segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

SIDÓNIO PAIS - EX-PRESIDENTE DA REPÚBLICA PORTUGUESA - MORREU EM 1918 - 14 DE DEZEMBRO DE 2020

 


Sidónio Pais

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Sidónio Pais
4.º Presidente de Portugal
Período28 de abril de 1918
14 de dezembro de 1918
AntecessorBernardino Machado
SucessorJoão do Canto e Castro
Dados pessoais
Nome completoSidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais
Nascimento1 de maio de 1872
CaminhaReino de Portugal Reino de Portugal
Morte14 de dezembro de 1918 (46 anos)
LisboaPortugal Portugal
Primeira-damaMaria dos Prazeres Martins Bessa Pais
PartidoPartido Nacional Republicano
ReligiãoCatólico[1]
ProfissãoMajor do Exército e Professor
AssinaturaAssinatura de Sidónio Pais

Sidónio Bernardino Cardoso da Silva Pais (Caminha1 de maio de 1872 — Lisboa14 de dezembro de 1918) foi um militar e político que, entre outras funções, exerceu os cargos de Deputado, de Ministro do Fomento, de Ministro das Finanças, de Embaixador de Portugal em Berlim, de Ministro da Guerra, de Ministro dos Negócios Estrangeiros, de Presidente da Junta Revolucionária de 1917, de Presidente do Ministério e de Presidente da República Portuguesa. Oficial de Artilharia, foi também professor na Universidade de Coimbra, onde leccionou Cálculo Diferencial e Integral.

Enquanto Presidente da República, de forma ditatorial, sem consultar o Congresso, suspendeu e alterou por decreto algumas normas da Constituição de 1911, protagonizando a primeira grande mudança no republicanismo português — a República Nova, de cunho presidencialista — transformando-se numa das figuras mais controversas da política portuguesa do século XX. O seu assassinato, no final de 1918, gerou grande comoção popular, culminando no poema-elogio fúnebre de Fernando Pessoa que lhe deu o epíteto de Presidente-Rei.

Em 1966, os seus restos mortais foram trasladados solenemente para o Panteão Nacional, na Igreja de Santa Engrácia, em Lisboa, quando da sua inauguração. A cerimónia ocorreu no dia 5 de dezembro e homenageou igualmente com estas honras outros ilustres portugueses. Antes disso, o seu corpo encontrava-se na Sala do Capítulo do Mosteiro dos Jerónimos.

Biografia

Sidónio Pais nasceu pelas 9 horas da noite, no dia 1 de Maio de 1872, em casa dos seus pais, na Rua Direita n.º 115, em Caminha.[2] Os seus pais, Sidónio Alberto Marrocos Pais (1846-1883), notário e secretário judicial de ascendência judia Cristã-nova de Barcelos (pelo seu trisavô António Velho da Fonseca[nota 1]), e Rita Júlia Cardoso da Silva Pais, eram ambos naturais de Caminha.[3] Sidónio é o mais velho de sete irmãos.[2]

A 6 de Junho de 1872, pelas 5 horas da tarde, foi baptizado na Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção, em Caminha. São padrinhos o seu avô paterno, Bernardo José Pais de Azevedo, e sua tia materna, Claudina Cardoso da Silva Coelho.[4]

Em 1879, o seu pai é demitido das funções de escrivão de Direito e tabelião de Notas, no 2.º Ofício da Comarca, sendo esta demissão eventualmente comutada em transferência para Pedrógão, e posteriormente, por troca, para a Comarca da Sertã.[2] Completou a instrução primária na Sertã,[5] onde viveu até aos 11 anos, 1883, ano em que morre o pai, vitimado por uma pneumonia.[2] A sua mãe, Rita Júlia, enfrentando agora sérios problemas financeiros e com sete filhos a seu cargo, solicita o apoio de parentes e amigos chegados e decide regressar a Caminha após o funeral do marido. Sidónio é apoiado e acolhido pelo tio-avô Bento Tomás da Silva Coelho e pela tia e madrinha Claudina Cardoso da Silva Coelho, senhores da Quinta da Fonte da Vila, lar burguês onde passa momentos da sua infância com os primos, tendo mesmo chegado a enamorar-se pela prima Claudina.[2]

