Edith Theresa Hedwig Stein, O.C.D., canonizada como Santa Teresa Benedita da Cruz (12 de outubro de 1891 — 9 de agosto de 1942), foi uma santa, filósofa e teóloga alemã nascida judia que se converteu à Igreja Católica. Ela foi canonizada em 11 de outubro de 1998 pelo Papa João Paulo II, sendo mártir da Igreja e uma das seis santas co-padroeiras da Europa.
Ela nasceu em uma família judia praticante, Edith é a filha mais nova de 11 irmãos. Ela nasceu no Yom Kippur, o Dia do Perdão para os judeus. Seu pai morreu quando ela tinha apenas dois anos, o que fez cair sobre sua mãe Auguste a responsabilidade sobre os negócios da família. Apesar de sua mãe ser muito devota, Edith perdeu a fé em Deus ainda jovem.
Em 1911, ela entra na Universidade de Breslávia para cursar alemão e história, apesar de seu verdadeiro interesse ser a filosofia. Movida pelas tragédias da Primeira Guerra Mundial, em janeiro de 1915, ela interrompe seus estudos na Universidade de Gotinga e se voluntaria como auxiliar de enfermagem em um hospital de doenças infecciosas na Áustria. Edith concluiu seu doutorado com a tese “Sobre o Problema da Empatia”[1]. Ela foi a segunda mulher a defender uma tese de doutorado em filosofia na Alemanha e foi discípula e depois assistente de Edmund Husserl, o fundador da fenomenologia.[2]
Teve uma grande mudança em sua crença no ano de 1921, a partir da leitura da autobiografia de Santa Teresa de Ávila, quando estava em casa da amiga Hedwig Conrad-Martius, em Bergzabern. Ela se converteu ao catolicismo e foi batizada em 1º de janeiro de 1922, tomando a própria amiga como madrinha. Já religiosa, anotou: "A fé está mais próxima da sabedoria divina do que toda ciência filosófica e mesmo teológica".
Anos mais tarde, ela viu a ascensão do Partido Nazista e a consequente perseguição aos judeus. Ela decide se tornar uma freira Carmelita Descalça no monastério de Colônia em 1933. Com a crescente ameaça nazista na Alemanha, Edith e sua irmã Rose são enviadas para o Carmelo da Holanda. Após a divulgação de uma carta da Igreja da Holanda com críticas ao nazismo, os cristãos judeus sofrem represálias, sendo Edith e sua irmã capturadas. Edith Stein morreu aos 50 anos, no campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, envenenada numa câmara de gás.
História
Primeiros anos
Filha dos comerciantes judeus Siegfried e Auguste Courant Stein e última de onze irmãos, nasceu em Breslávia, Alemanha, no dia 12 de outubro de 1891, quando se celebrava a grande festa judaica do Yom Kippur, o "Dia da Reconciliação".[3] Seu pai faleceu quando tinha dois anos, numa viagem de negócios. Auguste, então, passou a conduzir com destreza os negócios da família enquanto cuidava sozinha da criação de seus filhos. Edith possuía grande admiração pela coragem e força de sua mãe, sendo a sua inspiração e ideal de mulher.
Durante a adolescência, deixou a escola e passou alguns meses na casa de sua irmã Else em Hamburgo, ocasião em que passou por uma crise de fé.[4][5] Após essa viagem, ela decide retomar os estudos. Em 1911, ela obteve o diploma dos estudos secundários com distinção na Escola Viktoria. Edith foi reconhecida como uma das mais brilhantes estudantes de sua época, graças ao empenho e aptidão para o conhecimento.
Após o ensino secundário, ela começa a cursar alemão, história, psicologia e filosofia na Universidade de Breslávia. Alguns anos depois, ela se interessa pelos estudos realizados por Edmund Husserl, criador da Fenomenologia, e seu grupo de pesquisa nessa corrente filosófica. Ela parte para estudar na Universidade de Gotinga, fazendo seus estudos de filosofia alemã e história. Lá ela fez grandes amigos do grupo de filosofia de Gotinga, como Adolf Reinach. Em janeiro de 1915, Edith se gradua com distinção.
A Primeira Guerra Mundial
Com a deflagração da Primeira Guerra Mundial, Edith se sente impelida a trabalhar em favor de seu país. Então, ela decide resolutamente abandonar por tempo indeterminado os estudos a fim de servir da melhor maneira diante da guerra[6]. Apesar da falta de consentimento de sua mãe, ela se voluntariou a ser enfermeira auxiliar na Cruz Vermelha. Em abril de 1915, ela foi convocada a servir no hospital militar de Mährisch-Weisskirchen[7], no front da guerra. No dia 1º de setembro ela é liberada do serviço voluntário e posteriormente recebeu por este trabalho uma medalha de honra.
