quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

ALMEIDA GARRETT - ESCRITOR E POLÍTICO - NASCEU EM 12799 - 4 DE FEVEREIRO DE 2021

 


Almeida Garrett

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Almeida Garrett
Litografia de Almeida Garrett por Pedro Augusto Guglielmi (Biblioteca Nacional de Portugal).
Nascimento4 de fevereiro de 1799
PortoReino de Portugal Portugal
Morte9 de dezembro de 1854 (55 anos)
LisboaReino de Portugal Portugal
NacionalidadeReino de Portugal Português
OcupaçãoEscritor, dramaturgo, poeta, político
Assinatura
AlmeidaGarrettAutógrafo.png

João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett, mais tarde 1.º Visconde de Almeida Garrett (Porto4 de fevereiro de 1799 — Lisboa9 de dezembro de 1854), foi um escritor e dramaturgo românticooradorpar do reino, ministro e secretário de estado honorário português.

Grande impulsionador do teatro em Portugal, uma das maiores figuras do romantismo português, foi ele quem propôs a edificação do Teatro Nacional de D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática.

Biografia

Primeiros anos

João Leitão da Silva nasceu a 4 de fevereiro de 1799, na antiga Rua do Calvário, n.ºs 18, 19 e 20 (actual Rua Dr. Barbosa de Castro, n.ºs 37, 39 e 41), na freguesia da Vitória, no Porto, filho segundo de António Bernardo da Silva Garrett (1740-1834), selador-mor da Alfândega do Porto, e de Ana Augusta de Almeida Leitão (1770-1841), casados em 1796.[1] Neto paterno de José Ferreira da Silva e Antónia Margarida Garrett, materno de José Bento Leitão e Maria do Nascimento de Almeida. Foi baptizado na Igreja Paroquial de Santo Ildefonso a 10 de Fevereiro de 1799.

Eram seus irmãos: Alexandre José da Silva Leitão de Almeida Garrett (7 de Agosto de 1797 - 24 de Outubro de 1847), que casou com Angélica Isabel Alves Cardoso Guimarães, Maria Amália de Almeida Garrett (ca. 1801 - Sé (Angra do Heroísmo)Ilha Terceira, 25 de Novembro de 1844), que casou com Francisco de Menezes Lemos e Carvalho (São Pedro (Angra do Heroísmo)Ilha Terceira, 20 de Setembro de 1786 - Sé (Angra do Heroísmo)Ilha Terceira, 6 de Outubro de 1862), António Bernardo da Silva Garrett (ca. 1803 - São José (Lisboa), 9 de Novembro de 1838), que morreu solteiro e Joaquim António de Almeida Garrett (ca. 1805 - 21 de Maio de 1845). Passou a sua infância na Quinta do Sardão, em Oliveira do Douro (Vila Nova de Gaia), pertencente ao seu avô materno José Bento Leitão, altura em que alterou o seu nome para João Baptista da Silva Leitão, acrescentando o sobrenome Baptista do padrinho e trocando a ordem dos seus apelidos. Mais tarde viria a escrever a este propósito: "Nasci no Porto, mas criei-me em [Vila Nova de] Gaia". No período de sua adolescência foi viver para os Açores, na ilha Terceira, quando as tropas francesas de Napoleão Bonaparte invadiram Portugal e onde era instruído pelo tio paterno, D. Frei Alexandre da Sagrada Família da Silva Garrett (1737-1818), Bispo de Angra.

De seguida, em 1816 foi para Coimbra, onde acabou por se matricular no curso de Direito. Em 1818 adoptou em definitivo os apelidos de Almeida Garrett (Garrett seria o apelido da sua avó paterna, que tinha vindo para Portugal no séquito duma Princesa), pelos quais ficou para sempre conhecido, passando a assinar-se João Baptista da Silva Leitão de Almeida Garrett. Em 1821 publicou O Retrato de Vénus, trabalho que fez com que fosse processado por ser considerado materialista, ateu e imoral, tendo sido absolvido.

Presença na revolução liberal

Almeida Garret, enquanto voluntário do Batalhão Académico, de sentinela ao Convento dos Grilos durante o Cerco do Porto.

Almeida Garrett participou na revolução liberal de 1820, de seguida foi para o exílio na Inglaterra em 1823, após a Vila-francada. Antes casou-se com uma muito jovem senhorita Luísa Midosi, que tinha apenas 14 anos. Foi em Inglaterra que tomou contacto com o movimento romântico, descobrindo ShakespeareWalter Scott e outros autores e visitando castelos feudais e ruínas de igrejas e abadias góticas, vivências que se reflectiriam na sua obra posterior.

Em 1824, pode partir para França e assim o fez, nessa viagem escreveu o muitíssimo conhecido Camões (1825) e Dona Branca (1826, não tão conhecido como o anterior mas não menos importante), poemas geralmente considerados como as primeiras obras da literatura romântica em Portugal. No ano de 1826 foi chamado e regressou à pátria com os últimos emigrantes dedicando-se ao jornalismo, fundando e dirigindo o jornal diário O Portuguêz [2](1826-1827) e o semanário O Cronista (1827). Também colaborou na Revista Universal Lisbonense[3] (1841-1859) e na Semana de Lisboa[4] (1893-1895).

Teria de deixar Portugal novamente em 1828, com o regresso do Rei tradicionalista D. Miguel. No ano de 1828 ainda perdeu, para seu grande desgosto, a sua filha recém-nascida. Novamente em Inglaterra, publica Adozinda (1828).