No ano lectivo de 1885-1886, acede à condição de "formigão" — designação da gíria estudantil coimbrã para os alunos inscritos no Seminário Maior Episcopal de Coimbra —, na qualidade de aluno externo. Frequenta e obtém aprovação em Geografia e História; em 1886 regressa a Viana onde, igualmente como externo, se submete no Liceu Nacional (atualmente Escola Secundária de Santa Maria Maior) a apenas três exames: Geografia, Introdução e Aritmética.[5] Obtendo habilitações suficientes para um curso superior, seguiu para Coimbra, onde cursou os preparatório de Matemática e Filosofia. Destinado à carreira militar, entrou em 1888 para a Escola do Exército, frequentando o curso da arma de artilharia. Aluno de destaque, completou com distinção o cursos e foi promovido a alferes em 1892, a tenente em 1895, a capitão em 1906 e a major em 1916.

Após a conclusão do curso da Escola do Exército matriculou-se na Universidade de Coimbra, onde se licenciou em Matemática, disciplina em que se doutorou, naquela mesma Universidade, no ano de 1898. Data deste período a sua adesão aos ideais republicanos, quando a Monarquia Constitucional Portuguesa vivia os seus anos finais.

Casou-se em Amarante, freguesia de São Gonçalo, em 2 de Fevereiro de 1895 com Maria dos Prazeres Martins Bessa, com quem teve cinco filhos: Sidónio (1896-?), António (1897-1987), Maria Sidónia (1899-1985), Afonso (1901-1995) e Pedro (1902-1930). Em 1904 separou-se da esposa, que continuou a viver em Coimbra.

Em 1907 foi ainda pai de Maria Olga, filha de Ema Manso Preto, cuja paternidade assumiu mas não perfilhou por a mãe ser casada com Álvaro Augusto Pinto Ribeiro, residente na cidade do Funchal. Quando ficou viúva, a filha poderia deixar de permanecer com registo de filiação incógnita mas a relação com Sidónio já tinha terminado por incompatibilidade de feitios.

Bernardo Sassetti (de seu nome completo Bernardo da Costa Sassetti Pais), reconhecido pianista português falecido em 2012, era seu bisneto.

Início de carreira

Durante este período pertenceu por um curto espaço de tempo à Maçonaria na Loja Estrela de Alva, de Coimbra, com o nome simbólico de irmão Carlyle,[6] não sendo, no entanto, um membro muito activo.

Considerado um distinto matemático, permaneceu em Coimbra, onde foi nomeado professor da cadeira de Cálculo Diferencial e Integral da Universidade. Foi também professor da Escola Industrial Brotero, da qual foi director de 1905 a 1909. Chegou a professor catedrático e foi nomeado vice-reitor a 23 de Outubro de 1910, sendo reitor Manuel de Arriaga.

Considerado um republicano destacado, após a implantação da República Portuguesa em 1910 foi catapultado para a vida política activa: depois de durante um breve período de tempo ter ocupado o cargo de membro dos corpos gerentes da Companhia de Caminhos de Ferro,[3] foi Presidente da Câmara de Coimbra nesse mesmo ano.[7]

Foi eleito deputado à Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição Portuguesa de 1911.

Membro destacado da Assembleia Constituinte, foi nomeado Ministro do Fomento do Governo presidido por João Chagas, assumindo as funções a 24 de Agosto de 1911. Nessas funções, em que permaneceu até 3 de Novembro de 1911, representou o governo nas manifestações que assinalaram o primeiro aniversário da implantação da República, na cidade do Porto.

Após a queda do governo de João Chagas, permaneceu em funções governativas, transitando para a pasta de Ministro das Finanças do governo de concentração liderado por Augusto de Vasconcelos Correia, tomando posse a 7 de Novembro daquele mesmo ano, cargo que exerceu até 16 de Junho de 1912.