Em 1916 volta a Breslávia para trabalhar como professora suplente na Escola Viktoria, local onde cursou seu ensino secundário. No mesmo ano conclui seu doutorado em Freiburg com summa cum laude, com a tese "Sobre o Problema da Empatia"[1], que é publicada em 1917. Posteriormente, Edith se torna assistente de seu mestre Husserl, em Freiburg, e trabalha em escritos diversos. Apesar de fazer várias tentativas para obter um cargo em diversas universidades, como Gotinga, Freiburg e Kiel, ela não é aceita por ser mulher.
Em 1917, morre na guerra seu grande amigo Adolf Reinach, em Flandres. Durante o ano de 1918 participa do recém-fundado Partido Democrático Alemão, mas logo se desilude da política. Com a República de Weimar, em 1919, as mulheres passam a ter o direito a voto e a igualdade.
Conversão ao Catolicismo
Em 1920, passa por uma dolorosa crise interior, enquanto que sua irmã Erna Stein se casa com Hans Biberstein. No verão de 1921, enquanto passava as férias em Bergzabern na casa de sua amiga Hedwig Conrad-Martius, ela lê a autobiografia de Santa Teresa de Ávila, intitulada "O Livro da Vida", com quem se identifica, apesar de na época não saber da origem judaica da santa. No ano seguinte, Edith Stein se dedica a preparar as obras de Adolf Reinach para publicação e se converte ao Catolicismo. Ela foi batizada no dia 1 de janeiro de 1922 e tomou a Primeira Comunhão na Igreja Paroquial São Martin, de Bergzabern. Faz sua confirmação na capela privada do bispo de Speyer, em 2 de fevereiro do mesmo ano. Publica seus trabalhos no Anuário de filosofia e investigação filosófica, editado por Husserl.
Entre 1923-1931 trabalha como professora no liceu para moças e no instituto para formação de professoras das irmãs dominicanas de Santa Madalena, em Speyer. Faz várias traduções e outros trabalhos e participa de conferências em simpósios e congressos pedagógicos realizados em Praga, Viena, Salzburg, Bâle, Paris, Munster e Bendorf.
Em 1925 traduz para o alemão o Diário e As Cartas do cardeal John Henry Newman. Publica no Anuário seu estudo, "Uma investigação sobre o Estado", entre outros. Em 1928 participa de conferências sobre a questão feminina e sobre a educação católica por toda Alemanha e por países vizinhos. Faz a tradução para o alemão de De Veritate, de Tomás de Aquino. Em 1929 publica no Anuário seu estudo comparativo entre Tomás de Aquino e Edmund Husserl. Em 1930 faz conferências em Nuremberg, Salzburg, Speyer, Bendorf, Heildelberg sobre a questão feminina.
Tenta novamente, sem sucesso, em 1931 uma cátedra universitária. Continua a realizar conferências por diversos lugares, e publica o primeiro volume da sua tradução das Quaestiones Disputatae de Veritate, de Tomás de Aquino.
Consegue então uma posição em 1932 como docente no Instituto Alemão de Pedagogia Científica, em Münster, e continua a proferir diversas conferências pela Alemanha e Suíça. Participa do importante Congresso Internacional Tomista de Juvisy e publica o segundo volume da sua tradução de São Tomás de Aquino, Questiones Disputatae de Veritate.
A Segunda Guerra Mundial
Com a chegada do Partido Nazista ao poder em 1933, é publicada em abril a lei que proíbe a presença de judeus em cargos públicos da Alemanha. Edith Stein, já reconhecendo os sinais dos tempos, entende que não há mais espaço no ambiente acadêmico em seu país. Dessa forma, ela renuncia ao posto de docente do instituto e, não podendo também realizar conferências e dar aulas, decide-se por realizar o seu chamado reconhecido desde sua conversão.
Ela decide se tornar uma freira Carmelita Descalça no monastério de Colônia em 14 de outubro de 1933, tomando o hábito com o nome de Teresa Benedita da Cruz. Tem permissão de sua superiora para continuar seu estudo Ser Finito e Ser Eterno. Publica vários textos inclusive o estudo sobre Teresa d'Ávila.
No dia 21 de abril de 1935, domingo de Páscoa, faz seus votos religiosos temporários.[8] Depois da morte de sua mãe, sua irmã Rosa também se converte ao Catolicismo em 1936. Em abril de 1938 faz seus votos definitivos. Morre seu mestre Edmund Husserl. Publica artigos sobre a História do Carmelo.