Juntamente com Alexandre Herculano e Joaquim António de Aguiar, tomou parte no Desembarque do Mindelo e no Cerco do Porto em 1832 e 1833. Também fundou o Jornal "Regeneração" em 1851 a propósito do movimento político da regeneração.[5]

Vida política

A vitória do Liberalismo permitiu-lhe instalar-se novamente em Portugal, após curta estadia em Bruxelas como cônsul-geral e encarregado de negócios, onde lê SchillerGoethe e Herder. Em Portugal exerceu cargos políticos, distinguindo-se nos anos 30 e 40 como um dos maiores oradores nacionais. Foram de sua iniciativa a criação do Conservatório de Arte Dramática, da Inspecção-Geral dos Teatros, do Panteão Nacional e do Teatro Normal (actualmente Teatro Nacional D. Maria II, em Lisboa). Mais do que construir um teatro, Garrett procurou sobretudo renovar a produção dramática nacional segundo os cânones já vigentes no estrangeiro.
Com a vitória cartista e o regresso de Costa Cabral ao governo, Almeida Garrett afasta-se da vida política até 1852. Contudo, em 1850 subscreveu, com mais de 50 personalidades, um protesto contra a proposta sobre a liberdade de imprensa, mais conhecida por “lei das rolhas”.

Paixões de Garrett

A vida de Garrett foi tão apaixonante quanto a sua obra. Revolucionário nos anos 1820 e 1830, distinguiu-se posteriormente sobretudo como o tipo perfeito do dândi, ou janota, tornando-se árbitro de elegâncias e príncipe dos salões mundanos. Foi um homem de muitos amores, uma espécie de homem fatal. Foi em 1821, em plena representação da sua tragédia Catão, drama clássico, que se apaixonou perdidamente por uma bela jovem de 13 anos, Luísa Cândida de Midosi (1808-1892),[6] com quem se casaria onze meses depois, a 11 de Novembro de 1822, na Igreja de São Nicolau (Lisboa). Foi contudo um casamento infeliz, tendo acabado em separação no ano de 1836 (supostamente por adultério dela, enquanto estiveram em Bruxelas e incompatibilidade de génios e desproporção de inteligências, ela voltaria a casar-se com Alexandre Désiré Létrillard, depois de convenção amigável e verbal desde Junho de 1836, com escritura em Outubro de 1839, proporcionando-lhe uma pensão compatível com os seus proventos de empregado público). Garrett passou então a viver amancebado com Adelaide Deville Pastor (1819-1841), de 17 anos, filha ilegítima de um negociante, João António Lopes Pastor, e de uma viúva, Jerónima Deville, até a morte desta, em 26 de Julho de 1841, por complicações de saúde resultantes do parto.

Tiveram três filhos:

  • Nuno João Alexandre José António de Almeida Garrett (São José (Lisboa), 25 de Novembro de 1837 - São José (Lisboa), 9 de Fevereiro de 1839) baptizado como filho de pais incógnitos em 7 de Dezembro de 1837 na Igreja Paroquial de São José em Lisboa e sepultado no Alto de São João;
  • João de Almeida Garrett (6 de Novembro de 1839 - 16 de Dezembro de 1839);
  • Maria Adelaide de Almeida Garrett (Encarnação (Lisboa), 12 de Janeiro de 1841 - São Martinho (Sintra), 4 de Janeiro de 1896) que mais tarde casou com Carlos Augusto Guimarães e teve descendência, cujos infortúnios e ilegitimidade inspiraram o pai a escrever a peça teatral Frei Luís de Sousa. Foi baptizada em 15 de Março de 1841 na Igreja Paroquial da Encarnação em Lisboa como apenas filha natural de Almeida Garrett, sendo legitimada em 4 de Junho de 1842, quase um ano após a morte de sua mãe. Orfã muito cedo, passou a mocidade no Colégio das Salésias, conceituada instituição de educação; era tratada pelo seu pai por Mimi, que dedicou todo o seu cuidado a esta filha única que era o seu encanto, não descurando a sua formação cívica, moral, religiosa e intelectual.

Mais tarde, veio a ser amante de Rosa de Montúfar y García-Infante (1815-1883), uma fidalga espanhola filha do 3º Marquês de Selva Alegre, mulher de Joaquim António Velez Barreiros, 1º Barão e 1º Visconde de Nossa Senhora da Luz e por duas vezes (277º e 286º) Comandante da Ordem da Imaculada Concepção de Vila Viçosa, e Ministro e Governador de Cabo Verde, a quem celebrou no seu último e provavelmente melhor livro de poemas, Folhas Caídas.

Resumo Biográfico

Retrato de Garrett, datado de 1843, com as insignias de Comendador da Ordem de Nossa Senhora da Conceição de Vila Viçosa

Filho segundo do selador-mor da Alfândega do Porto, acompanhou a família quando esta se refugiou nos Açores, onde tinha propriedades, fugindo da segunda invasão francesa, realizada pelo exército comandado pelo marechal Soult que entrando em Portugal por Chaves se dirigiu para o Porto, ocupando-o.

Passou a adolescência na ilha Terceira, tendo sido destinado à vida eclesiástica, devendo entrar na Ordem de Cristo, por intercedência do tio paterno, Frei D. Alexandre da Sagrada Família, bispo de Malaca e depois de Angra.

Em 1816, tendo regressado ao continente, inscreveu-se na Universidade, na Faculdade de Leis, sendo aí que entrou em contacto com os ideais liberais. Em Coimbra, organiza uma loja maçónica, que será frequentada por alunos da Universidade como Manuel Passos. Em 1818, começa a usar o apelido Almeida Garrett, assim como toda a sua família.

Participa entusiasticamente na revolução de 1820, de que parece ter tido conhecimento atempado, como parece provar a poesia As férias, escrita em 1819. Enquanto dirigente estudantil e orador defende o vintismo com ardor escrevendo um Hino Patriótico recitado no Teatro de São João. Em 1821, funda a Sociedade dos Jardineiros, e volta aos Açores numa viagem de possível motivação maçónica. De regresso ao Continente, estabelece-se em Lisboa, onde continua a publicar escritos patrióticos. Concluindo a Licenciatura em Novembro deste ano.

Em Coimbra publica o poema libertino O Retrato de Vénus, que lhe vale ser acusado de materialista e ateu, assim como de «abuso da liberdade de imprensa», de que será absolvido em 1822. Torna-se secretário particular de Silva Carvalho, secretário de estado dos Negócios do Reino, ingressando em Agosto na respectiva secretaria, com o lugar de chefe de repartição da instrução pública. No fim do ano, em 11 de Novembro, casa com Luísa Midosi.

