Tradução é uma atividade que abrange a interpretação[1] do significado de um texto em uma língua (o texto fonte) e a produção de um novo texto em outra língua com sentido equivalente. O texto resultante também se chama tradução.[2]
A pesquisa acadêmica na área é chamada em português de Estudos da Tradução e se iniciou no Brasil com a Pós-Graduação em Estudos da Tradução da Universidade Federal de Santa Catarina.
Quem desconhece o processo de tradução quase sempre trata o tradutor como mero conhecedor de dois ou mais idiomas. Traduzir vai além disso. Há um famoso jogo de palavras em italiano que diz "Traduttore, Traditore" (em português, "Tradutor, traidor"), pois todo tradutor teria de trair o texto original para conseguir reescrevê-lo na língua desejada.
A princípio, a tradução envolve dois idiomas, mas não para por aí. As áreas ou tipos de textos traduzidos são muitos, e por isso um bom tradutor de romances não é necessariamente um bom tradutor de textos científicos, e vice-versa.
Tradicionalmente, a tradução sempre foi uma atividade humana, embora haja tentativas de se automatizar e informatizar a tradução de textos em língua natural (tradução automática) ou usar computadores em auxílio à tradução (tradutores on-line).
Ao contrário do que pensa a maioria das pessoas,[3] os tradutores não são apenas tradutores de livros. A tradução de livros ou editorial, erroneamente chamada de "tradução literária", é um segmento minoritário do mercado de tradução em todo o mundo. Outros segmentos mais volumosos são os de tradutores jurídicos (entre eles os tradutores juramentados), os tradutores de manuais de equipamentos industriais, os tradutores de artigos jornalísticos, os tradutores de textos de medicina, entre outros.[4]
As primeiras traduções importantes no ocidente foram da Bíblia. Os judeus haviam passado muito tempo sem falar hebraico, que se perdeu, e as escrituras tiveram de ser traduzidas para que fossem entendidas pelos judeus. De acordo com um documento chamado "Carta de Aristeias", no século III, sob o reinado Ptolemeu II Filadelfo,[5] no Egito, 72 sábios traduziram, do hebreu para o grego, as Sagradas Escrituras. Essa versão da Bíblia se conhece como a versão alexandrina ou a versão dos 70. No século II, a Bíblia foi traduzida do grego para o latim, originando a versão conhecida como Vetus Latina, que mais tarde originou a tradução em português por Padre João Ferreira de Almeida.[6]
Talvez a forma literária de mais difícil tradução seja a poesia.[7] Não só é necessário manter o significado, mas também o ritmo, as rimas e outras características típicas da poesia. Mais difícil, ainda, é a tradução da poesia ou mesmo da prosa, quando se trata de um texto de uma música (letra), pois este deve-se submeter à prosódia musical, ou seja, os acentos tônicos das palavras devem, preferencialmente, coincidir com os acentos musicais (arsis e thesis). Por exemplo: imagine se a conhecida melodia do "Happy birthday to you" (Parabéns pra você) fosse traduzida por "Feliz aniversário". A palavra "feliz" teria uma acentuação errada (fêliz). Isso pode até mesmo originar cacófonos e cacófatos.
Processo de Tradução do Títulos de Filmes Estrangeiros[editar | editar código-fonte]
É a adaptação dos títulos que aproxima o filme do seu público. Por isso, diferentemente do que ocorre no processo de legendagem - onde um profissional da área de tradução é contratado para esse serviço e conta com total liberdade na tradução dos roteiros de filmes - a tradução dos títulos dos filmes estrangeiros é feita pela área de marketing dos estúdios e distribuidoras, que levam em consideração que o mesmo deve se adequar ao gênero – comédia, drama etc. – e ao público-alvo do filme,[8] tentando fazer uma ligação entre o título original do filme a expressões que são comuns no país e que atendam a propósitos comerciais. Para reforçar a ideia de identificação cultural que as distribuidoras levam em consideração, pode-se exemplificar a diferença de título que um mesmo filme recebe no Brasil e em Portugal.