Numa fase em que as tensões internacionais que levaram à Primeira Guerra Mundial já se sentiam, foi nomeado para o cargo de ministro plenipotenciário de Portugal (embaixador) em Berlim, iniciando funções a 17 de Agosto de 1912.[3] Permaneceu naquele importante posto diplomático durante o período crítico que levou à deflagração da guerra, mantendo um difícil equilíbrio entre as pressões do Governo português, com posições progressivamente pró-belicistas e anglófilas, as tentativas de dirimir pela via diplomática os conflitos fronteiriços nas zonas de contacto entre as colónias portuguesas e alemãs em África e o seu crescente posicionamento germanófilo. Apesar dessas dificuldades, desempenhou o cargo até 9 de Março de 1916, data em que a Alemanha declarou guerra a Portugal na sequência do aprisionamento dos seus navios que se encontravam em portos sob controlo português.

Regressado a Portugal, foi naturalmente engrossar a fileira daqueles que se opunham à participação de Portugal na Grande Guerra, catalisando o crescente descontentamento causado pelo esforço de guerra e pelos maus resultados obtidos pelo Corpo Expedicionário Português na frente de batalha.

Afirmou-se então como o principal líder da contestação ao Governo do Partido Democrático e de 5 a 8 de Dezembro de 1917 liderou uma insurreição protagonizada por uma Junta Militar Revolucionária, da qual era Presidente. O golpe de estado acabou vitorioso, após três dias de duros confrontos, nos quais o papel dos grupos civis foi determinante para a vitória dos revoltosos.

Presidência

Sidónio Pais derruba o governo de Afonso Costa — «Ultimo acto d'um valente».

Na madrugada do dia 8 de Dezembro fora exonerado o Governo da União Sagrada liderado por Afonso Costa, transferindo-se o poder para a Junta Revolucionária presidida por Sidónio Pais.[3] Então, em vez de iniciar a habitual consulta para formação de novo governo, os revoltosos assumem o poder, destituindo Bernardino Machado do cargo de Presidente da República e forçando o seu exílio. Nesse processo, a 11 de Dezembro de 1917, Sidónio Pais tomou posse como presidente do Ministério (atual primeiro-ministro), acumulando as pastas de Ministro da Guerra e de Ministro dos Negócios Estrangeiros e, já em profunda ruptura com a Constituição de 1911, que ajudara a redigir, a 27 de Dezembro do mesmo ano, assumiu as funções de Presidente da República, até nova eleição.[8] Durante o golpe e na fase inicial do seu governo, Sidónio Pais contou com o apoio de vários grupos de trabalhadores, em troca da libertação de camaradas encarcerados, e com a expectativa benévola da União Operária Nacional, parecendo posicionar-se como mais uma tentativa de consolidação no poder da esquerda republicana.[3]

Inicia então a emissão de um conjunto de decretos ditatoriais, sobre os quais nem consulta o Congresso da República, que suspendem partes importantes da Constituição, dando ao regime um cunho marcadamente presidencialista, fazendo do Presidente da República simultaneamente Chefe de Estado e líder do Governo, o qual, significativamente, deixa de ser constituído por Ministros para integrar apenas Secretários de Estado. Nesta nova arquitectura do sistema político, que os seus apoiantes designavam por República Nova, o Chefe de Estado era colocado numa posição de poder que não tinha paralelo na história portuguesa desde o fim do absolutismo monárquico. Daí o epíteto de Presidente-Rei que lhe foi aposto. Nos seu objectivos e em muitas das suas formas, a República Nova foi precursora do Estado Novo de António de Oliveira Salazar.

