terça-feira, 8 de setembro de 2020

SEXTA-FEIRA NEGRA "BLACK FRIDAY" - (1978) EXÉRCITO IRANIANO CAUSA DEZENAS DE MORTES E CENTENAS DE FERIDOS EM TEERÃO - 8 DE SETEMBRO DE 2020

 


Sexta-feira Negra (1978)

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Sexta-feira Negra, conhecida como "Black Friday" em inglês e em persa: como جمعه سیاه / Jome-ye Siaah) é o nome dado ao dia 8 de setembro de 1978 (17 Shahrivar 1357, segundo o calendário persa) e aos tiroteios perpetrados pelo exército iraniano contra os manifestantes presentes na Praça Zhaleh (ou Jaleh) Teerã, Irão. Para compreender a revolução iraniana, este acontecimento é incontornável. De fa(c)to, as mortes e a reação a elas têm sido descritas como o momento irreversível para o deflagrar da Revolução Iraniana, quando terminaram todas as hipóteses de compromisso entre os movimentos de protesto e o regime do xá Mohammad Reza Pahlevi, a queda do regime era inevitável, e levaram à fuga do monarca, quatro meses depois. Em 16 janeiro de 1979, o Xá fugiu, alegando férias para tratamentos médicos e em fevereiro começou o regime teocrata liderado por ayatollah Khomeini)[1] que se manteve após a sua morte em 1989, sendo substituído por Ali Khamenei. O Irã é formalmente desde 1979 uma república, mas quem exerce de fa(c)to o poder são os lideres supremos do clero, o presidente da república é uma figura quase decorativa.

Os acontecimentos daquele dia ganharam uma carga religiosa, pois sexta-feira é dia santo para os muçulmanos, e poucos dias antes (dia 4 de setembro, no calendário muçulmano Eid al-Fitr) havia terminado o Ramadão.

Tiroteios na Praça Jaleh

Antecedentes e massacre[editar | editar código-fonte]

Como os protestos contra o regime do Xá decorreram durante toda a primavera e o verão de 1978, o governo declarou a lei marcial. Em 8 de setembro desse ano, milhares de pessoas concentraram-se na Praça Jaleh para uma demonstração religiosa, apesar de o governo ter declarado a lei marcial no dia anterior.[2] Os militares capitaneados pelo chefe militar de Teerão Gholam Ali Oveisi ordenaram à multidão para dispersar, mas a ordem foi ignorada. Inicialmente, pensou-se que também por causa dessa razão, ou por causa do fa(c)to dos manifestantes manterem o protesto contra os militares, o exército abriu fogo, ocorrendo um banho de sangue, com dezenas de mortes e centenas de feridos.

Prestação de socorro a um manifestante atingido pelo tiroteio do exército.

Reações[editar | editar código-fonte]

As mortes chocaram o país e destruíram quaisquer hipóteses de reconciliação entre o xá e a oposição que se uniu toda com o objetivo de derrubar um monarca ditador e ainda por cima sanguinário (ainda estava na mente dos iranianos os tristes acontecimentos do Incêndio no Cinema Rex, ainda não passara um mês e no qual os oposicionistas atribuíram a culpa ao Xá e à SAVAK e quem tinha dúvidas terá ficado definitivamente convencido da sua responsabilidade após este massacre). Khomeini declarou imediatamente que "4000 manifestantes inocentes foram massacrados por sionistas" (se bem que os soldados envolvidos fossem curdos e não israelitas) e deu-lhe o pretexto para rejeitar qualquer compromisso futuro com o governo do xá e acicatar ainda mais o ódio popular contra o regime.

O xá também ficou horrorizado com os acontecimentos da Seixa-feira negra e criticou fortemente os acontecimentos, apesar de isto pouco ter feito para mudar a perce(p)ção popular de que ele foi o responsável pelo massacre. Enquanto a lei marcial manteve-se oficialmente, o governo decidiu não desencadear mais acções de violência, nem continuou a negociar com os líderes dos protestos.