A Vilafrancada, o golpe militar de D. Miguel que, em 1823, acaba com a primeira experiência liberal em Portugal, leva-o para o exílio. Estabelece-se em Março de 1824 no Havre, cidade portuária francesa na foz do Sena, mas em Dezembro está desempregado, o que o leva a ir viver para Paris. Não lhe sendo permitido o regresso a Portugal, volta ao seu antigo emprego no Havre. Em 1826 está de volta a Paris, para ir trabalhar na livraria Aillaud. A mulher regressa a Portugal.

É amnistiado após a morte de D. João VI, regressando com os últimos emigrados, após a outorga da Carta Constitucional, reocupando em Agosto o seu lugar na Secretaria de Estado. Em Outubro começa a editar «O Português, diário político, literário e comercial», sendo preso em finais do ano seguinte. Libertado, volta ao exílio em Junho de 1828, devido ao restabelecimento do regime tradicional por D. Miguel. De 1828 a Dezembro de 1831 vive em Inglaterra, indo depois para França, onde se integra num batalhão de caçadores, e mais tarde, em 1832, para os Açores integrado na expedição comandada por D. Pedro IV. Nos Açores transfere-se para o corpo académico, sendo mais tarde chamado, por Mouzinho da Silveira, para a Secretaria de Estado do Reino.

Participa na expedição liberal que desembarca no Mindelo e ocupa o Porto em Julho de 1832. No Porto, é reintegrado como oficial na secretaria de estado do Reino, acumulando com o trabalho na comissão encarregada do projecto de criação do Códigos Criminal e Comercial.

Em Novembro parte com Palmela para uma missão a várias cortes europeias, mas a missão é dissolvida em Janeiro e Almeida Garrett vê-se abandonado em Inglaterra, indo para Paris onde se encontra com a mulher.

Só com a ocupação de Lisboa em Julho de 1833, consegue apoio para o seu regresso, que acontece em Outubro. Em 2 de Novembro é nomeado vogal-secretário da Comissão de reforma geral dos estudos. É por essa altura que terá se instalado no palácio dos Condes de Almada, no Largo de S. Domingos, em Lisboa, onde reunia a referida comissão[7]. Em Fevereiro do ano seguinte é nomeado cônsul-geral e encarregado de negócios na Bélgica, onde chega em Junho, mas é de novo abandonado pelo governo.

Regressa a Portugal em princípios de 1835, regressando ao seu posto em Maio. Estava em Paris, em tratamento, quando foi substituído sem aviso prévio na embaixada belga. Nomeado embaixador na Dinamarca, é demitido antes mesmo de abandonar a Bélgica.

Estes sucessivos abandonos por parte dos governos cartistas, levam-no a envolver-se com o Setembrismo, dando assim origem à sua carreira parlamentar. Logo em 28 de Setembro de 1836 é incumbido de apresentar uma proposta para o teatro nacional, o que faz propondo a organização de uma Inspecção-Geral dos Teatros, a edificação do Teatro D. Maria II e a criação do Conservatório de Arte Dramática. Os anos de 1837 e 1838, são preenchidos nas discussões políticas que levarão à aprovação da Constituição de 1838, e na renovação do teatro nacional.

Em 20 de Dezembro é nomeado cronista-mor do Reino, organizando logo no princípio de 1839 um curso de leituras públicas de História. No ano seguinte o curso versa a «história política, literária e científica de Portugal no século XVI».

Em 15 de Julho de 1841 ataca violentamente o ministro António José d'Ávila, num discurso a propósito da Lei da Décima, o que implica a sua passagem para a oposição, e o leva à demissão de todos os seus cargos públicos. Em 1842, opõem-se à restauração da Carta proclamada no Porto por Costa Cabral. Eleito deputado nas eleições para a nova Câmara dos Deputados cartista, recusa qualquer nomeação para as comissões parlamentares, como toda a esquerda parlamentar. No ano seguinte ataca violentamente o governo cabralista, que compara ao absolutista.

Litografia sobre papel de Almeida Garrett, Leiloaria São Domingos.

É neste ano de 1843 que começou a publicar, na Revista Universal Lisbonense, as Viagens na Minha Terra, descrevendo a viagem ao vale de Santarém começada em 17 de Julho. Anteriormente, em 6 de Maio, tinha lido no Conservatório Nacional uma memória em que apresentou a peça de teatro Frei Luís de Sousa, fazendo a primeira leitura do drama.

Continuando a sua oposição ao Cabralismo, participa na Associação Eleitoral, dirigida por Sá da Bandeira, assim como nas eleições de 1845, onde foi um dos 15 membros da minoria da oposição na nova Câmara. Em 17 de Janeiro de 1846, proferiu um discurso em que considerava a minoria como representante da «grande nação dos oprimidos», pedido em 7 de Maio a demissão do governo, e em Junho a convocação de novas Cortes.

Com o despoletar da revolução da Maria da Fonte, e da Guerra Civil da Patuleia, Almeida Garrett que apoia o movimento, tem que passar a andar escondido, reaparecendo em Junho, com a assinatura da Convenção do Gramido.

Com a vitória cartista e o regresso de Costa Cabral ao governo, Almeida Garrett é afastado da vida política, até 1852. Em 1849, passa uma breve temporada em casa de Alexandre Herculano, na Ajuda. Em 1850, subscreve com mais de 50 outras personalidades um Protesto contra a Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, mais conhecida por «lei das rolhas». Costa Cabral nomeia-o, em Dezembro, para a comissão do monumento a D. Pedro IV

Com o fim do Cabralismo e o começo da Regeneração, em 1851, Almeida Garrett é consagrado oficialmente. É nomeado sucessivamente para a redacção das instruções ao projecto da lei eleitoral, como plenipotenciário nas negociações com a Santa Sé, para a comissão de reforma da Academia das Ciências, vogal na comissão das bases da lei eleitoral, e na comissão de reorganização dos serviços públicos, para além de vogal do Conselho Ultramarino, e de estar encarregado da redacção do que irá ser o Acto Adicional à Carta.