Numa tentativa de apaziguamento das relações com a Igreja Católica Romana, em guerra aberta com o regime republicano desde 1911, a 23 de Fevereiro de 1918 Sidónio Pais alterou a Lei de Separação entre as Igrejas e o Estado, suscitando de imediato feroz reacção dos republicanos históricos e da Maçonaria, mas colhendo o apoio generalizado dos católicos, dos republicanos moderados e da população rural, então a vasta maioria dos portugueses. Com essa decisão também conseguiu o reatamento das relações diplomáticas com o Vaticano, através do envio de monsenhor Benedetto Aloisi Masella (que mais tarde seria núncio apostólico no Brasil, cardeal e camerlengo), que assumiu as funções de encarregado de negócios da Santa Sé em Lisboa a 25 de Julho de 1918.

Sidónio Pais presta juramento no Parlamento, após a sua eleição para Presidente da República.

Noutro movimento inconstitucional, a 11 de Março de 1918 por decreto estabeleceu o sufrágio directo e universal para a eleição do Presidente da República, subtraindo-se à necessidade de legitimação no Congresso e enveredando por uma via claramente plebiscitária.

Fazendo uso da sua popularidade junto dos católicos, a 28 de Abril de 1918 foi eleito, por sufrágio directo dos cidadãos eleitores, obtendo 470 831 votos, uma votação sem precedentes. Foi proclamado presidente da República a 9 de Maio do mesmo ano, sem sequer se dar ao trabalho de consultar o Congresso e passando a gozar de uma legitimidade democrática directa, que usou sem rebuços para esmagar qualquer tentativa de oposição.

Os decretos de Fevereiro e Março de 1918, que pela sua profunda contradição com a constituição vigente foram denominados de Constituição de 1918, alteram profundamente a Constituição Portuguesa de 1911 e conferiram ao regime uma clara feição presidencialista, reformulando a lei eleitoral, as leis estabelecidas sobre a separação do Estado e da Igreja e a própria distribuição de poder entre os órgãos de soberania do Estado.

Entretanto, em Abril de 1918 as forças do Corpo Expedicionário Português são chacinadas na Batalha de La Lys, sem que o Governo português consiga os necessários reforços nem a manutenção de um regular aprovisionamento das tropas. A situação atingiu um extremo tal que, após o armistício que marcou o final da guerra, o Estado português não foi capaz de trazer de imediato as suas forças de volta ao país. A contestação social aumentou ao ponto de se viver uma permanente situação de sublevação.

Retrato oficial (póstumo) do Presidente Sidónio Pais (1937), por Henrique MedinaMuseu da Presidência da República.

Esta situação foi o fim do estado de graça: sucederam-se as greves, as contestações e os movimentos conspiratórios. A partir do Verão de 1918 as tentativas de pôr fim ao regime sidonista vão escalando em gravidade e violência, o que levou o Presidente a decretar o estado de sítio a 13 de Outubro daquele ano. Com aquele acto, e a dureza da repressão sobre os opositores, conseguiu recuperar momentaneamente o controlo da situação política, mas o seu regime estava claramente ferido de morte.

Com o aproximar do fim do ano a situação política não melhora, apesar da assinatura do Armistício da Grande Guerra, em 11 de Novembro, acontecimento acompanhado de uma mensagem afectuosa do rei Jorge V de Inglaterra tentando minorar a clara ligação entre Sidónio Pais e as posições germanófilas que anteriormente assumira, e que agora apareciam derrotadas.

Assassinato

Assassinato de Sidónio Pais na Estação do Rossio.

Entra-se então numa espiral de violência que não poupa o próprio presidente: a 5 de Dezembro de 1918, durante a cerimónia da condecoração dos sobreviventes do NRP Augusto de Castilho, sofreu um primeiro atentado, do qual conseguiu escapar ileso; o mesmo não aconteceu dias depois, na Estação do Rossio, onde a 14 de Dezembro de 1918 foi morto a tiro por José Júlio da Costa, ex-sargento do exército e militante republicano. Acaba por falecer na Sala do Banco do Hospital de São José, em Lisboa.

O assassinato de Sidónio Pais foi um momento traumático para a Primeira República, marcando o seu destino: a partir daí qualquer simulacro de estabilidade desapareceu, instalando-se uma crise permanente que apenas terminou quase oito anos depois com a Revolução Nacional de 28 de Maio de 1926 que pôs termo ao regime.

