sábado, 15 de maio de 2021

HUMBERTO DELGADO - "OGENERAL SEM MEDO" - NASCEU EM 1906 - 15 DE MAIO DE 2021

 


Humberto Delgado

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Disambig grey.svg Nota: Para a praça homónima, no Porto, veja Praça do General Humberto Delgado.
Humberto Delgado
Marechal da Força Aérea
Nome completoHumberto da Silva Delgado
Conhecido(a) por"General sem Medo"
Nascimento15 de maio de 1906
BoquiloboTorres Novas
Portugal
Morte13 de fevereiro de 1965 (58 anos)
Los Almerines, Olivença
Portugal/Espanha
Nacionalidadeportuguês
Cidadaniaportuguesa
OcupaçãoMilitar
Página oficial
www.humbertodelgado.pt

Humberto da Silva Delgado ComC • OA • ComA • GOA • GCA • ComSE • GCL • OIP • CBE (Torres NovasBrogueiraBoquilobo15 de Maio de 1906 – Los Almerines, Olivença13 de Fevereiro de 1965) foi um militar português da Força Aérea que corporizou o principal movimento de tentativa de derrube do regime salazarista através de eleições, tendo contudo sido derrotado nas urnas, num processo eleitoral reconhecidamente fraudulento, onde não houve fiscalização pela parte da oposição,[1] que deu a vitória ao candidato do regime, Américo Tomás. Ficou popularmente conhecido como o General sem Medo.

Biografia

Primeiros anos

Humberto da Silva Delgado nasceu a 15 de Maio de 1906, na pequena aldeia de Boquilobo, Torres Novas, em singela casa no largo principal da povoação, hoje restaurada e transformada em espaço museológico dedicado à sua memória[2] concelho de Torres Novas, distrito de Santarém.

Frequentou o Colégio Militar entre 1916 e 1922.[3]

Em 1925 entrou na Escola Prática de Artilharia, em Vendas Novas.

Participou no movimento militar de 28 de Maio de 1926, que derrubou a República Parlamentar e implantou a Ditadura Militar que, poucos anos mais tarde, em 1933, iria dar lugar ao Estado Novo liderado por Salazar.

Durante muitos anos apoiou as posições oficiais do regime salazarista, particularmente o seu anticomunismo.

Carreira militar e pública

Placa de homenagem ao General Humberto da Silva Delgado na Estação Ferroviária de Santa Apolónia, na cidade de Lisboa.

Senhor de um carácter dinâmico, extrovertido e agressivo, Delgado destacou-se pela sua oposição à democracia parlamentar nos primeiros anos do regime, escrevendo um livro polémico, Da Pulhice do Homo Sapiens (1933, Casa Ventura Fernandes), onde ataca violentamente tanto os monárquicos como os republicanos, e onde manifesta a sua simpatia por Salazar e a sua obra. Em 1941, Humberto Delgado assumiu publicamente a sua simpatia por Hitler tendo publicado dois artigos na Revistas Ar, em que teceu os seguintes elogios ao líder Nazi: “O ex-cabo, ex-pintor, o homem que não nasceu em leito de renda amolecedor, passará à História como uma revelação genial das possibilidades humanas no campo político, diplomático, social, civil e militar, quando à vontade de um ideal se junta a audácia, a valentia, a virilidade numa palavra”.[4][5]

No entanto, com o decorrer da II Guerra Mundial, as suas simpatias passaram para os Aliados. Representou Portugal nos acordos secretos com o Governo Inglês sobre a instalação das Bases Aliadas nos Açores durante a Segunda Guerra Mundial.

Em 1944 foi nomeado Director do Secretariado da Aeronáutica Civil.

Entre 1947 e 1950 representou Portugal na Organização da Aviação Civil Internacional, sediada em MontrealCanadá.

Foi Procurador à Câmara Corporativa (V Legislatura)[2] entre 1951 e 1952.

Em 1952 foi nomeado adido militar na Embaixada de Portugal em Washington e membro do comité dos Representantes Militares da NATO. Promovido a general na sequência da realização do curso de altos comandos, onde obteve a classificação máxima, passa a Chefe da Missão Militar junto da NATO.

Regressado a Portugal foi nomeado Director-Geral da Aeronáutica Civil.

