sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

FONÓGRAFO PATENTEADO POR THOMAS EDISON - 1878 - 19 DE FEVEREIRO DE 2021

 


Fonógrafo

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Fonógrafo de Edison

Fonógrafo é um aparelho inventado em 1877 por Thomas Edison para a gravação e reprodução de sons através de um cilindro.[1] Ele foi o primeiro aparelho capaz de gravar e reproduzir sons.[1]

História

Antecedentes da invenção de Edison

A invenção do fonógrafo por Thomas Edison foi o ponto culminante de uma série de inventos que primeiro tentaram realizar a tarefa de gravar de forma mecânica em algum meio as vibrações sonoras. A grande inovação do fonógrafo encontra-se em sua capacidade de também reproduzir os sons que gravava,[1] abrindo novas possibilidades de utilização comercial do som.[2][3] O primeiro desses inventos foi o vibroscópio de Thomas Young que foi o primeiro invento a traduzir as vibrações sonoras em uma representação gráfica analógica e já utilizando-se de um cilindro como meio.[1] Posteriormente, Leon Scott inventou o fonoautógrafo que utilizava um sistema próximo àquele que seria utilizado pelo fonógrafo: um cone acústico era utilizado para captar o som e fazer vibrar um diafrágma localizado no final do cone; com a vibração do diafrágma uma agulha gravava marcas em um cilindro que representavam as ondas sonoras propagando-se no ar.[1] Estes aparelhos, na verdade, preocupavam-se em fazer representações gráficas das ondas sonoras, de modo a possibilitar estudos de acústica, e não pretendiam permitir a reprodução do som gravado para qualquer fim, comercial ou não.[2]

É apenas com a descrição do parleofone por Charles Cros que a preocupação com a gravação e a reprodução do som gravado, em um mesmo aparelho, toma forma. Entretanto, Cros nunca chegou a construir sua invenção e acabou sendo suplantado pelas notícias da invenção do aparelho de Edison.[2]

Invenção e início da comercialização

O fonógrafo foi anunciado por Edison em 21 de Novembro de 1877 e teve a sua primeira demonstração pública em 29 de novembro do mesmo ano.[2] O aparelho consistia em um cilindro com sulcos coberto por uma folha de estanho. Uma ponta aguda era pressionada contra este cilindro e, conectados à ponta oposta, ficavam um diafragma (uma membrana circular, cujas vibrações convertiam sons em impulsos mecânicos e vice-versa) acoplado a um grande bocal em forma de cone.[1] O cilindro era girado manualmente e, conforme o operador ia falando no bocal, a voz fazia o diafragma vibrar, o que fazia a ponta aguda criar um sulco análogo na superfície do cilindro. Quando a gravação estava completa, a ponta era substituída por uma agulha e o cilindro era girado no sentido contrário: a máquina desta vez reproduzia as palavras gravadas e o cone amplificava o som.[1]

O aparelho foi patenteado em 19 de fevereiro de 1878[2] mas encontrou dificuldades iniciais para a comercialização: o aparelho provocou pouco interesse da parte de músicos e editores[2] e Edison mesmo relutava na utilização do invento para o entretenimento,[1] dando prioridade à lâmpada incandescente.[1][2] É apenas quando Charles Tainter e Alexander Graham Bell, em 1886, aperfeiçoam o invento criando o cilindro removível (até então o meio da gravação era fixo ao aparelho) e mudando sua composição para papelão coberto com cera que Edison resolve voltar a trabalhar no invento criando um cilindro feito inteiramente à base de cera (resolvendo o problema da fragilidade do cilindro que rachava devido à dilatação diferente dos materiais em resposta ao calor), mas violando a patente de Bell.[1] Duas empresas distintas foram formadas para explorar o cilindro e, no final da década, a comercialização dos aparelhos (o fonógrafo de Edison e o grafofone de Bell) e de cilindros virgens e gravados com música ou palavra falada já dava lucros significativos nos Estados Unidos.[1]

O mercado cresce cada vez mais com o impulso de outras tecnologias, como a invenção do método pantográfico de gravação, no final do século XIX, ou a dos cilindros moldados, no início do século XX por Edison, que possibilitaram a gravação vários cilindros ao mesmo tempo (o processo anteriormente era feito com a gravação artesanal, cilindro por cilindro).[1]