Os funerais de Sidónio Pais foram momentosos, reunindo muitas dezenas de milhares de pessoas, num percurso longo e tumultuoso, interrompido por múltiplos e violentos incidentes. Com este fim, digno de um verdadeiro Presidente Rei, Sidónio Pais entrou no imaginário português, em particular dos sectores católicos mais conservadores, como um misto de salvador e de mártir, mantendo-se durante décadas como uma figura fraturante no sistema político.

A imagem de mártir levou ao surgimento de um culto popular, semelhante ao que existe em torno da figura de Sousa Martins, que fez de Sidónio Pais um santo, com honras de promessas e ex-votos, que ainda hoje se mantém, sendo comum a deposição de flores e outros elementos votivos junto ao seu túmulo.

Notas

  1.  Os Paes de Barcelos. Subsídios genealógicos para a biografia do Presidente da República Sidónio Paes, padre António Júlio Limpo Trigueiros e Armando B. Malheiros da Silva, Barcelos, 1994

Referências

  1.  Historieta da 1ª República Portuguesa ( à minha maneira) - Parte X, AnaMarques, Crônicas, Recanto das Letras, 28 de Janeiro de 2009
  2. ↑ Ir para:a b c d e Ventura, Vasco Manuel Veloso (2013). Sidónio Pais e a encenação do poder durante a República Nova (Tese de Mestrado em História Moderna e Contemporânea). Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras. Consultado em 12 de Agosto de 2017
  3. ↑ Ir para:a b c d e «Sidónio Pais»Porto Editora. Infopédia. Consultado em 14 de dezembro de 2012
  4.  Livro de Registo de Baptismos 1861/1878 (folha 138), Paróquia de Nossa Senhora da Assunção, Caminha - Arquivo Nacional da Torre do Tombo
  5. ↑ Ir para:a b António Malheiro da Silva (2006), "Sidónio e Sidonismo" vol I, Imprensa da Universidade de Coimbra.
  6.  Em homenagem ao ensaísta e filósofo escocês Thomas Carlyle.
  7.  «Presidentes da Câmara Municipal de Coimbra». www.cm-coimbra.pt
  8.  Esta situação foi legitimada pelo Decreto n.º 3701, daquela data.

Ligações externas

BEATRIZ COSTA - ACTRIZ - NASCEU EM 1907 - 14 DE DEZEMBRO DE 2020

 


Beatriz Costa

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Disambig grey.svg Nota: Este artigo é sobre a actriz portuguesa. Para a cantora brasileira, veja Beatriz Costa (cantora).
Beatriz Costa
Beatriz Costa em "A Canção de Lisboa"
Nome completoBeatriz da Conceição
Outros nomes"Menina da franja"
Nascimento14 de Dezembro de 1907
MafraReino de Portugal
Morte15 de abril de 1996 (88 anos)
LisboaPortugal Portugal
OcupaçãoActrizEscritoraCantora
CônjugeEdmundo Gregoriano (1947-1949)
AssinaturaAssinaturaBeatrizCosta.svg

Beatriz Costa, pseudónimo de Beatriz da Conceição (Charneca do MilharadoMafra14 de dezembro de 1907 — Lisboa15 de abril de 1996) foi uma actriz de teatro e cinema portuguesa, sendo um ícone da cultura popular lusa.[1][2] Era filha de António Isidoro e de Claudina da Conceição.

Carreira

Beatriz Costa estreou-se no teatro de revista como corista, tinha 15 anos, ao participar em Chá e Torradas (1923), no Éden Teatro. No ano seguinte, em 1924, actua pela primeira vez no Teatro Maria Vitória (Parque Mayer) na revista Rés Vés, após o que ingressa na companhia do Teatro Avenida estreando-se, no mesmo ano, no Rio de Janeiro onde é felicitada pela imprensa e pelos espectadores, nomeadamente nas revistas Fado Corrido e Tiro ao Alvo.