Oposição ao regime

Estátua de tributo ao General Humberto Delgado, da autoria do escultor José Rodrigues, inaugurada em Maio de 2008 na Praça Carlos Alberto, na cidade do Porto.

Os cinco anos que viveu nos Estados Unidos modificam a sua forma de encarar a política portuguesa. Convidado por opositores ao regime de Salazar para se candidatar à Presidência da República, em 1958, contra o candidato do regime, Américo Tomás, aceita, reunindo em torno de si toda a oposição ao Estado Novo.

Numa conferência de imprensa da campanha eleitoral, realizada em 10 de Maio de 1958 no café Chave de Ouro, no Rossio em Lisboa, quando lhe foi perguntado por um jornalista que postura tomaria em relação ao Presidente do Conselho Oliveira Salazar, respondeu com a frase "Obviamente, demito-o!".

Esta frase incendiou os espíritos das pessoas oprimidas pelo regime salazarista que o apoiaram e o aclamaram durante a campanha com particular destaque para a entusiástica recepção popular na Praça Carlos Alberto no Porto a 14 de Maio de 1958.

Devido à coragem que manifestou ao longo da campanha perante a repressão policial foi cognominado "General sem Medo". Por outro lado, os seus detractores comunistas alcunharam-no de "General Coca-Cola", dizendo que estaria ao serviço da CIA.[6]

O acto eleitoral ocorreu a 8 de Junho de 1958. Surpreendentemente, apesar do esmagador apoio popular que recebera durante a campanha, Delgado perdeu com 23% dos votos, enquanto o impopular e apagado candidato de Salazar, Américo Tomás, foi eleito com 76,4% dos votos, o que imediatamente levantou a suspeita de uma generalizada fraude eleitoral, perpetrada pela PIDE e outros sequazes do regime.

Exílio e morte

Em 1959, na sequência da derrota eleitoral, vítima de represálias por parte do regime salazarista e alvo de ameaças por parte da polícia política, pediu asilo político na Embaixada do Brasil, seguindo depois para o exílio nesse país.[7] Durante o período do seu exílio no Brasil foi amplamente apoiado por D. Maria Pia de Saxe-Coburgo Gotha e Bragança, a quem se dirigia como "a Princesa" ou "a Duquesa", que o ajudou monetariamente e ainda lhe ofereceu uma das suas residências em Roma para que o General pudesse regressar ao território europeu.[8]

Convencido de que o regime não poderia ser derrubado por meios pacíficos promoveu a realização da Revolta de Beja, a qual veio a ser concretizada em 1962 e que visava tomar o quartel de Beja e outras posições estratégicas importantes de Portugal. O golpe, porém, fracassou.[9][10]

Assassinato pela PIDE

Pensando vir reunir-se com opositores ao regime do Estado Novo, Humberto Delgado dirigiu-se à fronteira espanhola em Los Almerines, perto de Olivença, em 13 de Fevereiro de 1965. Ao seu encontro, liderado pelo inspector Rosa Casaco foi uma brigada da PIDE, constituído pelo sub-inspector Ernesto Lopes Ramos, e pelos chefes de brigada Casimiro Monteiro e Agostinho Tienza em dois automóveis.

Chegados ao ponto de encontro, Monteiro, rapidamente, aproximou-se do general e, empunhando uma pistola com silenciador, disparou-lhe sobre a cabeça, matando-o logo. A secretária Arajaryr Campos, aterrorizada, começou a gritar e Tienza, com uma arma semelhante, também a matou. Os corpos foram transportados para as bagageiras dos carros e levados dali para perto de Villanueva del Fresno, junto a um caminho chamado Los Malos Pasos, cerca de 30 km a sul do local do crime, onde foram largados numa vala natural, cobertos com ácido sulfúrico e cal viva, e apressadamente enterrados. Os cadáveres viriam a ser descobertos semanas depois a 24 de Abril, por umas crianças que andavam a brincar na zona.

