Santa Cecília é uma santa cristã, padroeira dos músicos e da música sacra, pois consta que ao morrer ela teria cantado a Deus[1]. Não se tem muitas informações sobre a sua vida. É provável que tenha sido martirizada entre 176 e 180, sob o império de Marco Aurélio. Escavações arqueológicas não deixam dúvidas sobre sua existência, mas sua história só foi registrada no século V, na narrativa Paixão de Santa Cecília. Santa Cecília é a santa da Igreja Católica que mais tem basílicas em Roma (nenhuma outra santa conseguiu tal feito) e é uma das santas mais veneradas da Idade Média, além de ser a primeira santa encontrada com corpo incorrupto, no ano de 1599, mesmo depois de tantos séculos. Uma estátua de seu corpo que não se decompôs com a força do tempo até então foi feita por Stefano Maderno (1566-1636).[2][3]
Origem do nome
O nome "Cecilia" foi atribuido para todas mulheres romanas do grupo de famílias conhecidas como Caecilii, que é relacionado com a raiz caecus (cegos). Entre as citações de Geoffrey Chaucer, no conto The Second Nun's Tale (Segundo conto de Freiras) está escrito: Imaculada do céu; o caminho para a cegueira; contemplação dos céus e vida ativa; como a deficiência em cegueiras; um céu para as pessoas para olharem fixamente.[4]
História
Santa Cecília, Valeriano, e Tiburtius por
BotticiniSegundo este relato, Cecília seria da "nobre família romana dos Metelos, filha de senador romano e cristã desde a infância". Ela foi dada em casamento, contra a vontade, a um jovem chamado Valeriano. Se bem que tivesse alegado os motivos que a levavam a não aceitar este contrato, a vontade dos pais se impôs de maneira a tornar-lhe inútil qualquer resistência. Assim se marcaria o dia do casamento e tudo estava preparado para a grande cerimônia. Da alegria geral que estampava nos rostos de todos, só Cecília fazia exceção. A túnica dourada e alvejante peplo que vestia não deixavam adivinhar que por baixo existia o cilício, e no coração lhe reinasse a tristeza.
Estando só com o noivo, disse-lhe Cecília com toda a amabilidade e não menos firmeza: “Valeriano, acho-me sob a proteção direta de um Anjo que me defende e guarda minha virgindade. Não queiras, portanto, fazer coisa alguma contra mim, o que provocaria a ira de Deus contra ti”. A estas palavras, incompreensíveis para um pagão, Cecília fez seguir a declaração de ser cristã e obrigada por um voto que tinha feito a Deus de guardar a pureza virginal.
Disse-lhe mais: que a fidelidade ao voto trazia a bênção, a violação, porém, o castigo de Deus. Valeriano, ficou "vivamente impressionado" com as declarações da noiva, respeitou-lhe a virgindade, converteu-se e recebeu o batismo naquela mesma noite. Valeriano relatou ao irmão Tibúrcio o que tinha se passado e conseguiu que também ele se tornasse cristão.
Turcius Almachius, prefeito de Roma, "teve conhecimento da conversão do dois irmãos. Citou-os perante o tribunal e exigiu peremptoriamente que abandonassem, sob pena de morte, a religião que tinham abraçado. Diante da recusa formal, foram condenados à morte e decapitados". Também Cecília, "teve de comparecer na presença do juiz. Antes de mais nada, foi intimada a revelar onde se achavam escondidos os tesouros dos dois sentenciados. Cecília respondeu-lhe que os tinha bem guardados, sem deixar perceber ao tirano que já tinham achado o destino nas mãos dos pobres. Almachius, mais tarde, cientificado deste fato, enfureceu-se e ordenou que Cecília fosse levada ao templo e obrigada a render homenagens aos deuses. De fato foi conduzida ao lugar determinado, mas com tanta convicção falou aos soldados da beleza da religião de Cristo que estes se declararam a seu favor, e prometeram abandonar o culto dos deuses."
Almachius, "vendo novamente frustrado seu estratagema, deu ordem para que Cecília fosse trancada na instalação balneária do seu próprio palacete e asfixiada pelos vapores d’água. Cecília teria sido então protegida milagrosamente, e embora a temperatura tivesse sido elevada a ponto de tornar-se intolerável, ela nada sofreu". Segundo outros mitos, a Santa "foi metida em um banho de água fervente do qual teria saído ilesa".
Almachius recorreu então à pena capital." Três golpes vibrou o algoz sem conseguir separar a cabeça do tronco. Cecília, mortalmente ferida, caiu por terra e ficou três dias nesta posição. Aos cristãos que a vinham visitar dava bons e caridosos conselhos. Ao Papa entregara todos os bens, com o pedido de distribuí-los entre os pobres. Outro pedido fora o de transformar a sua casa em igreja, o que se fez logo depois de sua morte". Foi enterrada na Catacumba de São Calisto.
