terça-feira, 19 de maio de 2020

MÁRIO DE SÁ CARNEIRO - POETA - NASCEU EM 1924 - 19 DE MAIO DE 2020

Mário de Sá-Carneiro

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Disambig grey.svg Nota: Para o político português com o mesmo sobrenome, veja Francisco Sá Carneiro.
Mário de Sá-Carneiro
Mário de Sá Carneiro
Nascimento19 de maio de 1890
LisboaPortugal
Morte26 de abril de 1916 (25 anos)
Hôtel de Nice, ParisFrança
ResidênciaLisboa: Travessa do Carmo
NacionalidadePortugal portuguesa
OcupaçãoEscritor
Gênero literárioModernismo
Magnum opusCéu em Fogo
Assinatura
AssinaturaMárioDeSáCarneiro.svg

Mário de Sá-Carneiro (Lisboa19 de Maio de 1890 — Paris26 de Abril de 1916) foi um poetacontista e ficcionista português, um dos grandes expoentes do modernismo em Portugal e um dos mais reputados membros da Geração d’Orpheu.[1]

Biografia[editar | editar código-fonte]

Edifício na Rua da Conceição, na Baixa Pombalina, onde nasceu Mário de Sá-Carneiro em 1890

Nasceu no seio de uma abastada família, sendo filho e neto de militares. O seu pai era Carlos Augusto de Sá-Carneiro e a sua mãe, Águeda Maria de Sousa Peres Marinello. Órfão de mãe com apenas dois anos (1892), ficou entregue ao cuidado dos avós, indo viver para a Quinta da Vitória, na freguesia de Camarate, às portas de Lisboa, aí passando grande parte da infância.

Começa a escrever poesia aos 12 anos, sendo que aos 15 já traduzia Victor Hugo e com 16 Goethe e Schiller. No liceu teve ainda algumas experiências episódicas como ator.

Em 1911, com 21 anos, vai para Coimbra, onde se matricula na Faculdade de Direito, mas não conclui sequer o primeiro ano.

Desiludido com a «cidade dos estudantes», segue para Paris a fim de prosseguir os estudos superiores, com o auxílio financeiro do pai. Cedo, porém, deixou de frequentar as aulas na Sorbonne, dedicando-se a uma vida boémia, deambulando pelos cafés e salas de espectáculo, chegando a passar fome e debatendo-se com os seus desesperos, situação que culminou na ligação emocional a uma prostituta, a fim de combater as suas frustrações e desesperos.

Sá-Carneiro conhecera em 1912 aquele que foi, sem dúvida, o seu melhor amigo: Fernando Pessoa. Já na capital francesa viria a conhecer Guilherme de Santa-Rita (Santa-Rita Pintor). Inadaptado socialmente e psicologicamente instável, foi neste ambiente que compôs grande parte da sua obra poética e a correspondência com o seu confidente Fernando Pessoa; é, pois, entre 1912 e 1916 (o ano da sua morte), que se inscreve a sua fugaz – e no entanto assaz profícua – carreira literária.

Entre 1913 e 1914 Mário Sá-Carneiro viaja para Lisboa com uma certa regularidade, regressando à capital, devido à deflagração do conflito entre a Sérvia e a Áustria-Hungria, o qual a breve trecho se tornou uma conflagração à escala europeia – a I Guerra Mundial.

Com Fernando Pessoa e ainda Almada Negreiros integrou o primeiro grupo modernista português (o qual, influenciado pelo cosmopolitismo e pelas vanguardas culturais europeias, pretendia escandalizar a sociedade burguesa e urbana da época), sendo responsável pela edição da revista literária Orpheu, editada por António Ferro (e que por isso mesmo ficou sendo conhecido como a Geração d’Orpheu ou Grupo d’Orpheu),[1] um verdadeiro escândalo literário à época, motivo pelo qual apenas saíram dois números (Março e Junho de 1915; o terceiro, embora impresso, não foi publicado, tendo os seus autores sido alvo da chacota social) – ainda que hoje seja, reconhecidamente, um dos marcos da história da literatura portuguesa, responsável pela agitação do meio cultural português, bem como pela introdução do Modernismo em Portugal.[1]

Também teve colaboração em diversas publicações periódicas, nomeadamente no semanário Azulejos [2] (1907-1909); na II série da revista Alma nova[3] (1915-1918) e na revista Contemporânea[4] (1915-1926), e pode ainda encontrar-se colaboração da sua autoria, publicada postumamente, na revista Pirâmide [5] (1959-1960) e Sudoeste [6] (1935).