É, seguindo essa lógica, que as produções que derivam de obras literárias tendem a manter a mesma tradução para uma identificação imediata do público. Músicas que viraram títulos de filme normalmente também não são traduzidas por causa de seu sucesso e fácil assimilação como Mamma Mia! e Across the Universe. No entanto, esse conceito não é uma regra, por exemplo, a produção estrelada pelo Beatles Hard Day’s Night foi chamada de Os Reis do Iê Iê Iê.[9]
Segundo o tradutor e professor gaúcho Iuri Abreu, que analisou quase 300 produções, comparou os nomes originais com as versões brasileiras e as reuniu no livro "Perdidos na Tradução", quando da tradução dos nomes dos filmes, as distribuidoras brasileiras costumam usar como recursos "subtítulos" (usados principalmente quando o título original é mantido, seja ele uma palavra em inglês - como em "Ghost - Do Outro Lado da Vida" e "Halloween - A Noite do Terror", ou o nome de um personagem - "Ace Ventura - Um Detetive Diferente" e "Forrest Gump - O Contador de Histórias".) e "palavras-chave" (que são muito usadas como indicador de gênero. Comédias, por exemplo, costumam ter no título "loucura", "confusão" ou "muito louco", enquanto filmes de terror são facilmente identificados por termos como "maldito", "assombrada" e "mortal"), e em Portugal costuma-se manter mais nomes originais (e até sem subtítulo) do que no Brasil.[10]
Na visão do tradutor e cinéfilo Gabriel de Melo, o mais plausível seria os nomes se aproximarem da língua em que a película foi criada, mas ele concorda que nem sempre isso é possível. “Ao se aproximar do título original, você tem uma ideia da concepção artística do diretor. Para mim é fundamental conhecer essa parte da produção. É um elemento essencial do filme.”, comenta Melo.[9]
Existem cursos específicos com técnicas apropriadas para o desenvolvimento de legendas.
Um tradutor competente tem as seguintes qualidades:[11]
- bom conhecimento da língua, escrita e falada, da qual ele está traduzindo (o idioma de origem);
- excelente domínio da língua em que ele está traduzindo (a língua-alvo);
- familiaridade com o assunto do texto a ser traduzido;
- profunda compreensão da etimologia e das expressões idiomáticas correspondentes entre as duas línguas.
Supõe-se, geralmente, que qualquer indivíduo bilíngue seja capaz de produzir traduções satisfatórias de documentos, ou mesmo de alta qualidade, simplesmente por ser fluente numa segunda língua. No entanto, a capacidade, habilidade e até mesmo os processos mentais básicos necessários para o bilinguismo são fundamentalmente diferentes daqueles necessários para a tradução.[carece de fontes] Indivíduos bilíngues são capazes de usar seus próprios pensamentos e ideias, expressá-las oralmente em duas línguas diferentes - na sua língua nativa e na sua segunda língua. Já os tradutores devem ser capazes de ler, entender e manter as mesmas ideias nas duas línguas e, em seguida, produzir traduções fiéis, completas e sem exclusões, transmitindo o significado original de forma eficaz e sem distorções no outro idioma.[carece de fontes]
Em outras palavras, os tradutores devem ser minuciosos quanto à pureza da ideia e de sua conotação ao passá-la do texto original para a tradução, o que é possível mediante o conhecimento profundo de mecanismos linguísticos específicos. Entre os tradutores, é geralmente aceito que as melhores traduções são produzidas por pessoas que estão traduzindo a partir de sua segunda língua para sua língua nativa, pois é raro alguém ter total fluência na segunda língua.[12]
Em computação, tradutor é um programa que traduz um programa ou algo específico (textos principalmente) em outra linguagem ou em atividades, sendo dividido em compiladores e interpretadores.
Norma europeia de qualidade para Serviços de Tradução[editar | editar código-fonte]
A norma de qualidade UNE-EN 15038:2006 é uma norma europeia específica para serviços de tradução que “abrange o processo central da tradução, bem como todos os demais aspectos relacionados com a prestação do serviço, incluindo a gestão da qualidade e a rastreabilidade”. Da mesma forma, estabelece e define os requisitos que deve cumprir um prestador de serviços de tradução (PST) no que diz respeito a recursos humanos e técnicos, a gestão da qualidade, a gestão de projetos, as relações contratuais com os seus clientes e os procedimentos de serviço.[13]
Podem ser encontrados na norma EN 15038 requisitos para recursos humanos, recursos tecnológicos, gestão da qualidade, gestão de projeto, bases para estabelecimento de contratos e procedimentos de serviços. Esse escopo, contudo, refere-se somente a serviços de tradução e não inclui os serviços de interpretação.[4]
- Empréstimo, que nada mais é do que usar na língua de chegada um termo ou expressão tomado de empréstimo da língua de partida, sem qualquer alteração.