Por decreto do Rei D. Pedro V de Portugal, datado de 25 de junho de 1851, Garrett é feito Visconde de Almeida Garrett, em vida (tendo o título sido posteriormente renovado por 2 vezes). Em 1852 sobraça, por poucos dias, a pasta do Negócios Estrangeiros em governo presidido pelo Duque de Saldanha.

Em 1852 é eleito novamente deputado, e de 4 a 17 de Agosto será ministro dos Negócios Estrangeiros. A sua última intervenção no Parlamento será em Março de 1854 em ataca o governo na pessoa de Rodrigo de Fonseca Magalhães.

Falece a 9 de dezembro de 1854, vítima de um cancro de origem hepática, na sua casa situada na atual Rua Saraiva de Carvalho, em Campo de Ourique, Lisboa. Foi sepultado no Cemitério dos Prazeres, em Lisboa, tendo sido trasladado a 3 de Maio de 1903[8] para o Mosteiro dos Jerónimos. Os seus restos mortais foram posteriormente trasladados para o Panteão Nacional[9][10] da Igreja de Santa Engrácia aquando do término deste edifício. A cerimónia ocorreu em homenagem a si e a mais outras ilustres figuras portuguesas, entre os dias 1 e 5 de dezembro de 1966.

Relevância na literatura portuguesa

No século XIX e em boa parte do século XX, a obra literária de Garrett era geralmente tida como uma das mais geniais da língua, inferior apenas à de Camões. A crítica do século XX (notavelmente João Gaspar Simões) veio questionar esta apreciação, assinalando os aspectos mais fracos da produção garrettiana.

No entanto, a sua obra conservará para sempre o seu lugar na história da literatura portuguesa, pelas inovações que a ela trouxe e que abriram novos rumos aos autores que se lhe seguiram. Garrett, até pelo acentuado individualismo que atravessa toda a sua obra, merece ser considerado o autor mais representativo do romantismo em Portugal.

Cronologia das obras

Almeida Garrett pelo escultor António Pinheiro.
Monumento em homenagem a Almeida Garrett, Jardim Duque da Terceira, Angra do Heroísmo.
Primeiras edições ou representações

Publicações periódicas

  • 1827 O cronista
  • 1830 Memórias de uma África sofrida

Bibliografia ordenada e completa

Poemas

  • Hino Patriótico, poema. Porto, 1820
  • Ao corpo académico, poema. Coimbra 1821
  • Retrato de Vénus, poema Coimbra, 1821
  • Camões, poema. Paris, 1825
  • Dona Branca ou a Conquista do Algarve, poema. Paris, 1826 (pseud. de F. E.)
  • Adozinda, poema. Londres, 1828
  • Lyrica de João Mínimo. Londres, 1829
  • Miragaia, poesia. Lisboa, 1844 (eBook)
  • Flores sem Fruto, poesia. Lisboa, 1845
  • Os Exilados, À Senhora Rossi Caccia , poesia. Lisboa, 1845
  • Folhas Caídas, poesia. Rio de Janeiro e depois Lisboa,1853
  • Camões, poema. 4ª ed. revista, com estudo de Camilo Castelo Branco. Porto, 1854
Obras póstumas
  • Dona Branca ou a Conquista do Algarve, poema. Porto Alegre, 1859
  • Dona Branca ou a Conquista do Algarve, poema. Nova York, 1860
  • Bastardo do Fidalgo, poema. Porto, 1877
  • Odes Anacreônticas: Ilha Graciosa. Évora, 1903
  • A Anália, poesia inédita de Garrett. Lisboa 1932 (redac., Porto 1819)
  • Magriço ou Os Doze de Inglaterra, poema. Coimbra, 1948
  • Roubo das Sabinas, poemas libertinos I. Lisboa, 1968
  • Afonseida, ou Fundação do Império Lusitano, poema. Lisboa 1985 (pseud.: Josino Duriense, redac., Angra 1815-16)
  • Poesias Dispersas. Lisboa, 1985
  • Magriço e os Doze de Inglaterra, poema incompleto, Lisboa, 1914

Peças teatrais

  • Catão, tragédia. Lisboa, 1822
  • O Corcunda por amor. Lisboa, 1822 [edição conjunta com Catão]
  • Catão, tragédia. Londres, 1830
  • Catão, tragédia. Rio de Janeiro, 1833
  • Catão, tragédia. Lisboa, 1845
  • Mérope, tragédia. Lisboa, 1841
  • O Alfageme de Santarém ou A Espada do Condestável. Lisboa, 1842
  • Um Auto de Gil Vicente. Lisboa, 1842
  • Frei Luís de Sousa, 1843 (eBook)
  • Dona Filipa de Vilhena, comédia. Lisboa, 1846 [11]
  • Falar Verdade a Mentir, comédia. Lisboa 1846
  • A Sobrinha do Marquês, 1848
  • Camões do Rossio, comédia. Lisboa, 1852 (co-autoria de Inácio Feijó)
Obras póstumas
  • Um noivado no Dafundo ou Cada terra com seu uso, cada roca com seu fuso: provérbio n'um acto (redac., Lisboa, 1847). Lisboa, 1857 ;
  • Impromptu de Sintra, comédia (redac., Sintra, 1822). Lisboa, Guimarães, Libanio, [1898];
  • Átala, drama (redac., Coimbra 1817). Lisboa, 1914 [inacabado];
  • Lucrécia, tragédia (redac., Coimbra, 1819). Lisboa, 1914;
  • Afonso de Albuquerque, tragédia (redac., Coimbra, 1819). Lisboa, 1914 [inacabado];
  • Sofonisba, tragédia (redac., Coimbra, 1819). Lisboa, 1914[inacabado];
  • O Amor da Pátria, elogio dramático (redac. Coimbra 1819). Lisboa, 1914;
  • La Lezione Agli Amanti, ópera bufa (redac., Porto, 1819-20). Lisboa, 1914;
  • Conde de Novion, comédia (redac., Lisboa). Lisboa, 1914;
  • Édipo em Colona, tragédia (redac., Terceira, 1816; revisão, Coimbra, 1818). Lisboa, 1952 [inacabado];
  • Ifigénia em Tauride, tragédia (redac., Terceira, 1816). Lisboa, 1952 [inacabado];
  • Falar Verdade a Mentir, comédia (redac., Lisboa). Rio de Janeiro, 1858;
  • As Profecias do Bandarra, comédia (redac., Lisboa 1845). Lisboa, 1877;
  • Os Namorados Extravagantes, drama (redac. Sintra, 1822). Coimbra 1974.