Em Julho de 1915 regressa a Paris, escrevendo a Pessoa cartas de uma crescente angústia, das quais ressalta não apenas a imagem lancinante de um homem perdido no «labirinto de si próprio», mas também a evolução e maturidade do processo de escrita de Sá-Carneiro.

Uma vez que a vida que trazia não lhe agradava, e aquela que idealizava tardava em se concretizar, Sá-Carneiro entrou numa cada vez maior angústia, que viria a conduzi-lo ao seu suicídio prematuro, perpetrado no Hôtel de Nice, no bairro de Montmartre em Paris, com o recurso a cinco frascos de arseniato de estricnina. Embora tivesse adiado por alguns dias o dramático desfecho da sua vida, numa «carta de despedida» para Fernando Pessoa, Mário de Sá-Carneiro revela as suas razões para se suicidar:

Paris - 31 Março 1916
Meu Querido Amigo.
A menos de um milagre na próxima segunda-feira, 3 (ou mesmo na véspera), o seu Mário de Sá-Carneiro tomará uma forte dose de estricnina e desaparecerá deste mundo. É assim tal e qual – mas custa-me tanto a escrever esta carta pelo ridículo que sempre encontrei nas "cartas de despedida"... Não vale a pena lastimar-me, meu querido Fernando: afinal tenho o que quero: o que tanto sempre quis – e eu, em verdade, já não fazia nada por aqui... Já dera o que tinha a dar. Eu não me mato por coisa nenhuma: eu mato-me porque me coloquei pelas circunstâncias – ou melhor: fui colocado por elas, numa áurea temeridade – numa situação para a qual, a meus olhos, não há outra saída. Antes assim. É a única maneira de fazer o que devo fazer. Vivo há quinze dias uma vida como sempre sonhei: tive tudo durante eles: realizada a parte sexual, enfim, da minha obra – vivido o histerismo do seu ópio, as luas zebradas, os mosqueiros roxos da sua Ilusão. Podia ser feliz mais tempo, tudo me corre, psicologicamente, às mil maravilhas: mas não tenho dinheiro. [...]
Mário de Sá-Carneiro,
carta para Fernando Pessoa.[7]
Fim
Quando eu morrer batam em latas,
Rompam aos saltos e aos pinotes,
Façam estalar no ar chicotes,
Chamem palhaços e acrobatas!

Que o meu caixão vá sobre um burro
Ajaezado à andaluza...
A um morto nada se recusa,
E eu quero por força ir de burro!
Mário de Sá Carneiro,
Paris, 1916.[8]


Contava apenas vinte e cinco anos. Extravagante tanto na morte como em vida (de que o poema Fim é um dos mais belos exemplos), convidou para presenciar a sua agonia o seu amigo José de Araújo. E apesar de o grupo modernista português ter perdido um dos seus mais significativos colaboradores, nem por isso o entusiasmo dos restantes membros esmoreceu – no segundo número da revista Athena, Pessoa dedicou-lhe um belo texto, apelidando-o de «génio não só da arte como da inovação dela», e dizendo dele, retomando um aforismo das Báquides (IV, 7, 18), de Plauto, que «Morre jovem o que os Deuses amam» (tradução literal de Quem di diligunt adulescens moritur).