Mais tarde, Rosa Casaco afirmou ter sido surpreendido com as mortes, dizendo que o plano seria raptar o general, depois de o tornar inconsciente com clorofórmio, e levá-lo preso para Portugal para ser julgado por actos terroristas. Disse que Monteiro e Tienza teriam sido mandatados por chefias superiores da PIDE para matarem o general, sem que Casaco tivesse sido informado previamente.[11]

Em Janeiro de 1975 os seus restos mortais foram transferidos de Espanha até ao Cemitério dos Prazeres, em Lisboa.[12]

Homenagens

Assembleia da República Portuguesa decidiu, a 19 de Julho de 1988,[13] que fosse feita a transladação dos restos mortais de Humberto Delgado, do Cemitério dos Prazeres para o Panteão Nacional da Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa. A cerimónia aconteceu a 5 de Outubro de 1990,[14] dia em que se assinalava os 80 anos da Implantação da República Portuguesa. Nesta mesma altura, o General foi elevado, a título póstumo, a Marechal da Força Aérea.[15] Em Fevereiro de 2015, por ocasião do 50.º aniversário do seu assassinato, a Câmara Municipal de Lisboa propôs ao governo Português a alteração do nome do Aeroporto de Lisboa para Aeroporto Humberto Delgado.[16] O governo aceitou a proposta e desde 15 de Maio de 2016 que o Aeroporto da Portela se designa por Aeroporto Humberto Delgado.[17]

Ordens honoríficas

Bibliografia

  • ALVES, Jorge Fernandes. O furacão «Delgado» e a ressaca eleitoral de 1958 no Porto. Porto, Centro Leonardo Coimbra da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, 1999. ISBN 972-8444-03-6.
  • DELGADO, Iva; PACHECO, Carlos; FARIA, Telmo (coordenação). ROSAS, Fernando (prefácio). Humberto Delgado e as eleições de 58. Lisboa, Vega, 1998. ISBN 972-699-637-6.
  • DELGADO, Humberto. DELGADO, Iva; FIGUEIREDO, António de (compilação e apresentação). Memórias de Humberto Delgado. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1991. ISBN 972-20-0924-9.
  • LINS, Álvaro. Missão em Portugal. Lisboa, Centro do Livro Brasileiro, 1974.
  • DELGADO, Humberto; Memórias (Colecção "Compasso do tempo"). Delfos, Lisboa, 1974.
  • SERTÓRIO, Manuel; Humberto Delgado: 70 Cartas Inéditas - A luta contra o Fascismo no exílio. Praça do Livro, Lisboa, 1978.
  • MÚRIAS, Manuel Beça. Obviamente demito-o: retrato de Delgado nas palavras dos companheiros de luta. S.l., António dos Reis, s.d.
  • PINHEIRO, Patrícia McGowan. Misérias do exílio: os últimos meses de Humberto Delgado. Lisboa, Contra-Regra, 1998. ISBN 978-972-916-616-7.
  • ROSA, Frederico Delgado. Humberto Delgado: biografia do general sem medo. Lisboa, A Esfera dos Livros, 2008. ISBN 978-989-626-108-5.
  • ROSA, Frederico Delgado. Humberto Delgado e a aviação civil. Lisboa, Chaves Ferreira Publicações, 2006. ISBN 9789728987015.
  • MARGARIDO, Manuel; Grandes Protagonistas da História de Portugal: Humberto Delgado. Lisboa, Editora Planeta DeAgostini, 2004-05.
  • DELGADO, Iva; Meu Pai, o General Sem Medo. Lisboa, Editorial Caminho, 2015.