Artigos, ensaios, biografias e folhetos

  • Proclamações Académicos, Coimbra, 1820, folhetos
  • O Dia Vinte e Quatro de Agosto, ensaio político. Lisboa, 1821, 53 p.
  • Aos Mortos no Campo da Honra de Madrid, folheto. Lisboa, Jornal da Sociedade Literária Patriótica, 1822
  • Da Europa e da América e de Sua Mútua Influência na Causa da Civilização e da Liberdade, ensaio político. Londres 1826
  • Da Educação. Londres, 1829
  • Portugal na Balança da Europa: do que tem sido e do que ora lhe convém ser na nova ordem de coisas do mundo civilizado, Londres, 1830
  • Relatório dos Decretos nº 22, 23 e 24 (Reorganização da Fazenda, Administração Pública e Justiça). Lisboa, 1832, folheto
  • Manifesto das Cortes Constituintes à Nação, folheto. Lisboa, 1837
  • Necrologia do Conselheiro Francisco Manuel Trigoso de Aragão Morato, Lisboa, 1838
  • Relatório ao Projecto de Lei sobre a Propriedade Literária e Artística, Lisboa, 1839
  • Memória Histórica do Conselheiro A. M. L. Vieira de Castro, Lisboa, 1843
  • Conselheiro J. B. de Almeida Garrett, autobiografia. Lisboa, 1844
  • Memória Historica da Duqueza de Palmella: D. Eugénia Francisca Xavier Telles da Gama, Lisboa, 1845
  • Memória Histórica do Conde de Avilez, 1ª ed., Lisboa, 1845
  • Da Poesia Popular em Portugal, ensaio literário. Lisboa, 1846
  • Sermão pregado na dedicação da capela de Nª Srª da Bonança, folheto, Lisboa, 1847
  • A Sobrinha do Marquês, Lisboa, 1848, 176 p.
  • Memória Histórica de J. Xavier Mousinho da Silveira, Lisboa, 1849
  • Necrologia de D.ª Maria Teresa Midosi, Lisboa, 1950
  • Protesto Contra a Proposta sobre a Liberdade de Imprensa, abaixo-assinado/folheto. Lisboa 1850 (subscrito, à cabeça, por Alexandre Herculano e mais cinquenta personalidades, contra o projecto de «lei das rolhas» apresentado pelo governo)
Obras póstumas
  • Discursos Parlamentares e Memorias Biographicas, Lisboa, Imprensa Nacional, 1871, 438, p.
  • Necrologia do Sr. Francisco Krus; Monumento ao Duque de Palmela, D. Pedro de Sousa Holstein, Lisboa, 1899 (redac., Lisboa, 1839);
  • Memórias Biográficas, Lisboa, Empreza da História de Portugal, 1904
  • Necrologia à Morte de D. Leocádia Teresa de Lima e Melo Falcão Vanzeler, Lisboa, 1904 (redac., Lisboa, 1848)
  • Apontamentos Biográficos do Visconde d'Almeida Garrett, autobiografia. Porto, 1916
  • Entremez dos Velhos Namorados que Ficaram Logrados, Bem Logrados, Lisboa, 1954 (redac., 1841)

Romances, cancioneiros e contos

  • Bosquejo da História da Poesia e da Língua Portuguesa, Paris, 1826
  • Lealdade, ou a Vitória da Terceira, canção. Londres, 1829
  • Romanceiro e Cancioneiro Geral, vol. I. Lisboa, 1843
  • O Arco de Sant'Ana, romance. Lisboa, na Imprensa Nacional, 1845, vol. 1
  • Viagens na Minha Terra, romance. Lisboa, Typ. Gazeta dos Tribunais, 1846, 2 v. (Vol. I (eBook); Vol. II (eBook); 2 vol. juntos (eBook))
  • O Arco de Sant'Ana, romance. Lisboa, na Imprensa Nacional, 1850, vol. 2
  • Romanceiro e Cancioneiro Geral, vols. II e III, Lisboa 1851
Obras póstumas
  • Helena: fragmento de um romance inédito. Lisboa, 1871
  • Memórias de João Coradinho, aventuras picarescas. Lisboa, 1881 (redac., 1825)
  • Joaninha dos Olhos Verdes. Lisboa, 1941
  • Komurahi - História Brasileira, conto. 1956 (redac., 1825)
  • Cancioneiro de romances, xácaras e soláus e outros vestígios da antiga poesia nacional. Lisboa, 1987 (redac., 1824)

Cartas e diários

  • Carta de Guia para Eleitores, em Que se Trata da Opinião Pública, das Qualidades para Deputado e do Modo de as Conhecer, ensaio político. Lisboa, 1826
  • Carta de M. Cévola ao futuro editor do primeiro jornal liberal que em português se publicar, panfleto político. Londres, 1830 (pseud.: Múcio Cévola)
  • Carta sobre a origem da língua portuguesa, ensaio literário. Lisboa, 1844
Obras póstumas
  • Diário da minha viagem a Inglaterra, Lisboa 1881 (redac., Birmingham, 1823)
  • Cartas a Agostinho José Freire, Lisboa, 1904, 132 p. (redac., Bruxelas, 1834)
  • Cartas Íntimas, edição revista, coordenada e dirigida por Teófilo Braga. Lisboa, Empresa da História de Portugal, 1904, 172 p.
  • Cartas de Amor à Viscondessa da Luz, Lisboa, 1955
  • Correspondência do Conservatório, Lisboa, 1995 (redac.: Lisboa 1836 – 1841)