Génio na arte, não teve Sá-Carneiro nem alegria nem felicidade nesta vida. Só a arte, que fez ou que sentiu, por instantes o turbou de consolação. São assim os que os Deuses fadaram seus. Nem o amor os quer, nem a esperança os busca, nem a glória os acolhe. Ou morrem jovens, ou a si mesmos sobrevivem, íncolas da incompreensão ou da indiferença. Este morreu jovem, porque os Deuses lhe tiveram muito amor.
Mas para Sá-Carneiro, génio não só da arte mas da inovação nela, juntou-se, à indiferença que circunda os génios, o escárnio que persegue os inovadores, profetas, como Cassandra, de verdades que todos têm por mentira. In qua scribebat, barbara terrafuit. Mas, se a terra fora outra, não variara o destino. Hoje, mais que em outro tempo, qualquer privilégio é um castigo. Hoje, mais que nunca, se sofre a própria grandeza. As plebes de todas as classes cobrem, como uma maré morta, as ruínas do que foi grande e os alicerces desertos do que poderia sê-lo. O circo, mais que em Roma que morria, é hoje a vida de todos; porém alargou os seus muros até os confins da terra. A glória é dos gladiadores e dos mimos. Decide supremo qualquer soldado bárbaro, que a guarda impôs imperador. Nada nasce de grande que não nasça maldito, nem cresce de nobre que se não definhe, crescendo. Se assim é, assim seja! Os Deuses o quiseram assim.
Fernando Pessoa
Athena n.º 2, Lisboa, Novembro, 1924.


Placa que assinala o edifício onde Mário de Sá-Carneiro se suicidou, em 26 de abril de 1916
(Rua Victor-Massé 29, Paris).

Verdadeiro insatisfeito e inconformista (nunca se conseguiu entender com a maior parte dos que o rodeavam, nem tão pouco ajustar-se à vida prática, devido às suas dificuldades emocionais), mas também incompreendido (pelo modo com os contemporâneos olhavam o seu jeito poético), profetizou acertadamente que no futuro se faria jus à sua obra, no que não falhou.

Com efeito, reconhecido no seu tempo apenas por uma fina élite, à medida que a sua obra e correspondência foi publicada, ao longo dos anos, tornou-se acessível ao grande público, sendo atualmente considerado um dos maiores expoentes da literatura moderna em língua portuguesa.

A terra que o acolheu na infância – Camarate –, e a quem ele dedicou também algumas das suas poesias, homenageou-o, conferindo o seu nome a uma escola local. O seu poema Fim foi musicado por um grupo português no final dos anos 1980, os Trovante. Mais tarde, o seu poema O Outro foi também musicado pela cantora brasileira Adriana Calcanhotto.

As suas influências literárias são de Edgar Allan PoeOscar WildeCharles BaudelaireStéphane MallarméFiódor DostoievskiCesário Verde e António Nobre. Este escritor influenciou vários outros, entre eles Eugénio de Andrade.

Em 1949 a Câmara Municipal de Lisboa homenageou o escritor dando o seu nome a uma rua junto à Avenida da Igreja, em Alvalade.[9]

Carreira[editar | editar código-fonte]

Mário de Sá-Carneiro

Na fase inicial da sua obra, Mário de Sá-Carneiro revela influências de várias correntes literárias, como o decadentismo, o simbolismo, ou o saudosismo, então em franco declínio; posteriormente, por influência de Pessoa, viria a aderir a correntes de vanguarda, como o interseccionismo, o paulismo ou o futurismo.

Nessas pôde exprimir com vontade a sua personalidade, sendo notórios a confusão dos sentidos, o delírio, quase a raiar a alucinação; ao mesmo tempo, revela um certo narcisismo e egolatria, ao procurar exprimir o seu inconsciente e a dispersão que sentia do seu «eu» no mundo – revelando a mais profunda incapacidade de se assumir como adulto consistente.

O narcisismo, motivado certamente pelas carências emocionais (era órfão de mãe desde a mais terna puerícia), levou-o ao sentimento da solidão, do abandono e da frustração, traduzível numa poesia onde surge o retrato de um inútil e inapto. A crise de personalidade levá-lo-ia, mais tarde, a abraçar uma poesia onde se nota o frenesi de experiências sensórias, pervertendo e subvertendo a ordem lógica das coisas, demonstrando a sua incapacidade de viver aquilo que sonhava – sonhando por isso cada vez mais com a aniquilação do eu, o que acabaria por o conduzir, em última análise, ao seu suicídio. Estudos recentes evocam a influencia de Oscar Wilde na obra do autor dias antes do seu suicídio. Acredita-se que, atormentado pela leitura de De Profundis, Mário de Sá-Carneiro teria visto o ponto final de sua vida e sua carreira.