Concorrência com o gramofone e declínio

Desde o embate com Bell e a fundação das duas empresas (a de Edison e a de Bell), além da concorrência de mais empresas no mercado de cilindros e tocadores de cilindros, desde 1895, com a invenção do gramofone por Berliner, existia a concorrência de outro formato, os discos de goma-laca.[1] Entretanto, Edison recusava-se a gravar discos ou a produzir tocadores. Com o passar do tempo, o mercado de cilindros foi diminuindo e o de discos aumentando. Não que o disco fosse um meio mais "fiel" ou com melhor "qualidade" que o cilindro.[4] O que ocorreu é que o disco suplantava dificuldades técnicas da reprodutibilidade das gravações e dificuldades do cilindro como produto. Por um lado, o disco possibilitava a prensagem como técnica de reprodução em massa, tornando-a de semi-artesanal com os cilindros para uma produção em escala industrial. Por outro lado, o cilindro não permitia selos fonográficos, não tinha espaço para capas e dois cilindros com a mesma música do mesmo artista não eram exatamente iguais, já que sua reprodução exigia várias gravações por parte dos artistas (era limitado o número de cópias que podiam ser feitas a partir de um cilindro).[1]

Assim, em 1912, a gravadora de Edison, a Edison Records, passa a comercializar discos e aparelhos que tocavam esses discos.[1] Entretanto, os discos de Edison eram diferentes e apenas o seu fonógrafo adaptado poderia tocá-los. Entre as principais diferenças estão a sua espessura (de quase 4 cm), a diferença de velocidade da rotação (evoluía a 80 rpm) e o fato da agulha ter movimento vertical como a agulha que lia os cilindros (os discos das outras companhias eram lidos de forma horizontal, já que as informações eram gravadas nas laterais dos sulcos e não no fundo).[5] Com isso, as vendas da gravadora despencam cada vez mais, enquanto o gramofone e o disco de 78 rpm tornam-se o padrão do mercado mundial. O golpe final vem com a invenção das gravações elétricas em 1925, às quais Edison não adere até junho de 1927, quando já era tarde demais e a grande depressão provoca a falência de sua companhia em outubro de 1929.[5]

Impactos na História da Música

Apesar de ter sido desenvolvido por Edison como um equipamento para o registro da voz falada, o Fonógrafo foi rapidamente adotado como meio para registro musical, abrindo possibilidades ainda não existentes para o registro da música popular pelo Mundo.

Brasil

Existe divergência na bibliografia especializada quanto à primeira apresentação do fonógrafo no Brasil. Tinhorão escreve que ela se deu em 1879, na cidade de Porto Alegre, por um homem chamado Eduardo Perris, representante de Edison.[6] Já segundo Franceschi, ela aconteceu em 1878, no Rio de Janeiro, no Edifício da Escola da Freguesia da Glória, para fins pedagógicos.[4] Segundo Piccino, ela foi feita em 1878 por uma pessoa chamada F. Rodde, que realizava demonstrações na loja "Ao Grande Mágico", na Rua do Ouvidor.[1] Já a primeira gravação de fonógrafo realizada no Brasil foi feita pela família imperial brasileira. Foram gravados depoimentos do imperador e membros da corte, assim como a voz do príncipe D. Augusto, primeiro brasileiro a ter a voz gravada cantando.[1] Com isso, foi publicado decreto garantindo a Edison o privilégio de introduzir o fonógrafo no Brasil que, no entanto, não vinga.[1]

Só anos depois, obra do espiríto empreendedor de brasileiros e portugueses o fonógrafo seria introduzido no comércio brasileiro. Frederico Figner toma contato com o fonógrafo em 1889 e, em sociedade com seu cunhado, grava vários fonogramas com a intenção de exibir em países latino-americanos, viajando para Cuba e outros países.[1] No Brasil, ele passa por BelémManausFortalezaNatalJoão PessoaRecife e Salvador antes de fixar-se no Rio de Janeiro, em 1892.[1] Em 1897, passa a gravar cilindros para venda com a única concorrência da Casa ao Bogary, fundada em 1895 por dois portugueses.[3] Em 1900, funda a Casa Edison e desenvolve grande negócio de gravações de cilindros, além da compra de cilindros usados para serem raspados e reutilizados, negócio também da sua concorrente.[4] A gravação de cilindros é grande até 1913, quando é fundada fábrica de prensagem de discos da Odeon, no Rio de Janeiro, que passa a abastecer com discos a Casa Edison e provoca o início do fim da comercialização de cilindros e de fonógrafos no Brasil. Esta parceria duraria até 1926, com o início das gravações elétricas e a decisão da Odeon de abrir filial no Brasil.[3][7]