Discursos

  • Oração Fúnebre de Manuel Fernandes Tomás, Lisboa, 1822
  • Parnaso Lusitano ou Poesias Selectas de Autores Antigos e Modernos, Paris, 1826-1827, 5 v.
  • Elogio Fúnebre de Carlos Infante de Lacerda, Barão de Sabrozo, Londres, 1830
  • Da formação da segunda Câmara das Côrtes: discursos pronunciados pelo deputado J. B. de Almeida Garrett nas sessões de 9 a 12 de Outubro de 1837, Lisboa, Imprensa Nacional, 1837
  • Discurso do Sr. Deputado pela Terceira J. B. de Almeida Garrett na discussão, Lisboa, 1840
  • Discussão da Resposta ao Discurso da Coroa, pronunciado na sessão de 8 de Fevereiro de 1840, Lisboa, 1840
  • Discurso do Sr. Deputado por Lisboa J. B. de Almeida Garrett, na discussão da Lei da Decima, Lisboa, 1841
  • Elogio Histórico do Sócio Barão da Ribeira de Saborosa, Lisboa, 1843
  • Parecer da Comissão sobre a Unidade Literária, Lisboa, 1846 (dito Parecer sobre a Neutralidade Literária, da Associação Protectora da Imprensa Portuguesa, assinado por Rodrigo da Fonseca Magalhães, Visconde de Juromenha, Alexandre Herculano e João Baptista de Almeida Garrett)
Obras póstumas
  • Política: reflexões e opúsculos, correspondência diplomática. Lisboa, 1904, 2 v.

Participação em publicações periódicas

  • Toucador - Periódico sem política, dedicado às senhoras portuguesas. Lisboa, 1822 (direcção e redacção)
  • Heraclito e Demócrito. Lisboa, Ano III, 1823 (4 mar.) [nº único]
  • Português - Diário político, literário e comercial. Lisboa, 1826 – 1827 (direcção e redacção)
  • Cronista - Semanário de política, literatura, ciências e artes. Lisboa, 1827 (direcção e redacção)
  • Chaveco Liberal. Londres, 1829 (direcção e redacção); Vol. I, 1 - 17 [1]
  • Precursor. Londres, 1831
  • Português Constitucional. Lisboa, 1836 (direcção e redacção)
  • Entreacto: Jornal de Teatros. Lisboa, 1837 (fundação, direcção e redacção)
  • Jornal do Conservatório. Lisboa, 1839 - 1840 (fundação, direcção e redacção)[ligação inativa]
  • Jornal das Belas-Artes. Lisboa, 1843 – 1846 (fundação)
  • Ilustração - Jornal Universal. Lisboa, 1845 – 1846 (fundação)

Algumas obras disponíveis em formato digital na Internet

Referências

Bibliografia

  • Amorim, Francisco Gomes de. Garrett, memorias biographicas. Lisboa : Imprensa nacional, 1881. (digitalizado em www.archive.org em [4][5][6][7])
  • Crabée-Rocha, Andrée, O Teatro Inédito de Garrett. Coimbra: [s.n.], 1949.
  • Crabée-Rocha, Andrée, O Teatro de Garrett. Tese de doutoramento em Filologia Românica pela Universidade de Coimbra. Coimbra: [s.n.], 1954.
  • Crabée-Rocha, Andrée, Garrett homme de théâtre. Lisbonne: [s.n.], 1954.
  • Fernandes, Domingos Manuel. Biographia politico-litteraria do visconde de Almeida Garrett. Lisboa, Typ. luso-brittannica de W.T. Wood, 1873. (digitalizado em www.archive.org)
  • Ferreira, Maria Gabriela Rodrigues, Jornal do Conservatório: Comédia e drama de Almeida Garrett. Lisboa: Fronteira do Caos, 2010. (Tese de mestrado Faculdade de Letras/ Universidade do Porto, 2007 - digitalizada em Repositório aberto UP, 2 vol. [8]
  • Marinho, Cristina, "O jovem Garrett: fundamentos franceses de um teatro nacional", em Marinho, Cristina (1998), Teatro francês em Portugal: entre a alienação e a consolidação de um Teatro Nacional (1737 - 1820). Tese de doutoramento em Literatura Comparada. Porto: Faculdade de Letras/ Universidade do Porto. (digitalizado em Repositório aberto UP [9])
  • Monteiro, Ofélia Paiva, A Formação de Almeida Garrett: experiência e criação. Tese de doutoramento em Filologia Românica. Coimbra: Centro de Estudos Românicos, 1971. 2 volumes.
  • Monteiro, Ofélia Paiva, Os namorados extravagantes: uma peça inédita da juventude de Garrett. Coimbra, 1974.
  • Monteiro, Ofélia Paiva, O essencial sobre Almeida Garrett. Lisboa: Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2001.
  • Motta Junior, José Carlos A.. Escorço litterario e politico do Visconde d'Almeida Garrett. Braga : Typ. Conflança, 1902. (digitalizado em www.archive.org)

Ligações externas

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SÃO JOÃO DE BRITO - 4 DE FEVEREIRO DE 2021

 


João de Brito

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São João de Brito
«São Francisco Xavier de Portugal»
Nascimento1 de março de 1647 em São Cristóvão e São LourençoLisboaPortugal
Morte4 de fevereiro de 1693 (45 anos) em OriurÍndia
Beatificação21 de agosto de 1853Roma por Papa Pio IX
Canonização22 de junho de 1947Roma por Papa Pio XII
Festa litúrgica04 de Fevereiro em Portugal
Gloriole.svg Portal dos Santos

João Heitor de Brito[1] (LisboaSão Cristóvão e São Lourenço1 de Março de 1647 — OriurÍndia4 de Fevereiro de 1693) foi um missionário jesuíta português e mártir, frequentemente chamado de "O São Francisco Xavier Português". Foi canonizado em 22 de Junho de 1947, pelo Papa Pio XII.

Biografia

Adolescência

João de Brito nasceu na freguesia de São Cristóvão e São Lourenço da cidade de Lisboa a 1 de Março de 1647, filho de Salvador de Brito PereiraFidalgo da Casa RealAlcaide-Mor do Castelo de Alter do Chão e 20.º Governador da Capitania do Rio de Janeiro, e de sua mulher Brites Pereira. O seu pai faleceria no Rio de Janeiro a 20 de Junho de 1651, quando ele tinha apenas quatro anos. Desde cedo que, juntamente com os seus irmãos, Cristóvão e Fernão, teve ensino Cristão.