Embora não se afaste da metrificação tradicional (redondilhasdecassílabosalexandrinos), torna-se singular a sua escrita pelos seus ataques à gramática, e pelos jogos de palavras. Se numa primeira fase se nota ainda esse estilo clássico, numa segunda, claramente niilista, a sua poesia fica impregnada de uma humanidade autêntica, triste e trágica.

Por fim, as cartas que trocou com Pessoa, entre 1912 e o seu suicídio, são como que um autêntico diário onde se nota paralelamente o crescimento das suas frustrações interiores.

Obras[editar | editar código-fonte]

Amizade (1912)[editar | editar código-fonte]

Publicada em 1912Amizade, é a primeira peça que escreve. Mário de Sá-Carneiro divide a autoria desta obra com Tomás Cabreira Júnior, seu colega do Liceu Camões em Lisboa. O fato de hoje podermos ler esta peça deve-se a um acaso. Dos dois colegas e autores da peça AmizadeTomás Cabreira Júnior era o único dos dois que tinha os manuscritos. Por qualquer motivo era Sá-Carneiro quem os tinha consigo aquando do suicídio de Tomás Cabreira Júnior, que antes de cometer tal ato destruiu toda a sua obra.

Princípio (1912)[editar | editar código-fonte]

No ano de 1912, o autor dá à estampa um conjunto de novelas que reúne sob o título Princípio.

A Confissão de Lúcio (1914)[editar | editar código-fonte]

Inaugurando um estilo até então em si desconhecido, o romance, Mário de Sá-Carneiro publica, em 1914[10]A Confissão de Lúcio. A temática desta obra gira em torno do fantástico e é um óptimo espelho da época de vanguarda que foi o modernismo português.

Dispersão (1914)[editar | editar código-fonte]

O ano de 1913 veio a revelar-se de uma pujança criativa inigualável. Não só variou dentro da prosa, como apresenta ao público a sua primeira obra de poesia: Dispersão. Esta obra é composta por doze poemas e a sua primeira edição foi revista quer pelo autor quer pelo seu grande amigo, e também poeta, Fernando Pessoa.

Céu em Fogo (1915)[editar | editar código-fonte]

Em 1915, volta a reunir novelas, mais precisamente oito, num volume a que dá o título de Céu em Fogo. Estas novelas revelam igualmente as mesmas perturbações e obsessões que já a sua poesia expressava.

Obras Póstumas[editar | editar código-fonte]

Nem tudo aquilo que Sá-Carneiro produziu em vida veio a ser publicado, ainda que muitas coisas, além dos seus livros, tenha deixado espalhadas pelas publicações em que participou, como as revistas Orpheu ou Portugal Futurista.

Indícios de Oiro (1937)[editar | editar código-fonte]

Do qual Mário de Sá-Carneiro não chegou a publicar em vida Indícios de Oiro, publicada em 1937 pelas Edições Presença, é o conjunto de trabalhos seus mais significativo do conjunto da sua obra.

Correspondência[editar | editar código-fonte]

A sua correspondência com outros membros do Orpheu foi também reunida em volumes póstumos: Cartas a Fernando Pessoa (2 vols., 1958-1959), Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Luís de Montalvor, Cândia Ramos, Alfredo Guisado e José Pacheco (1977), Correspondência Inédita de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa (1980).

Obra poética. Poesia completa, incluindo os primeiros poemas e poemas dispersos[editar | editar código-fonte]

Edição e organização por António Quadros. Sintra: Publicações Europa-América, 1985.

Antologia poética[editar | editar código-fonte]

Edição literária de António Gonçalves. Ilustrações de Tiago Manuel. Matosinhos: Kalandraka, 2012, coleção Treze Lunas.