Estátua de Stefano Maderno sobre sua tumba, imitando a postura em que seu corpo foi descoberto
Igreja de Santa Cecília, em
São Paulo, localizada no
bairro e na praça que carregam o nome da santa.
As diversas invasões dos godos e lombardos fizeram com que os Papas resolvessem a transladação de muitas relíquias de santos para igrejas de Roma. O corpo de Santa Cecília ficou muito tempo escondido, sem que lhe soubessem o jazigo.
Uma aparição da Santa ao Papa Pascoal I (817-824) trouxe luz sobre este ponto. Achou-se o caixão de cipreste que guardava as relíquias. O corpo, foi "encontrado intacto e na mesma posição em que tinha sido enterrado". O esquife foi "achado em um ataúde de mármore e depositado no altar de Santa Cecília". Ao lado da Santa acharam seu repouso os corpos de Valeriano, Tibúrcio e Máximo.
Em 1599, por ordem do Cardeal Sfondrati, foi aberto o túmulo de Santa Cecília e o corpo encontrado ainda na mesma posição descrita pelo papa Pascoal. O escultor Stefano Maderno que assim o viu, reproduziu em finíssimo mármore, em tamanho natural, a sua imagem. Ele teve pouco tempo, pois o corpo se desintegrou em poucos dias. [5] A Igreja ocidental, como a oriental, têm grande veneração pela Mártir, cujo nome figura no cânon da Missa. O ofício de sua festa traz como antífona um tópico das atas do martírio de Santa Cecília, as quais afirmam que a Santa, nos festejos do casamento, ouvindo o som dos instrumentos musicais, teria elevado o coração a Deus nestas piedosas aspirações: “Senhor, guardai sem mancha meu corpo e minha alma, para que não seja confundida”. Desde o século XV, Santa Cecília é considerada padroeira da música sacra. Sua festa é celebrada no dia 22 de Novembro, dia da Música e dos Músicos.
Compositores eruditos importantes como Henry Purcell, Georg Friedrich Händel e Benjamin Britten escreveram composições em sua honra, apareceu em poesias de John Dryden, Alexander Pope e W. H. Auden, e músicos populares também fizeram referência a ela, como Paul Simon, David Byrne, Brian Eno e Dave Grohl.
Devoção de outros santos
Santa Teresinha do Menino Jesus
Santa Teresinha do Menino Jesus tinha Santa Cecília como sua santa de maior devoção. Ela escreveu poemas e várias citações a essa santa em sua autobiografia. Em uma de suas citações a Santa Cecília, sua santa predileta, ela escreveu: "(...) Senti por ela mais que uma devoção, uma verdadeira ternura de amiga e tornou-se a minha santa predileta e minha confidente".[6]
Beata Anna Catarina Emmerich
A beata Anna Catarina Emmerich, uma religiosa alemã contemplada com revelações sobre a vida de Jesus e Maria no século 19, dizia ter muitas visões de Santa Cecília. Em uma delas disse: “Vi Cecília belíssima, com faces rosadas e traços finos e graciosos. Junto dela esta um anjo sob forma de amável jovem, que com ela falava. Vi-a sentada em uma cadeira e os anjos ensinando a tocar um instrumento. Outra vez, Cecília sentada tocando o instrumento e o anjo segura em sua frente o rolo de papel para o qual ela olhava." Devido a sua paixão, e essa visão que a beata teve de Santa Cecília, é que a tradição popular a proclamou padroeira dos músicos e da música sacra.[7]
Ver também
Bibliografia
- Conti, Dom Servilio. O Santo do dia, 4ª. ed. revista e atualizada, Petrópolis, Vozes, 1990, p. 519-522;
- Alban Butler. Vida dos Santos, vol. XI/novembro. Petrópolis, Vozes, 1993, p. 207-210;
- Cordeiro, V. A. Santa Cecília. Porto, 1913.
Referências
- ↑ «Lovewell, Bertha Ellen. The Life of St. Cecilia, Yale Studies in English, Lamson, Wolffe, and Company, Boston, 1898». 1898
- ↑ [1]
- ↑ [2]
- ↑ Chaucer, Canterbury Tales, The Second Nun's Tale, prologue, 85–119. As the rubric to these lines declare, the nun draws her etymologies from the Legenda Aurea of Jacobus de Voragine (Jacobus Januensis - James of Genoa - in the rubric). (em inglês)
- ↑ Tom Devonshire Jones (1888). The Oxford Dictionary of Christian Art and Architecture. [S.l.]: OUP Oxford. pp. 654–. Consultado em 15 de julho de 2021
- ↑ [3]
- ↑ [4]
Ligações externas