Aos 11 anos, João de Brito ficou doente com tal gravidade que, nas suas preces para recuperar a saúde, invocava São Francisco Xavier. Acreditando ter ficado bom através das suas preces, veste-se com o hábito de Santo Inácio, da Companhia de Jesus, tal como tinha prometido, durante um ano. Após o período da promessa, João de Brito revelou a sua mãe a intenção de entrar para a Companhia de Jesus Partindo, em seguida, para a casa do noviciado de Lisboa, onde passa os próximos dois anos.

Depois de cumprido o noviciado, João de Brito parte para Évora onde, durante cinco anos, estuda Humanidades e Filosofia. No entanto, devido ao clima da cidade, adoece e muda-se para Coimbra, para o Colégio das Artes onde estuda Filosofia. É neste período da sua vida que começa a pensar em ir para uma das missões da Ásia, nomeadamente na Índia, e faz o pedido ao Padre Geral da Companhia, primeiro em 1668, e depois em 1669. Após terminar o curso de Filosofia, é nomeado para leccionar a cadeira de gramática no colégio de S. Antão (actual Hospital de S. José), em Lisboa. Entretanto, recebe a notícia de que o seu pedido para ir para a Índia tinha sido aceite. Influenciado pelo Governador-geral de Madurai, que se encontrava em Lisboa a procurar membros para a missão, João de Brito decide-se por esta. Entre 1671 e 1673 estuda Teologia, condição necessária para ser ordenado sacerdote e ir para a missão. Quando informa a sua mãe, esta tenta impedi-lo, por todos os meios, de ir, com receio de não o voltar a ver; no entanto, não o consegue pois ele tinha tomado essa decisão de acordo com os seus ideais.

Ida para a Índia

25 de Março de 1673, João de Brito embarca para Goa, Índia, onde chega a 14 de Setembro desse ano. Os primeiros tempos naquele território foram de preparação para a sua vida de missionário: dormia no chão, não comia nem carne nem peixe, apenas vegetais, fruta, arroz e leite, e poucas, ou nenhumas, condições materiais tinha à sua disposição; termina os estudos de Teologia. No início do ano seguinte, parte para Ambalacata, onde se situava um colégio de estudantes e um seminário para a formação de sacerdotes do rito sírio. Em Abril, segue para a missão de Madurai para aí ser o Superior da Comunidade.

Missão de Madurai

Embora lhe tenham oferecido condições para efectuar a viagem comodamente, decide ir pelo seu pé, acompanhado pelo Padre André Freire. Chegou a Colei a 30 de Julho, véspera da celebração da morte de Inácio de Loiola, 31 de Julho de 1556.

Ilustração tradicional do missionário São João de Brito na Índia.

De entre o sistema de castas da Índia, era à mais baixa — os párias -, que João de Brito se dirigia por aí ter mais amigos. Os párias eram desprezados pelas outras castas e, pelo facto de os missionários lidarem com eles, eram, também, desprezados e considerados como inimigos. Uma das maiores afrontas que algum membro de outra casta podia cometer era converter-se ou contactar com os missionários. Percebendo que a única forma de conquistar a classe mais alta, os brâmanes, eram identificar-se com eles, João de Brito começou a vestir-se como eles, deixou crescer o cabelo e aprendeu a sua língua.

Até 1679, João de Brito efectuou a sua acção missionária entre Colei e Tatuancheri. Esta acção abrangeu doentes, feridos de guerra e desprotegidos. O trabalho missionário não era fácil devido às condições climáticas, inundações e chuvas torrenciais e, sobretudo, a perseguição contra os cristãos. Algumas das ajudas que prestou foram consideradas como milagres ajudando à adesão da população. Na Quaresma de 1678, mais de 3 000 pessoas receberam os sacramentos. Até 1685, o trabalho missionário de João d Brito continuou, por entre várias dificuldades e mesmo perigo de vida, ao longo de várias regiões. De 1685 a 1686, João de Brito exerce o cargo de Superior da Missão de Madurai.

5 de Maio de 1686, João de Brito chega ao reino de Maravá. Devido às perseguições contra os cristãos que ali tinham lugar, há cerca de 18 anos que nenhum missionário passava por aquela região. Antes de partir, pede conselhos a um missionário que o tenta dissuadir de partir. Mesmo assim, João de Brito resolve partir. Aí, baptiza e confessa mais de 2 000 cristãos. Depois destas acções, parte para norte, acompanhado de mais cinco catequistas, e cruza-se com o chefe do exército de Maravá que os prende e tortura, obrigando-os a invocar o Deus Shiva, o que recusaram. As torturas prolongaram-se por vários dias. Seguidamente são levados à presença de um tribunal liderado por um general. Este condena-os a serem empalados e a lhes serem cortados os membros por estarem a querer divulgar uma religião diferente e a não invocarem o nome de Shiva. No entanto, a sentença acaba por ser suspensa pois chega uma carta do rei a convocar as tropas do general para lutar contra o seu cunhado. Dias depois, João de Brito e os outros catequistas são levados à presença do rei. Este pede-lhe para explicar em que consistia a fé que professava e, depois de ouvir as explicações, conclui que aquela tinha grandes virtudes e fugia do pecado. Desta forma, manda cancelar a sentença.

Ida a Portugal

Deixando o reino de Maravá, parte para Malabar onde o padre provincial o informa que se tem de deslocar a Portugal e, de seguida ,a Roma, para fazer um ponto de situação sobre as missões. João de Brito, no entanto, tentou pedir que não o enviassem pois não queria afastar-se de Madura. Contrariado, em Dezembro de 1687, parte de Goa rumo a Portugal, passando pela Baía de Todos os Santos, no Brasil. Chega a Lisboa a 8 de Setembro de 1688, 14 anos depois de ter saído.