Correspondência com Fernando Pessoa[editar | editar código-fonte]

Edição e notas por Teresa Sobral Cunha. Lisboa: Relógio de Água, 2003, 2 vol.

Traduções[editar | editar código-fonte]

De Sá-Carneiro existe ainda uma tradução da peça Les Fossiles, de François de Curel, em parceria com António Ponce de Leão.

Em outras linguas[editar | editar código-fonte]

  • «Poemes». En Poesia gallega, portuguesa i brasilera moderna. Traducció de Josep Maria Llompart. Barcelona: Edicions 62-La Caixa, 1988, pàgs. 53-57.
  • Prémices. Dominique Touati (tr.). Paris: La Différence, 1994.
  • Ciel en feu. Dominique Touati (tr.). Paris: La Différence, 1987; 2e éd. 1990.
  • La Confession de Lúcio. Dominique Touati (tr.). Paris: La Différence, 2000.
  • Quasi e altre poesie. Traduzione e cura di Alessandro Ghignoli. Pistoia: Via del Vento, 2003.
  • Poésies completes. Traduit par Dominique Touati et Michel Chandeigne; préfacé par Teresa Rita Lopes, avec un texte de Fernando Pessoa et les dernières lettres à lui adressées par Mário de Sá-Carneiro. Paris: La Différence, 2007, col. Minos.
  • Lettres à Fernando Pessoa. Traduction de Jorge Sedas Nunes et Dominique Bussillet, Falaise: Impeccables, 2015.
  • Poesía completa. Traducción y prólogo de Manuel Vicente Rodríguez. Valencina de la Concepción: Renacimiento, 2016, col. Traducciones 25.
  • Poesia completa. Cartes a Fernando Pessoa. Traducció i introducció de Vicent Berenguer. Gandia: Lletra Impresa, 2017, col. Rara Avis 4.

Referências

  1. ↑ Ir para:a b c «Mário de Sá-Carneiro»R7. Algo Sobre. Consultado em 2 de fevereiro de 2013
  2.  Rita Correia (3 de Novembro de 2016). «Ficha histórica: Azulejos : semanario illustrado de sciencias, lettras e artes (1907-1909)» (PDF)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 28 de novembro de 2016
  3.  Rita Correia (19 de julho de 2011). «Ficha histórica: Alma Nova: revista ilustrada (II Série) (1915-1918)» (PDF)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 13 de março de 2015
  4.  «Contemporânea [1915 | publicado=hemerotecadigital.cm-lisboa.pt }}-1926 cópia digital, Hemeroteca Digital]»
  5.  Daniel Pires (1999). «Ficha histórica: Pirâmide : antologia (1959-1960)» (PDF)Dicionário da Imprensa Periódica Literária Portuguesa do Século XX (1941-1974) | Lisboa, Grifo, 1999 | Vol.II, 1º Tomo | pp. 46Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 20 de março de 2015
  6.  Rita Correia (18 de maio de 2011). «Ficha histórica: Sudoeste : cadernos de Almada Negreiros (1935)» (PDF)Hemeroteca Municipal de Lisboa. Consultado em 5 de novembro de 2015
  7.  Cartas de Mário de Sá-Carneiro a Fernando Pessoa, ed. Manuela Parreira da Silva, Lisboa, Assírio & Alvim, 2006, p. 179-280, ISBN 978-989-609-534-5.
  8.  Athena n.º 2, Novembro 1924, p.46.
  9.  https://www.facebook.com/423215431066137/photos/pb.423215431066137.-2207520000.1448280984./784818741572469/?type=3&theater
  10.  A confissão de Lúcio : narrativa.—1a ed.—Lisboa : M. Sá-Carneiro, 1914.—206, [2] p.

Ligações externas[editar | editar código-fonte]

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PRIMEIRA ESCOLA COMERCIAL EM LISBOA - FUNDADA PELO MARQUÊS DE POMBAL - (1759) - 19 DE MAIO DE 2020

Ensino primário

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Alunos do ensino primário numa escola do Reino Unido.

ensino primárioeducação primária ou instrução primária constitui o primeiro estágio da educação escolar de diversos países, sendo normalmente realizado por crianças com idade a partir dos seis anos. Conforme o sistema educativo, a sua duração pode variar, sendo normalmente, precedido pela educação pré-escolar e seguido pelo ensino secundário. A sua designação oficial também pode variar de país para país, sendo frequentes denominações alternativas como "ensino fundamental", "ensino elementar" ou "ensino de base".