De regresso a Lisboa (1925) ocupa um lugar de relevo ao lado de Nascimento Fernandes em Ditosa Pátria, no Teatro da Trindade. Em Agosto do mesmo ano a Companhia do Trindade segue para o Porto apresentando-se no Sá da Bandeira e Beatriz faz a sua primeira ida como artista à cidade invicta

Em Outubro de 1925 integra uma Companhia de operetas sediada no Teatro São Luiz. De regresso à revista, passa pelos teatros Éden e Maria Vitória nas revistas Fox TrotMalmequerOlarilaRevista de Lisboa e Sete e meio.

Em 1927, traduzindo uma moda cinéfila, aparece pela primeira vez de franja e estreia-se no cinema em papéis episódicos de filmes de Rino Lupo - O Diabo em Lisboa - e, ainda no mesmo ano, havia dançado um tango em Fátima Milagrosa (do mesmo realizador) ao lado de Manoel de Oliveira.

Passou pelo Teatro Apolo, transferindo-se depois com a Companhia de Eva Stachino para o Teatro da Trindade. Aí se fez Pó de Maio, onde conheceu o maior êxito de popularidade com o celebrado número D. Chica e Sr. Pires ao lado de Álvaro Pereira.

Na sua segunda digressão ao Brasil (1929), com a Companhia de Eva Stachino, ao Rio de Janeiro, foi recebida sobre as mais efusivas manifestações e relembrada a sua revelação como actriz nos grandes órgãos de imprensa da América do Sul.

Após breve incursão aos palcos de São Paulo, Beatriz é convidada por Procópio Ferreira, comediante de relevo no teatro brasileiro, para ficar a trabalhar no Rio de Janeiro integrando o elenco da sua Companhia de comédias; mas a proposta seria recusada.

De volta ao continente, e ainda neste ano, Beatriz Costa aparece no documentário Memória de uma Actriz (com base nos artigos que já escrevia para O Século a contar episódios da sua carreira).

Em 1930 participa no filme Lisboa, Crónica Anedótica, de Leitão de Barros.

Em Dezembro de 1930, durante a visita de Ressano Garcia, gerente da Paramount em Lisboa, recebe um convite de Blumenthal e San Martin para um contrato muito vantajoso para o papel da protagonista de A Minha Noite de Núpcias (da versão original Her Wedding Night de Frank Tuttle e que na versão portuguesa foi dirigida por Alberto Cavalcanti), o terceiro fonofilme em português, a realizar-se em França.

Recebendo sempre provas de apreço desde o pessoal dos estúdios à mais considerada vedeta destaca das suas colegas estrangeiras Olga Tsehekova e Camila Horn.

Deixa a Companhia e é contratada por Corina Freire para participar nos êxitos de revistas como A BolaPato MarrecoO Mexilhão ou Pirilau.

Numa ida a Espanha, a convite da Casa da Imprensa de Badajoz para uma festa no Teatro López Ayola, obteve estrondoso êxito ao representar Burrié, sendo homenageada juntamente com os outros artistas portugueses que a acompanhavam (Amarante e Nascimento Fernandes).

Em 1933 a sua imagem imortalizava-se o filme A Canção de Lisboa, de Cotinelli Telmo, ao lado de António Silva e Vasco Santana, e em 1936, ao participar na revista Arre Burro.

Em 1937 Beatriz ganha, ao lado de Vasco Santana, os votos de preferência dos cinéfilos portugueses e são eleitos "príncipes do cinema português". Dois anos depois, em 1939, protagoniza A Aldeia da Roupa Branca, de Chianca de Garcia, aquele que seria o seu último filme.

Neste mesmo ano de 1939, Beatriz Costa aceitou novo convite para o Brasil para uma temporada que se prolongou por 10 anos (de 1939 a 1949), a que chamou "os melhores anos da sua vida". Quase sempre actuou no Casino de Urca, no Rio de Janeiro, desde os tempos da peça Tiro-Liro-Liro, até ao final da década, altura do seu único casamento em 1947, com Edmundo Gregorian (poeta, escritor, escultor), de quem se divorciou dois anos depois.

