tendo-se inspirado nas mais variadas vertentes da música. Foi também um inovador na Composição Musical, introduzindo em Portugal os métodos da Bitonalidade, Politonalidade, Atonalidade e Arritmia, ganhando a admiração de músicos como Maurice Ravel ou Igor Stravinsky, que adotaram também os mesmos métodos, muito depois de Frederico de Freitas. No domínio da composição musical, Frederico de Freitas deixou uma vasta obra que abarca praticamente todos os géneros musicais, incluindo a música para revistas, vaudevilles e operetas e partituras para cinema.

O seu 1º tema musical ligeiro foi "Tricanas de Aveiro", composto para a voz de Luísa Satanela, seguindo-se "As Lavadeiras de Caneças", para a revista "Água Pé", e criada por Ema d'Oliveira. Um dos seus mais populares êxitos é "A Esperteza Saloia", criada por Hortense Luz na revista "Feira da Luz" de 1931, e gravada pela "Foz Melody Band", dirigida por Lopes da Costa, futuro violinista na Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional. Outro gigantesco êxito foi o tema "Meninas Vamos ao Vira", chamado pelo próprio como "Vira do Minho", gravado pela 1ª vez em disco por Lina Demoel, em 1936, e que muitos julgam como sendo do Folclore do Minho.

Foi o primeiro músico clássico português a dar o seu contributo à história radiofónica portuguesa, responsabilizando-se pelo 1º concerto radiofónico português, realizado em 1930 pela CT1-BO Rádio Hertziana, com a sua "Orchestra Lisboa", que executou a 5ª Sinfonia de Beethoven, as Danças Guerreiras de Borodin, a Rapsódia Eslava de David de Souza, a "Declaração" de António Melo, a sua Java, a valsa "Saúr" de sua autoria conjunta com António Melo, e a Marcha dos Granadeiros.

Foi autor de estudos de musicologia, professor de música, diretor de orquestra, sócio fundador n.º 11, em 1925, da cooperativa anónima de responsabilidade limitada SECTP, a Sociedade de Escritores e Compositores Teatrais Portugueses, a qual só em 1970, com a revisão dos estatutos, passou a chamar-se SPA, a atual Sociedade Portuguesa de Autores, dado abranger todas as áreas da criação intelectual. Na data do seu falecimento, era Presidente de Honra da SPA, a qual, em 1981, atribuiu ao seu auditório, inaugurado em 1975, o nome de Auditório Maestro Frederico de Freitas.

Como director de orquestra, destacou-se como Titular da Orquestra de Câmara da Emissora Nacional, Subdiretor da Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional desde 1934, e titular da Orquestra Sinfónica do Conservatório do Porto. E tornou-se conhecido mundialmente pelas suas interpretações competentes de Beethoven, Bruckner, Mahler, Shostakovich, Sibelius e Richard Strauss.

Foi ainda criador, em 1940, da Sociedade Coral de Lisboa, com a qual, durante 9 anos, e em parceria com a Orquestra Sinfónica da Emissora Nacional, realizou múltiplas apresentações de obras corais sinfónicas da maior importância, entre eles a estreia da "Quarta Sinfonia" de Gusvav Mahler, da "Nona Sinfonia" de Beethoven, da oratória "O Dilúvio" de Camille Saint-Saens, do poema sinfónico "Die Ideale" de Franz Liszt, da "Invocação dos Lusíadas" de Vianna da Motta, da "Oratória de Natal" de Bach ou "Elias" de Félix Mendelssohn.[1]

É autor das partituras para os filmes "A Severa" de 1930, e "As Pupilas do Sr. Reitor" de 1935, ambos de Leitão de Barros, um dos mais populares de sempre do cinema português. Foi um dos fundadores e colaborou, como compositor e maestro, em diversas produções da Companhia Portuguesa de Bailado Verde Gaio.[2]

Escreveu peças baseando-se em obras de grandes autores portugueses, de Camões a António Botto, e harmonizou cânticos populares, abrangendo todas as regiões do país. Dedicou-se à música coral, sinfónica e coral-sinfónica, e compôs o "Quarteto Concertante" com o qual obteve, em 1935, o Prémio Domingos Bomtempo, da Emissora Nacional. Foi também distinguido com o Prémio Nacional de Composição, a propósito do seu “Nocturno” para violoncelo e piano, de 1926.

O seu impulso criador afirmou-se quer na sua “Sonata” para violino e violoncelo" de 1923, onde empregou a técnica politonal, quer no domínio da técnica de instrumentação, como é o caso da “Missa Solene”, obra de grande envergadura sinfónica, escrita para as Festas Centenárias de 1940.[3]

Colaborou na revista ilustrada Cine [4] publicada em maio de 1931.

No entanto, o seu talento viria a originar muita controvérsia e polémica da parte de muitos pares seus.