Internacionalmente, a educação primária é considerada o primeiro estágio da educação básica e corresponde ao nível 1 da Classificação Internacional Normalizada da Educação (ISCED). Contudo, nos sistemas educativos de alguns países, o ensino primário pode incluir também os níveis 0 e 2 do ISCED.

Na grande maioria dos países, o ensino primário é obrigatório para as crianças dentro certos limites de idade. Além de ser realizado em escolas primárias, em certos países o ensino primário pode alternativamente ser ministrado em casa pelos próprios pais do aluno, os quais recebem autorização para isso dentro de certas condições. A transição do ensino primário para o ensino secundário pode variar de acordo com o sistema educativo, mas geralmente ocorre por volta dos 11 ou 12 anos de idade. Alguns sistemas educativos dispõem de um estágio de ensino intermédio ou preparatório, para a transição entre o primário e o secundário, com a passagem para o ensino secundário a fazer-se apenas por volta dos 14 anos.

Os principais objetivos do ensino primário são fazer com que os seus alunos obtenham a literacia e a numeracia básicas, bem como conhecimentos elmentares de ciênciasgeografiahistóriamatemática e outras ciências sociais. A prioridade relativa das várias áreas, bem como os métodos para as ministrar, são assunto de acesos debates políticos e pedagógicos.

Tipicamente, o ensino primário é realizado em classes sequenciais, com os alunos a transitarem para a classe seguinte em cada ano, até o completarem totalmente e transitarem para o seguinte estágio educativo. As crianças são normalmente integradas numa turma a cargo de um único professor que será o responsável principal pela sua educação. Este professor pode ser auxiliado por outros professores especializados em certas disciplinas como a música ou a educação física. Normalmente, o mesmo professor continua a ter a seu cargo a mesma turma durante toda a sua permanência no ensino primário, acompanhando-a nas transições de classe. A continuidade com o mesmo professor e a oportunidade que isso permite de construir uma relação de proximidade com o aluno é uma das caraterísticas mais notáveis do ensino primário. Tradicionalmente, várias formas de castigos corporais têm sido uma parte integrar da educação de crianças. No entanto, particularmente no Mundo Ocidental, esta prática tem sido criticada e, em alguns caso, proibida por lei.

Brasil[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: ensino fundamental

No Brasil, até 1971, o ensino primário constituía historicamente o primeiro estágio da educação escolar. Era constituído normalmente por quatro séries, cada um correspondendo a um ano. Podia prolongar-se por até mais duas séries complementares, com vista a ampliar o conhecimento do aluno e a sua formação para o trabalhos. A conclusão do ensino primário premitia o ingresso no ensino ginasial.

Em 1971, o ensino primário foi fundido com os quatro anos do ginasial, dando origem ao ensino de 1º grau, com a duração de oito anos. Na sequência da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1996, o ensino de 1º grau foi substituído pelo ensino fundamental.

Moçambique[editar | editar código-fonte]

Em Moçambique, o ensino primário, com dois ciclos compreendendo sete anos de escolaridade, corresponde à educação obrigatória. O primeiro ciclo (EP1) inclui cinco anos de estudo, que ensinam a alfabetização e conhecimentos básicos; o segundo (EP2) inclui apenas dois anos. Depois desta fase, os alunos podem entrar no ensino secundário.

O ensino primário em Moçambique é o mais importante, visto que as crianças (alunos) devem sair do ensino primário com a nocão de saber Ler, escrever e contar ou devem ser capaz de enfrentar algumas dificuldades na sociedade.

Portugal[editar | editar código-fonte]

Ver artigo principal: ensino básico
Antiga escola primária de Riba de Ave.