Ver também

Notas

  1.  Cf. DELGADO, Iva; PACHECO, Carlos; FARIA, Telmo (coordenação). ROSAS, Fernando (prefácio). Humberto Delgado e as eleições de 58. Lisboa, Vega, 1998. ISBN 972-699-637-6.
  2. ↑ Ir para:a b Castilho, J. M. Tavares (2010). «Nota biográfica de Humberto delgado.» (PDF)Procuradores da Câmara Corporativa (1935-1974)Assembleia da República Portuguesa. Consultado em 1 de janeiro de 2011
  3.  Meninos da Luz – Quem é Quem II. Lisboa: Associação dos Antigos Alunos do Colégio Militar. 2008. ISBN 989-8024-00-3
  4.  Revista AR, Nº 44, p.2 Junho de 1941
  5.  Pimentel, Irene Flunser; Ninhos,Cláudia (2013). Salazar, Portugal e o Holocausto 1 ed. Portugal: Temas e Debates. 908 páginas. ISBN 9789896442217
  6.  História insólita: quando a Coca-Cola tentou derrubar Salazar
  7.  Sobre estes factos cf. LINS, Álvaro. Missão em Portugal. Lisboa, Centro do Livro Brasileiro, 1974.
  8.  SERTÓRIO, Manuel; Humberto Delgado: 70 Cartas Inéditas - A luta contra o Fascismo no exílio. Praça do Livro, Lisboa (1978).
  9.  Ramires, Mário (8 de Outubro de 2010). «Major Sem Medo»SOL}
  10.  Mário Ramires (9 de outubro de 2010). «Política : A verdade do assalto ao quartel de Beja 50 anos depois»Semanário Sol. Consultado em 23 de maio de 2016
  11.  Como matámos Humberto Delgado
  12.  Revista 25 de Abril n.º3 (1975). Homenagem póstuma ao General sem Medo. [S.l.]: Secretaria de Estado da Emigração
  13.  «Resolução da Assembleia da República n.º 19/88.» (PDF). Diário da Assembleia da República Portuguesa. 12 de outubro de 1988. Consultado em 2 de janeiro de 2011
  14.  «Cronologia: Humberto Delgado no Panteão Nacional.». Fundação Mário Soares. 12 de outubro de 1988. Consultado em 2 de janeiro de 2011
  15.  Inclui poema "Humberto Delgado" de Manuel Alegre«Cavaco e Sócrates juntos na comemoração do centenário do nascimento de Humberto Delgado.». Alcobaça. Tinta Fresca (Ed. 72). 1 de outubro de 2006. Consultado em 2 de janeiro de 2011
  16.  «Câmara de Lisboa quer atribuir nome de Humberto Delgado ao Aeroporto da Portela»
  17.  «Lisboa - Aeroporto da Portela muda de nome a 15 de maio - Portugal - DN»DN. Consultado em 11 de fevereiro de 2016
  18. ↑ Ir para:a b c d e f g h «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Portuguesas». Resultado da busca de "Humberto Delgado". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 2 de janeiro de 2012
  19. ↑ Ir para:a b c «Cidadãos Nacionais Agraciados com Ordens Estrangeiras». Resultado da busca de "Humberto Delgado". Presidência da República Portuguesa. Consultado em 2 de janeiro de 2012

Ligações externas

CURVO SEMEDO - M+ÉDICO E POETA - NASCEU EM 1766 - 15 DE MAIO DE 2021

 


Curvo Semedo

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Curvo Semedo
Nome completoBelchior Manuel Curvo Semedo Torres de Sequeira
Pseudónimo(s)Belmiro Transtagano
Nascimento15 de março de 1766
Montemor-o-Novo
Morte28 de dezembro de 1838
Lisboa
NacionalidadePortugal Portuguesa
OcupaçãoPoeta
Principais trabalhosComposições Poéticas e tradução de As Melhores Fábulas de La Fontaine
Género literárioPoesia

Belchior Manuel Curvo Semedo Torres de Sequeira, conhecido por Curvo Semedo (Montemor-o-Novo15 de Março de 1766 — Lisboa28 de Dezembro de 1838) foi um poeta português, cavaleiro professo da Ordem de Cristofidalgo da Casa Real, moço fidalgo da câmara do Príncipe Regente e primeiro-tenente do Real Corpo de Engenheiros. Foi um dos nomes mais importantes do movimento literário Nova Arcádia, de que foi co-fundador em 1790 e em que usou o nome de Belmiro Transtagano. Desempenhou durante muitos anos o cargo de escrivão da Alfândega de Lisboa.

Destacam-se na sua obra os quatro volumes das Composições Poéticas (1803) e, em tradução livre, As melhores fábulas de La Fontaine (1820).

Defrontou-se literariamente com o poeta Bocage, que o visara em repetidas críticas, retorquindo-lhe com sátiras aceradas. Todavia, visitou Bocage no leito de morte, em 1805, reconciliando-se enfim com ele.[1]

Foi por duas vezes alvo de processos da Inquisição, a primeira em 1803 e a segunda em 1819, com base em denúncias de posições heréticas e blasfemas. Da primeira vez, por ter sustentado que não havia inferno, o qual seria apenas bom para "conter o povo". Foi, então, apenas advertido pelo tribunal do Santo Ofício. O segundo processo foi suscitado por um rol de afirmações blasfemas registadas por escrito pelo denunciante, entre as quais a de que Jesus Cristo era filho adulterino, "porque sendo Nossa Senhora casada com S. José, tinha copulado com o Espírito Santo". Desta vez, vésperas da extinção da Inquisição pela Revolução liberal (1820), não chegou a sofrer qualquer condenação.[2]