Com a violência da chamada Noite dos Cristais, em 1938, as irmãs são conduzidas para a Holanda, e se instalam no Carmelo de Echt, onde seria um lugar seguro para elas. Nessa época, Edith escreve seu Testamento de Vida, onde detalha qual o destino dará aos seus pertences e oferece sua vida pelo povo judeu. A Alemanha invade a Polônia e tem início a Segunda Grande Guerra. Familiares de Edith emigram para os Estados Unidos e para a Colômbia. Ela escreve um trabalho sobre Dionísio Areopagita e começa a escrever A Ciência da Cruz, sua obra mais importante.
Morte em Auschwitz
Em 1940, os nazistas ocupam a Países Baixos. Em 1941 seus irmãos Frida e Paul, bem como a esposa e a filha deste são deportados para o campo de concentração de Theresienstadt, onde morrem em 1942. Em abril de 1942, Rosa e Edith são registradas como judias pela Gestapo, a policia nazista.
Após o recrudescimento das perseguições ao povo judeu, os bispos da Holanda publicaram em 20 de julho de 1942 uma carta crítica ao nazismo. Como represália, membros do partido aderem no dia 2 de agosto a uma perseguição aos católicos de ascendência judaica, entre eles Rosa e Edith Stein. O Carmelo e Edith procuram conseguir visto para que ambas saiam da Holanda e entrem na Suíça, mas os papéis chegam depois de sua prisão. As últimas palavras de Edith foram para sua irmã: “Venha, estamos indo para o nosso povo”.[9]
Ao chegar na sede da Gestapo na Holanda, Edith é submetida a um interrogatório de praxe. Ambas são transferidas para o campo de trânsito de Amersfoort, e depois para o campo de Westerbork. Três dias antes de sua morte, tinha dito: “Aconteça o que acontecer, estou preparada. Jesus está aqui conosco” (06-08-1942)[10]. Em 7 de agosto vão de trem para o oeste, e chegam a Auschwitz em 9 de agosto, onde morrem na câmara de gás.[4]
Canonização
No dia 1 de maio de 1987, foi beatificada pelo Papa João Paulo II em Colônia e em 11 de Outubro de 1998 foi canonizada pelo mesmo, sob o nome de Santa Teresa Benedita da Cruz. No dia 1 de outubro de 1999, o Papa João Paulo II, numa carta apostólica em forma de motu proprio intitulado "Spes aedificandi", proclamou Santa Teresa Benedita da Cruz, juntamente com Santa Brígida da Suécia e Santa Catarina de Siena, co-padroeira da Europa, graças à particular contribuição cristã que outorgou não só à Igreja Católica, mas especialmente à mesma sociedade europeia através do seu pensamento filosófico. A sua celebração litúrgica na Igreja Católica é dia 9 de Agosto.
Ver também
Referências
- ↑ Ir para:a b Stein, Edith, Saint, 1891-1942,. On the problem of empathy Third Revised Edition ed. Washington, D.C.: [s.n.] OCLC 19324020
- ↑ Artigo sobre Edith Stein na Encyclopédie de L'Agora (em francês)
- ↑ Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), religiosa, mártir, padroeira da Europa, +1942, evangelhoquotidiano.org
- ↑ Ir para:a b ARANTES, José Tadeu (11 de agosto de 2015). «A desafiadora trajetória da filósofa Edith Stein». Agência FAPESP. Consultado em 11 de agosto de 2015
- ↑ Aquino •, Por Prof Felipe. «Quem foi Edith Stein? | Cléofas». Consultado em 8 de janeiro de 2021
- ↑ Stein, Edith Heilige 1891-1942. Vida de uma família judia e outros escritos autobiográficos 1a edição ed. São Paulo: [s.n.] OCLC 1187291838
- ↑ Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), religiosa, mártir, padroeira da Europa, +1942, evangelhoquotidiano.org
- ↑ Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), religiosa, mártir, padroeira da Europa, +1942, evangelhoquotidiano.org
- ↑ «Teresa Benedict of the Cross Edith Stein (1891-1942) - biography». www.vatican.va. Consultado em 8 de janeiro de 2021
- ↑ Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein), religiosa, mártir, padroeira da Europa, +1942, evangelhoquotidiano.org
Bibliografia
- Edith Stein - Em busca da verdade em tempos sombrios - Ilana Waingort Novinsky, editora Humanitas, Fapesp, Histórias da Intolerância n. 10, São Paulo, 2014.
Ligações externas