Em Portugal, até à implementação da Lei de Bases do Sistema Educativo de 1986, o ensino primário constituía o primeiro estágio da educação escolar. Corresponde ao atual 1º ciclo do ensino básico.

O ensino primário tem origem nas aulas de lerescrever e contar que, até 1759, estavam sobretudo a cargo de ordens religiosas, destacando-se a dos Jesuítas que dispunham de um plano curricular único para ser aplicado em todas as suas escolas. Em 1759, o marquês de Pombal procede à estatização do ensino, criando as aulas régias. Durante o século XIX, aquelas aulas irão dar origem ao ensino primário. Durante a Monarquia Constitucional e a Primeira República, várias reformas do ensino primário tornam-no obrigatório. No entanto, essa obrigatoriedade nunca sai do papel e só virá a ser efetivada já durante o Estado Novo. As várias reformas, também alteram a estrutura do ensino primário que no entanto o fixam num grau elementar composto por quatro classes, cada uma correspondendo a um ano escolar. Em algumas reformas, além do grau elementar, é estabelecido um grau superior ou complementar destinado a completar a educação primária daqueles que não pretendiam continuar os seus estudos no ensino secundário.

Para formação dos professores do ensino primário são criadas, em 1862, as escolas normais primárias que em 1930 passarão a escolas do magistério primário. Estas estão na origem das atuais escolas superiores de educação.

No âmbito das grandes reformas do sistema educativo ocorridas na década de 1960, através do Decreto-lei n.º 45 810 de 9 de julho de 1964, a escolaridade obrigatória é estabelecida em seis anos. O ensino primário volta a compreender dois graus: o ciclo elementar (da 1ª à 4ª classes) e o ciclo complementar (5ª e 6ª classes). O ciclo complementar destinava-se aos alunos que não pretendessem prosseguir o seus estudos, completando aí a escolaridade obrigatória. Os alunos, que pretendessem prosseguir os seus estudos, transitariam diretamente do ciclo elementar do ensino primário para o 1º ciclo do ensino liceal ou para o ciclo preparatório do ensino técnico (ambos unificados em 1967, num único ciclo preparatório do ensino secundário).

Em 1973, é publicada a primeira Lei de Bases do Sistema Educativo que consagra a criação do ensino básico. O ensino básico teria a duração total de oito anos, seria obrigatório e compreendia o ensino primário e o ensino preparatório, cada qual com a duração de quatro anos.

A reforma de 1973 acaba por não ser adoptada na totalidade, em virtude da ocorrência do 25 de abril de 1974. A escolaridade não é aumentada como havia sido previsto, mantendo-se em seis anos até 1986.

Em 1986, é publicada a atual Lei de Bases do Sistema de Ensino. O novo ensino básico passa a compreender três ciclos, que resultam da conversão dos antigos ensino primário, ensino preparatório e curso geral do ensino secundário que mantêm cada um aproximadamente a mesma estrutura e duração, mas vêem as suas designações alteradas, respetivamente, para 1º ciclo, 2º ciclo e 3º ciclo do ensino básico. Esta reforma só é implementada em larga escala a partir do início da década de 1990, altura em que as escolas primárias começam a ver alteradas as suas designações para "escolas básicas do 1º ciclo".

Apesar de formalmente já não estar em vigor, muita da terminologia referente ao antigo ensino primário continua a ser aplicada, na linguagem corrente, ao atual 1º ciclo do ensino básico. Nomeadamente, as suas escolas continuam a ser referidas frequentemente como "escolas primárias" e os seus quatro anos escolares como "1ª", "2ª", "3ª" e "4ª classes".

Outros países[editar | editar código-fonte]

Alemanha[editar | editar código-fonte]

Na Alemanha, o estágio de ensino primário (Primarstufe) é realizado nas escolas de base (Grundschule) pelas crianças a partir dos seis anos de idade. Tem a duração de quatro anos de escolaridade (da 1. Klasse à 4. Klasse) a na generalidades dos estados federados alemães. Em alguns estados, o ensino primário compreende dois anos adicionais de ensino de orientação vocacional (Orientierungsstufe). Do ensino primário, transita-se para o estágio secundário I (Sekundarstufe I) que - conforme a aptidão e o nível intelectual do aluno - pode ser realizado nas modalidades de HauptschuleRealschuleGymnasium ou Gesamtschule.