Em 1949, regressa aos palcos de Lisboa para uma revista no Teatro Avenida, cujo título diz tudo sobre o mito que continuava a ser: Ela aí está!. E, aos 41 anos, repetiu os êxitos de 20 anos atrás.

Ainda apareceu em Lisboa em revistas de sucesso como Com Jeito Vai, mas em 1960 despediu-se dos palcos em Está Bonita a Brincadeira, recusando alguns convites para voltar a representar.[3]

É a partir da década de 1960 que começa a viajar por todo o mundo, assistindo a festivais de teatro, de Ocidente a Oriente. Conheceu personalidades como Salvador DaliPablo PicassoSophia LorenGreta GarboEdith Piaf ou o Rei Hassan II de Marrocos.

Depois da Revolução dos Cravos - quando já vivia no Hotel Tivoli, onde viveu até morrer - começou a publicar livros sobre a sua espantosa vida (já anteriormente a "publicara" em vários capítulos nas Páginas das Minhas Memórias nos anos 1930), aconselhada e incentivada por Tomás Ribeiro Colaço. Ela que aprendera a ler aos 13 anos de idade e sozinha, seguindo a sua ambição de saber, começou a sua alfabetização à mesa do Café "A Brasileira", rodeada por figuras como Almada Negreiros, Gualdino Gomes, Aquilino RibeiroVitorino Nemésio, entre outros.

Após o seu reaparecimento num espectáculo da Casa da Imprensa que decorreu no Coliseu dos Recreios foi sistematicamente solicitada pelos órgãos de comunicação social e espantou-se com as óptimas reacções do público leitor em relação a essa outra faceta da sua vida - escrever.

Em 1977 é editado pela Emi-Valentim de Carvalho um álbum que compila vários dos seus sucessos musicais e que em 1996 seria reeditado com o título Grande Marcha de Lisboa na Colecção Caravela da mesma editora. Apesar das muitas propostas para regressar aos palcos (por Vasco Morgado) preferiu ficar longe deles por considerar o teatro de revista muito diferente do que era, por "estar decadente".

Muitos foram também os convites para programas de televisão (por Joaquim Letria) e, de facto, viria a participar como membro de júri no concurso Prata da Casa (RTP) apresentado por Fialho Gouveia e que visava lançar jovens no mundo do espectáculo.

Um grupo de jovens chegaria mesmo a propor a sua candidatura simbólica nas eleições presidenciais de 1985 como meio de comemorar O Ano Internacional da Juventude do ano seguinte.

Morreu na manhã de 15 de Abril de 1996, aos 88 anos, num quarto do 6º andar do Hotel Tivoli Lisboa. Estando sepultada no cemitério da Malveira, cumprindo o seu último desejo.

Em 2007, por ocasião dos 100 anos do seu nascimento, o Museu Municipal Raul de Almeida, de Mafra, assinalou a data com uma exposição [4] existindo ainda neste concelho o Cine-Teatro com o seu nome e o Museu Popular Beatriz Costa, na Malveira.[5]

Filmografia

Livros

  • Sem Papas na Língua (1975)
  • Quando os Vascos Eram Santanas… e Não Só (1977)
  • Mulheres Sem Fronteiras (1981)
  • Nos Cornos da Vida (1984)
  • Eles e Eu (1990)

Referências

  1.  Biografia elaborada para o programa televisivo. «Os Grandes Portugueses»Rádio e Televisão de Portugal. Consultado em 28 de abril de 2009
  2.  (em inglês). Internet Movie Database http://www.imdb.com/name/nm0182085/. Consultado em 28 de abril de 2009 Em falta ou vazio |título= (ajuda)
  3.  http://casacomum.org/cc/visualizador?pasta=06815.165.26141#!7
  4.  «Notícia Agência Lusa». Diario.iol.pt. 7 de Novembro de 2007. Consultado em 28 de abril de 2009
  5.  «Câmara Municipal de Mafra». Cm-mafra.pt. Consultado em 28 de abril de 2009

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