Consequências humanas[editar | editar código-fonte]

De início os media ocidentais e a oposição relataram "15.000 mortos e feridos", apesar de os relatos do governo iraniano afirmarem que morreram 86 pessoas durante todo o dia, afirmado pelo então ministro da Informação Mohammad Reza Ameli Tehrani fuzilado após a revolução.[3]

Outra fonte aponta para 84 mortos durante o dia.[4][5]Michael Foucault, um jornalista francês relatou que terão morrido entre 2000 - 3000 pessoas na Praça Jaleh e mais tarde ele aumentaria o número para 4000 mortos.[6] O correspondente da BBC no Irão, Andrew Whitley relatou que terão morrido uma centena de manifestantes, o que se aproximou mais dos números reais. O certo é que ninguém no Irão e mesmo no estrangeiro estaria preparado para crer nos números do governo e quase todos acreditavam muito mais nos números dos islamitas oposicionistas, vistos na altura como heróis, não apenas no Irã, mas também no Ocidente, inclusive nos Estados Unidos.[7]Khomeini era visto pelo embaixador dos Estados Unidos em Teerão William Sullivan (1922-2013) como o Gandhi muçulmano,[8] ideia nada premonitória, menos de um ano depois (4 de novembro de 1979), a embaixada desse país seria ocupada por estudantes acérrimos apoiantes de Khomeini e começou a crise dos reféns que durou até 20 de janeiro de 1981, ironicamente ou não, minutos depois de Ronald Reagan tomar posse como presidente dos Estados Unidos. Graças a esse fa(c)to, surge uma teoria da conspiração, segundo a qual terá havido uma acordo secreto entre Khomeini e seus apoiantes com os republicanos, para os reféns só serem libertados após a vitória dos Republicanos e impedir a reeleição de Jimmy Carter, é a teoria da conspiração chamada "October Surprise conspiracy theory" ("Surpresa de outubro").


De acordo com um antigo investigador da "Fundação dos Mártires" (Bonyad Shahid, parte do governo iraniano pós revolucionário que compensa as famílias das vítimas contratado "compreender o que se passou") chamado Emad al-Din Baghi, entre os que foram mortos naquela sexta-feira, 64 foram mortos na Praça Jaleh, entre eles dois do sexo feminino - uma mulher e uma jovem. No mesmo dia em outras partes de Teerão um total de 24 pessoas morreram nos combates com as forças da lei marcial, entre elas uma do sexo feminino, fazendo um total de 88 mortos, muito longe dos milhares referidos inicialmente, tanto pelos opositores ao regime como pelos jornalistas ocidentais.[9] Outra fonte aponta para 84 mortos durante o dia.[10]Claro que os números talvez tenham sido empolados pelos líderes religiosos para manipular a opinião pública contra o regime, já de si desacreditado e odiado pela maioria do povo iraniano.

O nome da Praça foi mais tarde mudado para Praça dos Mártires (Maidan-e Shohada) pela República Islâmica.[11]

Consequências políticas[editar | editar código-fonte]

Este dia é considerado como o ponto de não retorno para a revolução e à abolição da monarquia no Irã, poucos meses depois. Também se crê que este triste episódio representou um papel crucial na futura radicalização do movimento de protesto, unindo toda a oposição ao xá e mobilizando as massas, uniram-se tanto esquerdistas e direitistas laicos, como os islamistas, não prevendo os laicos que os futuros vencedores seriam os islamistas radicais e não os moderados, ao contrário do que tinha sucedido em todas as revoluções desde 1789. Inicialmente a oposição e jornalistas ocidentais afirmaram que o exército iraniano teria massacrado milhares de manifestantes.[9][12][11] Um líder dos clérigos anunciou que "milhares foram massacrados por tropas sionistas".[13]

Demonstração da "Sexta-feira negra, a sentença no cartaz diz em persa: "Nós queremos um governo islâmico liderado pelo Imam Khomeini"

Este evento ativou os protestos que continuaram por mais quatro meses, até à fuga do xá. No dia seguinte ao massacre, 9 de setembro de 1978Hoveyda demitiu-se do cargo, apesar de não estar relacionado com o evento. Como se não chegassem os protestos de rua/motins, uma greve geral em 18 de outubro desse ano encerrou a indústria do petróleo, principal fonte de receita do país, contribuindo para "selar definitivamente o destino do xá e da monarquia no Irã" ou seja o seu fim político.[14] A continuação dos protestos levaram o xá abandonar o país em 16 de janeiro de 1979, abrindo o caminho para a Revolução Iraniana, liderada por Ayatollah Khomeini.[15][16][17][18][19][20][21]

"Sexta-feira negra" na arte[editar | editar código-fonte]

Em língua persa[editar | editar código-fonte]

Em 1978, um pouco tempo depois do massacre, o músico iraniano Hossein Alizadeh compôs o poema Siavash Kasraie sobre o evento para música. Mohammad Reza Shajarian cantou a canção "Jaaleh Khun Shod" (A Praça Jaleh tornou-se sangrenta).