Canadá[editar | editar código-fonte]

No Canadá, a educação primária (primary education ou école primaire) tem seis anos de duração (do grade 1 ao grade 6) e é normalmente realizada por crianças com idades compreendidas entre os seis e os 12 anos. É antecedida pelo jardim de infância (kindergarten ou maternelle). Na maioria das províncias, da educação primária transita-se para a educação intermediária (intermediate education) e depois para a educação secundária (secondary education ou école secondaire).

Estados Unidos[editar | editar código-fonte]

Nos Estados Unidos, a educação primária (primary education) é normalmente referida como educação elementar (elementary education). A educação nos Estados Unidos está altamente descentralizada, com as autoridades dos distritos escolares e de outras jurisdições escolares a disporem de grande autonomia na definição dos seus próprios sistemas educativos. Na generalidade das jurisdições escolares, a educação elementar constitui o primeiro estágio da escolaridade obrigatória, com uma duração de cinco anos. A admissão das crianças é feita no jardim de infância (kindergarten) aos cinco anos, transitando aos seis anos de idade para o primeiro ano (first grade). Na maioria das jurisdições escolares, a educação elementar irá até ao quarto ano (fourth grade), mas em algumas pode ir até ao quinto, sexto ou mesmo oitavo ano. Finalizando a educação elementar, a criança transitará para a educação secundária numa escola média (middle school), escola secundária júnior (junior high school) ou escola secundária (high school).

França[editar | editar código-fonte]

No sistema educativo da França, o ensino primário (enseignement primaire) tem oito anos de duração, sendo normalmente frequentado por crianças com idades compreendidas entre os 3 e os 11 anos. Compreende a escola maternal (école maternelle) e a escola elementar (école élémentaire). A primeira - correspondente à educação pré-escolar - é composta por três anos, designados petite sectionmoyenne section e grande section. A segunda é composta por cinco anos, designados cours preparatoire (CP formação básica para ler e fazer contas)cours élémentaire niveau 1 (CE1 que corresponde à 1a classe)cours élémentaire niveau 2 (CE2)cours moyen 1 (CM1) e cours moyen 2 (CM2). Do ensino primário transita-se para o colégio (collège : Sixième (5° ano) / Cinquième (6° ano) / Quatrième-Troisième (do 7° ao 9° ano)) e daí para o liceu (lycée 10°-11°-12° / no 12°, o Baccalauréat serve de exame de fim de ensino secundário e provas de ingresso no ensino superior).

Reino Unido[editar | editar código-fonte]

Dentro do Reino Unido, a Inglaterra, a EscóciaGales e a Irlanda do Norte dispõem, cada qual, do seu próprio sistema educativo. Em todos eles, a educação primária inclui sete anos de escolaridade realizada normalmente pelas crianças com idades compreendidas entre os quatro e os onze anos. Com excepção da Escócia, a educação primária está dividida em três estágios chave (key stages). Frequentam o key stage 0 ou foundation stage, em ambiente de jardim de infância, as crianças com até cinco anos de idade. Com cinco anos de idade transitam para o key stage 1 (que inclui o 1º e 2º anos), passando depois para o key stage 2 (3º ao 6º anos). Do key stage 2, as crianças transitam para o key stage 3 que já faz parte da educação secundária. O ensino primário pode ser realizado em vários tipos de escolas, que podem ministrar a totalidade ou apenas alguns dos seus estágios. As escolas primárias (primary schools) ministram a totalidade do ensino primário, as escolas infantis (infant schools) ministram os key stages 0 e 1, as escolas júnior (junior schools) ministram apenas o key stage 2, as primeiras escolas (first schools) ministram os key stages 0 e 1 e os 3º e 4º anos do key stage 2 e, finalmente, as escolas médias (middle school) ministram os 5º e 6º anos do key stage 2 bem como os dois primeiros anos do key stage 3 do ensino secundário.

Referências[editar | editar código-fonte]

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