Era filho de Francisco Inácio Curvo Semedo Torres de Sequeira e de D. Mariana Bárbara Freire de Andrade de Vila Lobos e Vasconcelos. Neto de Manuel José Curvo Semedo, Fidalgo da Casa de Sua Majestade, e de João Freire de Andrade, Mestre de Campo, Alcaide-Mor e Capitão-Mor na mesma vila de Montemor-o-Novo; contando sempre uma série não interrompida de avós ilustres desde o principio da monarquia, pois descende de D. Paio Gil Curvo, fidalgo no reinado de D. Afonso Henriques. Na Biblioteca Municipal Almeida Faria na sala que tem o nome do poeta, está exposta a Árvore Genealógica, onde se pode desvendar a família de Curvo Semedo.

Como católicos que eram, os pais, organizaram o baptizado do bebé. A cerimónia ocorreu oito dias depois do nascimento, na Igreja do Calvário, freguesia de Nossa Senhora da Vila. Foram padrinhos do novo cristão, Nossa Senhora da Conceição e Inácio António de Oliveira. O assento do baptismo, consta no Livro n.º 5, página 36, da referida freguesia - Arquivo Paroquial de Montemor-o-Novo, depositado na Biblioteca Pública de Évora.

Desde os seus mais tenros anos, que deu provas do seu raro talento, e inspiração pouco comum, que depois fez dele, um dos mais insignes poetas do seu tempo. Tendo seguido o curso das escolas militares, alistou-se como cadete no Regimento de Engenharia de Lisboa.

Aplicando-se, efectivamente, ao estudo das matemáticas na Academia de Fortificação e Marinha, na cidade de Lisboa, distinguiu-se tanto que alcançou prémios em todos os actos.

Foi promovido ao posto de segundo tenente do Real Corpo de Engenheiros, e encarregado de levantar a Carta Corográfica do País, e de outras comissões importantes de serviço, que desempenhou com plena aprovação. Mas, por circunstâncias, que não são bem conhecidas, preferiu, ao serviço da sua arma, o lugar mais pacífico de escrivão da Alfândega de Lisboa, e reformou-se no posto de capitão. Dava-lhe o seu novo emprego os ócios necessários para se entregar ao cultivo das letras e nelas se assinalou como poeta distinto.

Em 1790 Curvo Semedo e Joaquim Severino Ferraz, aliados a Domingos Caldas Barbosa, tiveram a ideia de fundarem a Academia de Belas Letras, também chamada Nova Arcádia. Em homenagem à terra natal, o nosso conterrâneo optou pelo pseudónimo arcádio de “Belmiro Transtagano”. Em 1793 Curvo Semedo é co-fundador do “Almanaque das musas”, publicação que pretendia reunir a produção da academia. Os seus ditirambos e os seus apólogos foram acolhidos com aplauso e granjearam-lhe o cognome de “Lafontaine português”.

Nesse ano de 1793, o aparecimento de um célebre soneto com que os árcades fulminaram Bocage fez com que este, furioso, e não sabendo a quem atribuir o soneto, se atirasse a todos eles, (vós, ó Francas, Semedos, Quintanilhas, / Macedos e outras pestes condenadas…). Curvo Semedo foi ainda apelidado por Bocage de “Vão Belmiro”. Não se acobardou porém, e bateu-se valentemente com o genial e popular poeta setubalense, como prova a seguinte quadra: Morreu Bocage, sepultou-se em Goa! / Chorai, moças venais, chorai pedantes, / O insulso estragador de consoantes / Que tantos tempos aturdiu Lisboa. Vários anos viveram ambos como inimigos irreconciliáveis, alvejando-se mutuamente em renhidas contendas literárias. Vieram a reconciliar-se, nos últimos anos de Bocage, falecido em Dezembro de 1805, acabando por se dirigirem um ao outro com versos dignos do elevado talento dos dois poetas.

Casou duas vezes: a primeira em 1799, com D. Maria José Ludovice de Santa Bárbara e Moura, falecida a 22 de Novembro de 1806. Casou em segundas núpcias a 29 de Agosto de 1809, com D. Gertrudes Perpétua de Portugal da Silveira Walles de Varona de Góis e Meneses. Curvo Semedo foi pai de oito filhos: Baltazar, Francisco, Henrique, Maria Amália, Eduardo, Augusto, Adriano e Carolina. Os quatro primeiros, nasceram do primitivo casamento, e os restantes, provieram do segundo enlace matrimonial.