Shahed Azad Soltani fez em 1980 um documentário chamado Rooz-e Khodaa (Persia por Dia de Deus).

Em língua inglesa[editar | editar código-fonte]

Nastaran Akhavan, uma das sobreviventes, escreveu a obra Spared ("Poupados") sobre o evento. O livro explica como a autora foi forçada a participar numa vaga massiva de milhares de manifestantes, alguns dos quais seriam mais tarde massacrados pelo exército leal ao xá.[22]

Ver também[editar | editar código-fonte]

Referências

  1.  Abrahamian, Ervand (2008). History of Modern Iran. [S.l.]: Cambridge University Press. pp. 160–161
  2.  «The Iranian Revolution | King Pahlavi (the Shah) against Dissent»MacroHistory: World History. Consultado em 7 de maio de 2015
  3.  «A Question of Numbers». IranianVoice.org Rouzegar-Now Cyrus Kadivar. 8 de agosto de 2003. Consultado em 4 de novembro de 2015
  4.  E. Baqi, `Figures for the Dead in the Revolution`, Emruz, 30 July 2003, quoted in Abrahamian, Ervand, History of Modern Iran, Cambridge University Press, 2008, pp. 160–1
  5.  Pahlavi, Mohammad Reza Shah (2003) Answer to History Irwin Pub, page 160, ISBN 978-0772012968
  6.  «A Question of Numbers». IranianVoice.org Rouzegar-Now Cyrus Kadivar. 8 de agosto de 2003. Consultado em 4 de novembro de 2015
  7.  «A Question of Numbers». IranianVoice.org Rouzegar-Now Cyrus Kadivar. 8 de agosto de 2003. Consultado em 4 de novembro de 2015
  8.  Dr. Michael D. Evans (11 de fevereiro de 2014). «35 Years Ago: An Iranian Revolution Thanks to Jimmy Carter». The Blaze.com. Consultado em 6 de novembro de 2015
  9. ↑ Ir para:a b «A Question of Numbers» Web: IranianVoice.org August 08, 2003 Rouzegar-Now Cyrus Kadivar ] Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "Baghi" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  10.  E. Baqi, `Figures for the Dead in the Revolution`, Emruz, 30 July 2003, quoted in Abrahamian, Ervand, History of Modern Iran, Cambridge University Press, 2008, pp. 160–1
  11. ↑ Ir para:a b «Black Friday». Consultado em 21 de maio de 2015. Arquivado do original em 20 de maio de 2003 Erro de citação: Código <ref> inválido; o nome "PBS" é definido mais de uma vez com conteúdos diferentes
  12.  «Islamic Revolution of Iran»
  13.  Taheri, The Spirit of Allah (1985), p. 223.
  14.  Moin, Khomeini (2000), p. 189.
  15.  The Persian Sphinx: Amir Abbas Hoveyda and the Riddle of the Iranian Revolution, Abbas Milani, pp. 292-293
  16.  Seven Events That Made America America, Larry Schweikartp.
  17.  The Iranian Revolution of 1978/1979 and How Western Newspapers Reported It, Edgar Klüsener, p. 12
  18.  Cultural History After Foucault, John Neubauer, p. 64
  19.  Islam in the World Today: A Handbook of Politics, Religion, Culture, and Society By Werner Ende, Udo Steinbach, p. 264
  20.  The A to Z of Iran, John H. Lorentz, p. 63
  21.  Islam and Politics, John L. Esposito, p. 212
  22.  Book's page in Amazon

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

DAVID (MICHELANGELO) - 1ª exposição em 1504 - 8 de Setembro de 2020

 


David (Michelangelo)

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David
AutorMichelangelo Buonarroti
Data1501 - 1504
GéneroEscultura
TécnicaMármore
Dimensões517  × 199 
LocalizaçãoAcademia de Belas ArtesFlorença

David ou Davi é uma das esculturas mais famosas do artista renascentista Michelangelo. O trabalho retrata o herói bíblico com realismo anatômico impressionante, sendo considerada uma das mais importantes obras do Renascimento. A escultura encontra-se em FlorençaItália, cidade que originalmente encomendou a obra.