A 13 de Julho de 1967, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada.[5]

Em 1975, depois de ter providenciado a orquestração sinfónica de "Grândola Vila Morena" de José Afonso, por ordem da Emissora Nacional, ao fim de 41 anos de trabalho intenso, Frederico de Freitas deixou a regência orquestral, e passou a receber uma pensão vitalícia de 3300 escudos.

Em 1977, compôs a sua última obra sinfónica, o poema sinfónico "Alexandre Herculano".

Viria a falecer em 12 de Janeiro de 1980, e apesar de ter deixado uma obra bem vastíssima na história da Música, muitas obras suas ainda ficaram incompletas.

O espólio do compositor Frederico de Freitas foi doado à Universidade de Aveiro pela filha do compositor, Elvira de Freitas, em Julho de 2010. Está actualmente exposto no Museu da Universidade de Aveiro.

Índice do Catálogo Musical

  • Bailado
  • Música de Câmara
  • Música para Cinema
  • Música Coral
  • Harmonizações
  • Hinos
  • Música para Instrumento Solista
  • Música de Cena
  • Ópera
  • Opereta
  • Música Sinfónica
  • Orquestrações
  • Música de Teatro de Revista
  • Vaudeville
  • Voz e Piano

Obra Literária

  • "Canções Tradicionais Portuguesas do Ciclo da Quaresma e da Páscoa" in Panorama: Revista portuguesa de arte e turismo, n.º 21, 1967.
  • "Viana da Mota, Pianista cosmopolita e compositor lusitano: No centenário do seu nascimento", in Panorama: Revista portuguesa de arte e turismo, n.º 28, pp. 6–22, 1968.
  • "O fado, canção da cidade de Lisboa", Separata de Língua e Cultura, n.º 3, 1973.
  • "O fado veio do Brasil", in O Século, 8 de Junho, 1973.
  • "A modinha portuguesa e brasileira", in Bracara Augusta, n.º 28, pp. 433–438, 1974.

Bibliografia

  • AA. VV., "Frederico de Freitas: in memoriam", Autores, n.º XCVII–XCVIII, 1980, pp. 3–24.
  • AA. VV., Frederico de Freitas (1902-1980): Catálogo: Exposição, Lisboa, Museu da Música, 2003.
  • AA. VV., "Frederico de Freitas: 111 Anos", Glosas, n.º 7, Janeiro, pp. 12–45, MPMP, 2013.
  • Almendra, Júlia, "Um grande artista que o país perdeu", Canto gregoriano, n.º XCIV, 1980, pp. 3–18.
  • Ávila, Humberto de (coord.), Catálogo geral da música portuguesa: Repertório contemporâneo, Lisboa, 1978.
  • Bernardes, J. M. R. e Bernardes, I. R. S., Uma Discografia de Cds da Composição Musical em Portugal: Do Século XIII aos Nossos Dias, Lisboa, INCM, 2003, pp. 143–145.
  • Côrte-Real, Maria de São José e Adriana Latino, "Freitas, Frederico Guedes de", Enciclopédia da Música em Portugal no Séc. XX, vol. 2, pp. 524–529, Círculo de Leitores e Temas e Debates, 2010.
  • Cunha, Gastäo e M. João Cardoso (coord.), Introdução à Casa Museu Frederico de Freitas, [S.l. : s.n.], 1988.
  • Delgado, Alexandre, A sinfonia em Portugal, Lisboa, Caminho, 2002.
  • Ferreira, Manuel Pedro, Dez compositores portugueses: Percursos da escrita musical no século XX, Lisboa, Dom Quixote, 2007.
  • Picoto, José Carlos e Adriana Latino, "Freitas, Frederico (Guedes) de", In The New Grove Dictionary of Music and Musicians, 2ª edição, Londres, MacMillan, 2001.
  • Rebelo, Luís Francisco, História do teatro de revista, Lisboa, 1985.

Programas Televisivos

  • Programa A Feira, Entrevista de César de Oliveira a Frederico de Freitas, RTP, (ca. 1975).
  • E O resto São Cantigas, 12º Programa, Programa dedicado a Frederico de Freitas, Realização: Oliveira Costa, RTP, 1981.

Notas

  1. ↑ Ir para:a b Compositores portugueses : Frederico de Freitas Arquivado em 27 de janeiro de 2011, no Wayback Machine..
  2.  A.A.V.V. – Verde Gaio: Uma Companhia Portuguesa de Bailado (1940-1950). Lisboa: Museu Nacional do Teatro, 1999. ISBN 972-776-016-3
  3.  [1].
  4.  Jorge Mangorrinha (25 de fevereiro de 2014). «Ficha histórica: Cine (1934).» (pdf)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 30 de dezembro de 2014
  5.  «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Frederico de Freitas". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 26 de julho de 2019

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