No seu regresso a Portugal, foi recebido por D. Pedro II, e por toda a corte. De seguida, foi visitar as casas dos jesuítas de SantarémCoimbraPorto e Braga, para recrutar elementos para as missões. Entretanto, a sua mãe tentou por diversas ocasiões contacta-lo, mas ele dava sempre mais prioridade à sua missão religiosa; encontraram-se, por fim, em Coimbra. De volta à corte, o rei D. Pedro II convida-o a ficar em Portugal, mas recusou.

Pela lei de Roma, os procuradores gerais da Índia devem ir àquela cidade fazer um relatório sobre as suas missões. No entanto, esta lei era contrária à da coroa Portuguesa, o que causava controvérsia. Assim, é enviada uma carta ao superior de João de Brito a expor a situação. Alguns meses chega a resposta com a indicação de que devia ir a Roma. Informado o rei, este não o deixa ir, e informa Roma; esta responde que não era necessário ir.

Regresso à Índia

Em Abril de 1690, João de Brito parte, de novo, para a Índia, onde chega em Novembro. A 3 de Dezembro, antes de partir para Madurai, visita o túmulo de São Francisco Xavier celebrando o seu dia. Na presença do Padre Provincial, João de Brito consegue que o túmulo seja aberto.

Os últimos anos de vida do Padre João de Brito são anos de evangelização, novas provações, dificuldades e perigo da sua própria vida. O rei da região perseguia-o.

Morte de João de Brito

O martírio de São João de Brito

As causas da morte de João de Brito devem-se ao facto de um príncipe da casa real do Maravá querer conhecer a religião cristã, sendo-lhe enviado um catequista para tal. O príncipe, que entretanto adoeceu, não estava a conseguir melhorar com os cuidados médicos da corte, e resolveu invocar o Deus dos cristãos. Acompanhado pelo catequista, foi-lhe lido o Evangelho de São João. Esta situação terá sido a origem da sua cura.

O príncipe, sensibilizado pela forma como ficou curado, pediu para ser baptizado pelo Padre João de Brito. No entanto, havia o problema de ser polígamo e, de acordo com a lei da Igreja cristã, tal não era permitido. Informado, o príncipe aceitou ficar apenas com uma mulher, a primeira, não descurando as outras a quem prometeu que nada lhes faltaria, e foi baptizado. Porém, a sua mulher mais nova não gostou de ser relevada para segundo plano, e foi queixar-se ao rei do Maravá, seu tio, e aos sacerdotes. Estes, que não gostavam do Padre, pediram ao rei que chamasse o príncipe que, entretanto, se tinha convertido à religião cristã. Ao saber disto, o rei ficou furioso, mandou destruir tudo o que fosse dos cristãos, e enviou soldados para prender João de Brito, que se encontrava em Muni.

8 de Janeiro de 1693, João de Brito é preso, e espancado, juntamente com um jovem e um brâmane cristão. Seguidamente, atado a um cavalo, depois de percorrer um longo caminho a pé, e de ser insultado pelo povo, chegam à capital a 11 de Janeiro e são colocados numa prisão apenas alimentados com uma pequena refeição de leite por dia. O príncipe tentou interceder a favor de João de Brito, mas não o conseguiu. É levado para Oriur, onde chegou no dia 31 de Janeiro. A 4 de Fevereiro, o rei manda executá-lo, por decapitação e, posteriormente, desmembrado. Depois de saberem da notícia da sua morte, os Padres dirigiram-se para o local da sua execução para recolher o restava do seu corpo e demais objectos pessoais, e mesmo a acha com que foi decapitado. Esta foi enviada para Portugal e entregue ao rei D. Pedro II. A notícia do martírio foi recebida como uma “boa-nova” dado tratar-se de alguém considerado “santo”. Após a morte de João de Brito, o local onde foi executado passou a ser um lugar de peregrinação. A notícia da sua morte fez aumentar o número daqueles que queriam aderir à sua religião na região de Madurai. Também a notícia de milagres devido ao Padre João de Brito começou a aumentar.

Processo de beatificação

A morte e o relato de milagres de João de Brito, deram início a um processo de beatificação. O processo foi iniciado pelo bispo de Meliapor. Várias pessoas que viveram junto dele ou que testemunharam alguns dos seus milagres, fizeram os seus relatos. Em 1696, o Padre João da Costa, missionário, foi a Roma contar a vida, a morte e a obra de João de Brito. Em 1713, outro bispo de Meliapor escreve uma carta a Roma a pedir a “glorificação” do Padre João de Brito. Muitos outros bispos e o próprio D. Pedro II enviariam pedidos à Santa Sé pedindo a sua “glorificação”.

No entanto, o processo ficaria estagnado dado o início das perseguições à Companhia de Jesus. Em 1773, o Papa Clemente XIV suprime a ordem religiosa. Só no século seguinte o assunto seria retomado, no pontificado do Papa Pio IX. A 17 de Fevereiro de 1852, o Papa declara que se podia avançar para a beatificação, e a cerimónia teria lugar na Basílica de São Pedro, a 21 de Agosto de 1853.

Canonização

Estátua do mártir São João de Brito sobre a colunata do Santuário de Fátima.

Novamente os anos passaram até que se voltasse a dar importância à obra do Padre João de Brito. Pouco mais era feito senão a celebração da data da sua morte a 4 de Fevereiro. Em 1923, os jesuítas de Pontevedra publicam uma biografia de João de Brito, ao que se seguiram outras publicações, dando, de novo, início a celebrações e a um renascimento na devoção ao Padre. Novos milagres são reportados.

O processo de canonização é iniciado a 18 de Agosto de 1937. Depois de analisadas as curas que deram origem ao processo, a Santa Sé publica o decreto de aprovação dos milagres a 30 de Junho de 1941. A 22 de Junho de 1947, o Papa Pio XII preside à Eucaristia da canonização, atribuindo, assim, o estatuto de Santo ao Padre João de Brito.

14 de Maio de 1982, aquando da Eucaristia celebrada pelo Papa João Paulo II no Parque Eduardo VII, em Lisboa, aquele disse:

Ver também

Referências

  1.  Britto 1852, pp. 314
  2.  Pedroso (2004). S. João de Brito, quando a culpa é virtude…. [S.l.: s.n.] p. 6

Bibliografia

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