Portugal

Referências

  1. ↑ Ir para:a b c d e f g h i j k l m n o p q r s t PICCINO, Evaldo. Um breve histórico dos suportes sonoros analógicos. Sonora. São Paulo:Universidade Estadual de Campinas / Instituto de Artes, vol. 1, n. 2, 2003.
  2. ↑ Ir para:a b c d e f g BANDEIRA, Messias Guimarães. Construindo a Audiosfera: as tecnologias da informação e da comunicação e a nova arquitetura da cadeia de produção musical. Salvador: UFBA / Faculdade de Comunicação, 2004.
  3. ↑ Ir para:a b c GONÇALVES, Eduardo. A Casa Edison e a formação do mercado fonográfico no Rio de Janeiro no final do século XIX e início do século XX. Publicado em Revista Desigualdade & Diversidade, nº 9, jul-dez de 2011.
  4. ↑ Ir para:a b c FRANCESCHI, Humberto Moraes. Registros sonoros por meios mecânicos no Brasil. Rio de Janeiro: Studio HMF, 1984.
  5. ↑ Ir para:a b JACQUES, Mario Jorge. Glossário do Jazz. São Paulo: Biblioteca24horas, 2009.
  6.  TINHORÃO, José Ramos. Música Popular: do gramofone ao rádio e TV. São Paulo: Ática, 1981.
  7.  Casa Edison. Publicado em Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Página visitada em 28 de setembro de 2012.

Ver também

Commons
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SEGUNDA BATALHA DOS GUARARAPES - 1649 - 19 DE FEVEREIRO DE 2021



Batalha dos Guararapes

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Disambig grey.svg Nota: Para outros significados, veja Batalha dos Guararapes (desambiguação).

Guerra Luso-Holandesa

Batalha dos Guararapes
Insurreição PernambucanaGuerra Luso-Holandesa e Guerra da Restauração
Victor Meirelles - 'Battle of Guararapes', 1879, oil on canvas, Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro.JPG
A Batalha dos Guararapes, óleo sobre tela por Victor Meirelles de Lima
Data18 e 19 de abril de 1648 (primeiro confronto)

19 de fevereiro de 1649 (segundo confronto)

LocalMorro dos GuararapesCapitania de Pernambuco (Brasil Colonial)
DesfechoVitória luso-brasileira
Beligerantes
Flag of Portugal (1640).svg Reino de PortugalPrinsenvlag.svg República das Sete Províncias Unidas
Comandantes
André Vidal de Negreiros
João Fernandes Vieira
Filipe Camarão
Henrique Dias
Antônio Dias Cardoso
Francisco Barreto de Meneses
Coronel Sigismund Van Schkoppe
Tenente Van Den Brander
Tenente Brinc
Tenente Van Elts
AlmiranteJan Cornelisz Lichthart
Almirante Der With
Coronel Hauthyn

Servaas Carpentier 
Forças
2 200 (1º confronto)[1]
2 650 (2º confronto)[1]
7 400 (1º confronto)[1]
5 000 (2º confronto)[1]
Baixas
84 mortos e 400 feridos (1º confronto)[1]
47 mortos e 200 feridos (2º confronto)[1]
1 200 mortos e 700 feridos (1º confronto)[1]
2 000 mortos e 90 feridos (2º confronto)[1]

Batalha dos Guararapes foi um confronto militar que ocorreu no âmbito da Guerra da Restauração da independência de Portugal face à Espanha, levando as tropas portuguesas a recuperar os territórios ultramarinos (coloniais) que haviam sido ocupados pelos holandeses durante o domínio espanhol, tal como o Nordeste do Brasil e o Litoral de Angola e Timor por exemplo. A batalha dos Guararapes, foi travada em dois confrontos — primeiro em 18 e 19 de abril de 1648 e depois em 19 de fevereiro de 1649 — entre o Exército da Holanda e as tropas portuguesas do Império Português no Morro dos Guararapes na então Capitania de Pernambuco, atual Jaboatão dos Guararapes, município da Região Metropolitana do Recife no território que corresponde ao atual estado brasileiro de Pernambuco.[2]