A escultura possui 5,17 metros de altura e representa o herói bíblico David, um dos personagens mais frequentes na arte florentina. Originalmente encomendada como parte de uma série de outras estátuas de profetas e heróis bíblicos, David estava cotado para decorar uma das fachadas de Santa Maria del Fiore. No entanto, após sua conclusão, a escultura foi posicionada em frente ao Palazzo della Signoria, sede da governadoria de Florença, onde foi revelada ao público oficialmente em 8 de setembro de 1504.

Por conta da natureza heroica representada, a estátua simbolizou o sentimento de liberdades civis que dominava a República de Florença. Os olhos de David, com semblante sério e cauteloso, estavam posicionados em direção a Roma. Em 1873, a escultura foi transferida para o interior da Galeria da Academia de Belas Artes enquanto a praça pública recebeu uma réplica em seu lugar.

História[editar | editar código-fonte]

Concepção[editar | editar código-fonte]

Estudo de David, de Michelangelo, por Leonardo da Vinci. (Royal Collection)

A história da obra remonta a anos antes do trabalho de Michelangelo, que dedicou-lhe os anos de 1501 a 1504. Antes do envolvimento do artista no conceito da escultura, autoridades da Catedral de Santa Maria del Fiore - em sua maioria membros da Arte della Lana, uma das mais influentes guildas de Florença - planejaram uma série de esculturas de doze profetas do Antigo Testamento para decorar o contraforte da catedral.[1][2] Em 1410Donatello concebeu a primeira das estátuas: uma escultura do profeta Josué em terracota. Uma escultura de Hércules, também em terracota, foi encomendada ao escultor Agostino di Duccio em 1463 e produzida provavelmente sob a supervisão de Donatello.[3] Dispostos a seguir com projeto, os membros da guilda encomendaram uma escultura de David a Duccio. Um bloco de mármore foi removido das pedreiras de Carrara, ao norte da Toscana. Duccio iniciou a obra modelando os pés, pernas e o tronco. Sua ligação com o projeto teve fim, por razões desconhecidas, com a morte de Donatello em 1466, sendo que mais de uma década após, Antonio Rossellino seria contratado para substituí-lo.

O contrato de Rossellino foi suspenso tempo depois, fazendo com que o inacabado bloco de mármore fosse esquecido mais de vinte e cinco anos no ateliê da Catedral. Naturalmente, o abandono representava uma fonte de preocupação às autoridades florentinas, especialmente por conta do alto custo do material e a dificuldade no translado para a cidade. Um inventário da Catedral publicado em 1500 descrevia a peça como "uma certa figura de mármore chamada David, pobremente esculpida e inerte".[4] Documentos de um ano mais tarde comprovam que os membros da guilda, conhecidos como Operai, estavam determinados a encontrar um artista disposto a concluir a obra e apresentá-la a cidade. Encomendaram, então, um bloco de pedra que apelidaram de O Gigante. Apesar de nomes já conceituados, como Leonardo da Vinci, terem sido cogitados, foi o jovem Michelangelo quem assumiu a tarefa de concluir a obra. Em 16 de agosto de 1501, Michelangelo assinou contrato com os Operai para conclusão da escultura.[5] O artista deu início aos trabalhos em meados de setembro do mesmo ano, sendo que levaria mais de dois anos para concluí-la.[6]

Michelangelo é considerado nesta obra uma espécie de inovador, pois retrata o personagem não após a batalha contra Golias (como Donatello e Verrochio antes dele fizeram), mas no momento imediatamente anterior a ela, quando David está apenas se preparando para enfrentar uma força que todos julgavam ser impossível de derrotar. Michelangelo neste trabalho usou o realismo do corpo nu e o predomínio das linhas curvas.

Inauguração[editar | editar código-fonte]

Réplica de David exposta na Piazza della Signoria desde 1910.

Em 25 de janeiro de 1504, quando a escultura já aproximava-se de sua conclusão, autoridades florentinas já estavam cientes de que erguer a imensa obra no beiral da Catedral de Santa Maria del Fiore seria um arriscado plano.[7] Decidiram através de um comitê reunindo os mais proeminentes cidadãos florentinos (incluindo o próprio Leonardo da Vinci e Sandro Botticelli) selecionar um local mais apropriado para receber a grandiosa obra. Enquanto diversas localidades foram debatidas pelo comitê, a maioria de seus membros dividiam-se entre dois locais. Um grupo, liderado por Giuliano da Sangallo e apoiado por Piero di Cosimo, defendia que a estátua deveria ser posicionada sob a Loggia dei Lanzi por conta das imperfeições do mármore; enquanto o segundo grupo defendia que esta deveria decorar a entrada do Palazzo della Signoria. Botticelli sugeriu ainda um terceiro ponto de vista, de que a escultura devesse ser abrigada no interior da catedral. Em junho de 1504, no entanto, David foi finalmente instalado na entrada do Palazzo della Signoria, substituindo a escultura em bronze Judite e Holofernes, de Donatello.[8] O trabalho de posicionamento da escultura durou quatro dias.[9]