- Decalque, uma forma de empréstimo em que um termo ou expressão consagrados na língua de partida é traduzido literalmente na língua de chegada, na qual, com o tempo, pode vir a se consagrar e ser incorporado, ou então permanecer marcado por sua origem estrangeira.
- Literal é a tradução em que a língua de chegada adota, servilmente,as estruturas gramaticais e o léxico correspondente da língua de partida. Só é possível entre idiomas que possuam afinidades semântica, morfológicas e sintáticas de algum tipo.
- Transposição é o processo pelo qual a tradução promove modificações em termos de classe gramatical de uma língua para outra. A questão aqui é que essa modificação seja feita para se manter adequada a enunciação ou preservar alguma nuance estilística.
- Modulação é uma modificação no ponto de vista no texto traduzido em relação ao original. Ocorre por razões estilísticas ou por adequação sintática à língua de chegada.
- Equivalência ocorre quando não há semelhança ou aproximação possível entre as duas línguas e o texto de chegada. Aplica-se a expressões ou termos consagrados com forte identificação cultural da língua de partida e o tradutor precisa encontrar algum termo ou expressão que, de alguma forma, seja equivalente em termos culturais na língua de chegada.
- Adaptação ocorre em situações em que não há equivalência possível entre as duas línguas e não é possível adotar nenhum dos procedimentos anteriores. Pode ser considerado uma equivalência, em certa medida, pela necessidade de o tradutor encontrar alguma solução que faça sentido na língua de chegada, sendo que qualquer literalidade em relação à língua de partida resultaria numa tradução sem sentido.[14]
Referências
- ↑ Entrevista com Ana Resende, tradutora de todo dia, de David Levithan. Sobre livros e traduções, 23 de maio de 2014.
- ↑ Sobre livros e traduções. «Guest Post: Sobre livros e editores». Consultado em 26 de abril de 2017. Cópia arquivada em 20 de outubro de 2015
- ↑ "Recursos Electrónicos de Tradução Engenharia Civil - Construindo o seu Futuro". «O que é a Tradução?». Consultado em 12 de maio de 2016. Cópia arquivada em 12 de maio de 2016
- ↑ Ir para:a b SAID, Fabio M. Fidus interpres: a prática da tradução profissional. 2a ed. São Paulo: edição do autor, 2011. ISBN 978-85-910098-7-9
- ↑ «Septuagint - What is It?»
- ↑ «Vetus Latina Introduction»
- ↑ "Tradinter". «Desafios da Tradução». Consultado em 12 de maio de 2016. Cópia arquivada em 12 de maio de 2016
- ↑ mundoestranho.abril.com.br/ Como se traduz um título de filme?
- ↑ Ir para:a b saraivaconteudo.com.br/ A curiosa tradução de títulos de filmes
- ↑ ultimosegundo.ig.com.br/ Livro analisa 'criatividade' de títulos de filmes traduzidos para o português
- ↑ Brenda ("Sobre livros e traduções"). «Entrevista com Rachel Agavino, tradutora de Extraordinário». Consultado em 12 de maio de 2016. Cópia arquivada em 19 de abril de 2016
- ↑ Agenor Soares dos Santos, Guia Prático de Tradução Inglesa, 2a. ed.. São Paulo: Cultrix, 1995.
- ↑ «EN-15038 Norma Europeia especificamente para o sector da tradução.»
- ↑ VINAY, Jean-Paul; DARBELNET, Jean. A Methodology for Translation. Trans. By Juan C. Sager e M.-J. Hamel. In: VENUTI, Lawrence (Ed.) The Translation Studies Reader. London/New York: Routledge, 2000, p. 84-93.