A dupla vitória portuguesa, nos montes Guararapes, é considerada o episódio decisivo da Insurreição Pernambucana, que pôs fim às invasões holandesas no Brasil e ao chamado "Brasil Holandês" (Nova Holanda, para os holandeses), no século XVII. A assinatura da capitulação holandesa deu-se em 1654, no Recife, de onde partiram os últimos navios batavos em direção à Europa.[3]

O primeiro confronto, em 19 de abril de 1648, no qual as tropas da resistência que lutavam contra os holandeses eram formadas maioritariamente por portugueses nascidos no Brasil (brasileiros brancos, negros e ameríndios) e também por militares portugueses nascidos na metrópole, teve o objetivo comum de expulsar os invasores holandeses. Apesar deste confronto militar ter sido em defesa do Império Português, do qual o Brasil fazia parte, a data foi simbolicamente adotada como marco oficial do surgimento do Exército Brasileiro.[4]

Primeiro confronto

O primeiro confronto travado entre o exército da Holanda e os defensores do Império Português aconteceu em 18 e 19 de abril de 1648 no Morro dos GuararapesCapitania de PernambucoBrasil Colonial.[5][nota 1]

Os holandeses planejavam reconquistar o Porto de Nazaré, no Cabo de Santo Agostinho, fundamental para o abastecimento do Arraial Velho do Bom Jesus, por onde entravam as armas e munições usados pela resistência luso-brasileira. Sob o comando do coronel Sigismund Van Schkoppe, os combatentes holandeses sabiam da importância estratégica de ocupar primeiro o povoado de Muribeca, onde havia grande quantidade de farinha de mandioca para abastecer os soldados.[5]

Porém, os generais Fernandes Vieira e Vidal de Negreiros, sabendo dos planos de invasão, impediram a ação no Morro dos Guararapes, por onde os holandeses, vindos do Recife, teriam que passar para chegar a Muribeca. Este primeiro confronto terminou com vitória luso-brasileira, apesar do seu efetivo não passar de 2 200 homens, contra 7 400 do exército inimigo. O saldo da guerra foi de 1 200 holandeses mortos, sendo 180 oficiais e sargentos. Do lado luso-brasileiro, foram 84 mortos. O combate mais intenso durou cerca de cinco horas. No campo de batalha tombaram, além de holandeses e luso-brasileiros, ingleses, franceses, poloneses, negros africanos e índios tupis e tapuias.[5] Muitos soldados holandeses afogaram-se em alagadiços nos arredores do Morro dos Guararapes. Debilitado para o combate, o exército da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais não resistiu ao vigor, preparo e conhecimento do terreno dos luso-brasileiros. Nos momentos decisivos do confronto, os holandeses tentaram dominar o flanco ocupado pelos negros, comandados por Henrique Dias, mas as tropas comandadas por Vieira e Vidal vieram em seu auxílio, massacrando os holandeses. A segunda batalha aconteceria dez meses depois, em fevereiro de 1649, no mesmo local.[5]

Segue um resumo da descrição do primeiro confronto, segundo Diogo Lopes Santiago, um cronista da guerra da época:

Morro dos Guararapes, local onde foram travadas as Batalhas dos Guararapes, com Recife ao fundo. O Parque Histórico Nacional dos Guararapes é bem tombado pelo IPHAN.[6]
Tanto que nossa infantaria se escondeu nos mangues ao pé do último monte, Antônio Dias Cardoso ordenou a 20 de seus melhores homens que fossem com 40 dos índios de Filipe Camarão procurar o inimigo, que marchava do Recife pelo caminho dos Guararapes.
Na entrada dos montes, nossos 60 soldados atacaram a vanguarda holandesa e vieram se retirando sem dar costas ao inimigo, atraindo-o a uma passagem estreita entre os montes e o mangue, até poucos passos de onde estava o nosso exército. Do nosso lado houve certa confusão e opiniões de retirada frente àquele exército tão superior, mas os dois mestres de campo, João Fernandes Vieira e André Vidal de Negreiros, resolveram, conforme combinado, enfrentá-los ali, dando a primeira carga e investindo no inimigo à espada, mesmo que sob fogo dos mosquetes.
Marchou André Vidal pela baixa com o Camarão à sua direita pelo mangue. Vieira avançou pelo alto com Henrique Dias à sua esquerda. Aguardaram os nossos duas espantosas cargas de mosquetaria e artilharia sem da nossa parte se dar nenhum tiro, indo ao encontro do inimigo já bem perto. Neste tempo, por toda parte, disparou nosso fogo de uma só vez, causando grande dano e desorganização nos esquadrões inimigos. Logo os nossos sacaram as espadas e atacaram com tanto ímpeto e violência que não puderam os lanceiros conter os nossos de infiltrarem-se, matarem e destroçarem por meia hora, até que lhes pusessem em fuga.
Fugindo e descendo do monte, a seu pesar com mais presteza do que subira, os que escaparam de Dias e Vieira se juntaram aos que estavam em retirada pela campina pressionados por Vidal e Camarão. Ganhamos todos os canhões do inimigo e muita bagagem, motivo que levou muitos soldados ao saque e à euforia.
Como esperado em exércitos como aquele holandês, ter gente de reserva para situações difíceis lhes valeu um contra-ataque fulminante pegando nossos soldados desorganizados, além de exaustos, que se puseram em fuga monte abaixo.
A luta desesperada que seguiu daí pela defesa da passagem estreita (apelidada boqueirão) durou várias horas, com os oficiais (nossos e inimigos) no meio da ação. Acabamos por perder 4 das 6 peças da artilharia ganha. Por fim, o campo ficou nosso e o alto dos montes do inimigo.
O general holandês, gravemente ferido no tornozelo, determinou a retirada durante a noite deixando dois canhões apontados para o boqueirão, disfarçando seu recuo para o Recife.[7]
Ataque luso e recuo holandês
Contra-ataque surpresa da reserva holandesa
Posições iniciais
Desenvolvimento da batalha

Segundo confronto

Ex-voto (Batalha dos Guararapes), pintado em 1758. Coleção do Museu Histórico Nacional.

O segundo confronto entre o exército da Holanda e os defensores do Império Português ocorreu no mesmo local, no Morro dos Guararapes, em 19 de fevereiro de 1649.

Foi vencida pelos portugueses e destaca-se como episódio decisivo na Guerra da Restauração e particularmente na Insurreição Pernambucana, que culminou no término das Invasões holandesas do Brasil, no século XVII. A assinatura da capitulação deu-se em 1654, no Recife, de onde partiram os últimos navios holandeses em direção à Europa.

Segue um resumo da descrição da batalha segundo o cronista contemporâneo Diogo Lopes Santiago (in História da Guerra de Pernambuco, livro 5, capítulo V: ...Da Famosa Vitória que os Portugueses Alcançaram...):

Havendo aprestado as coisas necessárias, o exército holandês saiu do Recife em 18 de fevereiro de 1649, com cinco mil homens de guerra, todos soldados experientes, com que fazia mais forte o poder que o da batalha passada. Traziam também 200 índios, duas companhias de negros e 300 marinheiros que se dispuseram a enfrentar a luta na campanha; 6 canhões, 12 bandeiras, trombetas, caixas e clarins. Posto que não lustrosos com as golas e enfeites que da primeira vez traziam, vinham com longas lanças com as quais andaram treinando para defender a integridade dos esquadrões contra os ataques infiltrados de nossa infantaria.
No tempo que chegou nosso exército ao primeiro monte já estava o inimigo formado em todos os outros e na baixa (boqueirão) onde havia ocorrido o principal da batalha anterior. Mandou Francisco Barreto de Meneses fazer alto e tomou conselho por onde haveriam de buscar a luta, se pela frente, se pela retaguarda ou se pelos lados. André Vidal de Negreiros e Francisco Figueroa deram votos que fosse pela frente, mas João Fernandes Vieira, que vinha com o grosso da gente, deu parecer contrário: que se buscasse o inimigo pela retaguarda (como na 1ª batalha) uma vez que onde estavam não tinha água e deveriam acampar com algum conforto ao fim da tarde, deixando o holandês à espera.
Concordou Francisco de Meneses com este último parecer e assim mandou seguirem a um engenho ali perto onde repousaram e traçaram o plano do ataque, pelo que se concordou em iniciar a ação tão logo abandonasse o inimigo suas posições, para qualquer rumo que fosse.
No dia 19, das 13h00 para as 14h00 (castigado pelo sol), tanto que foram os holandeses desocupando o alto dos montes para formarem um grande esquadrão na direção do Recife, nosso exército iniciou a aproximação.
João Fernandes Vieira com 800 de seus homens foi o primeiro a entrar na luta, bem no meio da área que chamavam boqueirão, onde o inimigo tinha 6 esquadrões e duas peças de artilharia. Após 25 min de cargas de fogo, João Fernandes tentou cortar a formação holandesa pelo alagado. Sem sucesso, de volta à posição inicial, pediu a todos que investissem à espada após uma última carga na cara do inimigo, e assim foi ganho o boqueirão à espada (apesar da brava resistência dos lanceiros holandeses), onde conquistamos 2 canhões de campanha.
Nesta altura já estavam em luta todos os nossos vindo pelo alto e fraldas do último monte: Henrique Dias, Diogo Camarão, Francisco Figueroa, André Vidal, Dias Cardoso e a cavalaria de Antônio Silva. Tomado o monte central e suas 4 peças de artilharia, bem como as tendas do comandante holandês Van den Brinck (que foi morto na ocasião), os portugueses pressionaram os inimigos até sua desintegração e fuga para Recife, sendo perseguidos por nossos cavaleiros exaustos; muitos fugiram para os matos, outros se entregaram implorando pelas vidas.[8]