História recente[editar | editar código-fonte]

Em 1873, a escultura David foi retirada de praça pública por questões relacionadas à danificação, e passou a ser exibida no interior da Galeria da Academia de Belas Artes de Florença, atraindo milhares de visitantes até os dias atuais.[10] A fachada do Palazzo Vecchio, por sua vez, recebeu uma réplica em 1910.

Em 1991, um homem atacou a escultura com uma marreta, danificando parte dos pés e pernas da estátua.[11]

Características[editar | editar código-fonte]

Os olhos de David estão estrategicamente voltados para Roma.
As veias sobre o braço direito reforçam o cenário de tensão em que a estátua foi concebida.

A postura de David, de Michelangelo, difere em muito das representações renascentistas do personagem. As esculturas em bronze de Donatello e Verrocchio representam o herói bíblico em postura arrojada e vitoriosa sobre ou portando a cabeça de Golias. Uma pintura de Andrea del Castagno, inclusive, retrata o jovem Davi em postura titubeante com a cabeça de Golias aos seus pés. Entretanto, nenhum outro artista florentino havia retratado o personagem sem a presença de seu algoz. De acordo com Helen Gardner e outros historiadores, David é representado nos instantes anteriores à sua mítica batalha contra Golias. Ao invés de ser demonstrado vitorioso sobre um oponente muito superior, Davi é retratado por Michelangelo tomado de tensão antes de seu confronto decisivo.

A obra parece demonstrar Davi após a decisão de confrontar Golias, mas antes da batalha propriamente dita, um momento oscilante entre escolha e atitude. Sua testa está repuxada, seu pescoço tensionado e suas veias sobressaem ao longo do braço direito. A torça de seu corpo transmite ao espectador a sensação de que o personagem está em movimento, o que foi obtido através da técnica do contrapposto. A estátua é uma reinterpretação renascentista da temática heroica grega do nu masculino. No Alto Renascimento, as posições em contrapposto eram interpretadas como um traço distintivo da escultura clássica. Este conceito ganha vida em David, uma vez que a figura parece sobrepor todo seu peso sobre uma das pernas, enquanto a outra somente lhe fornece sustentação. Esta postura clássica faz com que quadris e ombros da estátua repousem em ângulos opostos, causando uma breve curvatura em 'S' no perfil geral da obra. O contrapposto é enfatizado pela direção da cabeça à esquerda e pelas posições contrastantes dos braços.

Referências

  1.  Lorenzi, Rossella (12 de novembro de 2010). «Michelangelo's David as It Was Meant to Be Seen»Seeker
  2.  Charles Seymour, Jr. "Homo Magnus et Albus: the Quattrocento Background for Michelangelo's David of 1501–04," Stil und Überlieferung in der Kunst des Abendlandes, Berlin, 1967, II, 96–105.
  3.  Seymour, 100–101.
  4.  Gaye, Giovanni; Seymour, Charles (1967). «Carteggio inedito d'artisti del sec. XIV, XV, XVI, Florence: 1839–40, 2: 454»Pittsburgh University Press
  5.  Milanesi, Gaetano (1875). «Le lettere di Michelangelo Buonarroti pubblicati coi ricordi ed i contratti artistici»
  6.  «Italyguides.it - Michelangelo: David» (em inglês). Consultado em 4 de junho de 2009
  7.  Cosgrove-Mather, Bootie (24 de maio de 2004). «Michelangelo's David gets a bath»CBS News
  8.  «Donatello's Bronze "David" and "Judith" as Metaphors of Medici Rule in Florence on JSTOR» (PDF)www.jstor.org
  9.  Goffen (2002), p. 130.
  10.  «Diagnostic analysis of the lesions and stability of Michelangelo's David»Journal of Cultural Herritage
  11.  Cowell, Alan (15 de setembro de 1991). «Michelangelo's David is Damaged»The New York Times

Ligações externas

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