Curvo Semedo tem uma obra de cinco volumes das suas “Composições Poéticas”. Em 1803, publicou o 1.º e 2.º volumes. Em 1817 foi publicado o 3.º volume. Por motivos de saúde, o 4.º volume, publicado em 1835, já não pôde ser ordenado e revisto pelo seu autor. Em 1820, apareceram as suas fábulas, que ele com tanta modéstia intitulou “tradução livre das de Fontaine”. Esta obra eleva para cinco as suas “Composições Poéticas”.

Em 9 de Julho de 1883, Henrique Zeferino de Albuquerque, livreiro e editor muito conhecido e acreditado em Lisboa, que escreveu o prefácio da 3.ª edição, revelou: Estas Fábulas de traduzidas por Curvo Semedo, ou, antes, como deveríamos dizer, falando com mais propriedade, estas Fábulas de Curvo Semedo (pois nelas o poeta português usou o mesmo método que , usou para com os seus antecessores, Esopo, Fedro, Avieno, Pilpay e outros, no mesmo género literário). Estas Fábulas, repetimos, haviam sido leitura predilecta, em verdes anos, de alguém que ainda conhecera e estimara o autor, de alguém ligado ao presente editor e signatário destas linhas, pelos mais apertados laços da vida, os que prendem um filho a um pai.

O editor termina desta forma: Curvo Semedo escreveu-as para crianças, e nós, que em criança tivemos a ventura de ouvi-las e compreendê-las, é também para crianças que hoje as publicamos.

Pelo facto de Curvo Semedo ter proferido duros comentários à aristocracia e à igreja, foi alvo de um breve encarceramento nas masmorras do antigo Palácio dos Estaus, também conhecido por Palácio da Inquisição, no Rossio  palácio viria a ser destruído por um incêndio em 1836, e no seu lugar, foi construído o Teatro Nacional de D. Maria II.

Por duas vezes, o nome arcádio de Belmiro Transtagano foi pronunciado perante os juízes dos Estaus. Uma denúncia contra Curvo Semedo no Tribunal do Santo Ofício, Inquisição de Lisboa, pode ser vista na Torre do Tombo (processo 17225).

Nos últimos anos de vida perdeu quase por completo as faculdades mentais, e veio a falecer em Lisboa, no Beato, na casa da filha Carolina e do cunhado Luís Carlos, a 28 de Dezembro de 1838, com 72 anos de idade. Morava em sítio que, das janelas da casa onde residia, na Rua de S. Tomé, junto ao Castelo de S. Jorge, “via o sítio do Alentejo”. A nostalgia do torrão natal, era bem forte, como prova no 2.º volume da sua obra, a página 6 – Elogio da Vila Rústica. Foi enterrado no cemitério do Alto de São João.

A sua obra poética, variada mas não muito numerosa, caracteriza-se particularmente pelo romantismo da época. Cultivou o soneto, a ode, a parábola, o apólogo, e vários outros géneros de composição  escreveu também alguns textos teatrais, como por exemplo o “Novo Entremez”, intitulado “ O Mérito Premiado” ou “Os Três Enjeitados”, em que faz uma análise critica da burguesia da época. Curvo Semedo conheceu alguma celebridade pela inclusão frequente de textos seus em selectas escolares. As suas fábulas vivem conservadas na memória do povo, testemunho seguro do seu alto merecimento.

Bibliografia

  • Teófilo Braga, Bocage. Sua vida e época literária, Porto: Livraria Chardron, 1902.
  • António Baião, Episódios Dramáticos da Inquisição Portuguesa, t. II, Rio de Janeiro: Anuário do Brasil, 1924.
  • Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira. Lisboa; Rio de Janeiro: Editorial Enciclopédia Lda., [195-]. Vol. VIII, p. 313.

Referências

  1.  Teófilo Braga, Bocage. Sua vida e época literária, Porto: Livraria Chardron, 1902, p. 472.
  2.  António Baião, Episódios Dramáticos da Inquisição Portuguesa0, t. II, Rio de Janeiro: Anuário do Brasil, 1924, pp. 131-135.

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