Perdas holandesas e portuguesas na segunda batalha

Quanto às perdas sofridas pelos holandeses às mãos dos portugueses, existe um documento contemporâneo publicado em Viena, no próprio ano da batalha (1649), por um autor anónimo, em alemão e traduzido para castelhano sob o título Relación de la Victoria que los Portugueses de Pernambuco Alcançaron de los de la Compañia del Brasil en los Garerapes 19 de Febrero de 1649, onde se afirma que:

A derrota foi cruel e sangrenta, e os portugueses, matando a todos os que encontravam, continuaram a vitória pelo espaço de duas léguas, até à Barreta, onde o General deixou algumas companhias para impedir o passo aos fugitivos. Cansados todos, uns de fugir, e outros de matar e vencer. E pelo espaço de três dias andaram os portugueses dando morte e cativando aos que se tinham retirado e escondido naqueles bosques e montanhas.
Nesta admirável vitória perderam os holandeses mais de 2 500 homens, entre mortos e presos, com quase todos os cabos e oficiais do seu exército, escapando só dois mestres de campo, um deles ferido na garganta, um Sargento Maior e quatro Capitães, mil soldados e cerca de 500 feridos.
Morreram o Coronel Brinck, que os governava, dois mestres de campo, o Almirante da Armada que havia desejado participar na batalha, com muitos outros capitães de navios, e oficiais da artilharia. Prisioneiros 110, em que entraram alguns cabos, e entre eles, o Regedor Pedro Poty, o que tornou a vitória mais gostosa (...).
Tomaram os portugueses as seis peças de campanha de bronze, toda a bagagem, munições e armas, porque os fugitivos as deixavam, para correr com menos embaraço, e de doze bandeiras que traziam, só duas voltaram ao Recife.
A relação impressa na Holanda diz que perderam 151 oficiais, e mais de mil soldados entre mortos e presos, mas as cartas escritas do Recife a este país, repetem o referido; e ainda que digam, para diminuir em parte a glória que os portugueses conseguiram, que foi uma emboscada, e não em batalha renhida, não deixam todos de confessar, ficaram desbaratados com perda tão assinalável.
Dos Portugueses morreram o Sargento Maior Paulo de Cunha Souto Maior, o Capitão de Cavalos Manuel de Araújo de Miranda, pessoas de conhecido valor, quarenta e cinco soldados, e cerca de 200 feridos, um deles o Governador Henrique Dias e dez oficiais menores. Como também os Mestres de Campo André Vidal de Negreiros, e João Fernandes Vieira, saíram com os sinais de duas balas (...).[9]

Heróis da Pátria

A Lei nº 12 701, de 6 de agosto de 2012, determinou que os nomes dos principais personagens luso-brasileiros na batalha fossem inscritos no Livro de Heróis da Pátria (conhecido como "Livro de Aço"), depositado no Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, um cenotáfio que homenageia os heróis nacionais localizado na Praça dos Três Poderes, em Brasília.[10]

Ver também

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